Acenildo Botelho Pontes: ousadia e tom ácido. |
“Reafirmo integralmente o teor de minha
proposta de campanha. O Ministério Público é, ou deveria ser,
constitucionalmente, o fiscal da lei e defensor dos interesses sociais. Seus
membros gozam de inamovibilidade e vitaliciedade. Portanto, não consigo
entender ou compreender, qual a dificuldade existente no âmbito do Ministério
Público Estadual, para investigar e aforar as respectivas ações em face a
classe política e abastados de nosso estado.”
É com este desabafo que o promotor de
Justiça Acenildo Botelho Pontes, 55 anos, que ingressou no Ministério Público
Estadual em 1995, reage à indagação sobre se teria coragem de implementar
algumas de suas propostas, se eventualmente se visse nomeado procurador-geral
de Justiça. Dentre outras coisas, ele defende subscrever a ação civil pública,
por improbidade administrativa, nas quais são réus, dentre outros, o governador
Simão Jatene e seu filho, Beto Jatene, o que o atual procurador-geral de
Justiça não o fez; apurar o embargo de gaveta dado ao inquérito civil que
deveria ter apurado o escândalo da Cerpasa, em cuja epicentro figura o
governador Simão Jatene; e acompanhar a tramitação da ação de cobrança ajuizada
há quase uma década sobre o imbróglio do Banpará, envolvendo o senador Jader
Barbalho, o morubixaba do PMDB no Pará.
“Minhas propostas são francas, sérias e
atendem os anseios da sociedade paraense, a qual é a mantenedora da instituição
ministerial”, sublinhou, em entrevista ao Blog do Barata, ao reafirmar seus compromissos de
gestão, que incluem, dentre outras coisas, a supressão de privilégios como a
frota de veículos à disposição dos procuradores de Justiça e o desvio de função
da Polícia Militar, institucionalizado com o inchaço do Gabinete Militar do
Ministério Público Estadual.
De resto, Acenildo revela-se um homem
simples, sem veleidades a herói, embora destemido. Solteiro, mas pai de três
filhos, restam-lhe ainda a mãe, já aposentada, e sete irmãos. Simples, às vezes
até monossilábico, ele se recusa a superestimar sua coragem moral, sugeridas
pela ousadia de suas propostas de campanha. “Na verdade, nada mais são do que
uma adequação aos princípios norteados da administração pública inscritos no
artigo 37 da Constituição da República”, assinala, na entrevista ao Blog do Barata.
O
senhor surge como um anticandidato, seja por expor publicamente os vícios que
hoje tisnam a credibilidade do Ministério Público Estadual, seja por admitir
que são parcas suas chances de vitórias, por se recusar a participar do
toma-lá-dá-cá do fisiologismo. O que inspira sua anticandidatura, inclusive
considerando que presumivelmente o senhor pode atrair a ira do status quo, com o corolário de
retaliações dos poderosos de plantão, sempre que fustigados?
Em mais de duas décadas como membro do
Ministério Público Estadual, devido o meu posicionamento crítico, por diversas
vezes já figurei na condição de réu em procedimentos administrativos e,
inclusive, criminal. Portanto, sei perfeitamente dos riscos assumidos durante o
pleito em curso no âmbito do Ministério Público paraense. Aliás, na eleição
passada, um determinado candidato a procurador-geral de Justiça, chegou a
afirmar que se eleito, iria me expulsar do Parquet. Este cidadão foi o mesmo
que no ano de 2005 instaurou inquérito civil para apurar o caso Cerpasa,
envolvendo o governador do estado e outros poderosos em nosso estado. Passados
40 dias, ele se julgou suspeito, sem ter inquirido nenhum dos envolvidos, e
devolveu o feito ao procurador-geral de Justiça. Em seguida, ingressou com ação
penal privada contra a minha pessoa, alegando que eu havia afirmado que por
motivos escusos o Ministério Público, através de sua pessoa, não iria
investigar absolutamente nada sobre o caso Cerpasa. Na verdade, eu nunca fiz
tais afirmações e, portanto, elas nunca foram, e nem poderiam ser provadas;
entretanto, acabei sendo condenado em um processo cujo o relator foi o
desembargador João Maroja, colocado no Tribunal de Justiça do Pará justamente
pelo grupo político envolvido no caso Cerpasa. Passados alguns dias, a pedido do
Ministério Público Federal, o desembargador chegou a ser afastado de suas
funções pelo CNJ, o Conselho Nacional de Justiça, sob a gravíssima acusação de
envolvimento em atos de corrupção. Decorridos mais de uma década, o que eu
nunca afirmei era a mais pura verdade, pois o procedimento sobre o caso Cerpasa
nunca se livrou do embargo de gaveta e todos os envolvidos ficaram impunes.
Suas
propostas de gestão são extremamente ousadas, porque na contramão dos
interesses dos poderosos de plantão e do próprio corporativismo que blinda os
suspeitos em malfeitos verificados no Ministério Público. Como pensa em
implementá-las, diante de um colégio de procuradores flagrantemente
comprometido, em sua maioria, com as distorções que o senhor denuncia, e um
Conselho Nacional do Ministério Público de postura acintosamente corporativa,
como evidenciou o episódio do probo promotor de Justiça Alexandre Couto?
Minhas propostas são francas, sérias e
atendem os anseios da sociedade paraense, a qual é a mantenedora da instituição
ministerial. Na verdade, nada mais são do que uma adequação aos princípios
norteados da administração pública inscritos no artigo 37 da Constituição da
República.
Figuram
dentre suas propostas de gestão subscrever a ação civil pública, por
improbidade administrativa, nas quais são réus, dentre outros, o governador
Simão Jatene e seu filho, Beto Jatene, o que o atual procurador-geral de
Justiça não o fez; apurar o embargo de gaveta dado ao inquérito civil que
deveria ter apurado o escândalo da Cerpasa, em cuja epicentro figura o
governador Simão Jatene; e acompanhar a tramitação da ação de cobrança ajuizada
há quase uma década sobre o imbróglio do Banpará, envolvendo o senador Jader
Barbalho, o morubixaba do PMDB no Pará. O senhor, caso eleito, está preparado,
terá coragem moral para expor publicamente a omissão dolosa, no limite da
conivência, que hoje corrói a credibilidade do Ministério Público, inclusive
pelos riscos da instituição se ver compelida a cortar a própria carne?
Reafirmo integralmente o teor de minha
proposta de campanha. O Ministério Público é, ou deveria ser,
constitucionalmente, o fiscal da lei e defensor dos interesses sociais. Seus
membros gozam de inamovibilidade e vitaliciedade. Portanto, não consigo
entender ou compreender, qual a dificuldade existente no âmbito do Ministério
Público Estadual, para investigar e aforar as respectivas ações em face a
classe política e abastados de nosso estado. Para mim é simples: é só cumprir a
lei sob a ótica do princípio constitucional da igualdade/ isonomia.
Na
sua avaliação, quais as prioridades capazes de fazer o Ministério Público
Estadual resgatar, em toda a sua plenitude, a missão constitucional de fiscal
da lei, sem o caráter seletivo que pavimenta a impunidade dos eventuais
inquilinos do poder e seus prepostos?
É extremamente simples: não ter apego ao
poder, não transformar a instituição em moeda de troca e ter independência e
coragem para contrariar os interesses dos senhores feudais!
2 comentários :
É melhor não ser eleito, que ser subserviente ao poder efêmero;
É melhor não ser eleito, que renegar toda uma trajetória honrada para manter ou obter benesses espúrias;
É melhor não ser eleito, que ser omisso em face de situações violadoras dos princípios da Administração Pública;
É melhor não ser eleito, que deixar de orientar sua conduta pela ética, pela moral, pela supremacia do interesse público;
É melhor não ser eleito, que perder a independência de pensamentos e atos;
É melhor não ser eleito, que descumprir o compromisso constitucional assumido no ato da posse;
É melhor não ser eleito, que fazer ou receber favores espúrios;
É melhor não ser eleito que fazer ou deixar de fazer algo que venha a envergonhar e decepcionar os que lhe têm respeito, admiração e confiança em sua atuação.
Não se deve querer ser eleito a qualquer custo porque o que pode parecer uma vitória, pode ser um fardo difícil de ser suportado.
Nem sempre os fins justificam os meios!
Isso vale para os também corruptos tj e tcs.
Postar um comentário