terça-feira, 12 de janeiro de 2010

BELÉM – Eu e Belém, uma história de amor


LÚCIA*

Belém faz aniversario. Difícil não refletir sobre sua trajetória urbana e de quanto é bela esta cidade e ao mesmo tempo tão carente de atenção, como uma menina que não sabe do seu valor. Tomei para mim a pretensão de expor minha historia particular com Belém. Quem sabe assim, de certo modo, agradecer a esta cidade que me acolheu.

Não nasci aqui e lembro muito bem da primeira vez que visitei Belém. O túnel de mangueiras, os bangalôs, as calçadas de pedras tão lisas, o colorido das frutas e as praças. Ah, as praças! Conheci logo a da República! Naquela época parecia bem cuidada e tão imponente com aquele monumento chamado Teatro da Paz bem ao centro. Meu encanto mesmo, isso antes de entrar nos salões do teatro, foi pelo coreto e as esculturas no chafariz bem em frente a ele. Como qualquer turista, fotografei a paisagem daquele lugar.

Passado o momento de euforia, senti a ausência de flores, de colorido na praça. Entendo que praça é sinônimo de flores e canteiros verdes. Ver crianças brincando nesse cenário, é luz para os olhos. Mas Belém já parecia naquele tempo, não integrar-se nessa cultura de cultivar o que deveria ter de mais significativo. Um contra-senso diante de tantas árvores frondosas e centenárias, com pássaros voando para todos os lados.

Na minha memória afetiva, era final da década de 1970, as músicas que ouvia ao entrar na cidade pela primeira vez, acabaram ficando como hino desse encontro meu com Belém. Eram cantadas na voz de Fafá de Belém: “Belém, Belém, tô chegando agora...” e depois: “há muito, aqui no meu peito, murmuram saudades azuis do teu céu...”. Depois conheci mais canções pela voz de Walter Bandeira e de tantos outros. Como não me apaixonar por Belém? Faço aqui um breve instante: aniversario de Belém sem Walter. O primeiro aniversario sem ele. Que sorte teve Belém, que falta faz aquela voz...

O tempo passou. Por circunstancias da vida, acabei morando definitivamente em Belém.
Acompanhei, portanto, a trajetória dessa cidade. Sou testemunha ocular de alguns crimes cometidos contra ela. Vi prédios altíssimos erguerem-se diante dos meus olhos e fechar a tão bela vista para a baia. Ouço por décadas as lamentações de muitos sobre a irresponsabilidade do grupo Hilton somado com a dos “donos” da cidade da época, ao transformarem em escombros um dos mais belos símbolos arquitetônicos da cidade que era o Grande Hotel. Ergueram um monstrengo no lugar dele. Desde que soube desse “crime” fico tentando imaginar como seria inebriante ver dois prédios tão belos próximos um do outro, o hotel e o teatro. Vi também o Forte do Castelo não ser mais Forte, quer dizer, não vi, foi na madrugada. Roubaram o muro como se fossem ladrões da historia. Sepultaram o chafariz da Praça da República, encanto da minha primeira impressão de Belém. Quem terá feito isso?!!

E assim Belém foi sofrendo pequenas perversidades, omissões e degradações, em sua historia arquitetônica, cultural, ambiental e humana. Quantas árvores vi desmoronarem por causa do passar do tempo! Mas quantas foram soterradas com cimento e que ainda poderiam estar muito bem conservadas! Quantas pessoas instalaram-se em locais insalubres e sem quaisquer condições de dignidade! Quantos jovens morreram nas mãos da policia por falta de oportunidades. Aliás, lembrei de uma cena terrível em plena avenida Nazaré: um homem morto dentro um carro em movimento que era dirigido e escoltado por policiais, e estes atiravam para cima e comemoravam a “caça” que abateram. Espero nunca mais ver aquilo.

Mas a dignidade de cidadãos (e não me refiro ao homem morto naquele episodio) nunca foi, digamos assim, o forte de seus governantes. Para ser justa lembro de alguns feitos positivos que não podemos negar. Melhorou um pouquinho a vida de pedestres. Lembram como era a Alcindo Cacela? A mudança foi para melhor. Ocorreu a mesma coisa na avenida Magalhães Barata e na confluência da avenida Nazaré com a Assis de Vasconcelos. Ironicamente, a retirada dos camelôs na Presidente Vargas, embora saibamos ter sido feita por exigências de outras forças coercivas e não iniciativa do nosso “venerável prefeito”, também melhorou a paisagem local e o ir e vir das pessoas. Mas onde estão os terminais dos usuários de ônibus? E a organização do transporte alternativo?

Infelizmente, acompanhei de perto o abandono do mercado de São Brás. A pequena passarela que atravessa a feira está para ruir, os mendigos sujam o entorno do mercado e os pilares do prédio estão corroídos por causa de tanto abandono. E poderia ser um lugar tão incrível para o lazer no final da tarde! Aliás, lembro de um breve tempo do mercado Ver- o- Peso, quando em uma de suas espaçadas restaurações passou a receber a população com musica clássica ao cair do sol, em plena feira do açaí e com segurança para turistas. Era uma paisagem admirável, com o mínimo de mau cheiro possível. Mas isso foi ha muito tem tempo. O que hoje tem por lá de melhoria, não é para o povo, é para a elite. Atreva-se a pedir um petisco na Casa das Onze Janelas e nos bares ao seu redor! É tão caro que se pode jurar que se foi roubado. Salvou-se o bondinho! Lamenta-se sua reduzida mobilidade, faltam trilhos para o bondinho! mas eu adoro vê-lo circulando. Um dia, não resisti: durante a diversão no arraial do pavulagem, eu o vi saindo da estação e decidi embarcar no bondinho! Voltei à infância por alguns momentos!

Enfim, Belém é assim para mim, um turbilhão de contradições constantes, de emoções a cada descoberta. Sem deixar de acrescentar que atravessar uma rua e chegar ao outro lado ileso é uma emoção e tanto; suportar o barulho de métodos medievais de propaganda comercial é um exercício de paciência constante; aguardar por horas o nível das águas baixarem, depois de uma chuva que dura menos de cinco minutos, é prova de amor a Belém. Essa de “esse rio é minha rua” não é nada bucólico nesses momentos.

Mesmo assim, imaginar-me morando em outra cidade é algo que não faz parte da minha vida. Aqui tenho amores, daqui posso ir para qualquer lugar. E voltar.

Enfim, Belém precisa de três coisas para que as demais venham em seqüência: respeito, segurança e oportunidade para seus moradores.

Amo-te, Belém. Vida longa a mais bela cidade do Brasil!

Claro, desejo mais flores e mais verde em suas ruas e praças!

* Lúcia é o pseudônimo de uma colaboradora do blog.

14 comentários :

Anônimo disse...

COMEÇO - FIM(NDO) - COMEÇO...

Fim de tarde

Fiz o meu trabalho

Preciso ter com o meu amor

Fácil não é! Já foi!

Vou contando pedaços da noite

Os que já deitam embaixo de mangueiras

A soma é o tempo

Pode ser o que resta

Ou madrugada.

Vou acordando aos pedaços

Que continuamente se esvazia

Dos sonhos... tento, faço

Outros pedaços de dia.

Nascimento, J.B/Matemática/UFPA

Anônimo disse...

lindo esse comentario!
Lucia

Anônimo disse...

Lucia, so para corroborar o seu belo texto:
de mario de andrade:

Belém Hilton Hotel - Presidente Vargas
Carta escrita a Manuel Bandeira durante a histórica viagem à Amazônia,
em 1927.
Mário de Andrade
Por esse mundo de águas, junho, 27
Manu,
Estamos numa paradinha pra cortar canarana da margem pros bois de
nossos jantares. Amanhã se chega em Manaus e não sei que mais coisas
bonitas enxergarei por este mundo de águas. Porém me conquistar mesmo a
ponto de ficar doendo no desejo, só Belém me conquistou assim. Meu único
ideal de agora em diante é passar uns meses morando no Grande Hotel de
Belém. O direito de sentar naquela terrace em frente das mangueiras tapando
o teatro da Paz, sentar sem mais nada, chupitando um sorvete de cupuaçu, de
açaí. Você que conhece mundo, conhece coisa milhor do que isso, Manu?(...)
Belém eu desejo com dor, desejo como se deseja sexualmente, palavra. Não
tenho medo de parecer anormal pra você, por isso que conto esta confissão
esquisita mas verdadeira que faço de vida sexual e vida em Belém. Quero
Belém como se quer um amor. É inconcebível o amor que Belém despertou
em mim...
Um abraço do Mário.

Anônimo disse...

que interessante, o texto da Lucia é quase triste e parece tao tranquilo...so parece.

Anônimo disse...

Lindooooooooooooo!!!!!!!!
Valeu Lúcia.
Valeu Mário.

Anônimo disse...

Farei um comentário feio porém realista. 90% dos monumentos históricos de Belém deveriam sofrer processo semelhante ao que a Estação das Docas sofreu e assim serem reformados de maneira a preservar sua estrutura e sua arquitetura, além de que, deveriam SIM, sofrer elitização, a fim de zelar melhor pelo local. Quando você populariza o local, o mesmo enche-se de lixo e depredações, pois o povão de Belém não sabe cuidar do que tem, basta ver o que aconteceu com Mosqueiro após a implementação da tarifa de viagem a R$1,00. É muito triste ver o Mercado de São Brás, assim como outros pontos históricos, naquele nível de abandono.

Anônimo disse...

12:31, de cerrto modo voce tem razão. Mas popularizar para mim é dar acesso, com condiçoes, com democracia e fazer cumprir a lei para todos, pobres ou ricos, sujou? multa, depredou? multa, e assim por diante. A eleite paraense é excludente.Veja uma foto de uma cidade europeia, tao parecida com belem...olhe o chao dessa mesma imagem da foto: limpa! e é frequentada por ricos e pobres, poiis nem todo europeu é riuco. Enfim...falta mesmo educaçao.
Lucia

Anônimo disse...

Pronto, anônimo das 12:31, tão fácil a solução. Nem te conto! mas o D Costa pensa igualzinho a vc, o Hitler pensou da mesma maneira, só falta pegar o “povão” colocar numa sala, abrir o gás e tcham..tcham ..tcham... Belém está salva... Pensando bem, O nefasto já está fazendo isso, só que aos poucos, bem devargazinho...
Ei burguesinho, quem visita Salinas, não é o povão, mas sim a sua classe, os bem de vida. É de impressionar a sujeira deixada por eles em toda extensão da praia, os urubus fazem a festa.

Anônimo disse...

e carros tambem, quem estaciona carros nas calçadas? nao digo os ricos somete, mas basta ter um pouquinho de cosnciencia. estacionar na calçada é o pior da falta de civilização

Anônimo disse...

sobre a tarifa a um real:
Mosqueiro, se tivesse sido cuidada como deveria, a passagem poderia custar um centavo e nem por isso teria ficado do jeito que ficou.
Nao existe turismo integrado no Pará.cada um faz o que quer, cobra o que quer.Lucia tem razao, popularizar para alguns virou sinonimo de pobreza.Enquanto virem assim a democracia, esse pais nao anda.

Guilherme disse...

Popularizar virou sinônimo de pobreza, e pobreza virou sinônimo de depredação. Alguém aqui falou da sujeira na praia de Salinas, realmente é fato. Mas aos sábados e domingos chegam os famigerados "farofeiros" nos ônibus chamados de pique-nique e ocupam a primeira parte das praias. Comparem a sujeira nesta parte ocupada e a sujeira no resto da praia. É como se alguém tivesse varrido toda a sujeira da praia para um ponto. Dá pena de ver. Acho que o quiseram dizer quanto ao pobre é em relação ao desfavorecimento social que o impede de ter acesso a uma educação de qualidade e, portanto, uma boa educação/higiene, mas obviamente existem exceções em ambas as vias. É muito triste ver o problema cultural da falta de educação no povo belenense, seja no trânsito, seja na calçada.
Quanto a quem falou que o Duciomar exclui os pobres, na boa, essa foi uma das maiores asneiras que já li. O nefasto exclui a todos, excetos seus amiguinhos/parentes que também mamam nas tetas do poder público.
Quanto a tarifa de 1 real, Belém mostrou que não estava pronta para tal. Acho que o projeto seria lindo se na época, tivesse beneficiado apenas os moradores de Mosqueiro. Deveria ter havido uma preparação melhor para implantação do projeto assim como policiamento, fiscalização e multa. Em outras palavras, aumentou a circulação de pessoas, mas não aumentou a estrutura básica para atender/fiscalizar essas pessoas. O resultado foi o número absurdo de arrastões/assaltos/estupros pela cidade, depredação e a sujeira nas praias, que as tornaram impróprias para banho. Imóveis desvalorizaram, foram proibidos os carros-som (trios elétricos) e perdurou o sentimento de abandono.
Quanto a obras de caráter elitista, penso que seria interessante um meio-termo. Que fosse cobrada a entrada, porém, um valor acessível. Afinal, temos exemplos o suficiente para saber que só cuidadas as obras que possuem a taxa de manutenção e olhe lá.
Quando saiu a praça Waldemar Henrique, eu achei maravilhoso. Seria um ambiente popular que receberia eventos populares, no entanto, o próprio povo não cuidou da mesma assim como a prefeitura parece ter esquecido. Mesmo diante de eventos municipais ela não passa por reformas ou sequer por limpeza decente e aquela arquibancada está prestes a cair. No sentido de monumentos históricos, praças e preservação de ambos esta administração municipal FOI A PIOR em disparada (aliás não apenas isso). Só posso lamentar.

Anônimo disse...

Francamente, eu não entendo o belenense. Sofre todos os dias e reclama bastante, porém, acomoda-se. Quando chega o período eleitoral e a chance de corrigir a burrada de 4 anos atrás, lá vai o povo e vota na mesma figurinha carimbada e incompetente: o nefasto ictérico. E então, mais 4 anos de inépcia administrativa... O povo tem que parar para refletir e perceber que uma cesta básica com a qual vende seu voto dura no máximo 15 dias e o mandato do político dura 4 anos. E sim, vi a galerinha do Duciomar nas últimas eleições distribuindo incontáveis cestas básicas escondidas na caçamba de Toyotas Hilux como se fossem papais noéis e as autoridades responsáveis pela fiscalização desse tipo de coisa parece que fecham os olhos...

Anônimo disse...

que texto lindo!!!!!!!!!!!!
queria que belem fosse vista assim por todo mundo.

Anônimo disse...

Fui morar em Belem no ano 1970, lá dançava na Tuna Luso,conjunto Walter Bandeira, creio,crooner Fafá de Belém, almocei e ví bailes no Forte Castelo,onde tinha amigos, fui ao Joquei Clube (não tinha cavalos) , sobriedade , luxo, conhecí o Grande Hotel, onde ficavam as tripulações da PANAM, prédio lindo,com uma escada de incêndio junto ao prédio(coisa de americano), foi triste acabarem com o Grande Hotel.
Ainda conhecí as noitadas da Coronel Gurjão,e suas "meninas" com junk box, frequentei e muito o Pagode Chinês a Condor , Palitoera o mestre de salão do Pagode, e avia o Restaurante Jardineira ,chique para a época , ía apraia dospobres Outeiro, Mosqueiro passava férias,no Chapéu de Sol, Salinas era longe,ía com amigos importantes, Salinópolis era como se chamava. Palacete Bolonha,lindo,não sei se ainda existe. A Condor,era onde os hidroaviões da Condor Sindkat pousavam norio Guamá e atracavamlá, virou Cruzeiro do Sul,onde trabalhei em Val-de-Cães , do famoso Cel.Chicão,bravo comte. da Base Aérea. Os Caravelles da Cruzeiro, os paraenses irem jantar no Palheta ,era chique à época.As meninas do Moderno,a Boate da Tuna Luso, os banhos de igarapés , Belém do Edificio Pinto Martins,do Porto do Sal , Tic-Tac, Mercado Ver-o Peso , ovas de tracajá,de 5 em 15 dias comia-se paca no tucupí , ovas de tracajá, tartaruga de todo jeito, sorvete na Cairú, Praça Batista Campos,linda , Bosque Rodrigues Alves ,o Aeroclube e meus muitosamigos na Aviação,muitos morreram na Serra do Navio , Carajás, perdidos na floresta , levando combustivel , comida, aviação VOR, Voando e olhando o Rio. o Bar do Parque , as saideiras, a abacatada , Petisqueira do Luiz, tacacá, crimbó de Pinduca e as grandes noitadas nos "Sonoros" do Telégrafo, e outros que não me lembro. Adoro Belém,um filho ´meu é paraense,nasceu na Maternidade do Povo (bacana à época), e a Copa de 1970 no Bar Corujão, a turma do Corujão, turma da Embratel ,da Aviação, chega......tá de bem tamanho, meninos, eu viví Belém .década de 70!!.