Teatro Waldemar Henrique, uma conquista da mobilização coletiva. |
Para as suas circunstâncias, Gileno Müller
Chaves foi ousado. Em verdade, demasiadamente ousado, considerando sua condição
de servidor público, suscetível a pressões, tanto mais avassaladoras em um
regime de exceção, apesar da “abertura lenta, gradual e segura” preconizada
pelo então presidente Ernesto Geisel. Na esteira das relações ensejadas pela
sua condição de coordenador do Parte, o Programa de Arte da Semec, ele não se
furtou, por exemplo, a acompanhar, na condição de advogado, diretores e
produtores culturais à Polícia Federal, nos seus embates com a censura, no
empenho de evitar a mutilação dos espetáculos, no rastro dos interditos
proibitórios que frequentemente careciam de nexo. Isso em uma época em que a
Polícia Federal não estava a serviço de nenhuma faxina ética, como hoje ocorre,
mas era um dos braços da repressão da ditadura militar, em suas diversas instâncias
– federal, estadual e municipal. O que ele fazia sem cobrar um minguado honorário, obtendo,
apenas, o agradecimento e respeito dos destinatários de sua comovente e
corajosa solidariedade.
Nos bastidores, Gileno também participou da
mobilização que resultou na criação do Teatro Experimental Waldemar Henrique,
liderada por Luiz Octávio Barata (do qual foi amigo e interlocutor
privilegiado) e que teve a adesão maciça da classe teatral. Com o Theatro da
Paz fechado, para reformas, e sem opções para a montagem de seus espetáculos, a
classe teatral mobilizou-se, contando com a adesão parcial dos músicos,
pressionando Olavo Lyra Maia, o secretário de Cultura do governador Aloysio
Chaves, por uma alternativa para o impasse. Com o óbvio aval de Romulo
Maiorana, já então o mais poderoso empresário de comunicação do Pará e que
jamais se deixou intimidar pelo estilo autocrático de Aloysio Chaves, a
mobilização ganhou espaço em O Liberal,
ganhando repercussão, apesar de Odacyl Catete, assessor de imprensa do
governador, figurar no expediente do jornal como um dos seus diretores. A adesão ao
movimento de nomes como o do cantor Walter Bandeira, cooptando sua legião de
fãs, serviu para conferir popularidade à mobilização, decisiva para o governo,
após negociações com a Associação Comercial do Pará, criar a nova casa de
espetáculos, no prédio localizado na Praça da República, que fora o Museu Comercial e hoje abriga o
Teatro Experimental Waldemar Henrique.
Nenhum comentário :
Postar um comentário