terça-feira, 16 de julho de 2013

KLAUTAU – Descanse em paz, companheiro



        Um talento multifacetado, traduzido na competência que pontuou sua trajetória como jornalista e publicitário, além de professor do curso de comunicação da UFPA, a Universidade Federal do Pará, e mais remotamente como autor e diretor teatral. Assim pode ser definido Afonso Klautau (foto), que morreu aos 60 anos, na manhã de 26 de junho último, vítima de uma parada cardíaca, justo quando se preparava para fazer um transplante de fígado, na tentativa de garantir-lhe uma sobrevida, diante de um quadro profundamente adverso, na esteira de uma saúde debilitada. Ele foi também, por duas vezes, presidente da Funtelpa, a Fundação de Telecomunicação do Estado do Pará.
        Para além dos seus méritos profissionais, Afonso notabilizou-se também pela bonomia, um traço marcante de sua personalidade, da qual derivava uma comovente generosidade. O que certamente explica, no plano pessoal, a longevidade e a diversidade de suas amizades. E a capacidade, no plano político, de administrar com serenidade o contraditório, expressão da tolerância que permeava seu mapa de crenças. Não por oportunismo, como usualmente ocorre, mas por convicção pétrea na força do diálogo, Afonso jamais permitiu-se queimar as caravelas e perenizar animosidades episódicas. Com uma admirável coragem moral, sempre repeliu qualquer tentativa de submetê-lo à camisa de força do sectarismo.
        Nada mais ilustrativo sobre o bom caráter de Afonso Klautau que a postura por ele assumida quando os áulicos da tucanagem exortaram um boicote ao Blog do Barata, naquela altura uma das raras vozes dissonantes no coro dos elogios de encomenda aos eventuais inquilinos do poder. A exortação pelo boicote - feita pela jornalista Simone Romero, de estreitos vínculos com o PSDB – foi democraticamente publicada no próprio blog, sem repercutir na blogosfera. Afonso poderia ter ficado silente, até pelos laços que o atavam a tucanagem, mas teve a comovente coragem moral de vir a público e descartar sua adesão ao boicote, por entender que o Blog do Barata era uma importante fonte de notícia. Nada mais compatível com o Afonso Klautau do qual fui contemporâneo no Colégio Moderno.
        Diante da morte de Afonso resta o alento de que viver, para os que ficam, não é morrer. E a sua lembrança soa indelével para quem teve o privilégio de conhecê-lo um pouco menos superficialmente.

        No silêncio da lágrima saudosa, resta despedir-me do contemporâneo de sonhos (às vezes utópicos) e lutas: descanse em paz, companheiro.

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