quarta-feira, 30 de abril de 2014

SEDUC - Em defesa da democracia e do educador

RUY SILVA*

        Completado um ano em Maracanã, aproveito para fazer um balanço desse período. Lembro dos momentos decisivos que antecederam o meu retorno. Imaginei a realidade que encontraria na minha cidade natal. Aqui poderia olhar o rio, conversar com velhos amigos, exercer minha profissão com tranquilidade, conviver com os meus pais, desenvolver atividade rural, usufruir da vida pacata da cidade, do ar puro e ter dias mais sossegados longe do estresse do trânsito caótico da grande cidade, da violência desenfreada, da rotina alucinante, típica dos grandes centros urbanos. Mas, a realidade me surpreendeu. Surpresa, porque jamais passou pelo meu pensamento que sofreria hostilidade, ódio, assédio moral de modo tão acintoso. Resolvi tornar público esse drama porque o prolongamento do meu silêncio só reafirma a truculência e autoritarismo, práticas repugnantes e prejudiciais a dignidade humana. O mais surpreendente desse caso, foi sofrer esse tipo de ultraje dentro de uma escola, onde em tese, é um local de ensino e preparação de cidadãos. Mesmo que eu fosse o pior professor da escola, não cumprisse com as minhas obrigações profissionais, não justificaria ser tratado de modo desrespeitoso. Pois, os direitos humanos, ideologia tão em voga nos dias atuais, salvaguardam a preservação da dignidade mesmo a autores de atos abomináveis.
        Mas que crime cometi? Que ato abominável eu pratiquei? Por que sou combatido? Por que tentam sistematicamente me anular no meu local de trabalho? Algumas hipóteses surgiram diante dessa realidade. Antes de responder essas questões, julguei relembrar alguns atos que foram configurando esse enredo tenebroso de ataque a minha dignidade. Ontem, mais uma vez fui vítima do autoritarismo da diretora da Escola Presidente Kennedy. Solicitei o direito de voz durante a cerimônia de abertura do ano letivo. Ela simplesmente negou-me. Chegou ao extremo do absurdo de afirmar que não tinha legitimidade para representar os professores, não poderia falar em nome do Conselho Escolar, não tinha portanto, o direito de fazer parte daquele momento. Antes que pudesse adotar qualquer reação diante dessa sandice, ela convocou os que julgou de sua conveniência e ordenou o início dos trabalhos.
        Chegou ao desplante de afirmar que “eu quero aparecer”. Depois desse episódio lamentável, pensei: “Ora, sou professor da escola, professor articulador do PROEMI (Programa Ensino Médio Inovador), presidente do Conselho Escolar. Esse dia inaugural, com a programação cultural, foi de minha autoria, a iniciativa de convidar o padre e outras autoridades eclesiástica também, a articulação com a Secretaria de Cultura fiz exercendo a minha responsabilidade funcional, e não tenho legitimidade de expressar minha opinião? Além disso, o dia 28 de março marcava não somente o início do ano letivo, mas também a entrega da escola revitalizada para os alunos e a comunidade em geral. Todo trabalho feito durante duas semanas sem descanso foi executado pela diretoria do Conselho Escolar. Como presidente, coordenei o levantamento de prioridades, de detalhes, tomada de decisão, execução e acompanhamento diário de todos os serviços executados. No entanto, segundo a diretora, não tenho legitimidade para exercer o direito de presença e voz no momento de honra do início dos trabalhos da escola. Será justo essa atitude da diretora da escola? O professor merece esse tipo de tratamento?
        Esse foi um, dentre vários atos que sofri ao longo do ano completado como professor da Escola Presidente Kennedy. No dia 02 de dezembro de 2013, compareci a ouvidoria da Seduc, prédio sede em Belém, para tomar conhecimento de minha devolução feita pela direção da escola. Alegações estapafúrdias que não tinham qualquer sustentação na veracidade alegada, embasaram as justificativas para que deixasse de ser professor da Escola Presidente Kennedy. Entreguei relatório de 12 laudas para me respaldar e um conjunto de registros fotográficos da realidade da escola. Passado esse episódio, cheguei a pensar que o extremo já havia acontecido. Pois, durante esse período houve situações graves de ataque a honra da direção e demais profissionais da escola e o autor sequer foi advertido. No entanto, sem que tivesse cometido qualquer ato que desabonasse minha conduta profissional, fui alvo de documento pedindo minha devolução.
        Adoto como cronologia desse enredo persecutório, o fato ocorrido no dia 01 de abril de 2013. Esse dia foi o início de todo esse enredo infernal. Nesse dia tive uma experiência desagradável. Cheguei para trabalhar numa turma do 2° ano, e os alunos me disseram: “Professor não podemos abrir aquela janela, porque senão essa sala vai desabar”. Olhei e vi várias rachaduras na parede. Pedi calma a turma, providenciei outra sala e solicitei à diretora a interdição da sala de aula, alegando o risco para os alunos e professores.
        No mesmo dia, enquanto me dirigia a orla da cidade, encontrei o presidente da Câmara e o vereador Guto. Na conversa com eles, relatei a triste realidade do conjunto de prédios da Escola Kennedy. Eles prometeram que iriam se juntar a gestora do município e a comunidade escolar para sensibilizar as autoridades estaduais da necessidade urgente de reforma da escola. O desdobramento dessa iniciativa foi um quiproquó dos infernos. Fui advertido pela direção. Soube que não houve reunião por duas semanas consecutivas por conta da situação da escola ter sido incluída na pauta de debate da Câmara. A partir desse gesto, passei a ser hostilizado na escola. Pensei: “Meu Deus, o que fiz de errado em conversar com vereadores sobre um prédio público que se encontrava em precárias condições? Será que tenho que me fazer de cego? Não tenho direito de ver o óbvio?” Essa mesma sala de aula foi recuperada com recursos do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola), a partir do momento que solicitei a responsabilidade de executar e acompanhar os serviços de construção de alicerces e reparos da parede com rachaduras. Antes do fim do primeiro semestre de 2013, essa sala de aula voltou a funcionar. O simples comentário sobre a revitalização dessa sala de aula me custou advertência verbal da direção e do vice-diretor. Os mecanismos de perseguição foram assumindo uma dimensão inimaginável. A direção visitou as turmas para coletar alguma queixa que pudesse embasar represálias contra mim.
        Menciono também que, quando cheguei a escola, o banheiro dos professores e servidores masculinos estava sem as minhas condições de uso. Pedi autorização a direção, após entendimento com os demais professores que faríamos uma coleta entre nós para custear os serviços, assumi a tarefa de revitalizar o referido banheiro. Recusei aceitar que não tivéssemos um banheiro adequado com espelho e todos os outros objetos para atender as nossas necessidades básicas. Como a escola estava tomada por marimbondos (cabas), pedi autorização e fiz o combate desses insetos de todas as dependências do prédio, com a ajuda de vigias da escola, pois realizei esse trabalho durante o domingo. Antes chegara a mim o relato de vários alunos que tinham sido atacados por marimbondos. Inclusive a diretora fora vítima de cabas.
        Além de outras iniciativas que sugeri e adotei que pudessem contribuir para minorar a precariedade da escola, quando sequer era membro do Conselho Escolar, função que passei a exercer somente no final de 2013, após renovação dos conselheiros. O retorno que tive por parte da direção da escola foi de ser tratado indignamente. Ser ignorado como pessoa dentro do ambiente de trabalho. Ouvir indiretas. Ser alvo de ações que atacavam a dignidade profissional, como se não bastasse enfrentar toda a precariedade de condições que o professor da escola pública é obrigado a encarar. Faço questão de enumerar algumas dessas ações para que sirvam de elementos esclarecedores sobre como foi esse primeiro ano de trabalho completado na Escola Kennedy. Não quero aparecer, fiz por dever de consciência, por jamais aceitar o que acredito ter a capacidade de transformar em algo melhor. Acredito nos meus alunos, nos meus colegas, nas pessoas, podemos fazer mais. Se cada um fizer um pouco, somando pequenos gestos, teremos um ambiente de trabalho muito melhor. Retornei para Maracanã para contribuir através do meu trabalho. Desde que cheguei tenho feito a minha parte. Muitos amigos chegaram comigo para saber porque voltei. A minha resposta tem sido: “Nasci aqui, meus pais e parentes aqui residem e quero viver aqui”. Após enumerar alguns fatos, agora volto ás hipótese para entender as hostilidades dirigidas a mim.
        Será que sou mau, inescrupuloso, desonesto, criminoso, violento, vadio e prejudicial a Escola Kennedy? Será que em Maracanã é crime o direito à liberdade de expressão, de iniciativa? Será que não fazer parte da militância do político de plantão é um determinante para ser tratado como inimigo a ser destruído? Será que contribuir como profissional e cidadão em prol da escola pública é ato abominável? Será que não ter filiação partidária, não estar associado a um grupo político local é uma ofensa aos líderes políticos locais? Será que defender a democracia, o trabalho, o compromisso é querer aparecer em Maracanã como um indivíduo a ser combatido e massacrado?

* Ruy Silva é professor da Seduc, a Secretaria de Estado de Educação, lotado na Escola Presidente Kennedy, em Maracanã (PA).


3 comentários :

Anônimo disse...

No mínimo cabe uma representação contra essa Diretora perante a Administração Superior da SEDUC e ao Promotor de Justiça de Maracanã.

Anônimo disse...

é melhor fazer nada pelo visto!

Anônimo disse...

Rui Silva, em estágio probatório, conseguiu, sabe-se lá como, uma transferência ilegal para Maracanã, onde já começou a querer fazer sua campanha para mais uma tentativa de chegar ao legislativo municipal.