Um
talento multifacetado, traduzido na competência que pontuou sua trajetória como
jornalista e publicitário, além de professor do curso de comunicação da UFPA, a
Universidade Federal do Pará, e mais remotamente como autor e diretor teatral. Assim
pode ser definido Afonso Klautau (foto),
que morreu aos 60 anos, na manhã de 26 de junho último, vítima de uma parada
cardíaca, justo quando se preparava para fazer um transplante de fígado, na
tentativa de garantir-lhe uma sobrevida, diante de um quadro profundamente
adverso, na esteira de uma saúde debilitada. Ele foi também,
por duas vezes, presidente da Funtelpa, a Fundação de Telecomunicação do Estado
do Pará.
Para além dos seus méritos
profissionais, Afonso notabilizou-se também pela bonomia, um traço marcante de
sua personalidade, da qual derivava uma comovente generosidade. O que
certamente explica, no plano pessoal, a longevidade e a diversidade de suas
amizades. E a capacidade, no plano político, de administrar com serenidade o
contraditório, expressão da tolerância que permeava seu mapa de crenças. Não
por oportunismo, como usualmente ocorre, mas por convicção pétrea na força do
diálogo, Afonso jamais permitiu-se queimar as caravelas e perenizar
animosidades episódicas. Com uma admirável coragem moral, sempre repeliu
qualquer tentativa de submetê-lo à camisa de força do sectarismo.
Nada mais ilustrativo sobre o bom caráter
de Afonso Klautau que a postura por ele assumida quando os áulicos da tucanagem
exortaram um boicote ao Blog do
Barata, naquela altura uma das raras vozes
dissonantes no coro dos elogios de encomenda aos eventuais inquilinos do poder.
A exortação pelo boicote - feita pela jornalista Simone Romero, de estreitos
vínculos com o PSDB – foi democraticamente publicada no próprio blog, sem
repercutir na blogosfera. Afonso poderia ter ficado silente, até pelos laços
que o atavam a tucanagem, mas teve a comovente coragem moral de vir a público e
descartar sua adesão ao boicote, por entender que o Blog do Barata era uma importante fonte de notícia.
Nada mais compatível com o Afonso Klautau do qual fui contemporâneo no Colégio
Moderno.
Diante
da morte de Afonso resta o alento de que viver, para os que ficam, não é
morrer. E a sua lembrança soa indelével para quem teve o privilégio de
conhecê-lo um pouco menos superficialmente.
No
silêncio da lágrima saudosa, resta despedir-me do contemporâneo de sonhos (às vezes utópicos) e lutas: descanse em paz, companheiro.
Nenhum comentário :
Postar um comentário