A crise na qual submergiu o Brasil passa,
certamente, pela falência de um modelo político capaz de catapultar para o
proscênio da República personagens do jaez de Renan Calheiros e Eduardo Cunha.
Mas perpassa também pelo legado de inépcia do PT, capaz de esfarinhar
o Plano Real e, com isso, sepultar a estabilidade econômica legada pelo governo
Fernando Henrique Cardoso. Sem um projeto para o Brasil, como depois
constatou-se, o partido investiu em um projeto de poder, no rastro do qual
mandou os escrúpulos às favas, do que resultou a singularidade de ter
dois ex-presidentes e dois ex-tesoureiros condenados e presos por corrupção, uma
particularidade, até onde se sabe, sem precedentes na história política
brasileira. Mais emblemáticos dessa crise moral só os diálogos grampeados do
ex-presidente Lula, inclusive com a presidente Dilma Rousseff, reveladores da
desfaçatez da arrogância petista.
Cabe reconhecer que o PT avançou e aprofundou as conquistas sociais herdadas do governo FHC, e
isso não pode ser desconhecido. Tanto quanto não pode ser esquecido,
desconhecido ou enterrado como indigente que o que tornou possível Lula ser o
presidente da inclusão social foi FHC ter sido o presidente da estabilidade
econômica, pavimentada pelo Plano Real, herdado do governo Itamar Franco e
patrocinado por Fernando Henrique, na época ministro da Fazenda do governo que
sucedeu ao de Fernando Collor. Collor, convém recordar, foi defenestrado do
Palácio do Planalto pela via do impeachment, que na época não soou a golpe para o PT,
porque efetivamente não o é. O corolário do arrivismo petista é trágico, porque
devolve ao limbo dos grotões a parcela do povo que dele foi retirada pelas
políticas de inclusão social cujos fundamentos foram definidos por dona Ruth
Cardoso, no governo FHC. Dona Ruth, recorde-se, foi a primeira-dama com luz
própria, que chegou ao poder credenciada por uma bem-sucedida carreira
acadêmica.
No plano mundial
tem-se, é verdade, uma fase de crescimento lento. O que não justifica a
recessão profunda e prolongada entrevista para o Brasil. E cujo custo será
alto, altíssimo, para todos nós: a perda acumulada, entre 2014 e 2016, é calculada
em 1,6 trilhão de reais, ou quase 8 mil reais, em média, para cada brasileiro.
Nada mais cruel para um país que, em 2011, surfava na perspectiva de tornar-se
a quinta maior economia do mundo. De lá para cá, o Brasil despencou para o nono
lugar, na esteira de uma sucessão de erros de administração que esfarelaram a
possibilidade de mantermos uma trajetória de crescimento tímido, mas estável.
Daí o cenário de crise, recessão, desemprego e inflação com o qual nos
defrontamos, hoje. Uma situação que nenhuma propaganda enganosa consegue
dissimular e nenhum filósofo de botequim será capaz de ocultar.
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