quinta-feira, 4 de junho de 2009

COPA - Belém na Terceira Divisão

Flávio Sidrim Nassar*

Belém foi "oficialmente" declarada integrante da terceira divisão das capitais brasileiras.
"Oficialmente" porque na prática, há muito, já se sabia.
As capitais da primeira divisão, desde o século 19, são o Rio e São Paulo.
Outras capitais se agruparam no segundo bloco: BH, Porto Alegre, Recife, Salvador e Belém.
Historicamente, na "terceirona" das capitais estavam Manaus, São Luís, Fortaleza, Natal, Curitiba, Cuiabá, Teresina, etc.
Na aurora do século 20, Belém vivia sua segunda idade do ouro. A primeira fora na última metade do século 18, sob Pombal. "A época de Landi".
Há cem anos o prefeito de Belém era Antônio Lemos e a cidade rivalizava com a capital federal na implantação de novidades e melhorias.
A Belém urbanizada que hoje conhecemos foi pensada naquele tempo. Os investimentos em infraestrutura urbana do período da borracha sustentaram a cidade até meados de 1960. Nesta época, o Brasil começava a ser predominantemente urbano, e a abordagem dos problemas das cidades saía da esfera da disciplina Desenho Urbano e passava para a era do Planejamento.
É quando as capitais que agora estão mais bem posicionadas que Belém começaram a se repensar.
Nos anos 60, São Luis criava um órgão de preservação de seu patrimônio artístico, Belém começava a destruir a Cidade Velha. Hoje o Centro de São Luis é patrimônio da Humanidade.
Nos anos 70, em Curitiba, já funcionava o Instituto de Planejamento e Pesquisa Urbana (IPPUC). O instituto elaborou os Planos de Desenvolvimento que nos últimos 40 anos transformaram a medíocre capital do Paraná em cidade referência internacional. Em Belém se incentivava a invasão das baixadas.
Nos anos 80, Salvador já fizera a recuperação do Pelourinho. Hoje o Centro de Salvador é tombado pela UNESCO, Salvador se tornou uma das mecas do turismo internacional e da cultura de massa. Em Belém não há bem tombado por agência internacional.
Nos anos 90, Fortaleza, Recife e Salvador começaram a implantar sistemas de transporte metropolitano e agora cuidam de metrô. Em Belém a única "inovação tecnológica" no transporte de massa foram as vans, as kombis, as bicicletas e os burros sem rabo, na contra mão.
No início do século 21, Fortaleza e Manaus são servidas diariamente por vôos internacionais e têm grandes redes de hotéis. Já Belém...
Agora, enquanto se chora o leite derramado, buscam-se desculpas: foi uma conspiração contra Belém; a decisão foi política; foi lobby; foi uma injustiça; bla, bla, bla. E apontam-se os culpados: foi o governo; foi a prefeitura; foram os dois; foi o Lula que não gosta da Ana Júlia.
A culpa é deste governo, desta prefeitura e de todos os outros que nos administraram a cidade e estado nos últimos 50 anos.
A culpa é de nossas elites políticas, sindicais, intelectuais, acadêmicas, empresariais, etc, etc, etc.
A culpa é da nossa geração de paraenses que achamos que "comendo de arremesso" "dormindo de balanço" vamos ter vida “de descanso”, porque só aqui tem açaí, tacacá e de quebra a Virgem de Nazaré para abençoar.
Esses mega eventos esportivos são sobretudo grandes negócios, para recebê-los as cidades têm que estar dentro do padrão globalizado. Têm que ser cidades globais, com segurança, infraestrutura aeroportuária, hoteleira, turismo receptivo, mobilidade urbana, qualidade de vida, etc.
Bairrismos de lado, tem alguém em sã consciência, e que tenha visitado pelo menos algumas das cidades escolhidas, que possa acreditar que Belém atende essas condições?(Vamos deixar Natal de fora, zebra é zebra).
A Fifa, tudo bem, é dirigida por um bando de safados como mostrou o Juca Kfouri, mas os critérios de escolha são objetivos.
A eliminação de Belém não foi um ato político, não foi conspiração, era previsível para um cidade que há décadas se recusa a pensar-se estrategicamente.
Que isso nos sirva de alerta, sempre é tempo de recomeçar.
A Universidade Federal do Pará, por meio do Fórum Landi, foi contratada pela Fundação Cultural do Município de Belém, para, com recursos do Ministério das Cidade, elaborar o Plano de Requalificação do Centro Histórico de Belém. Que toda a cidade participe, discuta, debata. Oportunidade haverá. Que depois do Plano do Centro possamos fazer um plano para a cidade, para a região Metropolitana.
Senão, como já previ na ficção, vão acabar desmontando a Basílica de Nazaré e a levando junto com o Círio para São Luís ou Manaus.

* Arquiteto, professor da UFPA e coordenador do Fórum Landi.

23 comentários :

Anônimo disse...

Reflete exatamente a nossa realidade, plantada há anos, e que agora mostra o seu infeliz resultado...

Mauricio Leal disse...

Blihante o texto do Nassar !!! Destaco a seguinte frase: "A eliminação de Belém não foi um ato político, não foi conspiração, era previsível para um cidade que há décadas se recusa a pensar-se estrategicamente.".Nassar, penso até q Belém sequer chegou a era do planejamento, basta observar a lógica de uso e ocupação do solo urbano que privilegia interesses particularistas dos amigos e amigas do Rei de plantão, em detrimento dos interesses da cidade, existe uma sistemática recusa de aplicar a legislação urbanística inaugurada com a constituição de 1988 e com o Estatuto da Cidade que induzem o desenvolvimento urbano sustentável, porque isto sinigficaria numa forte intervenção nas propriedades urbanas privadas que não querem cum prir com a sua função socioambiental. Temos um povo adormecido por tanto tecnobrega, pagode e besteirols afins que não conseguem expressar um pinguinho sequer de indgnação pela destruição de seu patrimônio histórico-cultural. Estou perdendo a cada dia a alegria de viver em Belém, é tanto desamor por esta cidade. A Região Metropolitana de Belém tem atravessado um crescimento muito mas muito aquém da sua capacidade de infra-estrutura, saneamento básico, transporte e serviços públicos possa suportar. A RMB é uma das que mais cresce no Brasil e o que estão fazendo para ordenar esse crescimento, onde está o orgão gestor da região metropolitana com deve contar a ampla participação popular nos termos do Estatuto da Cidade ? Pagamos tantos e isuportáveis impostos, será q é demais pedir que os nossos "Doutos Gestores" executem políticas de desenvolvimento urbano que nos tragam um pouco de qualidade, isto inclusive, contribuiria em muito com a redução da violência em nossa cidade. Obrigado Nassar pelas suas oportunas reflexões.
mauricio leal dias

Anônimo disse...

Nao me surpreendeu natal, tem muito investimento estrangeiro, estào construindo a maior costa hoteleira do país, sem contar seu potencial turistico.

Anônimo disse...

Flávio,

Show de "bola"!

A História bem contada, parabéns!

uma abraço fraterno,

Mecejana ( lembras???)

Anônimo disse...

Há 30 anos a UFPA convive com a mesma miséria na vizinhança do Guamá. Nada fez e nada faz. Seus intelectuais são engenheiros de obras prontas. Depois dos acontecimentos fazem análises maravilosas.Flávio suas obsevações, como sempre, chegaram tarde. Só mesmo para museu.

Anônimo disse...

Parabens Barata, com o comentario do Arquiteto Flávio Nassar o seu Blog matou a cobra e mostrou o PAU.

Anônimo disse...

A inteligência nunca chega tarde.
O texto do Nassar, como sempre, vai na ferida e mostra que o ufanismo papa-chibé pode ser muito bom num certo tipo de música, que rima tucupi com Icui, tacacá com vatapá, de literatura, de arte, mas é nefasto para quem quer viver numa cidade melhor, por ocultar a realidade e favorecer o imobilismo da ilusão.
Sempre me compadeço de Belém quando leio nos jornais, naquelas seções tipo amo Belém o papo das pessoas que dizem passear nas praças, andar pelas ruas, etc. E fico pensando que elas devem ter guarda-costas ou mentem. Eu, que moro no Marco e adoro o Umarizal, onde também já morei, tenho hoje, com a idade, bastante dificuldade de andar a pé pelas ruas de calçadas destruídas ou cheias de cadeiras de bar, carros, e ando paranóico pelas vezes em que já fui assaltado, vi correrias e até tiroteios, nos dois bairros e em outros também, até na avenida Nazaré. Na bela praça Batista Campos já vi tanto assalto que hoje lá não vou nem se pagarem.
A cidade fede bastante - ainda não perdi de todo o olfato - e nos ônibus em que ando também se abrigam baratinhas e não é raro que até senhoras e senhoritas joguem todo tipo de objeto pelas janelas, como restos de lanche, latas de refrigerante e palitos dos picolés que são vendidos lá dentro. Antigamente reclamava, mas hoje me calo, com medo de apanhar, tão violento anda nosso povo, doido por um linchamentozinho, quando devia era dar uma boa carreira nos políticos e administradores desta terrinha condenada ao esquecimento, pobre da minha Belém.
Nos anos 60, no auge da saúde, andava a pé por uma Belém ainda bonita e segura, da Padre Eutíquio à Praça Brasil, do cais do porto à São Braz, tomava mingau no ver-o-peso na emendada das festas e era sempre um prazer. Foi quando mais amei esta cidade, que hoje evoco, com amargura, ao ler o texto de um arquiteto, que para isso estudou e que com certeza jamais foi aproveitado em nenhum des-governo.
Uma pena, Barata, uma lástima.
Não tenho mais esperanças, mas se o Nassar diz que ainda há tempo, desejo sucesso a ele e a outros jovens que possam salvar alguma coisa para meus netos.

Anastácio Trindade disse...

No velório do Walter Bandeira, estava numa roda na qual chegou a Sra. Lucia Penedo, a frustada coordenadora de uma copa 2014 em Belém, e cheguei a conclusão de que esta senhora precisa ir com urgencia a um médico psiquiatra ou psicologo ou ainda a um terapeuta. Acreditem que ao se despediur ela dizia a todo mundo que tem fé em Deus que Belém ainda vai sediar a Copa. Na roda estava o Luiz Guilherme Pereira e a sua esposa Rita que podem confirmar essa história. A mulher pirou gente.

Anônimo disse...

Parabéns Flávio, análise clara e precisa. Uma cidade não depende só de decisões políticas. Ao lado ou contra o poder público deveria atuar a sociedade organizada. Acredito que o Fórum Landi pode mobilizar e estimular a coletividade a ser mais atuante, consciente e responsável.

Paolo N Blagtz disse...

Concordo plenamente. Acrescentaria que, justamente por tudo isso, a mobilização política deveria ter sido diferente, pois é dever constitucional dos que estão no Poder adotar tantas quantas forem as medidas necessárias para promover e assegurar o desenvolvimento do Estado, do País. Só por isso já bastava.
Vou além. Dizer que somente os erros do passado afetam e justificam o presente e a derrota da nossa cidade nesta disputa, é algo ingênuo, senão estaremos fadados a viver pra sempre à sombra dos outros que se desenvolveram, sem expectativa de melhora, o que, na minha opinião, não é absoluto, pois hotel se constrói, aeroporto nós temos, metrô não dá. O que não temos é educação, planejamento urbano, segurança pública, prestígio e políticos capazes. Condições estas que, além de Belém, nem todas dispõem.
Belém parou no tempo sim, mas seria uma ótima oportunidade de fazê-la voltar aos velhos tempos da "Época de Landi", "Belle Èpoque", etc, ou ao menos se desenvolver, com os milhões que seriam investidos.
Digo que houve incompetência dessa comissão que organizou a candidatura de Belém para a Copa baseado em fatos, porque a nossa concorrente - Manaus, organizou-se de tal forma, com apoio das empresas Coca-cola e Sony, que a comissão da Fifa chegou àquela cidade um dia antes das visitas programadas; ficou hospedada em um hotel na selva; conheceu as atrações turísticas e fez passeios de helicóptero sobre os rios e florestas, enquanto que em Belém, a mesma comitiva chegou num dia e no mesmo dia viajou, realizando a visita no horário da tradicional "chuva paraense das 3 da tarde", dentro de um carro, no trânsito caótico de Belém. QUE ORGANIZAÇÃO!!!
E mais, ouvi dizer (não confirmo, pois ouvi de alguém) que um dos integrantes desta comitiva trouxe consigo a mãe que queria conhecer a cidade de Belém e foi assaltada... Dá vontade de rir, pra não chorar!
Mas o povo paraense parece já estar acomodado com tudo isso, já perdemos tantos investimentos da Vale no Estado por descaso e inércia política... É inadmissível e destrói o brio de qualquer um, assistir em rede nacional a tanta notícia ruim do nosso Estado, como se tem visto nos últimos tempos! Tudo isso contribuiu para mais esta derrota, pra este retrocesso.
Para mim, não será motivo de espanto se depois das eleições tivermos que aguentar as mesmas caras governando esta "Terra de Direitos" (que slogan ridículo).

Que salvem ao menos o Círio e a Basílica!!!

Anônimo disse...

Gostei tambem do Nassar no Argumento. Vida longa ao Forum Landi.

Anônimo disse...

Gostei tambem do Nassar no Argumento. Vida longa ao Forum Landi.

Anônimo disse...

Gostei tambem do Nassar no Argumento. Vida longa ao Forum Landi.

Anônimo disse...

Duciomar nunca leu o estatuto da cidade. o estatuto pra ele é grego

Anônimo disse...

Natal é linda, ja vou economizar pra ver a copa lá.

Anônimo disse...

Belem nao fluxo de transporte digno, é so lembrar o FSM, uma vergonha.Belem tem nós impresssionantemente facei de serem desatdos mas na ha interesse politico, como por exemplo a regularização e padornização das vendas de comidas tipicas, fazer como é feito na Bahia nao seria tao complicado.
Belem nao tem um sistema de segurança como em Fortaleza, que, embora ridicularizados na época ate pela propria população, agora, perguntem pra qualquer um se querem que o PROJETO ROTA DO QUARTEIRAO ACABE? eu vi, ninguem me contou, tem funcionado e diminuido e muito a violencia nos bairros.Bastava adaptar pra Belem.
INFELIZMENTE, estamos bem longe dos bons exemplos e longe de ter um gestor que brigue de verdade peal nossa cidade.

Anônimo disse...

o ironico, é que passou no jornal liberal de ontem, que atletas paraolinpicos nao recebem suas bolsas de misero 500 reais a 5 meses e a dona penedo ficou tao ofendida com a exclusao de Belem.É pra rir ou pra chorar?

Anônimo disse...

Nao sou paraense, mas aprendi a amar essa cidade. A primeira vez que vim aqui era a decada de 70.Belem era muito mais limpa. Na Presidente Vargas e joao alfredo, existia um único camelô, a nao ser os ja consagrados.Era uma cidade sem excessos. A violencia era quase insignificante.as mangueiras eram em maior número e o famoso tunel verde me encantou.Hoje, os casaroes belos e coloridos tombam um a um em nossa frente e vemos Belem indo para um buraco de esquecimento e sujeira.
Pobre Belem.Pobre de nós...

Anônimo disse...

um amigo meu do Rio de janeiro, que cresceu nos morros, me disse impressionado que mesmo nos lugares mais perigosos dos morros, os moradores do local, nao temem pela segurança. Ele achou terrivel o fato de ter nas periferias daqui , casas e comercios com grades, onde as pessoas nao podem entrar na vendinha, é antendido pela grade. Ele disse wue os bandidos do morro jamais comentem assaltos no lugaro nde moram.Aqui nem nossoso bandidos tem ética. tamo ruim das pernas, viu?

LR disse...

uma critica, construtiva, Mauricio, nao zanga ta?
O Forum Landi precisa se popularizar, chegar as periferias, as escolas, ter seus propositos conhecidos, chegar aos coraçoes das pessoas.Panfletos e palestars dentro dos onibus, nas praças, enfim fazer mais barulho.Virar moda, virar tendencia e principalmente sair das cercas e ganhar a rua,literalmente.

Anônimo disse...

Forum Landi é coisa de intelectual vida mansa interessado em convites para viajar ao exterior.

Anônimo disse...

O que vc faz pela cidade, das 14:55?

Flávio Sidrim Nassar disse...

Caro Barata,
Obrigado pela oportunidade deste debate tão rico no teu Blog.
Flávio Nassar