sexta-feira, 3 de junho de 2016

UFPA – “Nos propomos a discutir a universidade, sem fisiologismos e demagogias”, assinala, enfático, Weyl

Weyl: "O grupo que represento discorda dos rumos tomados pela UFPA".

“Penso que nosso grupo tem como premissa a necessidade de recuperar na universidade a capacidade de se autodiscutir. A UFPA perdeu essa prática, não se debate mais a universidade, o próprio processo eleitoral atual demonstra que boa parte da comunidade universitária desaprendeu a debater os rumos da maior instituição de ensino e de pesquisa da Amazônia. O grupo que represento discorda dos rumos tomados pela UFPA, não só da ausência de diálogo, mas da transparência da gestão. Nossa força está justamente porque nos propomos a discutir a fundo a universidade, sem fisiologismos e demagogias. Nossa fraqueza talvez resida no fato de que lutamos contra um certo imobilismo que faz com que as pessoas exerçam o voto de modo corporativo. E, em certas situações, o voto parece ‘feudal’ mesmo, quando a gente vê determinados institutos apoiarem certas candidaturas em função de favores, apadrinhamentos ou troca de cargos.”
É com esse desabafo que o professor João Weyl, 57, resume a essência de seus compromissos de gestão como candidato a reitor da UFPA, a Universidade Federal do Pará, de cuja sucessão participa na condição de franco atirador, sem as amarras dos vínculos político-partidários, embora seja um militante histórico do PT, apesar de não ter o apoio da legenda. Ex-vice-reitor pró-tempore da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, ele é engenheiro eletrônico, graduado pela UFPA, da qual é docente desde 1994, atuando atualmente como professor associado, na Faculdade de Engenharia da Computação do Instituto de Tecnologia, credenciado por um currículo que inclui mestrado e doutorado em engenharia elétrica-telecomunicações, pela PUC-RJ, em 1989, e pela Unicamp, em 1994. Ele foi também secretário-adjunto da Secdet, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, de janeiro de 2007 a dezembro de 2010, durante o governo Ana Júlia Carepa. Na administração da ex-governadora petista participou da criação e implantação da Secdet e do NAVEGAPARÁ, um programa de integração do estado com redes ópticas e acesso banda larga em redes sem fio e do sistema de parques de ciência e tecnologia.
Dos candidatos a reitor que se dispuseram a falar ao Blog do Barata, Weyl foi o único a expor objetivamente, sem eufemismos, as mazelas da UFPA, mas com serenidade, sem o ranço do ressentimento, com o mérito adicional de evidenciar um efetivo conhecimento de causa e uma sincera preocupação com os destinos da instituição e seus alunos. Por isso, certamente, a segurança com que antecipa suas prioridades mais imediatas, se eventualmente eleito. “Ações emergenciais para a graduação. Democratização dos usos dos recursos para investimentos em ampliação e implantação de novas infraestruturas, com foco em bibliotecas (climatização e acervo da biblioteca central), salas de aulas e laboratórios. Auditoria das contas e contratos de toda UFPA. Implantação de processos de gestão descentralizados, em especial nos campi do interior. Valorização e melhor aproveitamento do corpo técnico-administrativo. Implementação de editais para incentivo aos grupos emergentes de pesquisa, induzindo atuação dos mesmos em programas de pós graduação, inclusive no interior. Ampliar os restaurantes universitários”, elenca.
Sem negligenciar a pós-graduação, onde, segundo avalia, “não houve uma política buscando a excelência em nenhum desses desafios, ou se houve, os resultados pouco apareceram”, Weyl destaca que o maior problema da UFPA está na qualidade dos cursos de graduação. “Os números do Inep mostram que entre 2013 e 2014, levando em consideração o CPC (Conceito Preliminar de Curso – que leva em consideração a nota do Enade, corpo docente, projeto pedagógico, infraestrutura, dentre outros itens), em 82 cursos observados, mais de 80% dos cursos da UFPA possuem nota abaixo de 3, numa escala de 1 a 5. Sendo que quase 40% deles estão com notas entre 1 e 2. Ora, hoje há contingenciamento de recursos para investimentos nas universidades brasileiras. Alguns anos atrás isso não era realidade. Foram as escolhas e as prioridades dadas que determinaram esse cenário”, sublinha, em entrevista ao Blog do Barata.
Cacifado por um respeitável currículo e uma experiência de 22 anos de docência, Weyl defende um maior diálogo com a comunidade acadêmica e também uma maior sintonia da UFPA em relação às demandas da sociedade na qual está inserida. “Além do precário estado da graduação, a principal mazela da UFPA é falta de diálogo com a comunidade universitária – o que acaba por resultar em ausência de transparência das ações da gestão. A UFPA abriu mão dos processos de discussão. Precisamos restabelecer a participação dos fóruns de servidores técnico-administrativos, docentes e discentes na pauta de investimentos”, acentua. “Outra mazela é desarticulação da universidade em relação às demandas da sociedade. Uma universidade pública não pode passar ao largo dos projetos que impactam diretamente na cidade, estado e região. Onde estava a UFPA quando da discussão da implantação do BRT de Belém? E os 400 anos da capital do Pará? E Belo Monte? A ausência da contribuição da academia nos principais debates locais tem sido nefasta para a sociedade como todo – que, ao fim e ao cabo, é quem banca a existência da universidade”, acrescenta, ao falar ao Blog do Barata.

Como o senhor avalia qualitativamente a UFPA, hoje, e quais suas propostas para dinamizar a instituição e melhorar a qualidade do ensino, em um cenário de grave crise econômica, com seus naturais reflexos nos orçamentos das instituições de ensino superior públicas?

A UFPA se beneficiou enormemente nos últimos oito anos com os recursos do Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) e experimentou avanços em alguns segmentos. Na pós-graduação houve crescimento, com criação de cursos em áreas que ainda não eram atendidas na UFPA e mestrados profissionalizantes, estes últimos aproveitando a flexibilização oferecida pela CAPES. O desafio principal na pós graduação será a consolidação dos programas, em especial programas com o triplo3 (receberam 3 nas últimas três avaliações da CAPES), para que avancem e implantem doutorado e a interiorização de programas de pós graduação. Isso no nível que chamamos de básico, do dever de casa. Para além desse desafio na pós-graduação, a UFPA deve trabalhar para que seus cursos do pós-graduação tornem-se referências nacionais, atingindo os níveis 6 e 7. A UFPA possui apenas dois programas nesse patamar. No nosso entendimento, não houve uma política buscando a excelência em nenhum desses desafios, ou se houve, os resultados pouco apareceram. Não avançamos na excelência.
Consideramos, entretanto, que o maior problema da UFPA está na qualidade dos cursos de graduação. Os números do Inep mostram que entre 2013 e 2014, levando em consideração o CPC (Conceito Preliminar de Curso – que leva em consideração a nota do Enade, corpo docente, projeto pedagógico, infraestrutura, dentre outros itens), em 82 cursos observados, mais de 80% dos cursos da UFPA possuem nota abaixo de 3, numa escala de 1 a 5. Sendo que quase 40% deles estão com notas entre 1 e 2. Ora, hoje há contingenciamento de recursos para investimentos nas universidades brasileiras. Alguns anos atrás isso não era realidade. Foram as escolhas e as prioridades dadas que determinaram esse cenário.
Por isso mesmo, o primeiro compromisso de nossa candidatura é com o ensino de graduação público, gratuito e de qualidade. O ensino é a primeira missão de uma universidade. É preciso pensá-lo de maneira integral, enquanto formação cidadã, humana, cultural, científica e tecnológica dos estudantes e com atenção para as transformações em curso no mundo do trabalho.
Propomo-nos a incentivar, com o apoio da comunidade universitária, a implantação de instrumentos e projetos políticos pedagógicos inovadores para um ensino renovado de graduação na UFPA. Assim, dentro das estratégias de ensino e aprendizagem, ampliar a pesquisa e a extensão na graduação. Isto significa que devemos firmar um pacto universitário: o sucesso desta missão não depende apenas da ação de um reitor e de um pró-reitor que centraliza decisões e pensa sozinho o futuro de toda nossa comunidade de estudantes, técnicos e professores. Depende do empenho coletivo de todas as unidades e de todos os membros de nossa comunidade.
Pretendemos estabelecer ações emergenciais: primeira ação – avaliação da graduação, estabelecer um profundo diagnóstico das principais dificuldades para a melhoria continua dos cursos de graduação; segunda ação – estruturação de equipe voltada exclusivamente para solução das dificuldades e problemas encontrados a partir do diagnóstico; e terceira ação – acompanhamento e melhoria contínua das boas práticas desenvolvidas na ação anterior.

Como qualquer universidade federal, obviamente a UFPA tem suas mazelas, que contra ela conspiram. Quais as principais dessas mazelas e como, a curto ou médio prazo, aplacá-las, de modo a garantir aquele mínimo de excelência que se espera de uma academia?

Além do precário estado da graduação, a principal mazela da UFPA é falta de diálogo com a comunidade universitária – o que acaba por resultar em ausência de transparência das ações da gestão. A UFPA abriu mão dos processos de discussão. Precisamos restabelecer a participação dos fóruns de servidores técnico-administrativos, docentes e discentes na pauta de investimentos. Outra mazela é desarticulação da universidade em relação às demandas da sociedade. Uma universidade pública não pode passar ao largo dos projetos que impactam diretamente na cidade, estado e região. Onde estava a UFPA quando da discussão da implantação do BRT de Belém? E os 400 anos da capital do Pará? E Belo Monte? A ausência da contribuição da academia nos principais debates locais tem sido nefasta para a sociedade como todo – que ao fim e ao cabo é quem banca a existência da universidade.

“Além da graduação, a principal mazela
da UFPA é falta de diálogo. Outra é a
desarticulação em relação às
demandas da sociedade. Onde estava a
a UFPA a quando do BRT? E Belo Monte?”

Na esteira do Reuni, os campi da UFPA transformaram-se em canteiros de obras, multiplicando suas unidades físicas, mas sem a contrapartida de concursos públicos capazes de atender a previsível demanda por mais pessoal de apoio técnico e professores. Se eleito reitor, como o senhor pretende administrar esse descompasso?

Nas visitas que temos realizado às unidades da UFPA temos identificado como esses investimentos foram feitos de forma enviesada, sem planejamento e com pouca participação da comunidade diretamente afetada, trazendo como resultado a improvisação no funcionamento de certos setores. É o caso, por exemplo, do novo prédio de salas de aulas, ao lado da biblioteca central, que não previu espaço para o funcionamento dos diretórios acadêmicos. Além disso, do ponto de vista urbanístico e ambiental, a gestão da UFPA tem sido pífia. O curso de arquitetura e urbanismo produziu um extenso trabalho para o campus do Guamá, um plano diretor, que está guardado dentro de uma gaveta qualquer na prefeitura do campus. O resultado são prédios caros, muitas construções inacabadas - com risco de se perderem – e ainda escassez de espaços para o básico - salas de aulas -, como é caso dos cursos de farmácia, fisioterapia e nutrição.

Se eleito, quais as medidas que o senhor contempla para contornar o descompasso hoje existente, em matéria de nível, entre a graduação, que pela avaliação do ENAD está abaixo da média nacional, e a pós-graduação, que pela avaliação da Capes atinge níveis de excelência? O porquê disso, na sua opinião, é o que fazer, de imediato, para superar essa discrepância?

O problema no ENADE é facilmente resolvido se a prioridade passar a ter o foco na graduação. Aliás, o que fez com que os cursos não tivessem um pior desempenho na avalição do MEC, já citada na resposta à primeira pergunta, foi o bom desempenho dos nossos alunos. Nossa equipe se deteve em estudar a performance dos alunos e identificou que cerca de 60% obtêm nota acima de 3. Temos estudantes que tiraram notas 4 e 5. Isso mostra que o baixo CPC não é culpa dos discentes, mas sim da universidade, que não consegue qualidade nos outros indicadores que compõem a nota. De imediato vamos fazer, se eleitos, o que já citamos acima: ações emergências na graduação. A nossa proposta é ter uma Pró-Reitoria de Graduação que saia do gabinete e esteja em campo junto às faculdades, aos professores, aos técnicos e aos alunos. Nesse contexto, vemos um desafio maior ainda, aumentar a presença da gestão nos campi fora de sede, o que constatamos que não ocorre com a frequência necessária.
Infelizmente, não é verdade também que tenhamos atingido a excelência na pós-graduação, como média. Avançamos muito nesse item, mas a excelência é um desafio. A CAPES não autoriza funcionamento de cursos sem que atendam aos indicadores mínimos. A excelência no ensino é a nossa meta.

Qual a sua postura em relação ao Prouni, diante das críticas, de vastos setores acadêmicos, de que o programa acaba por privar a universidade pública de maiores recursos, para beneficiar, com isenções fiscais, os barões da educação?

O Prouni tem cumprido um papel importante abrindo possibilidades de ingressos no ensino superior, mas é uma política temporária. O Prouni foi criado como uma forma de legislar os tributos, que infelizmente não eram pagos pelas instituições privadas. Esses tributos eram escamoteados através de justificativas filantrópicas ou sem fins lucrativos. Apesar das críticas, já beneficiou quase dois milhões de estudantes, já que engloba também o FIES. É preciso, entretanto, que haja de fato mais investimentos para garantir expansão de vagas nas IFES públicas, tal como garantido pelo último Reuni, para expansão de vagas nas IFES e pelo programa de criação de novas IFES. Há, evidentemente, uma competição por esses recursos públicos para o ensino superior. Em contrapartida, além da oferta de maior número de vagas, as IFES deverão oferecer cursos direcionados para as vocações regionais e política de ingresso no mundo do trabalho para os egressos. Não é possível atender metas com uma expansão sem garantia de qualidade, e isso tem sido apontado pela Andifes.

“O maior problema da UFPA está na
qualidade da graduação. Entre 2013
e 2014, em 82 cursos, mais de 80% têm
nota abaixo de 3, numa escala de 1 a 5.
Quase 40% deles estão entre 1 e 2.”

Elencando em ordem decrescente, quais serão as prioridades mais imediatas de sua administração, se eleito reitor da UFPA?

Ações emergenciais para a graduação. Democratização dos usos dos recursos para investimentos em ampliação e implantação de novas infraestruturas, com foco em bibliotecas (climatização e acervo da biblioteca central), salas de aulas e laboratórios. Auditoria das contas e contratos de toda UFPA. Implantação de processos de gestão descentralizados, em especial nos campi do interior. Valorização e melhor aproveitamento do corpo técnico-administrativo. Implementação de editais para incentivo aos grupos emergentes de pesquisa, induzindo atuação dos mesmos em programas de pós graduação, inclusive no interior. Ampliar os restaurantes universitários.

Como o senhor se posiciona diante do governo Michel Temer, e mais particularmente sobre os limites de gastos proposto pelo novo presidente, com óbvios reflexos na educação?

Não reconhecemos o governo provisório de Michel Temer. Estamos muito preocupados com o respeito à autonomia da universidade prevista na Constituição Federal e os rumos que um governo ilegítimo pode impor à UFPA. Não coadunamos com esse processo de impeachment e acreditamos que um governo ruim se muda nas urnas.

O senhor é um militante histórico do PT, mas sua candidatura não tem o calor do partido, assim como seu discurso, embora ideologicamente transparente, não traz a tintura de coloração partidária. Isso faz do senhor um franco atirador e no que essa singularidade, de se sobrepor a legendas partidárias, traduz a força ou a fraqueza da sua candidatura?

Sim, militei e fui um dos fundadores do PT no Pará. A partir do meu afastamento para pós graduação fora do estado, eu não atuei como militante, mas sempre votei nos candidatos majoritários do partido. Preparei-me para atuação acadêmica e defendendo o ensino público, gratuito e de qualidade. Aproximei-me de frentes amplas pela defesa da democracia e de bandeiras de conquistas sociais abraçadas não só pelo PT. Fui um dos fundadores da Associação Nacional dos Pós-Graduandos. Após retornar a Belém, em 1994, permaneci dessa forma. Conheci de perto as mazelas do governo FHC na desconstrução das universidade públicas e combati contra, mas não na trincheira partidária. Tenho grandes amigos que estão e outros que sairam do PT e que permanecem fiéis aos seus ideais. Creio que o meu preparo acadêmico, me ajudou a dar a minha maior contribuição ao PT, durante o governo Ana Julia, quando criamos muitos programas até hoje em funcionamento na área de CT&I. Continuo minha militância em defesa do estado democrático de direito. Hoje parte do PT do Pará apoia a candidatura de outra chapa, a indicada pelo ex-reitor professor Carlos Maneschy. Penso que nosso grupo tem como premissa a necessidade recuperar na universidade a capacidade de se autodiscutir. A UFPA perdeu essa prática, não se debate mais a universidade, o próprio processo eleitoral atual demonstra que boa parte da comunidade universitária desaprendeu a debater os rumos da maior instituição de ensino e de pesquisa da Amazônia. O grupo que represento discorda dos rumos tomados pela UFPA, não só da ausência de diálogo, mas da transparência da gestão. Nossa força está justamente porque nos propomos a discutir a fundo a universidade sem fisiologismos e demagogias. Nossa fraqueza talvez resida no fato de que lutamos contra um certo imobilismo que faz com que as pessoas exerçam o voto de modo corporativo. E, em certas situações, o voto parece “feudal” mesmo, quando a gente vê determinados institutos apoiarem certas candidaturas em função de favores, apadrinhamentos ou troca de cargos.

“A gente representa um grupo que
discute a universidade. São docentes,
técnicos e discentes. Por isso nos sentimos
motivados, mesmo sem apoio de grupos
políticos, empresariais ou da gestão.”

Sem dispor do calor da máquina administrativa, nem ter o apoio de partidos ou facções partidárias, nem de sindicatos, o que o estimula a sair candidato a reitor?

A gente representa um grupo que discute a universidade há algum tempo. São docentes, técnicos e discentes que pensam a UFPA para além do imobilismo. A gente acredita que precisa, sim, pautar essa questão de modo assertivo e por isso nos sentimos motivados a entrar na disputa, mesmo sem contar com apoios de grupos políticos, empresariais ou da gestão.

Fala-se, nos bastidores, de uma atmosfera de velada caça às bruxas para intimidar quem se oponha ao candidato ungido pelo ex-reitor Carlos Maneschy. Essa versão procede ou trata-se de lengalenga próprio de campanha eleitoral?

Ouve-se muitas coisas nesse momento. Mas temos ouvido algumas pessoas que dizem nos apoiar, mas preferem não se expor com medo de alguma represália. Ora, se há uma percepção de alguma forma de retaliação por parte dessas pessoas, algum indicador foi dado, ou não? Um dado a preocupar quando se pensa em uma universidade autônoma, participativa e democrática.

A UFPA acaba por refletir a sociedade na qual está inserida, o que talvez explique ter sido contaminada pelos vícios da política partidária, nela presentes no rastro da redemocratização do país e visíveis nas disputas registradas a cada troca de guarda. O quer pode ser capaz de promover, no âmbito da universidade, uma faxina ética capaz de sobrepor a excelência a conveniências eleitoreiras, varrer a impunidade determinada pelo corporativismo e privilegiar o contraditório?


Nossa candidatura luta contra essa prática nefasta que contaminou a política partidária e também a gestão. A gente quer implementar um modo de gerir transparente, descentralizado e participativo e sujeito à discussão permanente. Quando se cria mecanismos de inclusão de todos e publicização das ações, fica mais fácil coibir privilégios e avançar em processos de gestão mais inovadores e que atendam de forma mais democrática as demandas da comunidade universitária e a relação da universidade com a comunidade e o setor produtivo. A ética na gestão pública não deve ser uma prática isolada, tem que ser o dia-a-dia. Nesse sentido, nosso grupo é composto de pessoas com trajetórias de vida afinadas com esse princípio.

UFPA – As pautas ignoradas por Pedreira e Vera Jacob



Abaixo, as pautas ignoradas por Erick Pedreira e Vera Jacob, os dois candidatos a reitor que optaram por não conceder entrevista ao Blog do Barata. A candidatura de Erick Pedreira é associada a setores do PSDB, e mais particularmente ao prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, cuja equipe ele já integrou, como presidente do Ipamb, o Instituto de Previdência e Assistência do Município de Belém. A candidatura de Vera Jacob identifica-se com o PSol, e mais especificamente com a APS, Ação Popular Socialista, uma das tendências abrigadas na legenda e no epicentro das denúncias de corrupção no Sintepp, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará. Ela também tem o apoio de setores da Adufpa, a Associação dos Docentes da UFPA, do Sindifes, o Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino Superior no Estado do Pará, e do Sintepp, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará. As indagações grafadas em vermelho são aquelas feitas especificamente aos dois candidatos.

A PAUTA DE ERICK PEDREIRA

·         Como o senhor avalia qualitativamente a UFPA, hoje, e quais suas propostas para dinamizar a instituição e melhorar a qualidade do ensino, em um cenário de grave crise econômica, com seus naturais reflexos nos orçamentos das instituições de ensino superior públicas?

·         Como qualquer universidade federal, obviamente a UFPA tem suas mazelas, que contra ela conspiram. Quais as principais dessas mazelas e como, a curto ou médio prazo, aplacá-las, de modo a garantir aquele mínimo de excelência que se espera de uma academia?

·         Na esteira do Reuni, os campus da UFPA transformaram-se em canteiros de obras, multiplicando suas unidades físicas, mas sem a contrapartida de concursos públicos capazes de atender a previsível demanda por mais pessoal de apoio técnico e professores. Se eleito reitor, como o senhor pretende administrar esse descompasso?

·         Se eleito, quais as medidas que o senhor contempla para contornar o descompasso hoje existente, em matéria de nível, entre a graduação, que pela avaliação do ENAD está abaixo da média nacional, e a pós-graduação, que pela avaliação da Capes atinge níveis de excelência? O porquê disso, na sua opinião, é o que fazer, de imediato, para superar essa discrepância?

·         Qual a sua postura em relação ao Prouni, diante das críticas, de vastos setores acadêmicos, de que o programa acaba por privar a universidade pública de maiores recursos, para beneficiar, com isenções fiscais, os barões da educação?

·         Elencando em ordem decrescente, quais serão as prioridades mais imediatas de sua administração, se eleito reitor da UFPA?

·         Como o senhor se posiciona diante do governo Michel Temer, e mais particularmente sobre os limites de gastos proposto pelo novo presidente, com óbvios reflexos na educação?

·         Sua candidatura é associada ao PSDB e, mais particularmente, ao atual prefeito de Belém, o tucano Zenaldo Coutinho, de cuja equipe o senhor já teria feito parte. Fala-se inclusive na injeção de recursos de setores do PSDB na sua candidatura. Essa versão procede?

·         O que o estimula a sair candidato a reitor e como o senhor avalia suas chances, nessa disputa tão acirrada?

·         Fala-se, nos bastidores, de uma atmosfera de velada caça às bruxas para intimidar quem se oponha ao candidato ungido pelo ex-reitor Carlos Maneschy. Essa versão procede ou trata-se de lengalenga próprio de campanha eleitoral?

·         A UFPA acaba por refletir a sociedade na qual está inserida, o que talvez explique ter sido contaminada pelos vícios da política partidária, nela presentes no rastro da redemocratização do país e visíveis nas disputas registradas a cada troca de guarda. O que pode ser capaz de promover, no âmbito da universidade, uma faxina ética capaz de sobrepor a excelência a conveniências eleitoreiras, varrer a impunidade determinada pelo corporativismo e privilegiar o contraditório?

A PAUTA DE VERA JACOB

·         Como a senhora avalia qualitativamente a UFPA, hoje, e quais suas propostas para dinamizar a instituição e melhorar a qualidade do ensino, em um cenário de grave crise econômica, com seus naturais reflexos nos orçamentos das instituições de ensino superior públicas?

·         Como qualquer universidade federal, obviamente a UFPA tem suas mazelas, que contra ela conspiram. Quais as principais dessas mazelas e como, a curto ou médio prazo, aplacá-las, de modo a garantir aquele mínimo de excelência que se espera de uma academia?

·         Na esteira do Reuni, os campus da UFPA transformaram-se em canteiros de obras, multiplicando suas unidades físicas, mas sem a contrapartida de concursos públicos capazes de atender a previsível demanda por mais pessoal de apoio técnico e professores. Se eleita reitora, como a senhora pretende administrar esse descompasso?

·         Se eleita, quais as medidas que a senhora contempla para contornar o descompasso hoje existente, em matéria de nível, entre a graduação, que pela avaliação do ENAD está abaixo da média nacional, e a pós-graduação, que pela avaliação da Capes atinge níveis de excelência? O porquê disso, na sua opinião, é o que fazer, de imediato, para superar essa discrepância?

·         Qual a sua postura em relação ao Prouni, diante das críticas, de vastos setores acadêmicos, de que o programa acaba por privar a universidade pública de maiores recursos, para beneficiar, com isenções fiscais, os barões da educação?

·         Elencando em ordem decrescente, quais serão as prioridades mais imediatas de sua administração, se eleita reitora da UFPA?

·         Como a senhora se posiciona diante do governo Michel Temer, e mais particularmente sobre os limites de gastos proposto pelo novo presidente, com óbvios reflexos na educação?

·         Sua candidatura é associada a setores do PSol e, mais particularmente, à APS, Ação Popular Socialista, cujos alguns dos expoentes estão alojados na direção do Sintepp, cuja credibilidade foi tisnada pelas denúncias de corrupção protocoladas no Ministério Público Estadual. Fala-se inclusive na injeção de recursos não só do Sintepp, mas também da Adufpa, na sua candidatura. Essa versão procede?

·         Pela sua condição de coordenadora do Programa de Pós-Graduação do ICED, o Instituto de Ciências da Educação, seu nome é associado às recorrentes denúncias de que estaria sendo tratada como letra morta a exigência de dedicação em tempo integral para o curso de mestrado, no caso de Mateus Rocha da Costa Ferreira, coordenador do Sintepp e um dos seus mais aguerridos cabos eleitorais. O que a senhora tem a dizer sobre esse imbróglio?

·         Não lhe constrange ter na sua campanha um dirigente sindical sob o qual pesa a suspeita de corrupção e cuja biografia inclui um episódio policial, que originou uma ação criminal, por ter agredido com uma cadeirada, por motivo fútil, um colega?

·         O que a estimula a sair candidata a reitora e como a senhora avalia suas chances, nessa disputa tão acirrada?

·         A sua candidatura ser associada ao PSol não conspira contra o seu nome, ao sugerir uma partidarização que historicamente tem soado deletéria para a UFPA?

·         Fala-se, nos bastidores, de uma atmosfera de velada caça às bruxas para intimidar quem se oponha ao candidato ungido pelo ex-reitor Carlos Maneschy. Essa versão procede ou trata-se de lengalenga próprio de campanha eleitoral?


·         A UFPA acaba por refletir a sociedade na qual está inserida, o que talvez explique ter sido contaminada pelos vícios da política partidária, nela presentes no rastro da redemocratização do país e visíveis nas disputas registradas a cada troca de guarda. O que pode ser capaz de promover, no âmbito da universidade, uma faxina ética capaz de sobrepor a excelência a conveniências eleitoreiras, varrer a impunidade determinada pelo corporativismo e privilegiar o contraditório?

quinta-feira, 2 de junho de 2016

ELEIÇÕES – Ciladas eleitorais


UFPA – Efeito Ortiz

Exatas 32 horas depois da sua publicação no Blog do Barata, a entrevista do professor Edson Ortiz, um dos candidatos a reitor da UFPA, a Universidade Federal do Pará, dispara como a postagem mais lida da semana, com 1202 acessos, registrados até 8 horas desta quinta-feira, 2.

ELEIÇÕES – A hora do lobo


MURAL – Queixas & Denúncias


UFPA – “Temos o apoio indiscutível da maioria das lideranças da UFPA”, assegura, confiante, Tourinho

Tourinho: "Represento o projeto de uma universidade suprapartidária".

“Minha campanha e do meu parceiro, candidato a vice-reitor, professor Gilmar Pereira da Silva, é integralmente financiada com recursos próprios e doações voluntárias de professores e técnicos da UFPA. Não há uso da máquina administrativa da universidade em favor de nenhum candidato, como atesta o vazio das insinuações, que nunca passam disso. A participação de membros da comunidade na nossa campanha só é mais volumosa do que nas dos outros candidatos porque temos maior adesão. Temos apoio indiscutível da maioria das lideranças políticas, acadêmicas, científicas, estudantis e intelectuais da UFPA e isso decorre simplesmente do reconhecimento do trabalho que realizamos e da confiança de que continuaremos a trabalhar com o melhor espírito público, interessados no fortalecimento da UFPA como instituição acadêmica e científica e comprometidos com a sua integração ao processo de desenvolvimento econômico e social do Pará.”
A declaração, que traduz uma confiança situada na tênue fronteira que separa a convicção da soberba, é do professor Emmanuel Zagury Tourinho, 53, ex-pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e candidato a reitor da UFPA, com o ostensivo apoio do ex-reitor Carlos Maneschy, de passado turbulento e que renunciou ao cargo, para sair candidato a prefeito de Belém pelo PMDB, sob o patrocínio do senador Jader Barbalho, o morubixaba do partido no Pará, cujo nome é associado a recorrentes denúncias de corrupção, com ênfase para os escândalos do Banpará e Sudam, além da súbita evolução patrimonial. Ostentando os títulos de mestre em psicologia social pela PUC de São Paulo e doutor em psicologia experimental pela USP, obtidos em 1988 e 1994, respectivamente, ele é professor titular da UFPA, onde atua no curso de pós-graduação em teoria e pesquisa do comportamento, coordenando ainda o grupo de pesquisa em análise do comportamento: pesquisa conceitual, básica e aplicada. A despeito dos seus títulos e méritos acadêmicos, o escancarado apoio de Maneschy à sua candidatura rendeu a Tourinho não apenas a condição de favorito na sucessão da UFPA, mas também a acusação recorrente, disseminada intramuros, de ser beneficiado pela máquina administrativa, que permaneceria sob o controle do ex-reitor, via Horácio Schneider, o vice que tornou-se reitor. Trata-se de uma denúncia que o candidato rebate com veemência, em tom de indignação, no que seus adversários interpretam como mise-en-scène no limite da desfaçatez. Ele reage com a mesma indignação diante das suspeitas de que possa favorecer o atrelamento da UFPA ao projeto político-partidário do ex-reitor Carlos Maneschy. “Quanto aos compromissos políticos, represento o projeto de uma universidade suprapartidária, como tem sido a UFPA até hoje. Pretendo dialogar com todos os que se dispuserem a ser parceiros da instituição, contribuindo para a realização de sua função social. Dialogarei, portanto, com os senadores Jáder Barbalho (a quem, a propósito, ainda não tive a oportunidade de ser apresentado), Paulo Rocha e Flexa Ribeiro. Dialogarei com todos os deputados estaduais e federais, com o governador do Estado, com prefeitos de todos os municípios onde a UFPA mantém atividades ou poderá vir a atuar. Colocarei sempre o interesse institucional em primeiro lugar, como compete a um reitor que esteja no cargo pelo compromisso com a universidade”, assinala, na entrevista concedida ao Blog do Barata, na qual elenca suas prioridades em termos de compromissos de gestão. “Em primeiro lugar, qualificar o ensino de graduação, promover na graduação o mesmo salto de qualidade que conseguimos realizar na pós-graduação ao longo dos últimos sete anos. Em segundo lugar, modernizar o sistema de gestão, descentralizando processos, otimizando o uso dos recursos disponíveis e investindo fortemente na qualificação de pessoal. Em terceiro lugar, promover maior interação da universidade com os governos, movimentos sociais e organizações não governamentais, visando colocar a competência acadêmica, científica e tecnológica da UFPA à serviço da resolução dos grandes problemas da nossa sociedade”, antecipa, ao elencar suas prioridades mais imediatas, se eleito reitor.
De resto, Tourinho reitera sua fidelidade ao seu patrono político, o ex-reitor Carlos Maneschy, avalista de sua candidatura. “Tenho orgulho de ter integrado a equipe de trabalho do professor Carlos Maneschy, que inegavelmente fez uma excelente gestão. Gozo também da sua amizade e de sua confiança para sucedê-lo na função de reitor da UFPA, o que muito me honra”, proclama, na entrevista ao Blog do Barata.

Como o senhor avalia qualitativamente a UFPA, hoje, e quais suas propostas para dinamizar a instituição e melhorar a qualidade do ensino, em um cenário de grave crise econômica, com seus naturais reflexos nos orçamentos das instituições de ensino superior públicas?

Somos uma universidade bem estruturada, com excelentes indicadores acadêmicos e científicos. Entretanto, como todas as universidades brasileiras, em contraste com as universidades centenárias dos países desenvolvidos, somos uma universidade jovem, ainda em construção. Temos uma pós-graduação que já se destaca como uma das melhores e mais abrangentes do país, fruto de um trabalho continuado de investimento em sua qualificação. Na graduação, avançamos muito, mas temos os mesmos problemas de outras universidades brasileiras, que vêm de um modelo de formação muito centrado no ensino tradicional de sala de aula. Pretendemos estimular e apoiar uma mudança pedagógica, acompanhando iniciativas que começam a ser adotadas por outras boas universidades brasileiras. Pretendemos investir em metodologias de ensino ativas, acompanhadas da construção, atualização e modernização de laboratórios de ensino, laboratórios de atividades práticas e bibliotecas. Vamos estimular a adoção de percursos curriculares que, além de uma sólida formação teórica, atribuam maior espaço e valor ao envolvimento dos discentes com projetos de pesquisa e de extensão, atividades de laboratório, atividades práticas e treinamento em espaços de atuação profissional. Os currículos também precisam estimular a interdisciplinaridade e devem ser mais flexíveis, permitindo que os discentes elejam o percurso acadêmico e as interlocuções que mais se aproximam de seus interesses intelectuais e de sua vocação profissional. Mudanças desse tipo requerem, mais do que recursos, uma visão avançada do papel da universidade na sociedade contemporânea. Precisamos oferecer um ambiente de formação estimulante e desafiador, que coloque o aluno em contato com os grandes problemas da sociedade e que o ensine a pensar com as ferramentas intelectuais mais avançadas e a formular soluções criativas.

Como qualquer universidade federal, obviamente a UFPA tem suas mazelas, que contra ela conspiram. Quais as principais dessas mazelas e como, a curto ou médio prazo, aplacá-las, de modo a garantir aquele mínimo de excelência que se espera de uma academia?

A UFPA não tem mazelas, tem dificuldades e limitações de uma instituição jovem, ainda em construção, que se desenvolve em um ambiente social extremamente desafiador, com acentuada pobreza e a desigualdade. Realizamos um trabalho de dimensões extraordinárias, com recursos que são limitados, consideradas todas as nossas ações. Temos doze campi espalhados por um território continental. Esses campi são responsáveis pela oferta de cursos de graduação e pós-graduação em outras dezenas de municípios. Apenas com o nosso programa de formação de professores da educação básica (Parfor), oferecemos graduação em sessenta municípios do Pará. Já formamos três mil e quinhentos professores municipais e estaduais e temos, hoje, outros dez mil alunos nesses cursos. Levamos a pós-graduação a Bragança, Castanhal, Altamira, Ananindeua, Cametá e Tucuruí. Em cada município, a pesquisa desenvolvida focaliza problemas fundamentais relacionados ao desenvolvimento local, subsidiando a construção de soluções para a geração de riqueza e renda. Mantemos dois hospitais universitários que oferecem serviços de alta complexidade, alguns deles em áreas não atendidas por nenhum outro hospital no estado. Atendemos (além do Parfor) cerca de quarenta mil alunos em graduações que abrangem todas as grandes áreas de conhecimento, além de outros seis mil alunos em cento e dez cursos de mestrado e doutorado. Formamos pesquisadores e docentes para todas as instituições da Amazônia, desenvolvendo pesquisa científica e tecnológica de ponta e voltada para a realidade regional. Nesse cenário, o que mais se destaca não são as nossas limitações, mas tudo o que conseguimos oferecer à sociedade, mesmo não contando com as condições ideais. Nossas principais limitações ainda são o número insuficiente de técnicos e docentes (comparativamente menor, inclusive, do que algumas das outras universidades federais), a infraestrutura física e de serviços dos campi (em alguns, sequer temos internet estável e de qualidade, a despeito do esforço institucional para oferecê-la) e a falta de autonomia para a execução financeira dos recursos recebidos. Também precisamos modernizar a gestão para descentralizar processos hoje acumulados na administração superior e investir continuadamente na qualificação dos nossos servidores, preparando-os para uma dinâmica mais eficiente de atendimento à comunidade interna e externa.

“Somos uma universidade bem estruturada,
com excelentes indicadores acadêmicos e
científicos. Entretanto, em contraste com as
universidades centenárias, somos uma
universidade jovem, ainda em construção.”

Na esteira do Reuni, os campus da UFPA transformaram-se em canteiros de obras, multiplicando suas unidades físicas, mas sem a contrapartida de concursos públicos capazes de atender a previsível demanda por mais pessoal de apoio técnico e professores. Se eleito reitor, como o senhor pretende administrar esse descompasso?

O Reuni foi um programa fundamental para a expansão da educação superior pública no país. Com ele, a oferta de vagas nas universidades federais quase dobrou, gerando oportunidades novas para meio milhão de jovens que, de outro modo, estariam excluídos da educação superior. As políticas de inclusão adotadas ao longo de sua implantação representaram uma contribuição fundamental para o combate à exclusão e à desigualdade. Na UFPA, o Reuni possibilitou principalmente a expansão da oferta de vagas nos campi do interior, exatamente em regiões onde há menor número de oportunidades para os jovens. Ou seja, os ganhos com o Reuni não foram triviais e merecem o reconhecimento de todos. Por outro lado, é verdade que há problemas a serem resolvidos e esses não se limitam à questão de pessoal. Além das obras, a UFPA recebeu, com o Reuni, mais quinhentos e treze docentes e mais cento e dezesseis técnicos. Essas vagas, porém, são insuficientes, considerando as atribuições docentes com ensino, pesquisa e extensão, com a criação de cursos de pós-graduação e com atividades de gestão acadêmica. O número de vagas para técnicos, por seu turno, está em descompasso com a expansão do corpo docente e das atividades acadêmicas. Além de mais vagas para docentes e técnicos, precisamos de mais recursos para investimento. Pretendemos lutar por isso em várias frentes. Na negociação direta com o MEC, procuraremos demonstrar os resultados alcançados pela UFPA, que justificam o novo apoio. Na Andifes, trabalharemos por uma atuação conjunta dos reitores das universidades federais, em favor de um programa de atualização do Reuni, voltado à consolidação dos resultados iniciais do programa. Em outra frente, pretendemos dialogar com os demais reitores das universidades federais da Amazônia, com vistas à construção de uma agenda específica para a região, para a qual pode-se obter a adesão de lideranças acadêmicas e políticas importantes nos cenários regional e nacional.

Se eleito, quais as medidas que o senhor contempla para contornar o descompasso hoje existente, em matéria de nível, entre a graduação, que pela avaliação do ENAD está abaixo da média nacional, e a pós-graduação, que pela avaliação da Capes atinge níveis de excelência? O porquê disso, na sua opinião, é o que fazer, de imediato, para superar essa discrepância?

O primeiro aspecto a notar é o reconhecimento do extraordinário sucesso da pós-graduação da UFPA, conseguido com políticas consistentes e com a dedicação de todos os gestores, técnicos e docentes envolvidos. Esse resultado é ainda mais expressivo considerando-se a condição de assimetria nos investimentos públicos em pesquisa e pós-graduação, que têm continuadamente penalizado a Amazônia. É preciso ficar claro que esse sucesso da pós-graduação da UFPA não é um problema, como sugerem alguns críticos, mas, ao contrário, constitui uma grande realização da instituição. Secundarizar esse avanço com o argumento de que há uma preocupação com a graduação contraria qualquer noção moderna do que é uma universidade. Quanto à graduação da UFPA, inicialmente, é importante dizer que não está abaixo da média nacional. Ao contrário, por todos os indicadores, estamos muito acima da média e tivemos progressos nos últimos anos, a exemplo do avanço do nosso Índice Geral de Cursos (IGC) para a nota 4. Como apontado acima, porém, há problemas a serem solucionados na graduação, em grande parte relacionados ao nosso modelo de formação. Entre outras dificuldades, temos tratado a extensão e a pesquisa como algo diferente do ensino, quando, em uma universidade, são prioritariamente atividades de formação dos discentes. Em alguns cursos, ainda persiste a ideia de que a formação se dá principalmente em salas de aula, com atividades tradicionais em que o aluno é pouco ativo. Por outro lado, os cursos que inovam não têm contado com políticas institucionais que dêem o suporte para novas práticas pedagógicas. Nossos alunos que participaram do programa Ciências sem Fronteiras relatam que a principal diferença que encontraram nas universidades frequentadas (algumas das melhores do mundo) é que lá há pouca aula tradicional e os alunos passam a maior parte do tempo em laboratórios e/ou atuando em projetos. Isso pode ser feito aqui, com as devidas adaptações à nossa realidade. Entre outras coisas, precisamos incorporar a extensão e a pesquisa à rotina da formação na graduação. Não há universidades com excelente ensino de graduação sem uma pós-graduação forte, mas sempre que a pesquisa é negligenciada tem-se esse afastamento entre graduação e pós-graduação. As mudanças necessárias incluem, ainda, o investimento no sistema de bibliotecas, o ensino de línguas estrangeiras e o incremento dos programas de mobilidade.

Qual a sua postura em relação ao Prouni, diante das críticas, de vastos setores acadêmicos, de que o programa acaba por privar a universidade pública de maiores recursos, para beneficiar, com isenções fiscais, os barões da educação?

Como todos, eu entendo que os recursos envolvidos no Prouni, decorrentes da renúncia fiscal do Estado em relação a alguns tributos, deveriam ser arrecadados e direcionados para o sistema público de educação superior. Mas acabar com o Prouni, que tem possibilitado o acesso à graduação para milhares de alunos carentes, por si só, não garante nem o recolhimento dos tributos, nem a sua aplicação na educação pública. Do mesmo modo que o governo anistiou dívidas em troca de bolsas de estudo para alunos carentes, outras medidas legais poderiam levar a uma anistia fiscal sem igual contrapartida. Ou seja, o problema pode ser mais complexo do que parece à primeira vista. Defendemos recursos públicos para a educação pública, mas não somos ingênuos a ponto de achar que acabar com o Reuni vai garantir o que defendemos, ao passo que é certo o prejuízo para os jovens hoje atendidos pelo programa.

“[Pretendo] promover na graduação o
mesmo salto de qualidade que conseguimos
na pós-graduação. Modernizar o sistema de
gestão. Promover interação com
governos, movimentos sociais e ONGs.”

Elencando em ordem decrescente, quais serão as prioridades mais imediatas de sua administração, se eleito reitor da UFPA?

Em primeiro lugar, qualificar o ensino de graduação, promover na graduação o mesmo salto de qualidade que conseguimos realizar na pós-graduação ao longo dos últimos sete anos. Em segundo lugar, modernizar o sistema de gestão, descentralizando processos, otimizando o uso dos recursos disponíveis e investindo fortemente na qualificação de pessoal. Em terceiro lugar, promover maior interação da universidade com os governos, movimentos sociais e organizações não governamentais, visando colocar a competência acadêmica, científica e tecnológica da UFPA à serviço da resolução dos grandes problemas da nossa sociedade.

Como o senhor se posiciona diante do governo Michel Temer, e mais particularmente sobre os limites de gastos proposto pelo novo presidente, com óbvios reflexos na educação?

Penso que a sociedade brasileira encontra-se, hoje, bastante consciente da importância do investimento público em educação para a construção de um futuro digno para o país. Não creio que qualquer governo tenha força para mudar isso e impor restrições consideráveis. Se você observar bem, toda vez que são anunciados cortes no orçamento, lideranças de todas as áreas reagem defendendo recursos para a área de educação (o mesmo não acontece, por exemplo, com a área de ciência e tecnologia, infelizmente). Isso não quer dizer que não teremos dificuldades, mas estou confiante na capacidade de mobilização dos atores sociais comprometidos com a construção de uma nação de cidadãos. A metas do Plano Nacional de Educação são muito explícitas em relação aos obstáculos que precisamos vencer, se quisermos, em um prazo de dez anos, aproximar o Brasil das nações desenvolvidas. E apenas com forte investimento público isso será possível. Tenho também a expectativa de que, ao longo desse processo, se venha a entender que não há educação de qualidade, em nenhum país do mundo, sem trabalhadores da educação bem remunerados.

A sua candidatura emerge com o apoio explicito do atual reitor, acusado de promover um golpe, com a antecipação da sua sucessão, com o agravante das recorrentes denúncias de utilização da máquina administrativa para fazê-lo seu sucessor. O quer o senhor tem a dizer a respeito?

Tenho orgulho de ter integrado a equipe de trabalho do professor Carlos Maneschy, que inegavelmente fez uma excelente gestão. Gozo também da sua amizade e de sua confiança para sucedê-lo na função de reitor da UFPA, o que muito me honra. Os que dizem que sua renúncia representa um golpe são os mesmos que há quatro meses vêm fazendo campanha para sucedê-lo. Isto é, a acusação é apenas discurso de campanha. Tem formalmente a aparência de uma defesa nobre da democracia na UFPA, mas cumpre apenas a função de chamar a atenção para outros atores que desejam ocupar o lugar do reitor. A renúncia é um direito pessoal, prevista em lei, que ocorre com frequência nas universidades federais (em parte, porque muitos reitores são convidados para ocupar outras funções públicas) e que pode ser tratada com o melhor instrumento da democracia: a escolha do sucessor pelo voto. Ninguém, com suficiente honestidade intelectual, pode dizer que há um golpe quando a saída de quem está no cargo é voluntária e a escolha do seu sucessor se dá pelo voto. Logo após a decisão de concorrer ao cargo de reitor, solicitei exoneração do cargo de pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e passei a me dedicar à campanha nas mesmas condições que os concorrentes. Minha campanha e do meu parceiro, candidato a vice-reitor, professor Gilmar Pereira da Silva, é integralmente financiada com recursos próprios e doações voluntárias de professores e técnicos da UFPA. Não há uso da máquina administrativa da universidade em favor de nenhum candidato, como atesta o vazio das insinuações, que nunca passam disso. A participação de membros da comunidade na nossa campanha só é mais volumosa do que nas dos outros candidatos porque temos maior adesão. Temos apoio indiscutível da maioria das lideranças políticas, acadêmicas, científicas, estudantis e intelectuais da UFPA e isso decorre simplesmente do reconhecimento do trabalho que realizamos e da confiança de que continuaremos a trabalhar com o melhor espírito público, interessados no fortalecimento da UFPA como instituição acadêmica e científica e comprometidos com a sua integração ao processo de desenvolvimento econômico e social do Pará.

“Quanto aos compromissos políticos,
represento o projeto de uma universidade
suprapartidária. Pretendo dialogar com
todos os que se dispuserem a ser parceiros
da UFPA, contribuindo para sua função social.”

Sem embargo dos seus méritos pessoais e acadêmicos, há um temor generalizado, entre seus adversários, de que o senhor, se eleito, possa ser um títere do ex-reitor Carlos Maneschy, hoje politicamente a reboque do PMDB, sob o aval do senador Jader Barbalho e com claras pretensões políticas, que certamente extrapolam a candidatura a prefeito de Belém. O senhor é, como acusam alguns dos seus críticos, um pau-mandado do ex-reitor? O que o distingue do seu patrono político?

Em primeiro lugar, é honroso saber que a comunidade da UFPA reconhece os meus méritos acadêmicos e pessoais. As universidades brasileiras necessitam, para o seu desenvolvimento, de gestores que tenham o reconhecimento acadêmico e o respeito ético de seus pares. A propósito da minha qualificação acadêmica, aproveito para esclarecer que a bolsa de produtividade em pesquisa, que recebo do CNPq, é um benefício destinado aos pesquisadores com produção científica regular e de qualidade. Trata-se de uma distinção alcançada pelos melhores pesquisadores brasileiros, legalmente acumulável com o salário de professor e que pode ser mantida durante o exercício da função de pró-reitor (o que aliás, ocorreu com os pró-reitores de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPA que me antecederam e com a pró-reitora que me sucedeu). Quanto aos compromissos políticos, represento o projeto de uma universidade suprapartidária, como tem sido a UFPA até hoje. Pretendo dialogar com todos os que se dispuserem a ser parceiros da instituição, contribuindo para a realização de sua função social. Dialogarei, portanto, com os senadores Jáder Barbalho (a quem, a propósito, ainda não tive a oportunidade de ser apresentado), Paulo Rocha e Flexa Ribeiro. Dialogarei com todos os deputados estaduais e federais, com o governador do Estado, com prefeitos de todos os municípios onde a UFPA mantém atividades ou poderá vir a atuar. Colocarei sempre o interesse institucional em primeiro lugar, como compete a um reitor que esteja no cargo pelo compromisso com a universidade. Isso não surpreenderá ninguém na UFPA, pois todos conhecem tanto a minha índole como a do professor Maneschy, assim como o respeito com que tratamos um ao outro. Como você mesmo afirma, tenho recebido a confiança da comunidade da UFPA pelos meus méritos, não por desqualificar qualquer outro candidato. Penso que todos deveriam agir do mesmo modo.

A UFPA acaba por refletir a sociedade na qual está inserida, o que talvez explique ter sido contaminada pelos vícios da política partidária, nela presentes no rastro da redemocratização do país e visíveis nas disputas registradas a cada troca de guarda. O quer pode ser capaz de promover, no âmbito da universidade, uma faxina ética capaz de sobrepor a excelência a conveniências eleitoreiras, varrer a impunidade determinada pelo corporativismo e privilegiar o contraditório?


A UFPA tem conseguido manter-se uma instituição suprapartidária, com uma agenda pautada por sua missão na sociedade, o que tem possibilitado dar uma contribuição inigualável, seja pelo número de profissionais formados, pela ciência nela produzida, pelos incontáveis serviços prestados, ou pela interação cotidiana com as mais variadas organizações. Nela, buscamos formar não apenas profissionais, mas cidadãos e novas lideranças para a sociedade. A participação política é inerente à vida na universidade (aqui e no mundo todo). A militância partidária também está presente na UFPA porque a UFPA é parte da sociedade. Não há nada de errado nisso, desde que sejamos capazes de discernir as fronteiras entre o interesse institucional e os interesses partidários. A excelência acadêmica tem prevalecido nos processos institucionais, como demonstram os vários resultados positivos alcançados pela instituição nos últimos anos. O que precisamos ficar atentos é para o papel a ser desempenhado pela UFPA no campo do pensamento e das ideias: a universidade é local onde todos os sistemas de crença, todas as ideologias, todas as reivindicações a conhecimento são bem-vindas; é, ao mesmo tempo, o espaço onde todos esses discursos devem ser cotidianamente submetidos ao inquérito crítico, com as mais refinadas ferramentas intelectuais do pensamento contemporâneo. 

quarta-feira, 1 de junho de 2016

ELEIÇÕES – Temporada de caça ao eleitor


MURAL – Queixas & Denúncias


UFPA – “A autonomia e o discernimento estão acima da indicação de um candidato pelo reitor”, acredita Ortiz

Ortiz: "Nossa candidatura representa o desejo de mudança e excelência".

“A autonomia e o discernimento da comunidade universitária da UFPA estão acima da indicação de um candidato pelo reitor. Os servidores e alunos são bem politizados para se deixarem levar por indicações. Confio em suas escolhas.” É com essa declaração que o professor Edson Ortiz, 63, apresenta sua candidatura a reitor da UFPA, a Universidade Federal do Pará, em entrevista ao Blog do Barata, na qual expõe suas propostas de gestão, com a autoridade de quem soma 38 anos de vida acadêmica. Engenheiro eletricista formado pela UFPA, e professor adjunto do curso de engenharia elétrica do Instituto de Tecnologia desde 1978, ele ostenta os títulos de mestre e doutor em engenharia elétrica, obtidos, respectivamente, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1980, e pela UFPA, já em 2016.
Ex-pró-reitor de Administração na gestão do ex-reitor Carlos Maneschy, a despeito do vasto elenco de cargos ocupados na administração universitária, Edson Ortiz, como é conhecido, acabou atropelado pela candidatura do professor Emmanuel Tourinho, ex-pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, ungido o candidato chapa-branca. A opção de Maneschy por Tourinho, ignorando solenemente as pretensões do ex-titular da Proad, a Pró-Reitoria de Administração, aparentemente minou uma relação pessoal de décadas e hoje, segundo a versão corrente, Ortiz é um pote até aqui de mágoas, embora, pelo menos para consumo externo, cultive uma postura de impecável elegância em relação ao ex-reitor. Mesmo assim, embora sem abdicar do decoro, ele não deixa de ser cáustico ao falar das motivações que levaram-no a candidatar-se a reitor, quando critica a partidarização da instituição, uma saia justa para Maneschy, que antecipou sua sucessão para sair candidato a prefeito de Belém pelo PMDB, sob o aval do senador Jader Barbalho, o morubixaba do partido no Pará. “Minha candidatura ao cargo de reitor não surgiu intempestivamente, mas pela força de um grupo grande de professores, técnicos e discentes, que acreditam na minha capacidade de administrar com competência a Universidade Federal do Pará. Sabemos que muitas dessas pessoas que estão junto comigo, pensando em uma nova universidade, têm filiação partidária, mas entendem a necessidade de não vincular a instituição a partidos políticos”, sublinha. “Nossa candidatura representa o desejo de mudança e assume o desafio e o compromisso com a excelência em todas as atividades realizadas no campus de Belém e nos campi do interior”, enfatiza na entrevista ao Blog do Barata.

Como o senhor avalia qualitativamente a UFPA, hoje, e quais suas propostas para dinamizar a instituição e melhorar a qualidade do ensino, em um cenário de grave crise econômica, com seus naturais reflexos nos orçamentos das instituições de ensino superior públicas?

A UFPA deu um salto de qualidade em vários aspectos. A ampliação da sua infraestrutura física em Belém e nos 11 campi do interior proporcionou a implantação de mais uma Universidade Federal no Estado, a UNIFESSPA, instalada no campus de Marabá, além da UFOPA, criada anteriormente, e ainda possibilitou a criação de novos cursos de graduação e pós-graduação. Isso proporcionou que a UFPA pudesse desenvolver melhor o seu papel social na formação de profissionais capacitados para atuar nas mais diversas áreas. Entretanto, ainda existem cursos que precisam de melhorias em sua infraestrutura.
Para nós, outra interferência social significativa da instituição são os serviços que ela oferece à comunidade menos assistida. Diversas ações revelam seu compromisso na edificação de uma sociedade mais humana. As ações e programas de saúde oferecidos no Guamá pelos dois Hospitais Universitários e em outros locais pelos cursos da área de saúde, por meio de diversos projetos de extensão, são exemplos disso. Os títulos de posse dos terrenos entregues gratuitamente aos moradores das áreas de invasão ao entorno da UFPA, é mais uma ação de destaque. Muitos exemplos refletem a qualidade das ações que a instituição realiza, voltados principalmente à comunidade e ao desenvolvimento local e regional, por isso devem ser sempre incentivados. Sabemos que existem deficiências e que devem ser avaliadas e discutidas constantemente para que  melhorias possam ser introduzidas continuadamente.
A crise econômica que enfrentamos hoje não foi a primeira. Em 2014 e 2015, enquanto ainda estava no cargo de pró-reitor de Administração, tivemos contingenciamentos profundos no orçamento da UFPA. Com seriedade e transparência e nossa capacidade de articulação junto ao o MEC, ao Ministério de Ciência e Tecnologia e às agências de fomento, superamos satisfatoriamente esses impasses, minimizando os danos as atividades da nossa instituição. Acredito que o gestor deve informar a comunidade da situação financeira real da instituição e buscar soluções compartilhadas.

Como qualquer universidade federal, obviamente a UFPA tem suas mazelas, que contra ela conspiram. Quais as principais dessas mazelas e como, a curto ou médio prazo, aplacá-las, de modo a garantir aquele mínimo de excelência que se espera de uma academia?

Temos certeza que a educação pode interferir e alterar o quadro de subdesenvolvimento encontrado em nossa região. A ampliação e consolidação do ensino de graduação e pós-graduação em Belém e nos campi do interior é um desafio constante para alcançar um ensino de excelência. Temos adversidades e peculiares a vencer, como melhorar a infraestrutura nos nossos campi, a rede de internet ainda é deficitária, temos dificuldades de deslocamentos para diversos municípios, enfrentamos problemas de fixação do quadro de servidores nos campi do interior e isso tudo interfere nas políticas de fortalecimento do ensino, da extensão e da pesquisa. Mas acredito que contamos com professores e servidores muito competentes e dedicados, e que por meio de ações conjuntas e planejadas podemos superar esses obstáculos e construir uma universidade de referência nacional e internacional, como é o sonho de todos nós.

Na esteira do Reuni, os campi da UFPA transformaram-se em canteiros de obras, multiplicando suas unidades físicas, mas sem a contrapartida de concursos públicos capazes de atender a previsível demanda por mais pessoal de apoio técnico e professores. Se eleito reitor, como o senhor pretende administrar esse descompasso?

É preciso ressaltar que o Reuni liberou recursos de custeio e capital para a construção e manutenção de instalações físicas em todos os campi da UFPA e também proporcionou a liberação de códigos de vagas para a contratação de técnicos e professores, o que proporcionou a abertura de concursos públicos em diversos municípios. Mas a instituição cresceu muito e se expande a cada ano, e em razão disso ficamos sempre com um número de servidores insuficiente. Sem dúvida este é um grande desafio a ser resolvido pela gestão. É necessário empenho do reitor junto à ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior) para apresentar um plano de desenvolvimento para a região, que contemple a abertura de mais vagas para servidores do ensino superior. Deverá haver um contínuo empenho do reitor no sentido de sanar tais deficiências.

“O ensino, a pesquisa e a extensão devem
ser pontos indissociáveis, fazem parte
de um conjunto institucional, devem
caminhar juntos e articulados,
a fim de permitir um crescimento mútuo.”

Se eleito, quais as medidas que o senhor contempla para contornar o descompasso hoje existente, em matéria de nível, entre a graduação, que pela avaliação do ENAD está abaixo da média nacional, e a pós-graduação, que pela avaliação da Capes atinge níveis de excelência? O porquê disso, na sua opinião, e o que fazer, de imediato, para superar essa discrepância?

Reconhecemos que as notas nas avaliações dos nossos cursos de graduação indicam que precisamos fortalecer o ensino na UFPA. Para a melhoria do ensino devemos investir em infraestrutura e qualificação de docentes e servidores administrativos, além de outras ações que ampliem a oferta de atividades acadêmicas para os discentes. O investimento em infraestrutura passa por equipar as salas de aulas e laboratórios com conforto ambiental e equipamentos modernos. A qualificação docente deve estar pautada na formação científica, pedagógica e no compromisso social.
O ensino, a pesquisa e a extensão devem ser pontos indissociáveis, fazem parte de um conjunto institucional, devem caminhar juntos e articulados a fim de permitir um crescimento mútuo. A UFPA por meio do seu PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional - deve articular e fortalecer uma interação mais dinâmica entre a graduação e pós-graduação.
Inevitavelmente, as ações a serem empreendidas devem ser discutidas, levantadas e processadas no Fórum de Graduação.  Precisamos apoiar esse Fórum e fazê-lo mais concludente na busca por identificação dos reais problemas do ensino de graduação. Assim, com a participação de todos os segmentos as conclusões serão formatadas coletivamente.

Qual a sua postura em relação ao Prouni, diante das críticas, de vastos setores acadêmicos, de que o programa acaba por privar a universidade pública de maiores recursos, para beneficiar, com isenções fiscais, os barões da educação?

A oferta de vagas nas IFES está muito aquém da demanda real, situação que só tende a piorar. Na UFPA, no PSS de 2016, o número de interessados alcançou 110.634 inscritos, para a disputa de apenas 6.618 vagas. É uma discrepância estarrecedora.
O Prouni foi implantado, inicialmente, para minimizar esse déficit de vagas. Ampliar e possibilitar o acesso à educação superior é uma iniciativa válida, entretanto devemos ter em mente a importância da valorização das instituições de ensino público, tanto as de educação básica quanto as de educação superior.

Elencando em ordem decrescente, quais serão as prioridades mais imediatas de sua administração, se eleito reitor da UFPA?

Não é possível estabelecer uma ordem decrescente diante de tantas demandas a serem trabalhadas. Sem dúvida, um foco relevante de nossa administração será para a melhoria na qualidade do ensino de graduação. Mas devemos considerar que a qualidade do ensino não pode ser alcançada sem que haja o imediato investimento em infraestrutura, que efetivamente garanta mais segurança para a comunidade que frequenta o campus. Paralelemente a isso, vamos dar total apoio às iniciativas de expansão dos cursos de capacitação e qualificação do quadro técnico e administrativo. Temos que manter a excelência dos programas de pós-graduação e dos grupos de pesquisa e incentivar o surgimento de novos. Identificar as necessidades mais proeminentes dos campi da instituição que poderão ser resolvidas em curto prazo. Ampliar os projetos de extensão voltados para atendimento às comunidades mais carentes do entorno da UFPA e do nosso estado como um todo.
Outro desafio a ser discutido é dar solução digna para a proliferação da comunidade canina que hoje habita o campus de Belém.

“Sendo [a universidade] apartidária,
seu gestor deve sempre se posicionar
contrário aos cortes de recursos para
a educação de modo geral e na defesa
de uma universidade com autonomia.”

Como o senhor se posiciona diante do governo Michel Temer, e mais particularmente sobre os limites de gastos proposto pelo novo presidente, com óbvios reflexos na educação?

A UFPA traz em seu regimento princípios que todos devemos observar: “respeito à ética e à diversidade étnica, cultural e biológica e no pluralismo de ideias e pensamento”. Sendo apartidária, seu gestor deve sempre se posicionar contrário aos cortes de recursos para a educação de modo geral e na defesa de uma universidade com autonomia, que ofereça ensino de qualidade e busque constantemente a excelência em todas as suas atividades.

Ter figurado na equipe do ex-reitor e ser por ele preterido, como candidato à sua sucessão, não fragiliza sua candidatura?

Não, nem um pouco. Divergências ocorrem em um processo democrático. A autonomia e o discernimento da comunidade universitária da UFPA estão acima da indicação de um candidato pelo reitor. Os servidores e alunos são bem politizados para se deixarem levar por indicações. Confio em suas escolhas.

Sem ser o candidato oficial, apesar de ter sido pró-reitor; sem dispor do apoio de partidos ou facções partidárias, nem dispor do calor de sindicatos, o que justifica sua candidatura? O senhor é, como querem alguns, candidato de si mesmo?

Minha candidatura ao cargo de reitor não surgiu intempestivamente, mas pela força de um grupo grande de professores, técnicos e discentes, que acreditam na minha capacidade de administrar com competência a Universidade Federal do Pará. Sabemos que muitas dessas pessoas que estão junto comigo, pensando em uma nova universidade, têm filiação partidária, mas entendem a necessidade de não vincular a instituição a partidos políticos. Nossa candidatura representa o desejo de mudança e assume o desafio e o compromisso com a excelência em todas as atividades realizadas no campus de Belém e nos campi do interior.
Por outro lado, como servidor da instituição há 37 anos, demonstrei ter capacidade de gerência ao responder positivamente a muitos desafios, nos cargos de prefeito dos campi e pró-reitor de Administração. Também assumi a reitoria, na ausência do titular, em diversas oportunidades, e outras funções no Instituto de Tecnologia, ao qual sou lotado como docente. Acredito que meu currículo administrativo, somado ao acadêmico, é a minha melhor carta de apresentação.

“As pressões existem. Sou contra esse
tipo de atitude. São comportamentos
inadmissíveis, que revelam ausência
completa de ética e desrespeito ao
direito de escolha que todos temos.”

Fala-se, nos bastidores, de uma atmosfera de velada caça às bruxas para intimidar quem se oponha ao candidato ungido pelo ex-reitor Carlos Maneschy. Essa versão procede ou trata-se de lengalenga próprio de campanha eleitoral?

As pressões existem, mas não da minha parte. Sou integralmente contra esse tipo de atitude, dita pressão política. São comportamentos inadmissíveis dentro de uma universidade, que revelam ausência completa de ética e desrespeito ao direito de escolha que todos temos.

A UFPA acaba por refletir a sociedade na qual está inserida, o que talvez explique ter sido contaminada pelos vícios da política partidária, nela presentes no rastro da redemocratização do país e visíveis nas disputas registradas a cada troca de guarda. O quer pode ser capaz de promover, no âmbito da universidade, uma faxina ética capaz de sobrepor a excelência a conveniências eleitoreiras, varrer a impunidade determinada pelo corporativismo e privilegiar o contraditório?

Como me manifestei anteriormente, vivemos em uma comunidade plural, em todos os sentidos. Minha proposta de gestão para a UFPA pretende trabalhar para construir essa consciência de respeito à pluralidade de ideias e ações, descentralização de serviços e recursos, maior interatividade e comunicação entre os campi, unidades e subunidades, além do entendimento de que somos uma universidade multicampi, que prima pela transparência no planejamento e execução financeira, que investe na formação e qualidade de vida dos técnicos, docentes e alunos. Assim, tenho certeza, conseguiremos sucesso em nossos objetivos.