LÍDIA KAROLINA BELO *
A campanha da Fiat “Vem pra Rua”, como o nome já sugere,
convoca uma mobilização do público para torcer pela Seleção Brasileira de
futebol. Pelo menos este é o mote do filme criado pela Agência Fiat/
AgênciaClick Isobar e Leo Burnett Tailor Made.
Acontece que o refrão da campanha, cantado pela banda Rappa,
ganhou um tom militante e virou o hino das manifestações, principalmente em São
Paulo, contra o aumento da tarifa do transporte público: “Vem pra rua porque a
rua é a maior arquibancada do Brasil”.
A música foi liberada na internet, para ser compartilhada
gratuitamente, e o clipe ganhou uma releitura do público, com uma edição que
exibe imagens marcantes da manifestação. Geralmente a propaganda se utiliza dos
costumes e culturas populares, mas nesse caso, ironicamente, a ordem dos fatos
foi invertida.
“Vivemos uma era muito estranha, daquelas que muitas teorias
caducaram e já não cabem mais. Tudo precisa ser revisto. É curioso ver como uma
propaganda ‘alienante’ pode se tornar um hino de ‘conscientização’. É a mais
pura apropriação ‘anarquizante’ dos recursos imagéticos. O título ‘Vem pra Rua’
não poderia ser mais propício, não?”, comenta o comunicador e professor
universitário Anderson Gurgel.
A julgar pelos comentários na página da Fiat no Facebook, a
reação do público tem saldo positivo para a marca, que levantou uma bandeira e
caiu de paraquedas em outra. Sorte ou azar? Os responsáveis pela campanha estão
todos em Cannes, segundo a assessoria de imprensa da Fiat, e não puderam
comentar a repercussão do vídeo.
Geralmente grandes campanhas nasceram da interpretação
criativa de culturas e costumes populares. E na era da internet, onde as coisas
acontecem com muita velocidade, a propaganda costuma utilizar fatos recentes de
domínio público, e transformá-los numa mensagem para promover as marcas, é o
chamado “anúncio de oportunidade”.
Alguns chavões em evidência, ou “hashtags” de ocasião, também
são utilizados para campanhas maiores. É o caso da propaganda “Imagina a festa”,
da Brahma, criada pela agência Africa.
Curioso notar essa inversão de valores - uma manifestação
utilizando a propaganda e não o contrário - e perceber que as marcas precisam,
cada vez mais, se reinventar e estudar muito o comportamento de seu público,
sobretudo no ambiente das novas mídias.
Fonte: ADNEWS
PS. Gente, não sei se a Fiat se deu mal ou se deu muito
bem.... mas o fato é que o Falcão só pode ser um guru, porque caiu como uma
luva. Se tivesse sido planejado, não teria dado tão certo...
* Ana
Karolina Belo é formada em Comunicação Social, com especialidade em publicidade
e propaganda, pela UFPA, a Universidade Federal do Pará, e atualmente cursa Secretariado
Executivo Trilingue na UEPA, a Universidade do Estado do Pará.
5 comentários :
Uma forma nova,que se utiliza da própria linguagem da propaganda para seus fins, manifesta-se essa insatisfação difusa com a representatividade dos partidos políticos e seu discurso promesseiro para após as eleições partirem para seus conchavos e troca de favores. Isso é para mostrar que não somos alienados apaixonados por futebol,cerveja, baladas e sim seres pensantes que se comunicam e mobilizam multidôes. Somos um povo maior que esses políticos e lideres de classe aproveitadores!
O movimento de onde eclodiu estas manifestações é o "passe livre", que entre outras coisas prega uma mobilidade urbana mais cidadã através de uma política de trasporte público de qualidade(justíssimo),mas o hino do movimento é de uma empresa da indústria automobilistica que despeja carros nas ruas congestionando o trânsito e patrocinadora da copa do mundo. E não vem ninguém dizer que a questão é linguística, semântca ou de sentidos.
Excelente análise. Parabéns!
Excelente análise e linda a analista.
1992: Os caras pintadas saíram as ruas e vangloriam-se de ter derrubado COLLOR DE MELLO....a pergunta: ele foi preso? Devolveu algum tostão para os cofres públicos, a família dele faliu? Ah... não ....ele hoje é SENADOR DA REPUBLICA!!!! O carinha (Lindeberg Farias) que na época comandou os cara pintadas hoje dividi o balanque do senado com COLLOR.
2013: A classe média que tem smartphones e acesso a internet Combinar pelo FACEBOOK E sai a rua pra 1º pedir redução da tarifa. Depois para pedir não a PEC 37, não a corrupção, não cura gay, não ao não. Daqui a 20 anos, veremos os lideres desse movimento tomando cafezinho no congresso nacional com os herdeiros políticos do Alckim, Jader, José Dirceu e outros.
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