quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

BELÉM – Em mais um aniversário da cidade, perdura a pergunta que não quer calar: festejar o quê?



Festejar o quê? Em mais um aniversário de Belém, que neste 12 de janeiro de 2017 completa 401 de fundação, perdura a pergunta que não quer calar e ecoa nas últimas décadas. Abandonada, suja, fétida, tomada pelo lixo e submersa a cada nova chuva do inverno amazônico, sem um mínimo de saneamento, saúde e segurança, a cidade amargas as mazelas da inépcia continuada. Inépcia da qual é ilustrativa a administração do ex-prefeito Duciomar Costa (PTB), o nefasto Dudu, um falsário travestido de político, catapultado para o proscênio pela tucanalha, a banda podre do PSDB. Ele teve um sucessor de igual jaez, o prefeito sub judice Zenaldo Coutinho (PSDB), um vagabundo profissional, que jamais teve um emprego na vida, fazendo da política um álibi para dissimular uma suspeita prosperidade, construída sob o signo da vadiagem dos meliantes engravatados. Zenaldo Coutinho, recorde-se, teve sua candidatura cassada por duas vezes por um probo e destemido juiz, mas mantida mediante recursos, em um contencioso que aguarda julgamento pelo pleno do Tribunal Regional Eleitoral, de suspeita morosidade, que parece apostar no fato consumado para tornar mais palatável a leniência diante da corrupção eleitoral.
Como autêntica capital do atraso político, porque nela prospera, acintosa e impunemente, a utilização eleitoral das máquinas administrativas estadual e municipal, Belém reedita o drama dos casamentos infelizes, nos quais habitualmente não há vítimas que não sejam também cúmplices. O assistencialismo eleitoreiro, traduzido nos cheques moradias e seus correlatos, alimenta os bolsões de miséria, fonte inesgotável do voto de cabresto, ao fixar o eleitorado carente à miséria, ao invés de dela libertá-lo. Passada a polarização eleitoral, o status quo trata de esquecer, desconhecer e enterrar como indigente os compromissos de gestão vociferados nos palanques, dedicando-se à partilha do butim, no vale-tudo político que toma como sagacidade a torpe utilização do poder para benefício dos poderosos da hora, no patrimonialismo que mina e tanto conspira contra as instituições democráticas. É disso que resulta o descalabro expresso em uma cidade órfã dos direitos básicos que pavimentam o exercício da cidadania.
A Belém dos dias atuais é um reflexo do Pará de hoje, que reflete a ignominiosa idiossincrasia dos sucessivos governos do PSDB, a legenda que comanda o estado desde 1995, com o breve hiato correspondente ao mandato da ex-governadora petista Ana Júlia Carepa, entre 2007 e 2010. No que se reflete em índices sociais pífios, a administração pública, mais do que nunca, tornou-se uma ação entre amigos e nela medra com vigor o patrimonialismo, traduzido no recorrente nepotismo, inclusive o nepotismo cruzado, expressão da deletéria promiscuidade entre o público e o privado, no qual submergem Executivo, Legislativo e Judiciário, passando pelo Ministério Público Estadual, tendo como denominador comum a desfaçatez com a qual mandam os escrúpulos às favas, como é próprio dos tiranetes de província. A propaganda enganosa - financiada com o dinheiro do contribuinte e que faz a festa dos barões da comunicação e de publicitários inescrupulosos - encarrega-se do estelionato midiático, arrematando o serviço sujo da vanguarda do atraso, a elite predatória que desponta com serial kiler das esperanças de uma população sofrida.

Se é um entregar-se à dor que faz a dor doer menos, como acreditam alguns, convém uma lágrima por Belém e por nós, que aqui temos nossas raízes. Ela talvez sirva para regar a resiliência que alimenta a obstinação dos que não abdicam da determinação de transformar sonhos em realidade.

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