segunda-feira, 29 de julho de 2013

SECULT – O (belo) exemplo do Parte



        As suspeitas que tisnam a credibilidade da partilha dos recursos destinados à cultura, e inclusive ensejam a grave denúncia  de  corrupção na concessão de patrocínio, via Lei Semear, sinalizam um retrocesso em uma das mais importantes conquistas da classe artística, em geral, e teatral, em particular, data do final dos anos 70 do século passado. Na época, que corresponde ao epílogo do regime militar instaurado pelo golpe de 1º de abril de 1964, a Semec, a Secretaria Municipal de Educação, comandada pelo professor Mário Guzzo (foto), instituiu o Parte, o Programa de Arte, por inspiração de Gileno Muller Chaves, um competente advogado, que posteriormente se notabilizou como um bem-sucedido marchand, com a galeria Elf, e foi, certamente, um dos respeitados intelectuais de sua geração. Foi a primeira vez que a Semec destinou recursos específicos para estimular as manifestações artísticas, subvencionando montagens teatrais, show musicais, exposições de artes plásticas e edição de livros, a partir de critérios previamente definidos em editais públicos.

        Culto e intransigentemente probo, com a peculiaridade de ser obsessivamente perfeccionista e meticuloso, para a implementação do Parte e dos editais públicos que passaram a regulá-lo, Gileno teve como interlocutor privilegiado Luiz Octávio Barata. Um dos mais respeitados e refinados intelectuais de sua geração, e também uma das reconhecidas lideranças da classe teatral, Barata sempre inspirou, na esteira de um temperamento forte e uma coragem moral algo camicase, sentimentos que vagueavam da mais profunda admiração e respeito ao mais visceral ressentimento. A partir daí, sempre com o apoio de Mário Guzzo, Gileno diversificou seu elenco de interlocutores, mapeando as aspirações dos diversos segmentos artísticos. Para garantir a lisura da seleção dos projetos, o Parte contava com os trabalhos - devidamente remunerados - de nomes do porte do filósofo Benedito Nunes, de prestígio internacional, e do jornalista e escritor Haroldo Maranhão, reconhecidamente um dos mais importantes nomes da literatura brasileira contemporânea. Um dos raros grupos que não submeteu-se ao Parte foi o Experiência, no qual pontificava Geraldo Sales, um diretor teatral que revelou-se extremamente competente na montagem de espetáculos de forte apelo comercial e de invariável sucesso de público. Na administração Ajax D’Oliveira na Prefeitura de Belém, por exemplo, o Experiência recorria diretamente ao gabinete do prefeito, para obter as subvenções pretendidas.

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