Jarbas Passarinho (quinto, da esq. para a dir.), na reunião da qual resultou o nefasto AI-5, que tisnou irremediavelmente sua biografia. |
Ronaldo
Passarinho ter feito carreira política, apesar das restrições do SNI, permite
mensurar, com distanciamento histórico, a exata extensão do prestígio de Jarbas
Passarinho. Jarbas, além de governador do Pará e senador por sucessivos
mandatos (inicialmente pela Arena, a Aliança Renovadora Nacional,
posteriormente pelo sucedâneo desta, o PDS, Partido Democrático Social), foi
também ministro de seguidos governos. Durante a ditadura militar, ele foi
ministro do Trabalho e Previdência Social, no governo do general-presidente
Arthur da Costa e Silva; tornou-se depois ministro da Educação, no governo do
general-presidente Emílio Garrastazu Médici; tendo sido também ministro da
Previdência Social do último general-presidente, João Baptista Figueiredo.
Jarbas foi ainda ministro da Justiça, já no período democrático, no governo
Fernando Collor, o primeiro presidente eleito pelo voto direto após o regime
dos generais, defenestrado do Palácio do Planalto, via impeachment, por
corrupção.
Jarbas
Passarinho foi também presidente do Senado, no governo do general-presidente
João Figueiredo, protagonizando memoráveis debates – invariavelmente ácidos,
porém de alto nível – com o senador gaúcho Paulo Brossard, do PMDB, um
respeitado jurista, notabilizado como implacável tribuno. Sua biografia
política acabou irremediavelmente tisnada, porém, pela condição de signatário
do abominável AI-5, o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1969, que
radicalizou a ditadura militar, escancarado a porteira do árbitro, com prisões
indiscriminadas, torturas e assassinatos de adversários do regime, a pretexto
de reprimir a luta armada, deflagrada pela parcela, que era minoritária, da
oposição. Entrou para a História, como exemplo eloquente de subserviência a
ignomínia dos eventuais inquilinos do poder, a patética frase de Jarbas
Passarinho, na reunião do Conselho de Segurança Nacional, realizada no Rio, no
Palácio das Laranjeiras, no qual o regime militar escancarou seu caráter
ditatorial e sepultou os resquícios de garantias democráticas: “Às favas,
senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.”
Depois de
amargar a derrota eleitoral de 1982, quando Jader Barbalho tornou-se governador
e Hélio Gueiros senador, catapultando o PMDB para o poder no Pará, Jarbas
elegeu-se novamente senador, dessa vez, ironicamente, na esteira da força
política do seu adversário da véspera. Com sua esposa, dona Ruth Passarinho,
combalida por um câncer devastador, que acabaria por matá-la, Jarbas contou,
para retornar ao Senado, com Jader Barbalho, então governador e que já
neutralizara a tentativa de Alacid Nunes em manietá-lo, ao alijar politicamente
o aliado de 1982. “Vá cuidar da dona Ruth, que eu cuido da sua eleição”,
recomendou Jader a Jarbas. Palavra dada, palavra cumprida. Na sua volta à
política nacional, Jarbas teve sobre si os holofotes da mídia de todo o Brasil,
como presidente da CPI do Orçamento, que investigou as fraudes envolvendo
recursos do orçamento, protagonizadas por congressistas. Em 1994 Jader Barbalho
apresentou a fatura política do gesto generoso de 1986, ao sair candidato a
única vaga para o Senado, compelindo Jarbas Passarinho a disputar, a
contragosto, o governo estadual, quando foi derrotado, já no segundo turno,
pelo tucano Almir Gabriel. Essa nova derrota assinalou o definitivo ocaso de
Jarbas.
Nenhum comentário :
Postar um comentário