Fugir
do constrangimento dos protestos não se constitui em novidade entre os
eventuais inquilinos do poder, independentemente de legenda partidária. Mas a
decisão de Paulo Chaves, o PC, de não só abandonar a sede da Secult, mas
dispensar os servidores e simplesmente fechar as portas da secretaria e do
próprio Parque da Residência não tem precedente na história recente. Nem mesmo
durante a ditadura militar, seus prepostos no Pará chegaram a tanto, em
circunstâncias análogas.
Na
gestão de Aloysio Chaves, um governador de perfil notoriamente imperial, por
exemplo, o governo enfrentou intensos protestos, na esteira do fechamento do
Theatro da Paz, para reformas, o que deixou Belém sem uma única casa de
espetáculos. Em nenhum momento Aloysio Chaves permitiu ao seu secretário, Olavo
Lyra Maia, virar as costas para a classe teatral, comandada por Luiz Octávio Barata e que liderava a mobilização
reivindicando a criação de um espaço alternativo, que não deixasse nossos
artistas reféns do Theatro da Paz, cuja própria suntuosidade, e os custos dela
decorrentes, inviabilizavam as produções locais. Da mesma forma, o grupo
Liberal – então sob o comando do seu fundador, o empresário e jornalista Romulo
Maiorana – não silenciou sobre o imbróglio, apesar do tratamento privilegiado que
lhe era dedicado pelo governo Aloysio Chaves e deste ter como assessor de
Imprensa um dos diretores do jornal O
Liberal, o jornalista Odacyl Cattete. Aloysio Chaves respeitou a liturgia
do cargo, Romulo Maiorana preservou sua dignidade, como empresário e
jornalista, e do diálogo que se estabeleceu, dentro dos limites que as
circunstâncias impunham, resultou a criação do Teatro Waldemar Henrique, abrigo
natural das produções incompatíveis com o vetusto Theatro da Paz.
Foi
nessa época, convém recordar, que floresceu o teatro de rua, a partir da
iniciativa de Luiz Octávio Barata, do TCA, o Teatro Cena Aberta, em levar as
montagens do grupo para o anfiteatro da Praça da República, em
empreitada que teve o apoio de Margareth Refkalefsky, Zélia Amador de Deus, Walter Bandeira e Marizete Ramos,
dentre outros tantos. Com um detalhe: o TCA era
subvencionado não só pela Secdet, a Secretaria de Estado de Cultura, Desportos
e Turismo, da qual é sucedânea a Secult, mas também pela Semec, a Secretaria Municipal de
Educação, na época comandada pelo professor Mário Guzzo, subordinado ao
prefeito de então, Ajax D’Olivera, indicado pelo governador, no caso Aloysio
Chaves. A Semec, diga-se, por iniciativa de Gileno Muller Chaves (foto) - respeitado advogado e mais tarde bem-sucedido marchand, então assessor técnico da secretaria -, foi pioneira em definir a concessão de
subvenções a partir de editais, com critérios previamente definidos, quando inexistiam
leis de incentivo à cultura. Isso tudo em pleno regime dos generais, cuja
intolerância, como se vê, é levada ao paroxismo por Paulo Chaves, com um
despudor que nem a ditadura militar ousou. Tanto assim que abriu espaço para
homens com a dignidade de Mário Guzzo e Gileno Muller Chaves. Dignidade que
certamente é utensílio de museu para gente do jaez de PC.
Um comentário :
Barata teu relato, sem hipocrisia, é uma aula sobre a história dos movimentos culturais no Pará.
Muito Obrigado, Reginaldo Paiva.
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