A
frustrada interferência de Jarbas Passarinho, junto ao presidente Emílio
Médici, na tentativa de colocar abaixo o veto do SNI a Ronaldo Passarinho Pinto de Souza, foi
relatada pelo general Octávio Costa, em depoimento a Maria Celina D’Araujo e
Gláucio Ary Dilon Soares, em agosto e setembro de 1992. O depoimento de Costa figura
em um dos volumes da trilogia sobre a memória militar, editada pela Relume-Dumará, em 1994, a respeito da ditadura militar, que se estendeu de 1964 a
1985. O volume, com o depoimento de Costa, intitula-se “Os Anos de Chumbo – A memória
militar sobre a repressão”.
A
respeito desse episódio, envolvendo Jarbas Passarinho, assim relatou o general Octávio Costa:
“Vou dar um testemunho sobre o Passarinho.
Meu amigo Jarbas era um homem queridíssimo pelo Médici, que tinha por ele
enorme admiração, embora o cargo de ministro da Educação possa tê-lo desgastado
um pouco, como também o desgastou a política paraense. Era o homem da revolução
no Pará: nada se fazia ali sem ouvi-lo. Foi ele quem indicou o primeiro
governador paraense escolhido pelo Médici, o Guilhon. Ao organizar seu
governo, o Guilhon escolheu para secretário de Governo o Ronaldo Passarinho,
filho da irmã e madrinha do Passarinho, que tinha por ela verdadeira adoração.
Como havia controvérsias regionais sobre o Roinaldo, o SNI botou um sinal
vermelho em sua escolha. Sabe-se que esses sinais vermelhos eram comuns, e que
as motivações que o inspiravam, hoje, poderiam não ter a menor importância.
“Esse veto representou um sério
problemas para o ministro. Atingido em seu prestígio pessoal, realmente
inegável, resolveu dirigir-se diretamente ao presidente. Foi uma imprudência. O
procedimento mais realista seria entrar na sala do Fontoura, expor suas razões.
Se não chegasse a uma conclusão favorável teria duas soluções: ‘botar a viola
no saco’ ou ‘pedir o seu boné’. No entanto, o ministro preferiu ir diretamente
ao Médici, apresentou o caso, argumentou. Enquanto ele falava, Médici cravava
aquele olho azul em cima dele. Quando o ministro se convenceu, por aquele
olhar, que não tinha sido bem-sucedido em sua iniciativa, tentou recuar.
Sabe-se que teria dito algo como: ‘Presidente, sinto que estou importunando o
senhor com este assunto, que não deveria ter trazido à sua consideração: vou
conversar com o general Fontoura’. E que o Médici, com autoridade e segurança,
teria retrucado: ‘Passarinho, você trouxe o problema ao presidente
da República. Não posso mais ignorá-lo, o assunto agora é meu. Deixe esse
dossiê comigo que vou estudá-lo e chegar a uma conclusão pessoal. Se eu
concluir que o SNI não tem razão, o rapaz vai ser liberado para a nomeação:
direi ao Fontoura que levante o veto e autorize. Mas se eu chegar à conclusão
que há alguma coisa procedente contra o rapaz, dentro dos padrões do SNI, você
vai ‘adoecer’ seu sobrinho e ele
declinará do convite feito pelo Guilhon’. O rapaz ‘adoeceu’.
“Esse caso exemplifica duas coisas: a
visão de chefia de Médici e a importância dada ao SNI, bem como a relatividade
do poder de um ministro da Educação àquela época. O presidente prestigiou
totalmente o SNI e mostrou que possuía um grande senso de respeito hierárquico,
bem como o sentimento de sua autoridade. Ora, ele era um ex-chefe do SNI, e o
tinha como uma coisa quase infalível. As estruturas do SNI eram como os ossos
do presidente. Essa foi uma pequena questão, imagine-se outras mais sérias.”
Em tempo: Fontoura,
mencionado no depoimento de Costa, vem a ser o general Carlos Alberto da
Fontoura, chefe do SNI na época do veto a Ronaldo Passarinho Pinto de Souza. Sobre o general apresentar como "revolução" o golpe militar de 1º de abril de 1964, trata-se de um viés da idiossincrasia castrense, sem amparo histórico ou sociológico.
3 comentários :
E ele "adoeceu" de quê exatamente? Não foi um "tumor"no cérebro? Quem souber informe.
Como tu tens coragem de acabar com o feriado dessa família, Augusto? hihihi
Em Homenagem a esse fato vou cantar a marchinha: Esse ano não vai ser igual aquele que passou, que eu não brinquei você também não brincou....
Nós é pobre mas é limpinho.
Égua da História fantástica!Quanto mais eu conheço essa corja,mais tenho orgulho em dever nada pra ninguém e ralar dignamente oito horas por dia!Estou onde estou pelo meu mérito e ninguém me tira!Sou concursado ha doze anos e não devo nada a ninguém!
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