sábado, 9 de abril de 2016

HISTÓRIA – O resgate de Hélio Gueiros

Em sentido horário, Hélio Gueiros, Jader Barbalho, Benedicto Monteiro,
Ademir Andrade e Itair Silva, em comício na campanha eleitoral de 1982.


Outra consequência do apoio de Alacid Nunes a Jader Barbalho foi a derrota de Jarbas Passarinho para Hélio Gueiros, na disputa para o Senado, na qual o peemedebista, que no final dos anos 60 do século passado tivera os seus direitos políticos cassados pela ditadura militar, levou a melhor com o auxílio dos votos de sublegenda, o que lhe permitiu agregar a votação obtida pelos dois outros candidatos do PMDB, o deputado federal João Menezes e Itair Silva, este um respeitado advogado trabalhista. A sublegenda, convém esclarecer aos jovens eleitores, permitia o lançamento, pelo mesmo partido, de mais de um candidato para um mesmo cargo. As votações eram somadas, favorecendo o mais votado da legenda, a cujos votos eram agregados os votos dos demais candidatos.
Originário do baratismo, a tendência política regional inspirada pelo ex-governador Magalhães Barata, e cassado pela ditadura militar, Gueiros foi resgatado do limbo político por Jader, que dele faria seu sucessor, em 1986. Para tanto contaram os laços do passado que atavam-no a Laércio Barbalho, pai de Jader, também baratista e igualmente cassado pelo golpe militar, mais pela pecha de corrupto do que por motivações ideológicas. Um jornalista mordaz e polemista implacável, Gueiros – o popular Papudinho, como ficou conhecido por sua compulsiva inclinação a libações alcoólicas – revelou-se um político pérfido e despido de escrúpulos. Eleito governador, posteriormente rompeu com Jader, a quem satanizou até a exaustão na sucessão estadual de 1990, uma das mais virulentas da história do Pará, vencida pelo seu ex-benfeitor. Apesar da derrota do seu candidato em 1990, o empresário Sahid Xerfan, Gueiros elegeu-se prefeito de Belém em 1992, pelo PFL, aliou-se depois ao tucano Almir Gabriel, a quem ajudou a eleger governador em 1994 e do qual fez vice um dos filhos, Hélio Gueiros Júnior, o Helinho. Mais tarde romperia com Almir Gabriel, tão pérfido quanto ele, reconciliando-se com Jader, com o qual fez uma fracassada dobradinha eleitoral em 1998.
Atropelados pela escandalosa utilização da máquina administrativa por Almir Gabriel, candidato à reeleição, em 1998 Jader amargou a única derrota eleitoral de sua carreira, na disputa pelo governo, e Gueiros perdeu a refrega para o Senado para Luiz Otávio Campos, o Pepeca, empresário transmutado em político, que tornou-se exemplo de corrupto impune. Naquelas eleições, candidato à Câmara Federal, Hélio Gueiros Júnior, o Helinho, também não conseguiu eleger-se. Com uma trajetória errática, depois disso Gueiros amargou o ostracismo político, mantendo-se em evidência, porém, como jornalista, nas páginas do Diário do Pará, o jornal do grupo de comunicação da família do hoje senador Jader Barbalho, que firmou-se como o morubixaba do PMDB no estado e a mais longeva liderança política da história do Pará.
A biografia política de Gueiros inclui, além de um rancor figadal a Jarbas Passarinho, passagens eticamente deploráveis, como os termos da sua retaliação a Romulo Maiorana, o patrono da família que é proprietária do grupo de comunicação cuja TV é afiliada da Rede Globo de Televisão, nas eleições de 1982, quando ignominiosamente envolveu a matriarca dos Maiorana, dona Dea. Da mesma forma, foi implacável quando rompeu com Jader Barbalho, a quem demonizou impiedosamente, na campanha eleitoral de 1990. Ele levou sua ira ao paroxismo em uma escaramuça com Lúcio Flávio Pinto, ao qual remeteu uma carta em termos ignominiosos – usando como intermediário o diretor superintendente de A Província do Pará, Roberto Jares Martins –, em revide a críticas feitas pelo jornalistas à sua administração como governador. Carismático, traço potencializado pela impagável verve, Gueiros sempre ignorou solenemente as cicatrizes deixadas por seus agravos, ou simplesmente tratou de minimizá-los. Em 1998, por exemplo, ao ser questionado sobre a reconciliação com Jader Barbalho, após a troca de ofensas mútuas nas eleições de oito anos atrás, retrucou, com bom humor e a voz esganiçada que ajudava a tornar mais hilárias suas tiradas: “Ora, se eu brigo e me reconcilio com a Terezinha, que é minha mulher, porque não posso brigar e me reconciliar com o Jader?”.

De resto, a irreverência, frequentemente no limite do deboche, foi, sempre, um traço marcante em Hélio Gueiros. Assim, por exemplo, como governador ele reagiu de forma enérgica, mas também histriônica, diante da possibilidade do Pará vir a ser destinatário de lixo atômico. Diante dessa possibilidade, ele tratou de desqualificar o interlocutor escalado pelo Palácio do Planalto, um militar chamado Rex Nazaré. “O Pará não vai ser destinatário de lixo nenhum e eu não vou perder tempo discutindo com um sujeito com nome de cachorro”, fulminou, despertando escancaradas risadas nos jornalistas encarregados de entrevistá-lo.

Um comentário :

Cristovão Alves disse...

Pra mim, o melhor e mais macho Vice Governador do Pará foi o HELIO GUEIROS JÚNIOR o HELINHO