Paulo Chaves: nepotismo e tráfico de influência, ao invés de austeridade. |
O Parte, o Programa de Arte da Semec, tal
qual fora concebido originalmente, sobreviveu até 1983, quando Gileno Müller
Chaves bateu em retirada da Semec, migrando inicialmente para a Semaj, a Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos, e depois para a Semad, a Secretaria Municipal de Administração, para auxiliar o amigo
Raimundo Areas, secretário de Administração do então prefeito de Belém, Almir Gabriel, em uma
democrática reforma administrativa. Reforma que teve a marca da postura
republicana de Gileno, na condução dos negócios públicos. Ele chegou à Semad
credenciado pela longa experiência como servidor público de carreira,
originária da FEP, a Fundação Educacional do Estado do Pará. Experiência que
permitiu-lhe tocar sem alarde, juntamente com Areas, uma reforma administrativa
depois de ouvidas as entidades representativas de todos os segmentos da
administração municipal. Tratava-se de uma iniciativa inusitada, que ia ao
encontro das aspirações do PT, então um partido emergente e sem o estigma da
corrupção que hoje com ele se confunde, sem as fanfarras tão caras aos petistas.
Com a eleição de Jader Barbalho para o governo, em 1990, Gileno tornou-se
secretário estadual de Administração, permanecendo no cargo até a
desincompatibilização de Jader, em 1994, quando passou a se dedicar em tempo
integral à Elf, já aposentado do serviço público. Independentemente dos méritos pessoais, a inclusão de Gileno no secretariado, assim como de outros respeitáveis nomes ungidos, serviu para dar um lustro na imagem de Jader, já tisnada pela pecha de corrupto, herdada de sua primeira passagem pelo governo, entre 15 de março de 1983 e 15 de março de 1997.
O lamentável, é que o exemplo legado por
Gileno Müller Chaves, ao lançar os princípios de uma política cultural plural,
à margem do nepotismo e do tráfico de influência, passou a ser menosprezado
pelos sucessivos governos do PSDB. Desde a ascensão de Paulo Chaves à Secult,
inexiste, a rigor, uma política cultural. Tem-se, em verdade, uma ação entre
amigos, sem a definição de prioridades que se sobreponham a idiossincrasias e
conveniências pessoais, como ilustra o tratamento privilegiado conferido ao Festival de Ópera, em detrimento de outras manifestações artísticas. O cartão de visita desse retrocesso foi o espetáculo “Trazendo
Che no Coração”, exibido em 1998 no Theatro da Paz, estrelado por Fafá de Belém
e Paulo André Barata, subvencionado pela Secult, com produção do próprio secretário
de Cultura, Paulo Chaves. Além da questionável inspiração, que foi a reverência
a um personagem histórico controverso, de parco apreço à democracia e com tinturas de ditador sanguinário, o
espetáculo, turbinado por cachês faraônicos, só serviu para extasiar Sérgio
Motta, o polêmico ministro das Comunicações do presidente Fernando Henrique
Cardoso. De viés supostamente esquerdista, ainda que apenas para consumo
externo, Motta, que faleceu prematuramente aos 58 anos, notabilizou-se, como
ministro, menos por realizações e mais pela incontinência verbal, às vezes resvalando
para a mais chula grosseria. Tal qual a que protagonizou com a ex-prefeita
paulista Maria Erundina, ao pretender desqualificar uma crítica ao governo FHC
etiquetando-a de “masturbação ideológica”. De resto, o espetáculo só deixou
saudades para os que dele se serviram para se locupletar com pródigos cachês,
de valores muito superiores aos praticados no mercado local, em uma pilhagem
institucionalizada ao erário.
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