Segue, abaixo, a entrevista concedida por Lúcio Flávio Pinto ao blog.
Qual a sua avaliação sobre a decisão do STF de sepultar a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista?
Não concordo com vários dos argumentos do voto vencedor e dos que o acompanharam, mas a decisão é correta. A exigência do diploma do curso superior de comunicação social para quem quiser exercer a profissão representou uma anomalia. Não só na vida republicana, como na tradição universal. Foi um desvio consumado em 1969, em coerência com o Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968. A junta militar editou um decreto-lei não para servir à liberdade de informação ou os jornalistas, mas para poder exercer um controle direto sobre a formação dos profissionais da imprensa, colocando-as na lata de sardinha dos cursos de comunicação em uma universidade sob o tacão da repressão. Ela cortou uma das mais generosas vertentes do jornalismo, que é a natural, vocacional. Vertente que, em clima de democracia e de liberdade, formou a mais brilhante geração de jornalistas, a da república de 1946, estancada parcialmente com o golpe militar de 1964 e submetida a combate feroz a partir do AI-5. Claro que o fim dessa anomalia não significa que entramos na rota do futuro. Retomando a caminhada, que foi desviada pelo período mais negro da república brasileira, há muito a fazer para valorizar a profissão, qualificá-la e garantir seus vencimentos. Mas retomamos a normalidade.
Na sua opinião, soa plausível o temor de que a supressão da obrigatoriedade do diploma para jornalista possa aviltar a mão-de-obra, ou a própria disputa pelo mercado se encarregará de obrigar o patronato a privilegiar a melhor qualificação e a competência profissional?
Em nenhum país que tenha imprensa para valer (inexistente nos regimes totalitários, de partido único, onde a imprensa é apenas a voz do dono), há o monopólio do diploma de comunicação social e o jornalismo é exercido normalmente. Vamos dar o maior exemplo, dos Estados Unidos. Qualquer um pode ter acesso às redações, mas metade dos jornalistas profissionais são oriundos de cursos de jornalismo (e não de comunicação social). Não por garantia oficial, mas por qualidade ou qualquer outro fator. Algumas das melhores escolas de jornalismo do mundo estão nos Estados Unidos. Mantêm-se porque cuidam de sua qualidade, do seu nome. Peguemos apenas o caso dos mais famosos repórteres de todos os tempos: Bob Woodard e Carl Bernstein, que revelaram o escândalo Watergate pelas páginas do Washington Post, 35 anos atrás. Bernstein formou-se em jornalismo em Colúmbia. Woodward era tenente da Marinha. E se revelou melhor jornalista do que seu parceiro. No Brasil do decreto-lei da junta militar, ficaria de fora.
Na sua interpretação, com a autoridade que lhe conferem sua reconhecida competência e probidade profissional, e também a experiência como dirigente sindical, quais as exigências que essa nova realidade deverá impor à categoria e, por extensão, à Fenaj e aos sindicatos de jornalistas?
Exercer maior controle sobre a qualidade do ensino (para que o diploma tenha conteúdo real, ao invés de ser apenas um papel) e o cumprimento das leis do país. Defender os jornalistas com maior competência. Fiscalizar as empresas com autonomia e independência. Exercer o corporativismo quando necessário, mas não forçando uma visão corporativa da realidade.
No caso da grande imprensa paraense há uma visível crise de credibilidade. Até que ponto, no seu entendimento, isso é determinante para as minguadas tiragens dos nossos jornalões e como esse quadro de inocultável descrédito poderá ser revertido?
Ainda há uma grande predisposição do público para comprar jornais e lê-los. Essa tendência, porém, está se chocando com a má qualidade da imprensa. Ela se deixou viciar pela dependência da publicidade oficial e pela vinculação ao poder. Por isso, atrelou o noticiário a esse interesse comercial e político. É preciso voltar a valorizar o jornalismo sem perder de vista a viabilidade do negócio. Acho que é possível chegar a esse equilíbrio. O impossível é fazer jornalismo sem o público. A concorrência das outras mídias será fatal se a imprensa frustrar o seu público, como está acontecendo.
Qual a sua avaliação sobre a decisão do STF de sepultar a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista?
Não concordo com vários dos argumentos do voto vencedor e dos que o acompanharam, mas a decisão é correta. A exigência do diploma do curso superior de comunicação social para quem quiser exercer a profissão representou uma anomalia. Não só na vida republicana, como na tradição universal. Foi um desvio consumado em 1969, em coerência com o Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968. A junta militar editou um decreto-lei não para servir à liberdade de informação ou os jornalistas, mas para poder exercer um controle direto sobre a formação dos profissionais da imprensa, colocando-as na lata de sardinha dos cursos de comunicação em uma universidade sob o tacão da repressão. Ela cortou uma das mais generosas vertentes do jornalismo, que é a natural, vocacional. Vertente que, em clima de democracia e de liberdade, formou a mais brilhante geração de jornalistas, a da república de 1946, estancada parcialmente com o golpe militar de 1964 e submetida a combate feroz a partir do AI-5. Claro que o fim dessa anomalia não significa que entramos na rota do futuro. Retomando a caminhada, que foi desviada pelo período mais negro da república brasileira, há muito a fazer para valorizar a profissão, qualificá-la e garantir seus vencimentos. Mas retomamos a normalidade.
Na sua opinião, soa plausível o temor de que a supressão da obrigatoriedade do diploma para jornalista possa aviltar a mão-de-obra, ou a própria disputa pelo mercado se encarregará de obrigar o patronato a privilegiar a melhor qualificação e a competência profissional?
Em nenhum país que tenha imprensa para valer (inexistente nos regimes totalitários, de partido único, onde a imprensa é apenas a voz do dono), há o monopólio do diploma de comunicação social e o jornalismo é exercido normalmente. Vamos dar o maior exemplo, dos Estados Unidos. Qualquer um pode ter acesso às redações, mas metade dos jornalistas profissionais são oriundos de cursos de jornalismo (e não de comunicação social). Não por garantia oficial, mas por qualidade ou qualquer outro fator. Algumas das melhores escolas de jornalismo do mundo estão nos Estados Unidos. Mantêm-se porque cuidam de sua qualidade, do seu nome. Peguemos apenas o caso dos mais famosos repórteres de todos os tempos: Bob Woodard e Carl Bernstein, que revelaram o escândalo Watergate pelas páginas do Washington Post, 35 anos atrás. Bernstein formou-se em jornalismo em Colúmbia. Woodward era tenente da Marinha. E se revelou melhor jornalista do que seu parceiro. No Brasil do decreto-lei da junta militar, ficaria de fora.
Na sua interpretação, com a autoridade que lhe conferem sua reconhecida competência e probidade profissional, e também a experiência como dirigente sindical, quais as exigências que essa nova realidade deverá impor à categoria e, por extensão, à Fenaj e aos sindicatos de jornalistas?
Exercer maior controle sobre a qualidade do ensino (para que o diploma tenha conteúdo real, ao invés de ser apenas um papel) e o cumprimento das leis do país. Defender os jornalistas com maior competência. Fiscalizar as empresas com autonomia e independência. Exercer o corporativismo quando necessário, mas não forçando uma visão corporativa da realidade.
No caso da grande imprensa paraense há uma visível crise de credibilidade. Até que ponto, no seu entendimento, isso é determinante para as minguadas tiragens dos nossos jornalões e como esse quadro de inocultável descrédito poderá ser revertido?
Ainda há uma grande predisposição do público para comprar jornais e lê-los. Essa tendência, porém, está se chocando com a má qualidade da imprensa. Ela se deixou viciar pela dependência da publicidade oficial e pela vinculação ao poder. Por isso, atrelou o noticiário a esse interesse comercial e político. É preciso voltar a valorizar o jornalismo sem perder de vista a viabilidade do negócio. Acho que é possível chegar a esse equilíbrio. O impossível é fazer jornalismo sem o público. A concorrência das outras mídias será fatal se a imprensa frustrar o seu público, como está acontecendo.
5 comentários :
Se é pra continuar com aquelas páginas sangrentas do caderno policial, e que segundo dizem os donos de jornais, é o que dá faturamento, não precisa estudar nada. Embora eu defenda que estudar não faz mal!!!!
O Lucio sabe o que diz, muita calma nessa hora, pessoalzinho, como diz o chaves: palma! nao criemos cânico!
Lúcio, nem tu conseguiste mais trabalhar só com impresso, te viste obrigado a ir para a internet ou perderias de vez os minguados leitores que te sobraram.
O que tu não entendeste é que a profissão foi desregulamentada, não existe mais obrigatoriedade do registro, o teu não vale mais nada, nada...igual aos diplomas dos excelentes Jornalistas que passaram pela Faculdade, alguns alunos teus.
Quando o Lúcio aceitar o fato de viver no Brasil,e não nos EUA, aí sim ele começará a ter uma real compreensão da realidade brasileira.
otimo artigo gostei do blog parabens
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