SOB CENSURA, POR DETERMINAÇÃO DOS JUIZES TÂNIA BATISTELO, JOSÉ CORIOLANO DA SILVEIRA, LUIZ GUSTAVO VIOLA CARDOSO, ANA PATRICIA NUNES ALVES FERNANDES, LUANA SANTALICES, ANA LÚCIA BENTES LYNCH, CARMEN CARVALHO, ANA SELMA DA SILVA TIMÓTEO E BETANIA DE FIGUEIREDO PESSOA BATISTA - E-mail: augustoebarata@gmail.com
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019
BOECHAT – Ele vai fazer muita falta!
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Ricardo Boechat: morte trágica, que deixa de luto o jornalismo brasileiro. |
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A capacidade de indignar-se: a denúncia sobre a censura no Pará. |
De que vale a competência sem princípios,
humanidade, generosidade e coragem moral? Nos fazer refletir sobre isso é
certamente um dos principais legados do jornalista Ricardo Boechat, 66, tragicamente morto nesta segunda-feira, 11, em uma notícia impactante, quando
ainda convalescíamos das tragédias de Brumadinho e do Ninho do Urubu, com suas contabilidades macabras. Manter a capacidade de indignar-se diante dos malfeitos
e conservar o vigor do repórter que jamais deixou de ser, fez dele uma
referência a quem tem no jornalismo seu ofício, com a virtude adicional de não deixar
ser manietado pela soberba que seu status profissional poderia ensejar. Boechat
teve passagem marcante, com um estilo próprio, na mídia impressa, na TV e no
rádio, reiventando-se sem prejuízo da qualidade. Ao lado de Zózimo Barroso do
Amaral, de quem era grande amigo, ele revolucionou o colunismo brasileiro, com
doses de perspicácia e ironia. Mas acima de tudo ele foi, como jornalista, um
combatente da liberdade, como bem descrevem seus colegas próximos.
Poucos se recordam, possivelmente, dos
laços que Boechat estabeleceu com o Pará, na esteira dos contatos que passei a
estabelecer com ele, durante um período da minha vida profissional, para
repercutir denúncias sobre as quais mantinha-se silente a grande imprensa do
estado. Sempre afável, nesses contatos – feitos algumas vezes por telefone, mas na maioria das
vezes por e-mail – emergia a generosidade exaltada pelos colegas que privaram
da sua intimidade. Não surpreendem, por isso, as lágrimas confessas de Miriam
Leitão, que tornou pública a solidariedade do colega, que interferiu para que
fosse contratada por “O Globo”, quando viu-se desempregada. Ou o depoimento
emocionado de Ancelmo Gois, a quem coube substitui-lo quando deixou “O Globo”,
sublinhando o estímulo, sincero e vigoroso, recebido de Boechat.
Quando passei a sofrer retaliações, ao transgredir o pacto de silêncio dos poderosos de plantão, na
esteira do surgimento do Blog do Barata, ele não deixou de ser solidário, inclusive
denunciando a censura imposta pelos inquilinos do poder, tiranetes de província despidos de escrúpulos, como é próprio dos covardes. Boechat contemplou-me
com a solidariedade sonegada pela maioria dos colegas de profissão daqui, reféns da covardia moral ou da pusilanimidade dos cúmplices, ressalvadas
as raras exceções, nas quais não se incluiu sequer o Sindicato dos Jornalistas,
do qual já fui diretor, podendo dizer, sem falsa modéstia, que a ele servi sem
dele servir-me.
Uma singularidade ainda ata Boechat ao
Pará. No ano do centenário do Clube do Remo, em 2005, por mim informados a
respeito, ele e Ancelmo Gois noticiaram os 100 anos de fundação do Leão Azul,
que amargava o rebaixamento para a série C, da qual acabou por tornar-se
campeão naquele ano. A conquista foi um mérito que deve ser creditado a Antônio Carlos Teixeira, o Tonhão, então o vice-presidente remista que, com elegante discrição, supriu, na medida da sua
disponibilidade, a inércia do presidente, Rafael Levy, e seu séquito de ineptos
e arrivistas.
Na época, impressionado com a comovente paixão da
torcida azulina, o "Fenômeno Azul", Boechat declarou-se, então, o mais novo torcedor do Clube do
Remo. Remista apaixonado, Tonhão tratou de remeter ao jornalista a camisa
especial dourada que assinalou o centenário do Leão Azul, merecendo, pelo gesto, um
elegante agradecimento do jornalista.
Neste momento de lágrima saudosa, resta o
agradecimento pelo muito que fez e nos legou Ricardo Boechat, como jornalista e
ser humano da melhor qualidade.
Obrigado, muito obrigado, é o mínimo a
dizer neste momento do dor e luto. De resto, é repetir a jornalista Leilane Neubarth, colega e amiga de Boechat: "Que a sua luz nos ilumine."
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