Jair Bolsonaro: discurso tosco e superficialidade que assusta eleitores. |
Cacareco, rinoceronte que expressou a insatisfação do eleitor paulistano. |
Macaco Tião, outro fenômeno eleitoral, que serviu para expressar a insatisfação com a classe política. |
“Bolsonaro é o Cacareco.” A mais perfeita definição sobre a candidatura do
deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) é de uma advogada, que para não ferir susceptibilidades opta pelo
anonimato, mas que não consegue represar seu espanto com a superficialidade do
candidato a presidente pelo PSL. A definição resume a essência da candidatura do
capitão reformado, intelectualmente tosco e cujo discurso raso, absurdamente
autoritário e pretensamente austero, teve a oportunidade de exibir no programa
Central das Eleições, da GloboNews.
Para os mais jovens, cabe o esclarecimento
histórico. Cacareco foi a rinoceronte
fêmea, emprestada pelo zoológico do Rio de Janeiro ao zoológico de São Paulo,
que nas eleições municipais de outubro de 1959 da capital paulista recebeu
cerca de 100 mil votos, no mais famoso caso de voto de protesto da história política brasileira. Depois dele,
teve-se o fenômeno do Macaco Tião, um voto de protesto
lançado pela revista “Casseta e Planeta”, com o apoio do jornalista Fernando
Gabeira, então deputado pelo PV. Do episódio resultou que Macaco Tião figura no Guiness World Record como o chimpanzé a receber mais votos no mundo. O fenômeno que representou Macaco Tião o tornou capa da revista "Veja", por traduzir o descrédito dos políticos.
Para além de tirar a direita
ultraconservadora do armário, o que é saudável porque enriquece o contraditório
e confere transparência ao debate eleitoral, a candidatura do capitão, com seu
discurso de suposta moralidade pública, prospera no sucateamento das
instituições políticas, à espera de uma reforma capaz de tornar o Congresso e
os partidos algo mais que um valhacouto de réus e cúmplices. Mas o capitão
também é favorecido pela indecisão do eleitorado, diante da indefinição de
candidaturas e da falta de conhecimento sobre as propostas dos candidatos em
potencial. Com 27 anos de vida parlamentar, ao longo da qual não produziu nada
além de eleger os filhos, no melhor estilo caudilhesco, Bolsonaro parece aquele
tipo incapaz de conjugar duas ideias concomitantes sem o risco de ter uma
convulsão cerebral.
Emblematicamente, bastou despontar no
cenário eleitoral a pré-candidatura da ex-ministra Marina Silva (Rede) para que
fosse registrado um empate técnicoentre ela e o capitão. E pelo que foi permitido vislumbrar no Central das
Eleições, o da GloboNews, o confronto é desfavorável ao candidato do PSL.
Até intuitivamente o eleitorado parece ter
a percepção da fragilidade da candidatura de Bolsonaro, independentemente do
isolamento que o faz carente de palanques expressivos e chegar a undécima hora
sem conseguir ter um vice por opção, compelido a contentar-se com a reserva de
contingência que lhe restou, o general Antônio Hamilton Martins Mourão, que
ganhou notoriedade em 2005, quando estava no Comando Militar do Sul e criticou
o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Não por acaso, a 22 de julho, debruçado
sobre as pesquisas de intenção de voto,
o jornalista Josias de Souza revelou que, se não
estivesse inelegível, Lula (49%) surraria Bolsonaro (32%) num hipotético
segundo round. Marina Silva (42%) colocaria dez pontos de vantagem sobre o
fenômeno (32%). Ciro Gomes (36%) subiria ao ringue estatisticamente empatado com
a novidade (34%). Até Geraldo Alckmin (33%) emparelharia suas luvas com as de
Bolsonaro (33%), num empate matemático, antes mesmo de ter sua candidatura
encorpada pelo apoio do Centrão.
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