SOB CENSURA, POR DETERMINAÇÃO DOS JUIZES TÂNIA BATISTELO, JOSÉ CORIOLANO DA SILVEIRA, LUIZ GUSTAVO VIOLA CARDOSO, ANA PATRICIA NUNES ALVES FERNANDES, LUANA SANTALICES, ANA LÚCIA BENTES LYNCH, CARMEN CARVALHO, ANA SELMA DA SILVA TIMÓTEO E BETANIA DE FIGUEIREDO PESSOA BATISTA - E-mail: augustoebarata@gmail.com
quinta-feira, 23 de agosto de 2018
“COVATO” – Filme de cineasta paraense selecionado para Festival Internacional de Curtas Metragens de SP
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Emanoel Loureiro, diretor de "Covato - Desenterre seus segredos", o curta do Pará selecionado para o Festival Internacional de São Paulo. |
Ao lado de “Xiña Bena”, de Dedê Maia, do Acre,
“Covato – Desenterre seus segredos”, dirigido pelo cineasta paraense Emanoel Loureiro,
que é também publicitário, foi um dos dois únicos filmes da região Norte
selecionados para o 29º Festival Internacional de Curtas Metragens
de São Paulo, iniciado nesta quarta-feira, 22, e que se estenderá até 2 de
setembro. O curta de Emanoel Loureiro foi selecionado dentre 3.630 filmes do
mundo todo inscritos para o festival, um dos mais importantes do país, com
sessões em um vasto leque de salas da capital paulista. Com o tema “Em busca do
tempo de agora”, a 29º edição da mostra privilegia curtas abordando temas como a
imigração e nova vida dos refugiados; o feminismo e a luta diária das mulheres
por direitos iguais; a homossexualidade e a transexualidade; o empoderamento de
minorias; e o preconceito racial.
“Recebo com muita alegria a seleção do
curta, porque serve para valorizar os talentos paraenses e também para dar
visibilidade ao nosso cinema regional”, assinala Emanoel, um santareno que cultiva
com orgulho suas raízes. Ele é diplomado em cinema pela New York Film Academy, onde
deu substância a uma paixão estimulada na própria família. De ascendia
portuguesa, seus pais, Raul e Laura Loureiro, durante muito tempo administraram
os cinemas Olympia e Cinerama, uma tradição familiar com mais de 80 anos. Por
isso, embora desdobrando-se em projetos em Belém, em Portugal e nos Estados
Unidos, sua referência prioritária é o Pará. “Participar de mostras e
competições no Brasil e no exterior é o nosso maior objetivo, porque isso
permite dar visibilidade aos profissionais da região, viabilizando novas
oportunidades aos atores e técnicos paraenses, evidenciando ainda as belezas e
riquezas da terra”, assinala o diretor de “Covato – Desenterre seus segredos”,
cuja filmografia inclui “Meu Tempo Menino”, apontada como a primeira obra
cinematográfica genuinamente santarena.
“COVATO” – O enredo, o elenco e os obstáculos
“Covato – Desenterre seus segredos” é um
curta metragem inspirado em uma história real, que se passa nos anos 1970, em
Santarém, no interior do Pará. O filme narra a prisão de um coveiro, acusado de
vilipendiar os cadáveres sepultados no cemitério central da cidade. “Além de
abordar um drama vivenciado pelo personagem principal em sua infância e que o
motiva a cometer os crimes, o filme também traz uma sátira que lembra a atual
conjuntura de corrupção vivenciada em nosso país”, resume Emanoel Loureiro. No
filme, ele reconstruiu digitalmente o centro histórico de Santarém e resgatou
uma coletânea de imagens da visita do presidente Ernesto Geisel à cidade, em
agosto de 1977.
O personagem principal, o coveiro Antônio
das Chagas, é interpretado, adulto, por Sandro Vidal e, criança, por Enzo
Aguiar. Evandro Boa Morte faz o papel do coveiro durante a juventude. O cantor
Ray Brito, que faz sucesso em Santarém, dá vida ao delegado responsável pela
prisão do coveiro.
Diante da falta de apoio financeiro e de
maiores recursos técnicos, Emanoel Loureiro narra as muitas dificuldades
superadas para filmar “Covato – Desenterre seus segredos”, em relato que inclui
até passagens paranormais. "Tive grandes dificuldades na filmagem desse
curta, devido a vários fatores. Dentre eles, o pouco apoio financeiro e
operacional. Mas, o maior mesmo, foi o fato de se tratar de um filme de época,
onde carros antigos, roupas, acessórios e objetos de cena tinham que retratar
com fidelidade os anos 70”, re corda. “Também foi difícil realizar as gravações
no cemitério, uma vez que muitas cenas tiveram que ser feitas várias vezes,
pois a câmera travava e desligava sozinha, ou a bateria esvaziava automaticamente,
mesmo estando totalmente carregada. Resolvi buscar o auxílio de uma grande
amiga, ligada aos assuntos espirituais, e aprendi que antes de fazer a
filmagem, eu deveria primeiro pedir licença aos que ali habitam. Só depois
disso, os fenômenos pararam, e conseguimos concluir as cenas”, acrescenta o
cineasta.
“COVATO” - SERVIÇO
Dentro do 29º Festival Internacional de
Curtas Metragens de São Paulo, “Covato – Desenterre seus segredos”, o filme do
paraense Emanoel Loureiro, está incluído na Mostra Brasil 8, a BR 8, e suas
exibições serão sucedidas por palestras e debates com a participação do
diretor.
Segundo a programação, “Covato – Desenterre
seus segredos” será exibido em:
29/08 – Às 21h30, no Cine
Sesc.
30/08 – Às 17h, no CCSP, o
Centro Cultural São Paulo.
31/08 – Às 16h, no CINUSP,
Universidade de São Paulo.
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
TJ – Adiado julgamento da denúncia sobre omissão de Neves diante da falsidade ideológica de assessor
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Marcos Antônio Neves, o ex-procurador acusado de omissão diante da falsidade ideológica de André Ricardo Otoni Vieira, do qual é sócio. |
Segundo informação vazada do próprio TJ/PA
(Tribunal de Justiça do Estado do Pará), foi adiado o julgamento da ação penal
ajuizada pelo MPE (Ministério Público do Estado do Pará) contra o ex-procurador-geral
de Justiça Marcos Antônio Ferreira das Neves, acusado de omissão diante da
falsidade ideológica de André Ricardo Otoni Vieira, que omitiu sua condição de
sócio-administrador em empresa do próprio Neves. Ao cumprir as formalidades
para a nomeação, André Ricardo Otoni Vieira declarou não participar da gerência ou administração de empresas
privadas, de sociedade civil ou de comércio, exceto na qualidade de acionista,
cotista ou comanditário, nos termos do que dispõe o Regime Jurídico Único dos
Servidores Públicos do Estado do Pará, a Lei nº 5.810/94, em seu
artigo 178, incisos VII e IX. Com base em certidões obtidas na Junta Comercial
do Estado do Pará (Jucepa), em 17 de novembro de 2014 o Blog do Barata revelou
que André Ricardo Otoni Vieira era sócio-administrador de empresade Marcos Antônio Ferreira das Neves (Clique aqui), a empresa Rota 391 Comércio Varejista de
Combustíveis Automotores e Serviços Ltda (CNPJ Nº 07.580.024/0001-06). André Ricardo Otoni Vieira também foi flagrado advogando para Marco Antônio Ferreira das Neves, o que não poderia fazê-lo por sua condição de assessor do então procurador-geral de Justiça (Clique aqui).
O julgamento da ação penal ajuizada pelo
MPE contra o procurador de Justiça Marcos Antônio Ferreira das Neves – que corre
sob segredo de Justiça - tem como relator o desembargador Mailton Marques
Carneiro, um magistrado polêmico, protagonista, quando juiz, de episódio nebulosos, incompatíveis com a reputação ilibada que
se exige de um magistrado. Segundo versões vazadas pelo círculo mais íntimo de
Marcos Antônio Ferreira da Neves, o ex-procurador-geral de Justiça cultiva a
convicção de que a denúncia do MPE deverá ser rejeitada pelo relator.
Conhecido como Napoleão de Hospício, por seu perfil autocrático e parcos escrúpulos éticos, Marcos Antônio Ferreira das Neves teve sua gestão como procurador-geral de Justiça pontuada por denúncias de malfeitos (Clique aqui).
Conhecido como Napoleão de Hospício, por seu perfil autocrático e parcos escrúpulos éticos, Marcos Antônio Ferreira das Neves teve sua gestão como procurador-geral de Justiça pontuada por denúncias de malfeitos (Clique aqui).
TJ – Pleno do Tribunal de Justiça julga denúncia do próprio MPE contra Marcos Antônio Ferreira das Neves
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Marcos Antônio Neves, o ex-procurador-geral de Justiça, réu em ação ajuizada pelo MPE, por coonestar falsidade ideológica de assessor. |
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No círculo, André Ricardo Otoni Vieira, amigo e assessor de Neves, que omitiu a condição de sócio do então procurador-geral de Justiça. |
Em processo que corre sob segredo de
Justiça e que tem como relator o desembargador Mairton Marques Carneiro, o Pleno do
Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ/PA) deverá julgar nesta quarta-feira,
8, a ação penal ajuizada pelo Ministério Público Estadual (MPE) contra o
ex-procurador-geral de Justiça Marcos Antônio Ferreira das Neves, também conhecido
como Napoleão de Hospício por seu
perfil autocrático e parcos pudores éticos. Segundo versões que varrem os
bastidores, Neves seria acusado de omissão por patrocinar quando
procurador-geral de Justiça, na contramão do que determina o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos do
Estado do Pará, a nomeação de seu amigo pessoal André Ricardo Otoni
Vieira, a despeito deste ser sócio-gerente e administrador em uma das suas
empresas. Vieira, ao que consta, seria acusado de falsidade ideológica, ao
omitir a condição de sócio-administrador na empresa
Rota 391 Comércio Varejista de Combustíveis Automotores e Serviços Ltda (CNPJ
Nº 07.580.024/0001-06), da qual era proprietário justamente Neves.
Ao cumprir as formalidades para a nomeação,
André Ricardo Otoni Vieira declarou não participar
da gerência ou administração de empresas privadas, de sociedade civil ou de
comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário, nos termos
do que dispõe o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos do Estado do Pará,
a Lei nº 5.810/94, em seu artigo 178, incisos VII e IX. Com
base em certidões obtidas na Junta Comercial do Estado do Pará (Jucepa), em 17
de novembro de 2014 o Blog do
Barata revelou que André Ricardo Otoni Vieira
era sócio de Marcos Antônio Ferreira das Neves (Leia aqui) na empresa Rota 391 Comércio
Varejista de Combustíveis Automotores e Serviços Ltda (CNPJ Nº
07.580.024/0001-06). Com o agravante de figurar como sócio-administrador, o que
o impediria de ser nomeado assessor do procurador-geral de Justiça. Em uma de suas interinidades, o ex-procurador-geral de Justiça Manoel Santino Nascimento Júnior, decano do colégio de procuradores, exonerou André Ricardo Otoni Vieira, que Marcos Antônio Ferreira das Neves, posteriormente, voltou a nomear assessor e que hoje vive abrigado no gabinete do ex-procurador-geral de Justiça agora réu em ação ajuizada pelo MPE, por ser cúmplice do sócio, que atuou também como seu advogado, mesmo estando impedido pela lei de fazê-lo.
A gestão de Marcos Antônio Ferreira das
Neves como procurador-geral de Justiça, convém recordar, foi pontuada por sucessivas denúncias de malfeitos (Leia aqui).
TJ – Mairton Carneiro, um relator polêmico
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Desembargador Mairton Carneiro, magistrado polêmico, personagem de episódio nebulosos. |
O julgamento da ação penal ajuizada pelo
MPE contra o procurador de Justiça Marcos Antônio Ferreira das Neves tem como
relator o desembargador Mailton Marques Carneiro, um magistrado polêmico, protagonista,
quando juiz, de episódio nebulosos,
incompatíveis com a reputação ilibada que se exige de um magistrado.
Segundo versões vazadas pelo círculo mais íntimo de Marcos Antônio Ferreira da
Neves, o ex-procurador-geral de Justiça cultiva a convicção de que a denúncia do
MPE deverá ser rejeitada pelo relator.
Quando juiz, Mairton
Marques Carneiro protagonizou um rumoroso imbróglio, ao ser alvo de investigação pelo CNJ, o Conselho
Nacional de Justiça, ao, em uma mesma decisão, avocar processo fora de sua
competência e determinar o cumprimento da sentença de honorários de sucumbência
no valor de R$ 3,5 milhões. Honorários de sucumbência são os honorários que o
vencido tem de pagar ao vencedor para que este seja reembolsado dos gastos que
teve com a contratação do advogado que defendeu seus interesses no processo.
O imbróglio, em
cujo epicentro figurou Mairton Marques Carneiro, teve como estopim uma disputa
judicial entre a empresa Amazon Hevea Indústria e Comércio e Banco da Amazônia S/A
sobre contratos de financiamento, conforme detalha noticiário da época, veiculado no site do CNJ (Leia aqui). A companhia ajuizou ação ordinária na
6ª Vara Civil de Belém em que pediu a declaração de nulidade de quatro
contratos e a retirada de seu nome do cadastro de inadimplentes. O Banco da
Amazônia, por sua vez, ajuizou ação de busca e apreensão na 4ª Vara Civil para
apreensão de máquinas diante da inadimplência da empresa em alguns contratos. O
banco foi condenado na ação de busca e apreensão para pagar honorários de 20%
do valor da causa. Já a ação ordinária foi sentenciada pelo então juiz Mairton
Marques Carneiro, em 2009, para declarar extintos quatro contratos de
financiamento, e ilegítimos os créditos apurados, de acordo com notícia
publicada, na época, pelo site do CNJ.
De acordo com o
noticiário do site do CNJ, o advogado que representou a Amazon Hevea pediu, em
13 junho de 2013, junto à 4ª Vara Cível, o cumprimento da decisão proferida na
ação de busca e apreensão. O juiz da 4ª Vara determinou que o Banco da Amazônia
pagasse R$2,2 milhões ao advogado. Dias depois, a empresa pediu ao juiz que
encaminhasse os autos da ação de busca e apreensão ao juiz da 6ª Vara de Belém,
onde o processo original foi julgado.
O pedido de
remessa dos autos foi negado pelo juiz da 4ª Vara no dia 27 de junho de 2013.
No dia seguinte, a Amazon fez o mesmo pedido ao juiz da 6ª Vara Cível que, em
despacho do dia 28 de junho de 2013 avocou os o processo de busca e apreensão,
e determinou que o Banco da Amazônia pagasse, em 15 dias, R$ 3,5 milhões em
favor da Amazon.
A propósito, o
então corregedor do CNJ, ministro Francisco Falcão, foi incisivo. “Ressalto que
o requerido proferiu decisão sem que estivesse com os autos do processo em seu
poder, o que indica a possibilidade de infração aos deveres de prudência e de
imparcialidade previstos no Código de Ética da Magistratura e na Lei Orgânica
da Magistratura”, sublinhou.
O então juiz Mailton Marques Carneiro, na época
respondendo pela 6ª vara cível de Belém, também esteve no
epicentro de outro rumoroso imbróglio, ao ser acusado, por integrantes da família
Passarinho de Paiva Menezes, de cometer “graves irregularidades” (Leia aqui) nos autos de uma ação declaratória de
nulidade. Ele foi acusado de prática de manifestas ilegalidades nos autos do
processo, caracterizando o descumprimento do dever de magistrado; cerceamento
de defesa, ao não intimar uma das partes da decisão que proferiu contra ela,
não dando acesso aos autos da ação decidida; decisão em contrariedade aos
princípios elementares do direito e em desrespeito ao acórdão proferido pelo
tribunal, quebrando a hierarquia desse poder; e ausência de cautela ao proferir
a decisão que decretou a nulidade de atos praticados na ação de extinção de um
condomínio, a razão da litigância em juízo.
A Corregedoria de Justiça da Região
Metropolitana de Belém recebeu a representação e a arquivou, por entender que o
juiz, ao rever a decisão e torná-la sem efeito, teria atendido a pretensão e
tirado o objeto da representação feita contra ele. Os autores, entretanto,
recorreram ao Conselho da Magistratura do TJE, que reformou a deliberação da
corregedoria. Os desembargadores entenderam “não ser adequado o reconhecimento
de perda do objeto da apuração disciplinar pela prolatação de despacho judicial
satisfativo da pretensão material da parte”. Determinaram ainda a determinando
a devolução do feito à corregedoria para o prosseguimento da apuração. Diante
dessa decisão, a corregedora Diracy Nunes Alves determinou a instauração de
sindicância administrativa para apurar se teria havido transgressão ao dever
funcional pelo então juiz Mairton Carneiro, conforme a denúncia feita contra
ele.
domingo, 5 de agosto de 2018
ELEIÇÕES 2018 – “Bolsonaro é o Cacareco”, a definição que resume a essência da candidatura do capitão
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Jair Bolsonaro: discurso tosco e superficialidade que assusta eleitores. |
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Cacareco, rinoceronte que expressou a insatisfação do eleitor paulistano. |
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Macaco Tião, outro fenômeno eleitoral, que serviu para expressar a insatisfação com a classe política. |
“Bolsonaro é o Cacareco.” A mais perfeita definição sobre a candidatura do
deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) é de uma advogada, que para não ferir susceptibilidades opta pelo
anonimato, mas que não consegue represar seu espanto com a superficialidade do
candidato a presidente pelo PSL. A definição resume a essência da candidatura do
capitão reformado, intelectualmente tosco e cujo discurso raso, absurdamente
autoritário e pretensamente austero, teve a oportunidade de exibir no programa
Central das Eleições, da GloboNews.
Para os mais jovens, cabe o esclarecimento
histórico. Cacareco foi a rinoceronte
fêmea, emprestada pelo zoológico do Rio de Janeiro ao zoológico de São Paulo,
que nas eleições municipais de outubro de 1959 da capital paulista recebeu
cerca de 100 mil votos, no mais famoso caso de voto de protesto da história política brasileira. Depois dele,
teve-se o fenômeno do Macaco Tião, um voto de protesto
lançado pela revista “Casseta e Planeta”, com o apoio do jornalista Fernando
Gabeira, então deputado pelo PV. Do episódio resultou que Macaco Tião figura no Guiness World Record como o chimpanzé a receber mais votos no mundo. O fenômeno que representou Macaco Tião o tornou capa da revista "Veja", por traduzir o descrédito dos políticos.
Para além de tirar a direita
ultraconservadora do armário, o que é saudável porque enriquece o contraditório
e confere transparência ao debate eleitoral, a candidatura do capitão, com seu
discurso de suposta moralidade pública, prospera no sucateamento das
instituições políticas, à espera de uma reforma capaz de tornar o Congresso e
os partidos algo mais que um valhacouto de réus e cúmplices. Mas o capitão
também é favorecido pela indecisão do eleitorado, diante da indefinição de
candidaturas e da falta de conhecimento sobre as propostas dos candidatos em
potencial. Com 27 anos de vida parlamentar, ao longo da qual não produziu nada
além de eleger os filhos, no melhor estilo caudilhesco, Bolsonaro parece aquele
tipo incapaz de conjugar duas ideias concomitantes sem o risco de ter uma
convulsão cerebral.
Emblematicamente, bastou despontar no
cenário eleitoral a pré-candidatura da ex-ministra Marina Silva (Rede) para que
fosse registrado um empate técnicoentre ela e o capitão. E pelo que foi permitido vislumbrar no Central das
Eleições, o da GloboNews, o confronto é desfavorável ao candidato do PSL.
Até intuitivamente o eleitorado parece ter
a percepção da fragilidade da candidatura de Bolsonaro, independentemente do
isolamento que o faz carente de palanques expressivos e chegar a undécima hora
sem conseguir ter um vice por opção, compelido a contentar-se com a reserva de
contingência que lhe restou, o general Antônio Hamilton Martins Mourão, que
ganhou notoriedade em 2005, quando estava no Comando Militar do Sul e criticou
o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Não por acaso, a 22 de julho, debruçado
sobre as pesquisas de intenção de voto,
o jornalista Josias de Souza revelou que, se não
estivesse inelegível, Lula (49%) surraria Bolsonaro (32%) num hipotético
segundo round. Marina Silva (42%) colocaria dez pontos de vantagem sobre o
fenômeno (32%). Ciro Gomes (36%) subiria ao ringue estatisticamente empatado com
a novidade (34%). Até Geraldo Alckmin (33%) emparelharia suas luvas com as de
Bolsonaro (33%), num empate matemático, antes mesmo de ter sua candidatura
encorpada pelo apoio do Centrão.
ELEIÇÕES 2018 – Os perigos da intolerância
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Janaina Paschoal: advertência sobre os perigos da intolerância. |
O discurso do
ódio, historicamente incorporado pelo PT, célebre por satanizar todos aqueles
que a ele se opõem, ganha sua versão à direita com Jair Bolsonaro e sua agenda
permeada pela intolerância, com um cinismo afrontoso. Cinismo que o faz negar
como golpe a deposição do presidente João Goulart, em 1964; recusar-se a
admitir o caráter arbitrário e truculento do regime dos generais, que perdurou
de 1964 a 1985; desconhecer que o regime militar violou as instituições
democráticas, cassou direitos políticos, exilou adversários, perseguiu,
prendeu, torturou e assassinou presos políticos, como ilustram as mortes do engenheiro
e político Rubens Paiva, do operário Manoel Fiel Filho e do jornalista Vladimir
Herzog, algumas das mais conhecidas vítimas dos tenebrosos porões da ditadura
militar.
E ninguém mais
autorizada a constatar essa intolerância cultivada por Bolsonaro e seu séquito que
a advogada Janaina Paschoal, coautora do pedido de impeachment da ex-presidente
petista Dilma Rousseff. Cogitada para vice na chapa do capitão, a advogada
acabou por declinar do convite, alegando motivos familiares. Na convenção do
PSL que sacramentou a candidatura de Bolsonaro, Janaina advertiu seus
apoiadores sobre os perigos da tentação totalitária. "Não se ganha eleição com pensamento único. Não se
governa uma nação com pensamento único. Os seguidores, muitas vezes, do
deputado Jair Bolsonaro têm uma ânsia de ouvir um discurso inteiramente
uniformizado. Pessoas só são aceitas quando pensam exatamente as mesmas coisas.
Reflitam se não estamos fazendo o PT ao contrário", salientou Janaína.
ELEIÇÕES 2018 – Evidente despreparo
Mais que suas eventuais convicções
ideológicas, assusta em Bolsonaro sua indigência intelectual, a falta de
conhecimento sobre o funcionamento da máquina administrativa, a ausência de
familiaridade com temas sensíveis para quem pretende governar o Brasil. E este,
diga-se, é um sentimento que se dissemina após o confronto permitido pelo
programa Central das Eleições, da GloboNews, pelo qual também desfilaram, ao
longo desta semana, Álvaro Dias, Marina Silva, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin.
Uns mais, outro menos, todos os candidatos
que passaram pela Central das Eleições revelaram-se visivelmente preocupados em
exibir uma agenda propositiva, independentemente de tentar driblar os
questionamentos sobre circunstanciais incoerências do passado ou do presente.
Bolsonaro, ao contrário, resumiu-se à superficialidade do discurso de palanque,
frequentemente valendo-se de sofismas toscos ou de meias verdades, sempre
piores que mentiras, porque obscurecem a verdade a pretexto de clarifica-las.
Sua inapetência pelo debate sobre sua agenda econômica, para além da
superficialidade, é assustadora. Ele se resume a delegar maiores esclarecimentos a seu guru econômico, o
economista Paulo Guedes, já conhecido como oposto Ipiranga do candidato do PSL, irônica alusão a marca notabilizada
pela sua lúdica e bem-humorada campanha publicitária.
ELEIÇÕES 2018 – Alckmin, Ciro e Marina, os destaques
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Da esq. para a dir., Ciro, Alckmin e Marina: empenho em explicitar a agenda econômica, no programa Central das Eleições, da GloboNews. |
Aqui, cabe um parênteses, independentemente
do julgamento que se possa fazer do mapa de crenças e eventuais contradições,
recentes ou pretéritas, de cada um deles. Do que se viu, no programa Central
das Eleições, conseguiram explicitar suas propostas de gestão, com alguma desenvoltura,
Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede). É bem verdade
que falta-lhes, até aqui, aprofundar
seus planos de geração de emprego, algo vital para os 13 milhões de desempregados,
legado da recessão econômica para a qual tanto contribuiu o governo Dilma
Rousseff, o poste eletrificado por Lula.
Geraldo Alckmin é certamente favorecido
pela longa experiência na gestão do Poder Executivo. Ciro Gomes foi uma grata
surpresa, para quem é acompanhado da fama de estorvado, irritadiço. Marina
Silva expôs suas propostas para o Brasil com aquele tom papal que lhe é
próprio, de freira leiga, mas, tal qual Ciro Gomes, livre da nódoa de estar
contaminada por suspeitas de corrupção.
ELEIÇÕES 2018 – Falácias e sofismas toscos
Na tentativa de vender suas falácias, Jair
Bolsonaro recorre a sofismas toscos e ofende a inteligência dos eleitores.
Assim, por exemplo, foi ao falar sobre:
A mamata do auxílio-moradia
O presidenciável Jair Bolsonaro e um dos
seus filhos, Eduardo Bolsonaro, ambos deputados federais, recebem dos cofres
públicos R$ 6.167 mensais de auxílio-moradia, mesmo tendo um imóvel em
Brasília, segundo revelou – sem ser desmentida - a “Folha de S. Paulo”, em 2 de janeiro deste ano. O
apartamento de dois quartos (69 metros quadrados), em nome de Jair, foi
comprado no fim dos anos 90, quando ele já recebia o benefício público, mas
ficou pronto no início de 2000.
O capitão recebe da Câmara dos Deputados o
auxílio-moradia desde outubro de 1995, ininterruptamente. Eduardo, seu filho,
desde fevereiro de 2015, quando tomou posse em seu primeiro mandato como
deputado federal. Ao todo, pai e filho embolsaram até dezembro de 2017 R$ 730
mil, já descontado o Imposto de Renda.
Além do apartamento em Brasília, os
políticos da família Bolsonaro tem mais 12 imóveis no Rio de Janeiro, a maior
parte adquirida nos últimos 10 anos, acrescentou a reportagem dos jornalistas
Camila Mattoso e Ranier Bragon, da “Folha de S. Paulo”.
Questionado sobre a mamata, na sabatina da
GloboNews, alegou que valeu-se da lei, ignorando a escandalosa transgressão
ética. “Fui tão desonesto como você”, revidou, alegando que o jornalista Gerson
Camarotti, como a maioria dos seus colegas, ganhava como pessoa jurídica para
driblar o Imposto de Renda. Ao evocar o deslize ético imposto hoje pela maioria
dos grupos de comunicação aos seus jornalistas, recorreu ao ardil de quem alega precedentes para
justificar seus tropeços na matéria.
Racismo do pai e ameaças do filho
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Jair Bolsonaro (à dir.) com o filho, Eduardo. |
A
Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal
(STF), a 13 de abril deste ano, duas denúncias contra os deputados federais Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, por
motivos diferentes. O deputado federal Jair Bolsonaro foi denunciado por
racismo praticado contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs.
Seu filho, o também deputado Eduardo Bolsonaro, foi denunciado por ameaçar de
morte a jornalista Patrícia Lélis.
Durante
palestra no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, em abril do ano passado,
amplamente divulgado na internet e na imprensa, Jair Bolsonaro usou expressões
de cunho discriminatório, incitando o ódio e atingindo diretamente vários
grupos sociais. De acordo com a PGR, o deputado faz um paralelo da
formação de sua família para destilar preconceito contra as mulheres: “Eu tenho
cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma
mulher”. Em seguida, Bolsonaro apontou seu discurso de ódio para os índios,
impondo-lhes a culpa pela não construção de três hidrelétricas em Roraima e
criticando as demarcações de terras indígenas. O ataque a variados grupos
sociais continuou mirando os quilombolas. Segundo o parlamentar, essas
comunidades tradicionais “não fazem nada” e “nem para procriador eles servem
mais”.
Já o filho de Jair Bolsonaro, Eduardo
Bolsonaro, também deputado federal como o pai, por meio do aplicativo Telegram enviou várias mensagens à
jornalista Patrícia de Oliveira Souza Lélis dizendo que iria acabar com a vida
dela e que ela iria se arrepender de ter nascido. Questionado se o diálogo se
trataria de uma ameaça, respondeu: “Entenda como quiser”. O parlamentar
escreveu ainda diversas palavras de baixo calão com o intuito de macular a
imagem da companheira de partido: “otária”, “abusada”, “vai para o inferno”,
“puta” e “vagabunda”. A discussão ocorreu depois que Eduardo Bolsonaro postou
no Facebook que estaria namorando Patrícia Lélis, que nega a relação. Além
de prints das conversas que comprovam a ameaça, a vítima
prestou depoimento relatando o crime.
O estopim do imbróglio
entre o deputado e a jornalista foi Eduardo publicar em seu perfil no Facebook
um desabafo a respeito de uma ex-namorada que, nas palavras dele, trocou roupas
recatadas por danças sensuais, depois de ter rompido com ele para sair com um
médico cubano. “Feminismo é uma doença”, escreveu o deputado. Mesmo sem ser citada
nominalmente, Patrícia respondeu nas redes sociais que viveu uma relação
afetiva abusiva com o deputado por três anos. Isso fez Eduardo Bolsonaro
desfechar uma saraivada de insultos e ameaças a Patrícia Lélis no Telegram,
aplicativo concorrente do Whatsapp que tem entre suas principais ferramentas
uma que permite a destruição automática das mensagens conforme período
pré-estabelecido. Embora
Eduardo tenha acionado o dispositivo para que o texto desaparecesse após cinco
segundos, Patrícia conseguiu gravar o diálogo e entregar uma cópia à polícia.
Ditadura militar
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Passeata dos 100 mil , no Rio, em 1968, antes do AI-5, início dos chamados anos de chumbo. |
Ao recalcitrar em reconhecer como ditadura
o regime militar, que se estendeu de 1964 a 1985, ele argumenta com uma
atipicidade, que foi o rodízio de ditadores, um ponto fora da curva do padrão
habitual dos regimes totalitários. O que não exime a constatação histórica
sobre o caráter de regime de exceção que é próprio das ditaduras.
Todos os generais-presidentes foram eleitos
pelo Congresso, argumenta ainda o capitão, na sua insana tentativa de negar a
existência da ditadura militar. Convenientemente, ele omite que tratava-se um
Congresso tutelado, do qual foram expurgadas sucessivas lideranças da oposição
e ao qual cabia referendar os nomes ungidos nos conciliábulos castrenses.
Conivência com a censura
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Capa da "Veja" sobre o AI-5: edição censurada. |
Sobre a liberdade de imprensa,
suprimida pela ditadura militar, que impôs uma draconiana censura,
particularmente após o AI-5, em 1968, Bolsonaro ofende a inteligência, ao
alegar que foi no regime de exceção que surgiram a TV Globo, em 1965, e a
revista “Veja”, em 1968. Ao tentar minimizar a ação deletéria da censura, escamoteia
que a TV Globo prosperou incensando a ditadura militar e silencia sobre a implacável
censura que logo se abateu sobre a “Veja”. “Os censores da ditadura militar brasileira pareciam saber que
seu trabalho era ilegítimo. Esforçavam-se por impedir que o público tomasse
conhecimento das restrições impostas à imprensa. Em vários episódios de censura
a ‘Veja’, a partir de 1968 e por boa parte da década de 70, a revista tentou
evidenciar que sofrera cortes, deixando trechos em branco no meio da página ou
substituindo as partes cortadas por esdrúxulas figuras de diabinhos. As
autoridades baixavam normas coibindo esses expedientes. Os embates entre
censores e jornalistas estão documentados em ‘Veja sob Censura – 1968-1976’
(Jaboticaba; 352 páginas; 42 reais), da jornalista e historiadora Maria
Fernanda Lopes Almeida”, relata ojornalista Reinaldo Azevedo.
A
propósito dos tempos sombrios da censura, Reinaldo Azevedo prossegue: ”O
episódio mais emblemático da censura a ‘Veja’ se deu em dezembro de 1968, logo
depois da promulgação do AI-5. O censor ficou satisfeito em saber que a revista
dedicada ao tema não teria título na capa. A imagem, porém, era eloquente: o
presidente Costa e Silva aparecia sentado, sozinho, no Congresso que mandara
fechar. O Exército determinou que a revista fosse recolhida das bancas. ‘Veja’ sofreu
censura prévia – com um censor lendo tudo o que seria publicado – com mais
rigor entre 1974 e 1976. Antes disso, o governo ditava listas de temas que não
poderiam ser abordados”, acrescenta ainda Reinaldo Azevedo.
A eleição de Tancredo no colégio eleitoral
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Da esq. para a dir: Sarney, Marco Maciel, Tancredo e ACM: adesão da dissidência do regime militar. |
Ao pretender justificar as eleições
indiretas para presidente, impostas pela ditadura militar, Bolsonaro argumenta
que o ex-presidente Tancredo Neves, cuja eleição é o marco da redemocratização
do Brasil, foi eleito no colégio eleitoral. “Que ditadura é essa que permite
eleição?”, debocha em seu simplismo cínico. Omite que Tancredo foi ao colégio
eleitoral comprometido com o restabelecimento das eleições diretas, em
candidatura viabilizada pela decomposição da ditadura militar, o que permitiu a
adesão de quadros do regime militar à Aliança Democrática, como José Sarney e
Antônio Carlos Magalhães, que fizeram carreira sob o regime dos generais. “Vamos
ao colégio eleitoral para destruí-lo, não para coonestá-lo”, proclamou
Tancredo, na época, ao explicitar a estratégia das oposições democráticas após
o fracasso das Diretas-Já, o maior movimento de massas da história brasileira,
em defesa das eleições diretas para presidente. A emenda Dante Oliveira,
instituindo as eleições diretas para presidente, foi barrada pelo Congresso,
dominado pela maioria parlamentar que dava sustentação ao regime militar. Nesse
contexto, o nome de Tancredo Neves emerge em contraposição à candidatura de
Paulo Maluf, que tinha o apoio do governo do último general-presidente, João
Baptista Figueiredo.
Marcado pela transição política, iniciada
pelo ex-presidente Ernesto Geisel e que incluiu a Lei da Anistia e o fim do
bipartidarismo imposto pela ditadura militar, o governo Figueiredo acabou
estigmatizado pela crise econômica em vários setores da economia, fraco desempenho
do PIB (produto Interno Bruto), que gerou recessão, e aumento da inflação, cuja
média chegou, entre 1983 e 1985, a 200% ao ano. As greves reivindicando
melhores salários, principalmente na região do Grande ABC, foram reprimidas com
violência pelo governo.
Com a morte de Tancredo Neves,
hospitalizado na véspera da posse e que acabou falecendo na esteira das
complicações de uma cirurgia de diverticulite, assumiu seu vice, José Sarney,
um político que servira a ditadura e que com ela rompera em seus estertores.
Por tê-lo como traidor, o general Figueiredo recusou-se a passar-lhe a faixa.
Ao deixar o poder, o último general-presidente teve seu desejo, expresso
semanas antes de deixar o poder, prontamente atendido pelo povo brasileiro: “Quero
que me esqueçam.”
ELEIÇÕES 2018 – A missiva e a balela lulo-petista
Vale a pena ler a análise do jornalista Reinaldo Azevedo sobre a carta de Lula à
militância petista (sem que se saiba a identidade do ghost-writer, previsivelmente indispensável, considerando a falta
de intimidade do ex-presidente com a escrita).
“Segundo o texto, o Brasil que era governado pelo PT lembrava, assim, uma
espécie de Jardim do Éden. Aí uma conspiração, liderada pela cobra, sem a
participação de Adão e Eva nem de Lula e Dilma, estragou tudo. E o país virou
um inferno. Para que a gente tenha o paraíso de volta, só elegendo o inelegível”,
ironiza o jornalista. E salienta, devastador: “Em nenhum momento, Lula e os
petistas reconheceram a sua responsabilidade na crise econômica que se abateu
sobre o país. É como se a legenda não tivesse conduzido o Brasil à maior
recessão de sua história.”
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