domingo, 5 de agosto de 2018

ELEIÇÕES 2018 – Falácias e sofismas toscos


Na tentativa de vender suas falácias, Jair Bolsonaro recorre a sofismas toscos e ofende a inteligência dos eleitores. Assim, por exemplo, foi ao falar sobre:

A mamata do auxílio-moradia

O presidenciável Jair Bolsonaro e um dos seus filhos, Eduardo Bolsonaro, ambos deputados federais, recebem dos cofres públicos R$ 6.167 mensais de auxílio-moradia, mesmo tendo um imóvel em Brasília, segundo revelou – sem ser desmentida - a “Folha de S. Paulo”, em 2 de janeiro deste ano. O apartamento de dois quartos (69 metros quadrados), em nome de Jair, foi comprado no fim dos anos 90, quando ele já recebia o benefício público, mas ficou pronto no início de 2000.

O capitão recebe da Câmara dos Deputados o auxílio-moradia desde outubro de 1995, ininterruptamente. Eduardo, seu filho, desde fevereiro de 2015, quando tomou posse em seu primeiro mandato como deputado federal. Ao todo, pai e filho embolsaram até dezembro de 2017 R$ 730 mil, já descontado o Imposto de Renda.
Além do apartamento em Brasília, os políticos da família Bolsonaro tem mais 12 imóveis no Rio de Janeiro, a maior parte adquirida nos últimos 10 anos, acrescentou a reportagem dos jornalistas Camila Mattoso e Ranier Bragon, da “Folha de S. Paulo”.
Questionado sobre a mamata, na sabatina da GloboNews, alegou que valeu-se da lei, ignorando a escandalosa transgressão ética. “Fui tão desonesto como você”, revidou, alegando que o jornalista Gerson Camarotti, como a maioria dos seus colegas, ganhava como pessoa jurídica para driblar o Imposto de Renda. Ao evocar o deslize ético imposto hoje pela maioria dos grupos de comunicação aos seus jornalistas, recorreu ao ardil de quem alega precedentes para justificar seus tropeços na matéria.

Racismo do pai e ameaças do filho

Jair Bolsonaro (à dir.) com o filho, Eduardo.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF), a 13 de abril deste ano, duas denúncias contra os deputados federais Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, por motivos diferentes. O deputado federal Jair Bolsonaro foi denunciado por racismo praticado contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs. Seu filho, o também deputado Eduardo Bolsonaro, foi denunciado por ameaçar de morte a jornalista Patrícia Lélis.
Durante palestra no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, em abril do ano passado, amplamente divulgado na internet e na imprensa, Jair Bolsonaro usou expressões de cunho discriminatório, incitando o ódio e atingindo diretamente vários grupos sociais. De acordo com a PGR,  o deputado faz um paralelo da formação de sua família para destilar preconceito contra as mulheres: “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”. Em seguida, Bolsonaro apontou seu discurso de ódio para os índios, impondo-lhes a culpa pela não construção de três hidrelétricas em Roraima e criticando as demarcações de terras indígenas. O ataque a variados grupos sociais continuou mirando os quilombolas. Segundo o parlamentar, essas comunidades tradicionais “não fazem nada” e “nem para procriador eles servem mais”.
Já o filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, também deputado federal como o pai, por meio do aplicativo Telegram enviou várias mensagens à jornalista Patrícia de Oliveira Souza Lélis dizendo que iria acabar com a vida dela e que ela iria se arrepender de ter nascido. Questionado se o diálogo se trataria de uma ameaça, respondeu: “Entenda como quiser”. O parlamentar escreveu ainda diversas palavras de baixo calão com o intuito de macular a imagem da companheira de partido: “otária”, “abusada”, “vai para o inferno”, “puta” e “vagabunda”. A discussão ocorreu depois que Eduardo Bolsonaro postou no Facebook que estaria namorando Patrícia Lélis, que nega a relação. Além de prints das conversas que comprovam a ameaça, a vítima prestou depoimento relatando o crime.
O estopim do imbróglio entre o deputado e a jornalista foi Eduardo publicar em seu perfil no Facebook um desabafo a respeito de uma ex-namorada que, nas palavras dele, trocou roupas recatadas por danças sensuais, depois de ter rompido com ele para sair com um médico cubano. “Feminismo é uma doença”, escreveu o deputado. Mesmo sem ser citada nominalmente, Patrícia respondeu nas redes sociais que viveu uma relação afetiva abusiva com o deputado por três anos. Isso fez Eduardo Bolsonaro desfechar uma saraivada de insultos e ameaças a Patrícia Lélis no Telegram, aplicativo concorrente do Whatsapp que tem entre suas principais ferramentas uma que permite a destruição automática das mensagens conforme período pré-estabelecido. Embora Eduardo tenha acionado o dispositivo para que o texto desaparecesse após cinco segundos, Patrícia conseguiu gravar o diálogo e entregar uma cópia à polícia.



Ditadura militar



Passeata dos 100 mil , no Rio, em 1968, antes
do AI-5, início dos chamados anos de chumbo.

Ao recalcitrar em reconhecer como ditadura o regime militar, que se estendeu de 1964 a 1985, ele argumenta com uma atipicidade, que foi o rodízio de ditadores, um ponto fora da curva do padrão habitual dos regimes totalitários. O que não exime a constatação histórica sobre o caráter de regime de exceção que é próprio das ditaduras.
Todos os generais-presidentes foram eleitos pelo Congresso, argumenta ainda o capitão, na sua insana tentativa de negar a existência da ditadura militar. Convenientemente, ele omite que tratava-se um Congresso tutelado, do qual foram expurgadas sucessivas lideranças da oposição e ao qual cabia referendar os nomes ungidos nos conciliábulos castrenses.



Conivência com a censura



Capa da "Veja" sobre o
AI-5: edição censurada.

Sobre a liberdade de imprensa, suprimida pela ditadura militar, que impôs uma draconiana censura, particularmente após o AI-5, em 1968, Bolsonaro ofende a inteligência, ao alegar que foi no regime de exceção que surgiram a TV Globo, em 1965, e a revista “Veja”, em 1968. Ao tentar minimizar a ação deletéria da censura, escamoteia que a TV Globo prosperou incensando a ditadura militar e silencia sobre a implacável censura que logo se abateu sobre a “Veja”. “Os censores da ditadura militar brasileira pareciam saber que seu trabalho era ilegítimo. Esforçavam-se por impedir que o público tomasse conhecimento das restrições impostas à imprensa. Em vários episódios de censura a ‘Veja’, a partir de 1968 e por boa parte da década de 70, a revista tentou evidenciar que sofrera cortes, deixando trechos em branco no meio da página ou substituindo as partes cortadas por esdrúxulas figuras de diabinhos. As autoridades baixavam normas coibindo esses expedientes. Os embates entre censores e jornalistas estão documentados em ‘Veja sob Censura – 1968-1976’ (Jaboticaba; 352 páginas; 42 reais), da jornalista e historiadora Maria Fernanda Lopes Almeida”, relata ojornalista Reinaldo Azevedo.
A propósito dos tempos sombrios da censura, Reinaldo Azevedo prossegue: ”O episódio mais emblemático da censura a ‘Veja’ se deu em dezembro de 1968, logo depois da promulgação do AI-5. O censor ficou satisfeito em saber que a revista dedicada ao tema não teria título na capa. A imagem, porém, era eloquente: o presidente Costa e Silva aparecia sentado, sozinho, no Congresso que mandara fechar. O Exército determinou que a revista fosse recolhida das bancas. ‘Veja’ sofreu censura prévia – com um censor lendo tudo o que seria publicado – com mais rigor entre 1974 e 1976. Antes disso, o governo ditava listas de temas que não poderiam ser abordados”, acrescenta ainda Reinaldo Azevedo.



A eleição de Tancredo no colégio eleitoral



Da esq. para a dir: Sarney, Marco Maciel, Tancredo
e ACM: adesão da dissidência do regime militar.

Ao pretender justificar as eleições indiretas para presidente, impostas pela ditadura militar, Bolsonaro argumenta que o ex-presidente Tancredo Neves, cuja eleição é o marco da redemocratização do Brasil, foi eleito no colégio eleitoral. “Que ditadura é essa que permite eleição?”, debocha em seu simplismo cínico. Omite que Tancredo foi ao colégio eleitoral comprometido com o restabelecimento das eleições diretas, em candidatura viabilizada pela decomposição da ditadura militar, o que permitiu a adesão de quadros do regime militar à Aliança Democrática, como José Sarney e Antônio Carlos Magalhães, que fizeram carreira sob o regime dos generais. “Vamos ao colégio eleitoral para destruí-lo, não para coonestá-lo”, proclamou Tancredo, na época, ao explicitar a estratégia das oposições democráticas após o fracasso das Diretas-Já, o maior movimento de massas da história brasileira, em defesa das eleições diretas para presidente. A emenda Dante Oliveira, instituindo as eleições diretas para presidente, foi barrada pelo Congresso, dominado pela maioria parlamentar que dava sustentação ao regime militar. Nesse contexto, o nome de Tancredo Neves emerge em contraposição à candidatura de Paulo Maluf, que tinha o apoio do governo do último general-presidente, João Baptista Figueiredo.
Marcado pela transição política, iniciada pelo ex-presidente Ernesto Geisel e que incluiu a Lei da Anistia e o fim do bipartidarismo imposto pela ditadura militar, o governo Figueiredo acabou estigmatizado pela crise econômica em vários setores da economia, fraco desempenho do PIB (produto Interno Bruto), que gerou recessão, e aumento da inflação, cuja média chegou, entre 1983 e 1985, a 200% ao ano. As greves reivindicando melhores salários, principalmente na região do Grande ABC, foram reprimidas com violência pelo governo.
Com a morte de Tancredo Neves, hospitalizado na véspera da posse e que acabou falecendo na esteira das complicações de uma cirurgia de diverticulite, assumiu seu vice, José Sarney, um político que servira a ditadura e que com ela rompera em seus estertores. Por tê-lo como traidor, o general Figueiredo recusou-se a passar-lhe a faixa. Ao deixar o poder, o último general-presidente teve seu desejo, expresso semanas antes de deixar o poder, prontamente atendido pelo povo brasileiro: “Quero que me esqueçam.”

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