Recalcitro em comentar a conjuntura
nacional por saber-me a uma distância abissal do epicentro do poder e, por via
de extensão, sem a possibilidade de acesso a informações privilegiadas, capazes
de subsidiar eventuais análises. Mas, diante da carta aberta subscrita por Lula, calar é mentir, considerando o que
emerge da missiva. E o que emerge da versão oferecida pelo ex-presidente é tão
estarrecedor quanto o torpe e chulo teor de suas declarações alcançadas por escutas
telefônicas autorizadas pela Justiça. Escutas absolutamente legais, diga-se,
inclusive aquelas que envolvem a presidente emérita - flagrada em claro conluio
com o tutor político -, e seu amigo-de-fé-irmão-camarada, que é também seu eventual
advogado, e também sob suspeita de participar das tramoias das quais é suspeito
o parlapatão de Garanhuns. O alvo da escuta telefônica era Lula. Quem também foi por ela alcançado o foi na condição de interlocutor do suspeito, o que inclui Dilma Rousseff.
É simplesmente estarrecedora a carta
subscrita por Lula, certamente de autoria de algum ghost-writer da hora, sabendo-se, como se sabe, das limitações intelectuais do
ex-presidente, da quais derivam a falta de intimidade com o vernáculo, compensada
pela sagacidade e carisma. Assusta, simplesmente assusta, a carta ser
perpassada pela arrogância levada ao paroxismo de quem claramente se imagina
acima das instituições democráticas e não se permite sequer um humilde pedido
de desculpas pelas diatribes vociferadas. A versão do simulacro de estadista na
verdade ratifica aquilo que, por argumentos tortuosos, pretende dissimular – o desapreço
pela democracia, como é próprio dos tiranetes, independentemente de ideologias.
Em nenhum momento, na carta, Lula desculpa-se por suas torpes incontinências verbais, reveladoras da
inocultável intenção de obstaculizar as investigações da Operação Lava Jato, do
manifesto desapreço pelos poderes da República, do tratamento desrespeitoso
destinado ao Judiciário e ao Legislativo, da tentativa de engessar a Receita
Federal e da incitação à intolerância, quando jacta-se de que “peões” (que é
como desdenhosamente trata seus correligionários!) vão “baixar a porrada” nos “coxinhas”.
O estilo é o homem, dizem. E o estilo de Lula resvala para a
recorrente ignomínia, porque, mais do que ao decoro, afronta desdenhosamente os
mais elementares princípios republicanos, como tratou de recordar, em crônica
memorável, o jornalista Ruy Castro. O assustador é a recorrente tentativa de
empulhação, a incessante determinação em lograr a opinião pública, valendo-se
de meias verdades, piores do que a mentira, porque confundem os fatos, a
pretexto de esclarecê-los. Sobre a carta aberta, não é difícil desconstruí-la,
como evidenciou outro jornalista, Reinaldo Azevedo. Patético é o que ela traduz. E o que a carta traduz é a obstinação, turbinada pela empáfia, em
justificar o injustificável, que é a presidente pretender levar para dentro do
Palácio do Planalto alguém sob investigação da Justiça e contra o qual há um
pedido de prisão, por suspeita de corrupção.
Os ingredientes para o impeachment estão
postos. A tentativa de caracterizar o impedimento como golpe soa a nhenhenhém,
incapaz de resistir a uma auditoria. Golpe é imaginar que o voto popular confere
aos eventuais vencedores a propriedade política do país, é desrespeitar as instituições
democráticas, é pretender introduzir a corrupção sistêmica como política de
governo, é coonestar a corrupção, é ser leniente com corruptos e corruptores, é
desdenhar acintosamente dos mais elementares princípios da administração
pública, a moralidade e a transparência. Golpe, resumindo, é a condescendência criminosa
em relação ao bando que conspira contra a democracia e saqueia o erário, no rastro de um projeto autoritário
de poder.
Um comentário :
Caro Barata. Fiquei realmente feliz com a nobreza do gesto da OAB Federal em apoiar o processo se impeachment. Mas, profundamente decepcionado com os representantes paraenses que foram contrários.
São dias tenebrosos que vivemos, onde tem-se uma classe política totalmente desprovida de qualquer pudor e sem limites para cessarem seus atos maléficos. O povo está clamando e ninguém quer ouvir.
Faz-se necessário mais uma tentativa: Gritarmos aos Deputados e Deputadas Federais, aos Senhores e Senhoras Senadores da República: - Vossas Excelências podem demonstrar apreço pelo País e pelo povo brasileiro. NÃO SE ACOVARDEM DIANTE DESSES CALHORDAS QUE LHES OPRIMEM!! Votem sim pelo impeachment dessa senhora que envergonha a nossa Nação perante o mundo!!
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