RUY SILVA*
Completado um ano em Maracanã, aproveito
para fazer um balanço desse período. Lembro dos momentos decisivos que
antecederam o meu retorno. Imaginei a realidade que encontraria na minha cidade
natal. Aqui poderia olhar o rio, conversar com velhos amigos, exercer minha
profissão com tranquilidade, conviver com os meus pais, desenvolver atividade
rural, usufruir da vida pacata da cidade, do ar puro e ter dias mais sossegados
longe do estresse do trânsito caótico da grande cidade, da violência
desenfreada, da rotina alucinante, típica dos grandes centros urbanos. Mas, a
realidade me surpreendeu. Surpresa, porque jamais passou pelo meu pensamento
que sofreria hostilidade, ódio, assédio moral de modo tão acintoso. Resolvi
tornar público esse drama porque o prolongamento do meu silêncio só reafirma a
truculência e autoritarismo, práticas repugnantes e prejudiciais a dignidade
humana. O mais surpreendente desse caso, foi sofrer esse tipo de ultraje dentro
de uma escola, onde em tese, é um local de ensino e preparação de cidadãos.
Mesmo que eu fosse o pior professor da escola, não cumprisse com as minhas
obrigações profissionais, não justificaria ser tratado de modo desrespeitoso.
Pois, os direitos humanos, ideologia tão em voga nos dias atuais, salvaguardam
a preservação da dignidade mesmo a autores de atos abomináveis.
Mas que crime cometi? Que ato abominável
eu pratiquei? Por que sou combatido? Por que tentam sistematicamente me anular
no meu local de trabalho? Algumas hipóteses surgiram diante dessa realidade.
Antes de responder essas questões, julguei relembrar alguns atos que foram
configurando esse enredo tenebroso de ataque a minha dignidade. Ontem, mais uma
vez fui vítima do autoritarismo da diretora da Escola Presidente Kennedy.
Solicitei o direito de voz durante a cerimônia de abertura do ano letivo. Ela
simplesmente negou-me. Chegou ao extremo do absurdo de afirmar que não tinha
legitimidade para representar os professores, não poderia falar em nome do
Conselho Escolar, não tinha portanto, o direito de fazer parte daquele momento.
Antes que pudesse adotar qualquer reação diante dessa sandice, ela convocou os
que julgou de sua conveniência e ordenou o início dos trabalhos.
Chegou ao desplante de afirmar que “eu
quero aparecer”. Depois desse episódio lamentável, pensei: “Ora, sou professor da
escola, professor articulador do PROEMI (Programa Ensino Médio Inovador),
presidente do Conselho Escolar. Esse dia inaugural, com a programação cultural,
foi de minha autoria, a iniciativa de convidar o padre e outras autoridades
eclesiástica também, a articulação com a Secretaria de Cultura fiz exercendo a
minha responsabilidade funcional, e não tenho legitimidade de expressar minha
opinião? Além disso, o dia 28 de março marcava não somente o início do ano
letivo, mas também a entrega da escola revitalizada para os alunos e a
comunidade em geral. Todo trabalho feito durante duas semanas sem descanso foi
executado pela diretoria do Conselho Escolar. Como presidente, coordenei o
levantamento de prioridades, de detalhes, tomada de decisão, execução e
acompanhamento diário de todos os serviços executados. No entanto, segundo a
diretora, não tenho legitimidade para exercer o direito de presença e voz no
momento de honra do início dos trabalhos da escola. Será justo essa atitude da
diretora da escola? O professor merece esse tipo de tratamento?
Esse foi um, dentre vários atos que
sofri ao longo do ano completado como professor da Escola Presidente Kennedy.
No dia 02 de dezembro de 2013, compareci a ouvidoria da Seduc, prédio sede em
Belém, para tomar conhecimento de minha devolução feita pela direção da escola.
Alegações estapafúrdias que não tinham qualquer sustentação na veracidade
alegada, embasaram as justificativas para que deixasse de ser professor da
Escola Presidente Kennedy. Entreguei relatório de 12 laudas para me respaldar e
um conjunto de registros fotográficos da realidade da escola. Passado esse
episódio, cheguei a pensar que o extremo já havia acontecido. Pois, durante
esse período houve situações graves de ataque a honra da direção e demais
profissionais da escola e o autor sequer foi advertido. No entanto, sem que
tivesse cometido qualquer ato que desabonasse minha conduta profissional, fui
alvo de documento pedindo minha devolução.
Adoto como cronologia desse enredo
persecutório, o fato ocorrido no dia 01 de abril de 2013. Esse dia foi o início
de todo esse enredo infernal. Nesse dia tive uma experiência desagradável.
Cheguei para trabalhar numa turma do 2° ano, e os alunos me disseram: “Professor
não podemos abrir aquela janela, porque senão essa sala vai desabar”. Olhei e
vi várias rachaduras na parede. Pedi calma a turma, providenciei outra sala e
solicitei à diretora a interdição da sala de aula, alegando o risco para os
alunos e professores.
No mesmo dia, enquanto me dirigia a orla
da cidade, encontrei o presidente da Câmara e o vereador Guto. Na conversa com
eles, relatei a triste realidade do conjunto de prédios da Escola Kennedy. Eles
prometeram que iriam se juntar a gestora do município e a comunidade escolar
para sensibilizar as autoridades estaduais da necessidade urgente de reforma da
escola. O desdobramento dessa iniciativa foi um quiproquó dos infernos. Fui
advertido pela direção. Soube que não houve reunião por duas semanas
consecutivas por conta da situação da escola ter sido incluída na pauta de
debate da Câmara. A partir desse gesto, passei a ser hostilizado na escola.
Pensei: “Meu Deus, o que fiz de errado em conversar com vereadores sobre um
prédio público que se encontrava em precárias condições? Será que tenho que me
fazer de cego? Não tenho direito de ver o óbvio?” Essa mesma sala de aula foi
recuperada com recursos do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola), a partir
do momento que solicitei a responsabilidade de executar e acompanhar os
serviços de construção de alicerces e reparos da parede com rachaduras. Antes
do fim do primeiro semestre de 2013, essa sala de aula voltou a funcionar. O
simples comentário sobre a revitalização dessa sala de aula me custou
advertência verbal da direção e do vice-diretor. Os mecanismos de perseguição
foram assumindo uma dimensão inimaginável. A direção visitou as turmas para
coletar alguma queixa que pudesse embasar represálias contra mim.
Menciono também que, quando cheguei a
escola, o banheiro dos professores e servidores masculinos estava sem as minhas
condições de uso. Pedi autorização a direção, após entendimento com os demais
professores que faríamos uma coleta entre nós para custear os serviços, assumi
a tarefa de revitalizar o referido banheiro. Recusei aceitar que não tivéssemos
um banheiro adequado com espelho e todos os outros objetos para atender as
nossas necessidades básicas. Como a escola estava tomada por marimbondos (cabas),
pedi autorização e fiz o combate desses insetos de todas as dependências do
prédio, com a ajuda de vigias da escola, pois realizei esse trabalho durante o
domingo. Antes chegara a mim o relato de vários alunos que tinham sido atacados
por marimbondos. Inclusive a diretora fora vítima de cabas.
Além de outras iniciativas que sugeri e
adotei que pudessem contribuir para minorar a precariedade da escola, quando
sequer era membro do Conselho Escolar, função que passei a exercer somente no
final de 2013, após renovação dos conselheiros. O retorno que tive por parte da
direção da escola foi de ser tratado indignamente. Ser ignorado como pessoa
dentro do ambiente de trabalho. Ouvir indiretas. Ser alvo de ações que atacavam
a dignidade profissional, como se não bastasse enfrentar toda a precariedade de
condições que o professor da escola pública é obrigado a encarar. Faço questão
de enumerar algumas dessas ações para que sirvam de elementos esclarecedores
sobre como foi esse primeiro ano de trabalho completado na Escola Kennedy. Não
quero aparecer, fiz por dever de consciência, por jamais aceitar o que acredito
ter a capacidade de transformar em algo melhor. Acredito nos meus alunos, nos
meus colegas, nas pessoas, podemos fazer mais. Se cada um fizer um pouco,
somando pequenos gestos, teremos um ambiente de trabalho muito melhor. Retornei
para Maracanã para contribuir através do meu trabalho. Desde que cheguei tenho
feito a minha parte. Muitos amigos chegaram comigo para saber porque voltei. A
minha resposta tem sido: “Nasci aqui, meus pais e parentes aqui residem e quero
viver aqui”. Após enumerar alguns fatos, agora volto ás hipótese para entender
as hostilidades dirigidas a mim.
Será que sou mau, inescrupuloso,
desonesto, criminoso, violento, vadio e prejudicial a Escola Kennedy? Será que
em Maracanã é crime o direito à liberdade de expressão, de iniciativa? Será que
não fazer parte da militância do político de plantão é um determinante para ser
tratado como inimigo a ser destruído? Será que contribuir como profissional e
cidadão em prol da escola pública é ato abominável? Será que não ter filiação
partidária, não estar associado a um grupo político local é uma ofensa aos
líderes políticos locais? Será que defender a democracia, o trabalho, o
compromisso é querer aparecer em Maracanã como um indivíduo a ser combatido e
massacrado?
* Ruy Silva é
professor da Seduc, a Secretaria de Estado de Educação, lotado na Escola
Presidente Kennedy, em Maracanã (PA).
3 comentários :
No mínimo cabe uma representação contra essa Diretora perante a Administração Superior da SEDUC e ao Promotor de Justiça de Maracanã.
é melhor fazer nada pelo visto!
Rui Silva, em estágio probatório, conseguiu, sabe-se lá como, uma transferência ilegal para Maracanã, onde já começou a querer fazer sua campanha para mais uma tentativa de chegar ao legislativo municipal.
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