SOB CENSURA, POR DETERMINAÇÃO DOS JUIZES TÂNIA BATISTELO, JOSÉ CORIOLANO DA SILVEIRA, LUIZ GUSTAVO VIOLA CARDOSO, ANA PATRICIA NUNES ALVES FERNANDES, LUANA SANTALICES, ANA LÚCIA BENTES LYNCH, CARMEN CARVALHO, ANA SELMA DA SILVA TIMÓTEO E BETANIA DE FIGUEIREDO PESSOA BATISTA - E-mail: augustoebarata@gmail.com
segunda-feira, 25 de abril de 2016
BLOG – A volta, após o recesso compulsório
Retomo a atualização do Blog do Barata,
após um recesso compulsório, determinado por problemas de saúde e pendências
deles decorrentes, impossíveis de postergar.
CONCURSADOS – Justiça determina a imediata nomeação e posse dos aprovados em concurso
Zenaldo Coutinho: procrastinação da nomeação e posse dos concursados. |
Segundo o presidente da
Asconpa, a Associação dos Concursados do Pará, José Emílio Almeida, o juiz da
2ª Vara de Fazenda Pública da Capital, João Batista Lopes do Nascimento, deferiu,
no último dia 20 de abril, ação civil pública, com pedido de antecipação de
tutela, ajuizada pela Defensoria Pública do Estado, determinando a imediata
nomeação e posse dos candidatos aprovados e classificados
dentro do número de vagas ofertadas no concurso público n° 01/2012. Ainda de
acordo com Almeida, para o juiz, ao não promover as nomeações dos concursados,
o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, está violando o direito líquido e certos
dos aprovados no concurso, promovido há mais de três anos pela Semec, a Secretaria
Municipal de Educação de Belém (SEMEC).
Nascimento determinou,
ainda, com base em desídia infundada da prefeitura, o aumento do valor da
multa, anteriormente prevista em R$ 10 mil, e que passa a ser de R$ 50 mil, por
cada dia de descumprimento, até que a sua determinação seja cumprida, com a
possibilidade de decretação de prisão por crime de desobediência ao
"agente público", acrescenta o presidente da Asconpa, em release
enviado ao blog. “A decisão, para que a Prefeitura de Belém procedesse a
nomeação dos concursados havia sido publicada, inicialmente, no dia 27 de
outubro de 2015, mas até hoje não foi cumprida. E para justificar o
descumprimento, a assessoria jurídica do prefeito, alegava que a ordem do juiz
era apenas para nomear e não incluía posse”, esclarece o release.
TEATRO – No seu último dia, “Esse corpo que me veste”, do Grupo Cuíra, é a atração da noite desta quarta-feira
"Esse corpo que me veste": a procura de Deus, na versão do Grupo Cuíra. |
“Qual o corpo que lhe
veste? Essa é a pergunta. Nesse corpo heterogêneo que se verifica no Brasil em
termos de religiões, o lugar comum é a procura de Deus. E o papel do teatro é
responder a isso.” Assim é definida a peça “Esse corpo que me veste”, que tem dramaturgia de Edyr
Augusto Proença e direção de Wlad Lima. A montagem
encerra sua temporada na noite desta quarta-feira, 27, a partir das 20h, na sede
do grupo Cuíra, na rua Doutor Malcher, nº 287, entre as travessas Capitão Pedro
Albuquerque e Joaquim Távora, no bairro da Cidade Velha.
“Esse corpo que me veste”
tem no elenco Olinda Charone e Zê Charone, contando com participações especiais
de João Pedro Pereira e Lucila Vasconcelos. São apenas 16 lugares na plateia, com
os ingressos a R$ 30,00, a inteira, e R$ 15,00, a meia.
SERVIÇO
Dia e hora - Quarta feira, 27, 20h.
Local - Grupo Cuíra do Pará –
Rua Doutor Malcher, nº 287, entre as travessas Capitão Pedro Albuquerque e
Joaquim Távora, bairro da Cidade Velha.
Ingressos – R$ 30,00, a inteira; R$
15,00, meia.
Informações - 98204-5030 (whats app).
FICHA TÉCNICA
Direção - Wlad Lima.
Dramaturgia - Edyr Augusto Proença.
Figurinos - Grazi Ribeiro.
Visualidade e Iluminação -
Patrícia Gondim.
Assistentes - Bolyvar Junior e Ariane
Gondim.
Operação de iluminação -
Ariane Gondim.
Sonoplastia - Leoci Medeiros.
Produção Executiva -
Olinda Charone e Zê Charone.
Produção - Dani Cascaes
Realização - Grupo Cuíra do Pará.
Elenco - Olinda Charone e Zê
Charone, com participações especiais de João Pedro Pereira e Lucila Vasconcelos.
IMPEACHMENT – Capacidade de articulação de Jader pode garantir a sobrevivência da candidatura de Helder
Jader Barbalho: desembarque do Titanic petista, mirando em 2018. |
Atento observador da política paraense
aposta que, sob um novo cenário, o senador Jader Barbalho trata não apenas de manter
incólume a candidatura ao governo de seu filho e herdeiro político, o ex-ministro
dos Portos Helder Barbalho, mas principalmente de anabolizá-la, a despeito do desembarque
tardio e compulsório do Titanic da presidente Dilma Rousseff, às vésperas de
ser fulminado pelo impeachment. Por essa leitura, o morubixaba do PMDB no Pará,
a despeito do estigma de corrupto que a ele aderiu, aposta suas fichas na sua reconhecida
condição de hábil articulador político, capaz de transitar com desenvoltura nos
bastidores do Congresso Nacional, para cacifar-se junto ao futuro governo e
tornar-se seu principal interlocutor no Pará, a despeito da abissal distância
que historicamente separa Michel Temer de Jader Barbalho. E isso sem Jader romper
com o senador petista Paulo Rocha, a liderança de expressão que resta ao PT no
estado, após o desgaste que esfarinhou a legenda, no rastro da desastrosa
administração da ex-governadora Ana Júlia Carepa. Em pólo antagônico ao governador
tucano Simão Jatene, o PT manteria o PMDB como seu aliado preferencial no Pará,
devidamente avalizado por Jader.
Esse mesmo observador acredita ainda que, com
o partido alinhado com o novo governo, sequer a direção nacional do PSDB iria
se opor a uma política de boa vizinhança com Jader no Pará. E recorda, a propósito,
a época do governo Fernando Henrique Cardoso, quando o Palácio do Planalto
ignorava solenemente as pretensões do então governador Almir Gabriel, que
chegou a se imaginar como uma liderança histórica em ascensão, embalado por sua
corte de áulicos. Sem luz própria e sem um nome de efetiva capilaridade para lançar
como candidato à sua sucessão, em tempos de repulsa à corrupção Simão Jatene sequer
poderia se arvorar a utilizar escancaradamente a máquina administrativa para
viabilizar seu eventual candidato. “Para o bem ou para o mal, a política no
Pará passa, necessariamente, por Jader Barbalho”, sublinha a fonte. “As
lideranças que a ele circunstancialmente se opõem não têm a substância que seu
reconhecido carisma e inquestionável habilidade política lhe conferem”, arremata
a fonte.
SINTEPP – Para o Ministério Público ler e apurar
Merece atenção do MPE, o Ministério Público
Estadual, a grave denúncia contida em comentário anônimo de 16 de abril sobre o
ocorrido na mais recente reunião do Conselho Estadual de Representantes do
Sintepp, o Sindicato
dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará, cuja diretoria está sob a
suspeita de corrupção.
Segue abaixo, na íntegra, a denúncia do internauta anônimo:
Nos dias 09 e 10 de abril de 2016, aconteceu na
CCNT/UEPA, auditório, o CER (Conselho Estadual de Representantes do SINTEPP).
Trata-se de um fórum de deliberações com diretores de vários municípios do Pará.
Em tese para discutir os rumos que o sindicato adotará para campanhas correntes
no ano.
Todavia, tem muitos problemas administrativos e de
representação nesse fórum. Vejamos:
O Sintepp possui auditório próprio onde comportam
todos os conselheiros. E com excelente estrutura que vai desde duas centrais de
ar condicionado até sistema de áudio. Então por que a direção do Sintepp não
faz uso do espaço? Prefere pagar pelo uso de um auditório externo? Talvez,
porque a senhora Zaira Valeska (membro do SINDUEPA - Sindicato da UEPA e também
por pertencer a APS mesma linha política dos dirigentes do SINTEPP) faça o
arranjo para este fato se consumar;
Esse fórum é na verdade uma instância pró-forma,
porque cerca de 90% dos conselheiros de outros municípios estarem fechados
cegamente com as propostas da direção estadual do sindicato. Haja vista, haver
uma CARTELIZAÇÃO das subsedes, isto é, os diretores da APS/Psol na condição de
gestores financeiros dos recursos do SINTEPP FINANCIAM as chapas nas eleições
municipais das subsedes (as chapas de nome "Vem pra Luta"). Óbvio que
o dinheiro é do sindicato e não deveria ser usado para isso, como resultado os
diretores de subsedes prestam apoio incondicional aos seus financiadores;
Neste CER aprovaram moções de "apoio" a
direção que os financia. Sem sequer analisar o teor das denúncias impetradas
pelo Ministério Público Estadual e Federal. Inclusive houve diretor que ofendeu
diretamente o moral da entidade ministerial (parquet) com uso de palavras de
baixo calão na tentativa de o desqualificar;
Um membro efetivo da Comissão de Ética dois dias
antes do evento protocolou um requerimento para se manifestar, no CER, e
solicitar apuração das denúncias, devidamente documentadas. Mas, a direção do
Sintepp o boicotou não lhe deu a palavra e desconheceu o documento;
Simularam uma pífia "prestação de contas"
a tesoureira do Sintepp, Conceição Holanda, fez uso de esparso tempo para
admitir diante de todos os conselheiros que o sindicato tem a prática de
EMPRESTAR dinheiro. O que por si só já é crime de responsabilidade
administrativa e financeira, pois segundo art. 150 da lei nº 5.172/66 C/C com
art. 4º dad lei nº 1.521/51 é vedado a entidade sindical fazê-lo, bem como, a
própria natureza jurídica da entidade se tratar de entidade representativa e
não financeira (bancos);
O assessor jurídico do sindicato fez uso da palavra
da ameaçar aqueles que se colocam contra a atual gestão, alegando que abrirá
processos por está havendo uma "perseguição" com difamações contra a
direção. O que não pode ser admitido como verdade, pois há fortíssimos indícios
do cometimento de desvios financeiros, especialmente, para financiar campanhas
eleitorais de políticos.
BLOG – A patética aventura processual de Ricardo Albuquerque Silva, o procurador de Justiça pinguço
Vídeo da reportagem da TV Liberal exibindo a detenção
de Ricardo Albuquerque da Silva, por dirigir alcoolizado.
Um celerado, que tenta pateticamente
desmentir o indesmentível, exibindo um cinismo de corar anêmico, turbinado pela
arrogância de quem aposta na impunidade. Assim, resumidamente, pode ser
descrita a aventura processual protagonizada por Ricardo Albuquerque da Silva,
flagrado pela Polícia Rodoviária Federal, em 2011, dirigindo bêbado, em um
episódio registrado em imagens pela reportagem da TV Liberal, levadas ao ar nas
duas edições diárias do Jornal Liberal. Na época corregedor substituto do
Ministério Público Estadual, apesar das inocultáveis evidências de embriaguez
exibidas quando foi detido pela PRF, ele acabou inocentado, por insondáveis mistérios
divinos, certamente reforçados pelos atalhos do corporativismo e do tráfico de influência.
Do imbróglio resultaram ações civil e criminal movidas contra mim, pelo fato do Blog do Barata
ter noticiado a carraspana de Silva, em postagem de 1º de novembro de 2011, cujo antetítulo,
“Bebum”, foi posteriormente censurado pela Justiça, que também determinou a
supressão de comentários anônimos. O controvertido
procurador de Justiça, porém, não moveu nenhuma ação judicial contra a TV
Liberal, e tampouco o jornal O Liberal,
que repercutiu o vexame de Silva, embora também tenha processado uma cunhada, a
quem acusou de forjar o flagrante, em uma sandice, de contornos algo cômicos,
que a Justiça tratou de sepultar.
O que evidencia a litigância de má-fé, no
caso de Silva, é a desfaçatez do procurador de Justiça em insistir em alegar
tratar-se de balela a acusação de ter sido flagrado dirigindo bêbado, a
despeito das imagens exibidas na reportagem da TV Liberal. Isso certamente
justifica a ironia com a qual trata o assunto o advogado Cadmo Bastos de Melo
Júnior – um profissional de competência, probidade e experiência reconhecidas –
ao fazer minha defesa na ação criminal. Diante
das imagens da reportagem da TV Liberal, Cadmo Bastos Melo Júnior é incisivo. “No
vídeo podemos todos constatar dois detalhes absolutamente precisos e
induvidosos de qual era a condição que a pretensa vítima apresentava naquele
momento. A primeira, de facílima observação, é que ele caminha trôpego ao sair
de seu automóvel do lado do motorista, o que confirma que era ele quem dirigia
o veículo, onde também se constata que ele tinha a voz embrulhada, embargada
mesmo, denotando que ele estava sob efeito de alguma substância entorpecente
naquele lugar e naquele momento, presumivelmente alcóolica”, acentua, cáustico.
“A segunda, e essa é a mais aterradora para alguém que possui o status
socialmente relevante de ‘procurador
de Justiça’, e, portanto, deveria dar o exemplo de conduta pessoal
que a liturgia do seu cargo exige, e que vem concretamente confirmar a primeira,
é que ele saiu de seu automóvel portando em sua mão direita uma garrafa de, de,
de….. whisky!”, ironiza o advogado.
As palavras do advogado Cadmo Bastos Melo Júnior, ao fazer minha defesa,
corroboram a observação feita na postagem que deu origem às ações judiciais
movidas contra mim pelo procurador de Justiça flagrado dirigindo em inocultável
carraspana. “O visível excesso etílico do distinto procurador de Justiça seria
uma questão de consumo interno do cidadão que ele também é se Ricardo Albuquerque
da Silva não estivesse dirigindo, na contramão do bom senso e do respeito a lei
da qual ele, em tese, é fiscal. Com um agravante: qual sua autoridade moral,
após o episódio, para permanecer no cargo de vice-corregedor do Ministério
Público Estadual?”, assinala a postagem de 1º de novembro de 2011. Depois disso,
Silva foi compelido a se exonerar do cargo de vice-corregedor e, revelando-se o
poltrão que todo celerado no fundo é, investiu, graciosamente, contra a própria
cunhada e contra mim. Mas, covardemente, não teve coragem moral de ajuizar
nenhuma ação contra a TV Liberal, que é afiliada da Rede Globo de Televisão, e O Liberal, o segundo jornal de maior
tiragem do Pará.
BLOG – O perfil de Silva, vulgo Dick Crazy
Ricardo Albuquerque da Silva, o Dick Crazy. |
Devido graves problemas de saúde, fui revel
na ação civil movida por Ricardo Albuquerque da Silva, condição que define o réu
que não contesta a ação em face dele
proposta. Por não comparecer à audiência, fui condenado a pagar uma indenização
de R$ 22.718,20 e, na esteira da sentença, tive bloqueada a conta bancária, a
despeito da minha renda mensal ser caracterizada como verba alimentícia,
indispensável para minha sobrevivência. A ação criminal teve sua audiência de
conciliação terça-feira, 19 de abril, na 6ª Vara Criminal, e embora breve – já que
descartada a possibilidade de qualquer acordo, por ambas as parte – foi
reveladora do perfil do procurador de Justiça flagrado pela Polícia Rodoviária
Federal dirigindo visivelmente bêbado. A começar pela apresentação de Silva,
que reporta à máxima, cunhada por alguém de cujo nome não me recordo, segundo a
qual só os insensíveis não se deixam levar pela primeira impressão.
Todo
de preto, com a roupa amarfanhada, vestindo uma camisa social de mangas
compridas desabotoada, sobre uma camisa de meia, o rosto macilento, de quem presumivelmente dispensou o banho matinal, Silva exibiu-se, na audiência, despido dos cuidados
com a imagem que se espera de um procurador de Justiça, em respeito à liturgia
do cargo. Foi como se tivesse retroagido aos tempos de juventude, quando
tornou-se uma figura algo folclórica, que se fazia conhecer pelo codinome de
Dick Crazy, personagem
que incorporou, ao passar a apresentar um programa sobre rock na Rádio Clube do
Pará, ocasião na qual foi tomado por um deslumbramento suburbano. Pelo codinome, ele era motivo de troça no curso de direito da UFPA, a
Universidade Federal do Pará, que costumava frequentar vestido desleixadamente,
sempre de óculos escuros e sentando-se invariavelmente no fundo da sala de
aula.
Mas na
audiência faltou a Silva, sobretudo, postura e compostura. Com as mãos trêmulas
e elevando a voz para além dos decibéis toleráveis, ele foi, por isso,
energicamente admoestado pelo advogado Cadmo Bastos Melo Júnior, logo no início
da audiência. Contemporâneo de Silva e da mesma faixa etária, porém corpulento,
o advogado, habitualmente afável, tratou de arrefecer o desvario do procurador
de Justiça, lembrando-lhe que compostura não exige regras, bastam modos. “Vamos
nos comportar com civilidade, para evitarmos problemas mais graves”, advertiu
Cadmo, dirigindo-se a Silva, que foi então tomado por súbita e inocultável
palidez. Na audiência, o procurador pinguço reclamou, em tom colérico, ser por
mim “achincalhado”, embora sem rebater, com argumentos, a denúncia do Blog do Barata, feita também, convém repetir, pela TV Liberal e pelo
jornal O Liberal. Com a pobreza
vocabular e argumentativa de adolescente inculto, ele insistiu, com colossal
desfaçatez, que a denúncia sobre o flagrante que sofreu seria “mentira”,
naturalmente sem aludir às imagens da TV Liberal, e ainda se queixou de uma
suposta procrastinação por parte do meu advogado, uma acintosa aleivosia, sem
amparo em fatos. De resto, Silva evidenciou o vício próprio de quem mede os
outros por sua própria régua. Ele insinuou que eu pudesse ser movido por razões
pessoais, desconhecendo que as pessoas, ou pelo menos alguma delas, costumam
ser movidas também por princípios. “Eu não sei o porquê disso, porque eu nem o
conheço”, disparou. Mais patético, impossível.
BLOG – Compromisso inarredável com a notícia
Não tenho mais idade e nem élan para dar
trela a estultícias. Mas em respeito aos leitores do Blog do Barata, cabe um
esclarecimento diante da ilação de Ricardo Albuquerque da Silva, o procurador
pinguço, de que minhas eventuais críticas possam ter como combustível razões
pessoais. Um erro crasso, próprio de quem mede os outros por sua própria régua.
Meu compromisso inarredável é com a
notícia. Doa a quem doer. Um compromisso que é cláusula pétrea para o Blog do Barata, que mantenho solitariamente há quase 11 anos. Por isso perdi amizades nascentes, coleciono
desafetos, acumulo ameaças de retaliação e amargo condenações graciosas, de
juízes notoriamente tendenciosos, alguns com uma vida pregressa desabonadora, sem que minhas denúncias jamais tenham sido
desmentidas. Não me sinto melhor do que ninguém por isso. Apenas não me
chafurdo no pântano do oportunismo de quem é subserviente por cálculo, vocação,
formação e interesse. E nem vou intimidar-me com um Silva da vida, cuja
irrelevância, pessoal e profissional, o faz confundir-se, até hoje, com o
personagem que criou, Dick Crazy.
sábado, 9 de abril de 2016
ASSALTO – No Pará real, inexiste ilha de segurança e a escalada da criminalidade alcança a Estação das Docas
Estação das Docas: o luxo contaminado pela escalada da violência... |
...como ilustra o assalto do qual foi vítima a jovem Yorranna Oliveira. |
No Pará da tucanalha, a banda podre do PSDB, inexistem ilhas de segurança.
No rastro do sucateamento da segurança pública, uma marca das sucessivas administrações tucanas no Pará, Belém vive o pânico provocado pela escalada da criminalidade, que já não poupa sequer os endereços mais nobres e pretensamente seguros da capital paraense.
Uma jovem, Yorranna Oliveira, narra ter perdido o celular, ao sofrer um insólito assalto, em plena Estação das Docas. “[Foi] Dentro da Estação, na área perto dos banheiros. [Um] Cara chegou com uma arma e puxou o celular”, relatou.
À vítima, na falta de alternativas, restou o bom humor. “Fui assaltada na Estação das Docas. Ou seja, ligações e zaps do meu número, ignorem que é cilada. Não tenho ideia de quando terei um celular novamente, porque estou sem trampo e sem grana para comprar um novo”, relata, irônica. E conclui, em tom de pilhéria: “Quem quiser me doar um velho, mas limpinho, estou aceitando.”
Isto é Pará!
ASSALTO – Insegurança recorrente
Parque da Residência, palco do inusitado assalto às irmãs Camila e Mariana, das quais o bandido, na falta do que levar, roubou sorvetes. |
O drama da jovem Yorranna Oliveira, pelo
inusitado do local e da circunstância, assemelha-se ao que passaram 10 anos
atrás as jovens irmãs Camila e Mariana Almeida Ferreira, vítimas de um assalto
do qual se poderia dizer algo hilário, não fosse pelo susto a qual foram
submetidas.
Em 2006, na tarde de um modorrento domingo,
como moram próximas do Parque da Residência, Camila e Mariana foram até este, a
pé e de blusa, calça jeans e sandálias havaianas, para comprar sorvete, levando
apenas o dinheiro necessário para efetuar o pagamento. Na saída, o susto. Elas foram
abordadas por um assaltante. Na falta do que levar, pois as jovens nada
portavam de valor, o bandido roubou os sorvetes que ambas mal tinham começado a
saborear. Por sorte, as jovens escaparam de qualquer violência física.
O episódio soaria cômico, não fosse
emblemático do sucateamento da segurança pública no Pará, tratada como
indigente pelo governador tucano Simão Jatene. Do que resulta a população,
indefesa, ficar à mercê da escalada da criminalidade. Com o ônus adicional de
bancar, como contribuinte, as benesses nas quais se deliciam os poderosos da
hora.
ASSALTO – “Sensação de insegurança”
Nessa mesma época, o ex-governador tucano
Almir Gabriel, confrontado com a escalada da criminalidade em Belém,
tangenciou, alegando tratar-se de uma suposta “sensação de insegurança” da
população, derivada do sensacionalismo do noticiário policial.
A lambança custou caro a Almir Gabriel, que
postulava um terceiro mandato de governador, pelo PSDB. Além de enriquecer o
folclore político, ele acabou derrotado pela petista Ana Júlia Carepa, na
sucessão estadual de 2006.
Para piorar, e desmentir o ex-governador
tucano, na mesma ocasião o coordenador da campanha de Almir Gabriel em Belém foi
assaltado, durante uma incursão político-eleitoral no bairro do Guamá.
HISTÓRIA – O veto do SNI a Ronaldo Passarinho, um episódio abafado pela ditadura para poupar Jarbas
Ronaldo Passarinho: sob veto da ditadura militar com a qual prosperou, ganhando visibilidade no rastro do prestígio do tio, Jarbas Passarinho. |
Se não ficar circunscrita a troca de
rapapés e destinar-se apenas a lustrar a imagem de seu proeminente tio, a
presença de Ronaldo Passarinho Pinto de Souza na Comissão Estadual da Verdade
servirá, certamente, para esclarecer importantes passagens do golpe militar de 1º
de abril de 1964 e seus desdobramento no Pará. A começar do veto do então
temível SNI, Serviço Nacional de Informação, ao próprio Ronaldo Passarinho, que
já aceitou o convite para depor, segundo revelou o Blog da FranssineteFlorenzano, a jornalista que é também consultora técnica de carreira
da Alepa, a Assembleia Legislativa do Pará. Se permanecer fiel ao seu estilo,
loquaz e irônico, e despir-se do mise-en-scène de homem público austero e
probo, ele promete um depoimento elucidativo sobre os bastidores da ditadura
militar na terra do vale-tudo político-eleitoral, para além de resgatar a
importância histórica do tio ilustre, Jarbas Passarinho, uma das mais
importantes lideranças do regime dos generais, inclusive e sobretudo no plano
nacional. O prestígio de Jarbas acabou por blindar Ronaldo e tornou o veto do
SNI um tema-tabu, solenemente ignorado pela grande imprensa paraense, agora retomado
pelo Blog do
Barata.
Dono de uma
banca de advocacia administrativa cujo período de prosperidade coincidiu com a
ditadura militar, sob a qual fez carreira política e a qual sempre defendeu
intransigentemente, Ronaldo Passarinho foi deputado estadual por sucessivas
legislaturas até ser catapultado para o TCM, o Tribunal de Contas dos
Municípios do Pará, do qual foi presidente e pelo qual aposentou-se. Mas ele
notabilizou-se, acima de tudo, como o condestável do jarbismo, a
vertente política que teve como epicentro o coronel Jarbas Gonçalves Passarinho
e pontificou no Pará durante o regime dos generais, ao lado do alacidismo,
a tendência cujo patrono foi o também coronel Alacid da Silva Nunes, personagem
do script clássico pelo qual a criatura volta-se contra o criador. Ex-aliados,
cuja política paroquial transformou em inimigos figadais para todo o sempre,
Jarbas, que ganhou expressão nacional como uma das mais expressivas lideranças
da ditadura militar, e Alacid dividiram o proscênio político paraense até a
redemocratização, cujo marco no Pará foi a eleição de Jader Barbalho como governador,
pelo PMDB, em 1982.
HISTÓRIA – Disputa pavimenta ascensão de Jader
Já governador, Jader Barbalho, sentado, ao lado de Tancredo Neves; em pé, Ulysses Guimarães e Fernando Henrique Cardoso: prestígio. |
Jader Barbalho,
diga-se, elegeu-se governador do Pará, em 1982, com o decisivo apoio de Alacid
Nunes, que rompera com o Palácio do Planalto, ao não honrar o compromisso –
assumido ao ser ungido governador pela segunda vez, em 1978 – de acatar como
sucessor um nome a ser indicado por Jarbas Passarinho. Em contraposição aos cargos e verbas federais, que turbinavam os candidatos do governo do general-presidente Joâo Figueiredo Brasília, Alacid valeu-se da máquina administrativa estadual para anabolizar a candidatura de Jader Barbalho. Disso também resultou a vitória
de Jader sobre o empresário Oziel Carneiro, candidato ao governo pelo PDS,
Partido Democrático Social, sucedâneo da Arena, a Aliança Renovadora Nacional,
como legenda de sustentação do regime dos generais. Ao eleitorado cativo da ooposição somaram-se os dissidentes do PDS, com seu respeitável acervo de votos. Eleito, pela juventude e
carisma Jader logo ganhou visibilidade nacional, inclusive pela intimidade com a
caciquia peemedebista, que incluía Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, participando
ativamente das articulações da Nova República, o nome de fantasia da
redemocratização do Brasil. Todo esse capital político acabou esfarinhado com a
pecha de corrupto que a ele aderiu, no rastro de uma súbita evolução
patrimonial e da permissividade que marcou seu primeiro mandato como governador, em um estigma agravado pela associação do seu nome aos escândalos do Banpará, o Banco do Estado do Pará, e da Sudam, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia. Mesmo estigmatizado pela grande imprensa brasileira, e por isso operando nos bastidores, ele é hoje senador e reconhecido como um hábil articulador político no Congresso Nacional. No plano local, Jader consolidou o status de morubixaba do PMDB no Pará e tornou-se a a mais longeva liderança política da história do estado, em uma carreira iniciada em 1966, como vereador de Belém, pelo MDB, o Movimento Democrático Brasileiro, do qual é sucedâneo o PMDB.
Por respeito à história,
convém traçar um perfil minimamente isento de Oziel Carneiro, o adversário de
Jader Barbalho em 1982. Um bem-sucedido empresário, projetado para a política
partidária na esteira do poder do grupo econômico da família, Pedro
Carneiro S/A Indústria e Comércio, ele notabilizou-se não só pela probidade
pessoal, como por se constituir em um quadro político atípico para os padrões
do regime militar. Presidente do Banco da Amazônia, recusou-se a marginalizar
os funcionários estigmatizados como comunistas, segundo o depoimento insuspeito do cientista político Roberto Corrêa, cuja biografia inclui uma longa
militância no PCB, o Partido Comunista Brasileiro, o histórico Partidão, desfigurado após o racha que
originou o PPS, o Partido Popular Socialista. O testemunho de Roberto Corrêa
sobre Oziel Carneiro, em entrevista ao Blog do Barata, é definitivo: “(...) uma figura
honesta e democrática que aparece nos dossiês do SNI como tolerante com a
‘infiltração comunista no Basa’, onde foi presidente, tendo por assessores
conhecidos militantes comunistas”.
HISTÓRIA – O resgate de Hélio Gueiros
Em sentido horário, Hélio Gueiros, Jader Barbalho, Benedicto Monteiro, Ademir Andrade e Itair Silva, em comício na campanha eleitoral de 1982. |
Outra
consequência do apoio de Alacid Nunes a Jader Barbalho foi a derrota de Jarbas Passarinho
para Hélio Gueiros, na disputa para o Senado, na qual o peemedebista, que no
final dos anos 60 do século passado tivera os seus direitos políticos cassados
pela ditadura militar, levou a melhor com o auxílio dos votos de sublegenda, o
que lhe permitiu agregar a votação obtida pelos dois outros candidatos do PMDB,
o deputado federal João Menezes e Itair Silva, este um respeitado advogado
trabalhista. A sublegenda, convém esclarecer aos jovens eleitores, permitia o
lançamento, pelo mesmo partido, de mais de um candidato para um mesmo cargo. As
votações eram somadas, favorecendo o mais votado da legenda, a cujos votos eram
agregados os votos dos demais candidatos.
Originário do baratismo, a tendência política regional inspirada pelo
ex-governador Magalhães Barata, e cassado pela ditadura militar, Gueiros foi
resgatado do limbo político por Jader, que dele faria seu sucessor, em 1986.
Para tanto contaram os laços do passado que atavam-no a Laércio Barbalho, pai de Jader, também baratista e igualmente cassado
pelo golpe militar, mais pela pecha de corrupto do que por motivações
ideológicas. Um jornalista mordaz e polemista implacável,
Gueiros – o popular Papudinho, como
ficou conhecido por sua compulsiva inclinação a libações alcoólicas –
revelou-se um político pérfido e despido de escrúpulos. Eleito governador,
posteriormente rompeu com Jader, a quem satanizou até a exaustão na sucessão
estadual de 1990, uma das mais virulentas da história do Pará, vencida pelo seu
ex-benfeitor. Apesar da derrota do seu candidato em 1990, o empresário Sahid
Xerfan, Gueiros elegeu-se prefeito de Belém em 1992, pelo PFL, aliou-se depois
ao tucano Almir Gabriel, a quem ajudou a eleger governador em 1994 e do qual
fez vice um dos filhos, Hélio Gueiros Júnior, o Helinho. Mais tarde romperia
com Almir Gabriel, tão pérfido quanto ele, reconciliando-se com Jader, com o
qual fez uma fracassada dobradinha eleitoral em 1998.
Atropelados pela escandalosa utilização da
máquina administrativa por Almir Gabriel, candidato à reeleição, em 1998 Jader
amargou a única derrota eleitoral de sua carreira, na disputa pelo governo, e
Gueiros perdeu a refrega para o Senado para Luiz Otávio Campos, o Pepeca, empresário transmutado em
político, que tornou-se exemplo de corrupto impune.
Naquelas eleições, candidato à Câmara Federal, Hélio Gueiros Júnior, o Helinho,
também não conseguiu eleger-se. Com uma trajetória errática, depois disso
Gueiros amargou o ostracismo político, mantendo-se em evidência, porém, como
jornalista, nas páginas do Diário do Pará,
o jornal do grupo de comunicação da família do hoje senador Jader Barbalho, que
firmou-se como o morubixaba do PMDB no estado e a mais longeva liderança
política da história do Pará.
A biografia política de Gueiros inclui, além de um rancor figadal a Jarbas Passarinho, passagens eticamente deploráveis, como os termos da sua retaliação a Romulo Maiorana, o patrono da família que é proprietária do grupo de
comunicação cuja TV é afiliada da Rede Globo de Televisão, nas eleições de 1982,
quando ignominiosamente envolveu a matriarca dos Maiorana, dona Dea. Da mesma
forma, foi implacável quando rompeu com Jader Barbalho, a quem demonizou impiedosamente, na campanha eleitoral de 1990. Ele
levou sua ira ao paroxismo em uma escaramuça com Lúcio Flávio Pinto, ao qual remeteu uma carta em termos ignominiosos – usando como intermediário o diretor
superintendente de A Província do
Pará, Roberto Jares Martins –, em revide a críticas feitas pelo jornalistas
à sua administração como governador. Carismático, traço potencializado pela
impagável verve, Gueiros sempre ignorou solenemente as cicatrizes deixadas por
seus agravos, ou simplesmente tratou de minimizá-los. Em 1998, por exemplo, ao
ser questionado sobre a reconciliação com Jader Barbalho, após a troca de
ofensas mútuas nas eleições de oito anos atrás, retrucou, com bom humor e a voz
esganiçada que ajudava a tornar mais hilárias suas tiradas: “Ora, se eu brigo e
me reconcilio com a Terezinha, que é minha mulher, porque não posso brigar e me
reconciliar com o Jader?”.
De resto, a
irreverência, frequentemente no limite do deboche, foi, sempre, um traço
marcante em Hélio Gueiros. Assim, por exemplo, como governador ele reagiu de
forma enérgica, mas também histriônica, diante da possibilidade do Pará vir a ser destinatário de lixo
atômico. Diante dessa possibilidade, ele tratou de desqualificar o interlocutor
escalado pelo Palácio do Planalto, um militar chamado Rex Nazaré. “O Pará não
vai ser destinatário de lixo nenhum e eu não vou perder tempo discutindo com um
sujeito com nome de cachorro”, fulminou, despertando escancaradas risadas nos
jornalistas encarregados de entrevistá-lo.
HISTÓRIA – Trajetória bem-sucedida, apesar do veto
O que torna
algo singular a bem-sucedida trajetória de Ronaldo Passarinho é ter ele
conseguido permanecer incólume diante das restrições feitas – sob as acusações
de corrupção e tráfico de influência – pelo temível e implacável SNI, o Serviço
Nacional de Informação da ditadura militar, que o Blog
do Barata, com exclusividade, tornou públicas, com base em
documentos disponibilizados pelo Arquivo Nacional de Brasília. Liberadas para consulta pública, as anotações do SNI sobre Ronaldo Passarinho são implacáveis
e devastadoras, o que explica o porquê ter sido frustrada sua nomeação como
secretário de Governo do recém-empossado governador Fernando Guilhon, cuja
indicação teve como avalista justamente Jarbas Passarinho, o seu ilustre tio, que
se notabilizou como paradigma de probidade pessoal.
A blindagem
da qual se beneficiou Ronaldo Passarinho certamente se deve ao status de
sobrinho dileto e fiel escudeiro do coronel Jarbas Passarinho, uma das
lideranças reveladas pelo golpe militar de 1º de abril de 1964, corolário de
uma polarização que dividiu o Brasil na época, diante da suposta ameaça
comunista, estimulada pelo discurso belicoso das esquerdas e da postura tíbia
do presidente João Goulart, o Jango. O golpe pavimentou a sinistra ditadura
militar, só sepultada 21 anos depois, com a eleição no colégio eleitoral de
Tancredo Neves (PMDB), primeiro presidente civil após o regime dos generais,
que morreu sem ser empossado. Em lugar de Tancredo assumiu seu vice, José
Sarney, cuja ascensão política ironicamente ocorreu durante o regime dos
generais, em cujo ocaso se tornou dissidente. A condição de sobrinho dileto e
fiel escudeiro do prestigiado tio certamente explica Ronaldo ter sobrevivido
politicamente diante das recorrentes acusações de corrupção e tráfico de
influência registradas pelo SNI, fonte dos implacáveis interditos proibitórios
impostos pela ditadura militar, sob a qual ele fez carreira e a qual sempre
defendeu veementemente.
HISTÓRIA – Vexame e farsa
Charge de Luiz Pinto, sobre a tentativa de tornar Ronaldo governador. * |
A despeito das
recorrentes suspeitas de corrupção e tráfico de influência associadas ao seu
nome, em sua trajetória política Ronaldo Passarinho enfrentou um único percalço
mais grave, terrivelmente constrangedor para o tio ilustre, Jarbas Passarinho,
cuja probidade pessoal sempre foi reconhecida até pelos mais implacáveis
adversários. Em 1971, nomeado secretário de Governo do ex-governador Fernando
Guilhon, um homem reconhecidamente honesto e ungido para o cargo sob o aval de
Jarbas Passarinho, Ronaldo teve seu nome vetado pelo SNI, devido exatamente as
suspeitas de improbidade. Nem a interferência direta de Jarbas junto ao próprio
general-presidente Emílio Garrastazu Médici conseguiu livrá-lo do veto, impondo
ao tio pessoalmente probo um vexatório constrangimento. Sobretudo diante das
disputas paroquiais travadas com o coronel Alacid Nunes, que tornara-se seu
inimigo figadal, após ser por ele avalizado como prefeito de Belém e governador
do Pará, nos primeiros anos da ditadura militar.
A solução, para
poupar Jarbas Passarinho de um vexame público foi Ronaldo protagonizar uma
farsa, ao simular um problema de saúde, e sair de cena, compelido a arquivar,
pelo menos momentaneamente, a pretensão de tornar-se futuramente governador do
Pará. A grande imprensa paraense manteve-se silente sobre o interdito proibitório,
só noticiado pelo jornal Resistência, da SPDDH, a Sociedade Paraense de
Defesa dos Direitos Humanos, do qual era editor o jornalista Luiz Maklouf
Carvalho. Posteriormente, Luiz Maklouf Carvalho fez carreira na grande imprensa
brasileira e tornou-se um respeitado escritor, com livros como “Contido a bala
– A vida e a morte de Paulo Fonteles” (Editora Cejup, 1994); “Mulheres que
foram à luta armada” (Editora Globo, 1998), vencedor do Prêmio Jabuti de
Reportagem de 1999; “Cobras Criadas – David Nasser e O Cruzeiro” (Editora
Senac/SP, 2001); “Já vi esse filme – Reportagens (e polêmicas) sobre Lula e o
PT (1984-2005)” (Geração Editorial, 2005); e “João Santana: Um Marqueteiro no
Poder” (Editora Record, 2015).
Apesar do veto
do SNI, mas blindado pelo prestígio de Jarbas Passarinho, Ronaldo Passarinho
fez carreira política, elegendo-se deputado estadual por sucessivos mandatos,
culminando com a régia aposentadoria como conselheiro do TCM, um tribunal de
utilidade e probidade duvidosas, mais conhecido como Palácio das
Sinecuras, quesito no qual rivaliza com o TCE, o Tribunal de Contas do
Estado do Pará. Ele até voltou a ser cotado para governador, já sob o regime
democrático, em articulações que passavam por Jarbas Passarinho, então ministro da Justiça; Jader Barbalho, cumprindo seu segundo mandato como governador; Augusto Rezende, prefeito de Belém na época; e Romulo Maiorana Júnior, presidente executivo do grupo de comunicação da família e ungido sucessor do pai, Romulo Maiorana, que morrera de câncer em 1986. As articulações naufragaram quando Jarbas Passarinho foi
defenestrado do Ministério da Justiça, para o qual fora nomeado no governo de
Fernando Collor, o primeiro presidente eleito pelo voto direto após a ditadura
militar. Uma sucessão de escândalos desembocou no impeachment de Collor,
despejado do Palácio do Planalto por corrupção, assumindo então seu vice,
Itamar Franco, de perfil provinciano, notoriamente turrão, mas probo. O
ministro da Fazenda de Itamar Franco, o tucano Fernando Henrique Cardoso, que
viria a tornar-se seu sucessor, foi quem patrocinou o Plano Real, com o qual o
Brasil conquistou a estabilidade econômica, agora ameaçada, após sucessivos
governos do PT. O tucano Fernando Henrique Cardoso, o FHC, um respeitado
intelectual e político reconhecidamente hábil, com perfil de estadista,
protagonizou o governo da estabilidade econômica. Foi ele quem tornou possível
o petista Lula, um político sagaz e de colossal carisma, mas intelectualmente
chucro e desprovido de preocupações éticas, tornar-se o presidente da inclusão
social, sendo adicionalmente mitificado pela origem operária, apesar de hoje
confundir-se com a escória do petismo e da própria política brasileira.
* Na
charge de Luiz Pinto, o Luizpê, de 1992, a alegoria sobre as articulações
mirando na candidatura de Ronaldo Passarinho a governador. Na charge figuram
Hélio Gueiros, na ocasião rompido com Jader Barbalho e desafeto histórico
de Jarbas Passarinho, à margem, empunhando uma baladeira, pronto para atingir
Ronaldo Passarinho. Este figura no andor carregado (em sentido horário) por
Jarbas Passarinho, senador e ministro da Justiça; Jader Barbalho, governador;
Romulo Maiorana Júnior, presidente executivo das ORM, Organizações Romulo
Maiorana, então Grupo Liberal; e Augusto Rezende, na época prefeito de Belém.
Publicada no Jornal Pessoal, de Lúcio Flávio Pinto, a charge provocou a
demissão de Luiz Pinto de O Liberal, sem justa causa.
HISTÓRIA – Médici repele investida de Jarbas
Em "Os Anos de Chumbo", o relato da investida de Jarbas, repelida pelo general Emilio Médici. |
A frustrada
interferência de Jarbas Passarinho, junto ao general-presidente Emílio
Garrastazu Médici, na fracassada tentativa de colocar abaixo o veto do SNI a
Ronaldo Passarinho, foi relatada pelo general Octávio Costa, em depoimento a
Maria Celina D’Araujo e Gláucio Ary Dilon Soares, em agosto e setembro de 1992.
O depoimento de Costa figura em um dos volumes da trilogia sobre a memória
militar, editada pela Relume-Dumará, em 1994, a respeito da ditadura militar,
que se estendeu de 1964 a 1985. O volume com o depoimento do general Octávio
Costa intitula-se “Os Anos de Chumbo – A memória militar sobre a repressão”. A
este se somam dois outros volumes – “Visões do Golpe – A memória militar sobre
1964” e “A Volta aos Quartéis – A memória militar sobre a abertura”.
A respeito desse
episódio, envolvendo Jarbas Passarinho, assim relatou o general Octávio Costa:
“Vou dar
um testemunho sobre o Passarinho. Meu amigo Jarbas era um homem queridíssimo
pelo Médici, que tinha por ele enorme admiração, embora o cargo de ministro da
Educação possa tê-lo desgastado um pouco, como também o desgastou a política
paraense. Era o homem da revolução no Pará: nada se fazia ali sem ouvi-lo. Foi
ele quem indicou o primeiro governador paraense escolhido pelo Médici, o
Guilhon. Ao organizar seu governo, o Guilhon escolheu para secretário de
Governo o Ronaldo Passarinho, filho da irmã e madrinha do Passarinho, que tinha
por ela verdadeira adoração. Como havia controvérsias regionais sobre o
Roinaldo, o SNI botou um sinal vermelho em sua escolha. Sabe-se que esses
sinais vermelhos eram comuns, e que as motivações que o inspiravam, hoje,
poderiam não ter a menor importância.
“Esse
veto representou um sério problemas para o ministro. Atingido em seu prestígio
pessoal, realmente inegável, resolveu dirigir-se diretamente ao presidente. Foi
uma imprudência. O procedimento mais realista seria entrar na sala do Fontoura,
expor suas razões. Se não chegasse a uma conclusão favorável teria duas soluções:
‘botar a viola no saco’ ou ‘pedir o seu boné’. No entanto, o ministro preferiu
ir diretamente ao Médici, apresentou o caso, argumentou. Enquanto ele falava,
Médici cravava aquele olho azul em cima dele. Quando o ministro se convenceu,
por aquele olhar, que não tinha sido bem-sucedido em sua iniciativa, tentou
recuar. Sabe-se que teria dito algo como: ‘Presidente, sinto que estou
importunando o senhor com este assunto, que não deveria ter trazido à sua
consideração: vou conversar com o general Fontoura’. E que o Médici, com
autoridade e segurança, teria retrucado: ‘Passarinho, você trouxe o problema ao
presidente da República. Não posso mais ignorá-lo, o assunto agora é meu. Deixe
esse dossiê comigo que vou estudá-lo e chegar a uma conclusão pessoal. Se eu
concluir que o SNI não tem razão, o rapaz vai ser liberado para a nomeação:
direi ao Fontoura que levante o veto e autorize. Mas se eu chegar à conclusão
que há alguma coisa procedente contra o rapaz, dentro dos padrões do SNI, você
vai ‘adoecer’ seu sobrinho e ele declinará do convite feito
pelo Guilhon’. O rapaz ‘adoeceu’.
“Esse
caso exemplifica duas coisas: a visão de chefia de Médici e a importância dada
ao SNI, bem como a relatividade do poder de um ministro da Educação àquela
época. O presidente prestigiou totalmente o SNI e mostrou que possuía um grande
senso de respeito hierárquico, bem como o sentimento de sua autoridade. Ora,
ele era um ex-chefe do SNI, e o tinha como uma coisa quase infalível. As
estruturas do SNI eram como os ossos do presidente. Essa foi uma pequena
questão, imagine-se outras mais sérias.”
Em tempo:
Fontoura, mencionado no depoimento de Costa, vem a ser o general Carlos Alberto
da Fontoura, chefe do SNI na época do veto a Ronaldo Passarinho. Sobre o
general Octávio Costa apresentar como “revolução” o golpe militar de 1º de
abril de 1964, trata-se de um viés da idiossincrasia castrense, sem amparo
histórico ou sociológico.
HISTÓRIA – Prestígio em alta e o estigma do AI-5
Jarbas Passarinho (quinto, da esq. para a dir.), na reunião da qual resultou o nefasto AI-5, que tisnou irremediavelmente sua biografia. |
Ronaldo
Passarinho ter feito carreira política, apesar das restrições do SNI, permite
mensurar, com distanciamento histórico, a exata extensão do prestígio de Jarbas
Passarinho. Jarbas, além de governador do Pará e senador por sucessivos
mandatos (inicialmente pela Arena, a Aliança Renovadora Nacional,
posteriormente pelo sucedâneo desta, o PDS, Partido Democrático Social), foi
também ministro de seguidos governos. Durante a ditadura militar, ele foi
ministro do Trabalho e Previdência Social, no governo do general-presidente
Arthur da Costa e Silva; tornou-se depois ministro da Educação, no governo do
general-presidente Emílio Garrastazu Médici; tendo sido também ministro da
Previdência Social do último general-presidente, João Baptista Figueiredo.
Jarbas foi ainda ministro da Justiça, já no período democrático, no governo
Fernando Collor, o primeiro presidente eleito pelo voto direto após o regime
dos generais, defenestrado do Palácio do Planalto, via impeachment, por
corrupção.
Jarbas
Passarinho foi também presidente do Senado, no governo do general-presidente
João Figueiredo, protagonizando memoráveis debates – invariavelmente ácidos,
porém de alto nível – com o senador gaúcho Paulo Brossard, do PMDB, um
respeitado jurista, notabilizado como implacável tribuno. Sua biografia
política acabou irremediavelmente tisnada, porém, pela condição de signatário
do abominável AI-5, o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1969, que
radicalizou a ditadura militar, escancarado a porteira do árbitro, com prisões
indiscriminadas, torturas e assassinatos de adversários do regime, a pretexto
de reprimir a luta armada, deflagrada pela parcela, que era minoritária, da
oposição. Entrou para a História, como exemplo eloquente de subserviência a
ignomínia dos eventuais inquilinos do poder, a patética frase de Jarbas
Passarinho, na reunião do Conselho de Segurança Nacional, realizada no Rio, no
Palácio das Laranjeiras, no qual o regime militar escancarou seu caráter
ditatorial e sepultou os resquícios de garantias democráticas: “Às favas,
senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.”
Depois de
amargar a derrota eleitoral de 1982, quando Jader Barbalho tornou-se governador
e Hélio Gueiros senador, catapultando o PMDB para o poder no Pará, Jarbas
elegeu-se novamente senador, dessa vez, ironicamente, na esteira da força
política do seu adversário da véspera. Com sua esposa, dona Ruth Passarinho,
combalida por um câncer devastador, que acabaria por matá-la, Jarbas contou,
para retornar ao Senado, com Jader Barbalho, então governador e que já
neutralizara a tentativa de Alacid Nunes em manietá-lo, ao alijar politicamente
o aliado de 1982. “Vá cuidar da dona Ruth, que eu cuido da sua eleição”,
recomendou Jader a Jarbas. Palavra dada, palavra cumprida. Na sua volta à
política nacional, Jarbas teve sobre si os holofotes da mídia de todo o Brasil,
como presidente da CPI do Orçamento, que investigou as fraudes envolvendo
recursos do orçamento, protagonizadas por congressistas. Em 1994 Jader Barbalho
apresentou a fatura política do gesto generoso de 1986, ao sair candidato a
única vaga para o Senado, compelindo Jarbas Passarinho a disputar, a
contragosto, o governo estadual, quando foi derrotado, já no segundo turno,
pelo tucano Almir Gabriel. Essa nova derrota assinalou o definitivo ocaso de
Jarbas.
HISTÓRIA – “Negocista, abusando do nome do tio”
Eram
devastadoras as restrições do SNI ao nome de Ronaldo Passarinho Pinto de Souza,
referido pelas iniciais, RPPS, nas anotações do Serviço Nacional de Informação,
como era de praxe. “Continuam atuais as referências feitas, em 1970, sobre RPPS
de que era negocista, dedicado a advocacia administrativa junto ao Basa,
abusando, não raramente, do nome do seu tio JGP. RPPS procura tirar proveito
político do fato de as nomeações de órgãos federais no Pará estarem sendo
feitas por indicação do seu tio, como as de UCC para o Basa e de ES para a
Sudam. Fala-se a boca pequena que muitos projetos, para serem aprovados pela
Sudam, tem antes que passar pelo escritório de RPPS, onde é cobrada uma
comissão de 10 por cento, que diz se destinar à campanha política do PDS”, assinala
uma das anotações, datada de 25 de abril de 1982. A anotação menciona Jarbas
Gonçalves Passarinho, o JGP, o prestigiado tio de Ronaldo Passarinho, e alude
às nomeação de Ubaldo Campos Corrêa, o UCC, para o Basa, o Banco da Amazônia
S/A, e de Elias Sefer, o ES, para a Sudam, a Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia, ambas feitas sob o aval de Jarbas Passarinho.
Ubaldo Campos Corrêa, um ex-deputado com reduto eleitoral em Santarém, foi
presidente do Basa de 30 de abril de 1981 a 8 de abril de 1985. Elias Sefer,
notabilizado pelo perfil autoritário e iracundo, foi superintendente da Sudam
de 15 de março de 1979 a 2 de abril de 1985.
Em registro
de 6 de abril de 1971, o SNI aponta a utilização do tráfico de influencia por
Ronaldo Passarinho, para turbinar suas atividades empresariais, valendo-se do
prestígio do tio ilustre, Jarbas Passarinho. “RPPS participa das empresas
Cerâmica Marajó S/A e Tecefatima S/A, às quais o Basa concedeu facilidades
financeiras anormais, obtidas através de gestões feitas pelo nominado,
aproveitando-se indevidamente do prestigio do seu tio, JGP, para fazer tráfico
de influência. FLN, presidente do Basa, durante a apuração dos fatos, tentou
proteger RPPS, com quem tratava pessoalmente dos interesses daquelas empresas”,
acentua a anotação, que menciona o presidente do Banco da Amazônia na época,
Francisco de Lamartine Nogueira, o FLN, cuja gestão foi de 11 de abril de 1967
a 27 de abril de 1971.
HISTÓRIA – Médici avaliza veto
General-presidente Emílio Médici: avalista do veto a Ronaldo Passarinho. |
Os registros
do SNI permitem reconstituir a tentativa de Ronaldo Passarinho em driblar as
restrições feitas a indicação do seu nome para secretário de Governo do
ex-governador Fernando Guilhon, possivelmente apostando no prestígio do tio
ilustre, o coronel Jarbas Passarinho. As anotações mencionam um levantamento
sobre os indicados para cargos no governo do Pará, do qual resultaram
liberações, liberações condicionais e contraindicações. “RPPS e JLGS, liberados
condicionalmente, foram nomeados”, sublinha a anotação de 24 de fevereiro de
1971, reportando-se a Ronaldo Passarinho Pinto de Souza, o RPPS, secretário de
Governo, e Joaquim Lemos Gomes de Souza, o JLGS, este secretário de Interior e
Justiça.
O veto do
SNI ao nome de Ronaldo Passarinho foi avalizado pelo próprio general-presidente
Emílio Garrastazu Médici, como deixa claro um registro de 11 de outubro de
1971. “O presidente aconselhara, ao governador, as saídas de RPPS e JLGS das
funções que exerciam na administração governamental”, registra uma das
anotações, reportando-se a Ronaldo Passarinho Pinto de Souza e Joaquim Lemos
Gomes de Souza. O interdito proibitório, diga-se, ganhava contornos
humilhantes, como permite concluir a mesma anotação: “Por ocasião da última
visita do presidente da República a Belém/PA, o governador do Estado do Pará mandou
JLGS, secretario de Interior e justiça, viajar, a serviço, pelo interior do
Pará, porque o mesmo não deveria estar presente em nenhum ato do qual
participasse o presidente.”
HISTÓRIA – Arquivo destruído
Parte do acervo do extinto SNI, abrigado no Arquivo Nacional de Brasília. |
Sobre as
anotações do SNI a respeito de Ronaldo Passarinho Pinto de Souza, hoje
disponibilizadas pelo Arquivo Nacional de Brasília, existem indícios de
lacunas, previsíveis diante da razia feita em 1981, no governo do
general-presidente João Figueiredo, quando mais de 19 mil documentos foram
destruídos, conforme revelou a Folha de S. Paulo em 2012. “Do
material destruído, o SNI guardou apenas um resumo, de uma ou duas linhas, que
ajuda a entender o que foi eliminado”, assinala o jornalista Rubens Valente, que
assina a primeira das duas matérias publicadas pela Folha a
respeito da destruição de parte do acervo do SNI. A primeira matéria é de 2 de
julho de 2012, uma segunda-feira; a segunda, de 3 de julho de 2012, uma
terça-feira.
Seguem as
transcrições, na íntegra, das reportagens publicadas pela Folha de S.
Paulo:
FOLHA
DE S. PAULO – Segunda-feira, 2 de julho de 2012
Ditadura destruiu mais de 19 mil documentos
secretos
Ordens de
destruição, agora liberadas, resumem papéis eliminados em 1981
Material
ceifado era do extinto SNI; alguns relatórios tratavam de Brizola, dom Helder e
Vinicius de Moraes
RUBENS
VALENTE
DE BRASÍLIA
Guardado em
sigilo por mais de três décadas, um conjunto de 40 relatórios encadernados
detalha a destruição de aproximadamente 19,4 mil documentos secretos produzidos
ao longo da ditadura militar (1964-1985) pelo extinto SNI (Serviço Nacional de
Informações).
As ordens de
destruição, agora liberadas à consulta pelo Arquivo Nacional de Brasília,
partiram do comando do SNI e foram cumpridas no segundo semestre de 1981, no
governo de João Baptista Figueiredo (1979-1985).
Do material
destruído, o SNI guardou apenas um resumo, de uma ou duas linhas, que ajuda a
entender o que foi eliminado.
Entre os
documentos, estavam relatórios sobre personalidades famosas, como o
ex-governador do Rio Leonel Brizola (1922-2004), o arcebispo católico dom
Helder Câmara (1909-1999), o poeta e compositor Vinicius de Moraes (1913-1980)
e o poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999).
Alguns
papéis podiam causar incômodo aos militares, como um relatório intitulado
“Tráfico de Influência de Parente do Presidente da República”. O material era
relacionado ao ex-presidente Emílio Garrastazu Médici, que governou de 1969 a
1974.
Outros
documentos destruídos descreviam supostas “contas bancárias no exterior” do
ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros ou a “infiltração de subversivos
no Banco do Brasil”.
Boa parte
dos documentos eliminados trata de pessoas mortas até 1981. A análise dos
registros sugere que o SNI procurava se livrar de todos os dados de pessoas
mortas, talvez por considerar que elas não eram mais de importância para as
atividades de vigilância da ditadura.
LEGISLAÇÃO
Algumas das
ordens de destruição foram assinadas pelo general Newton Cruz, que foi chefe da
agência central do SNI entre 1978 e 1983.
Em
entrevista por telefone realizada na semana passada, Cruz, que está com 87
anos, disse que não se recorda de detalhes das destruições. Mas afirmou ter
“cumprido a lei da época”.
A legislação
em vigor nos anos 80 abria amplo espaço para eliminações indiscriminadas de
documentos. Baixado durante a ditadura, o Regulamento para Salvaguarda de
Assuntos Sigilosos, de 1967, estabelecia que materiais sigilosos poderiam ser
destruídos, mas não exigia motivos objetivos.
Bastava que
uma equipe de três militares decidisse que os papéis eram inúteis como dado de
inteligência militar.
A prática da
destruição de papéis sigilosos foi adotada por outros órgãos estatais.
Como a Folha revelou
em 2008, pelo menos 39 relatórios secretos do Exército e do extinto Emfa
(Estado-Maior das Forças Armadas) foram incinerados pela ditadura entre o final
dos anos 60 e o início dos 70.
Segundo
quatro “termos de destruição” arquivados pelo CSN (Conselho de Segurança
Nacional), órgão de assessoria direta do presidente da República, foram
queimados documentos nos anos de 1969 e 1972.
FOLHA
DE S. PAULO – Terça-feira, 3 de julho de 2012
Cinzas do regime
Burocracia
do SNI registrou metodicamente a destruição de milhares de documentos,
tentativa canhestra de apagar rastos da estupidez ditatorial
Ficou famosa
uma frase do idealizador do antigo SNI (Serviço Nacional de Informações),
general Golbery do Couto e Silva: “Criei um monstro”, declarou certo dia, mais
uma neutra constatação do que um genuíno arrependimento.
O monstro,
ao que tudo indica, já se devorava a si mesmo antes até de extintas suas
funções de principal órgão de espionagem na ditadura militar (1964-1985).
Reportagem na Folha de ontem mostra que mais de 19 mil
documentos sigilosos do SNI foram destruídos, durante o segundo semestre de
1981.
Em vários
casos, a ordem para a aniquilação do material secreto foi dada pelo chefe do
SNI na época, general Newton Cruz. “Foi tudo de acordo com a lei da época”,
assevera Cruz, hoje com 87 anos.
Arquivos de
valor histórico, como relatórios sobre as supostas atividades subversivas dos
poetas João Cabral de Melo Neto e Vinicius de Moraes, não foram as únicas baixas
nessa investida oficial contra a própria documentação.
Papéis
capazes de ferir suscetibilidades e reputações mais frágeis também
desapareceram. É o caso de um dossiê, intitulado de forma algo indiscreta-
“Tráfico de Influência de Parente do Presidente da República”. Fazia-se
referência a alguém do círculo familiar de Emílio Garrastazu Médici, presidente
entre 1969 e 1974.
O interesse
principal das autoridades na eliminação dos arquivos parece ter sido não tanto
o de proteger os incriminados, e sim os próprios incriminadores. O zelo
investigativo sobre poetas ou figuras de oposição tenderia, com o passar do
tempo, a mostrar o ridículo e a estreiteza ideológica dos chamados “serviços de
inteligência”.
Obliterou-se
o máximo possível (ainda que mantendo registros de cada documento destruído).
Sinal, sem dúvida, de um esforço de autoproteção. Sinal, também, da
irracionalidade de todo o projeto. Como em qualquer regime autoritário, a
máquina das suspeitas e das denúncias não tinha como não crescer exponencialmente.
A limpeza
dos arquivos pode ser atribuída tanto à necessidade de ocultar malfeitorias
quanto a questões logísticas: seria preciso reservar espaço (e tempo de
análise) para os novos dossiês, as novas suspeitas, as novas ilegalidades.
A burocracia
tem suas leis; têm suas leis, também, a opressão política e a estupidez
ditatorial. Vê-se, não pela primeira vez, como é difícil sondá-las plenamente.
quinta-feira, 7 de abril de 2016
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