Silvio Kanner: temor de flexibilização deteréria nos critérios do banco. |
“Pessoalmente, acredito qualquer denuncia como esta precisa ser bem fundada em material de
prova; não se denuncia uma intenção. Mas não me surpreenderia que uma futura
investigação no FNO pudesse encontrar inconsistências graves se os engenheiros
concursados saírem da linha de operação. A declaração é de Silvio Kanner, 38,
presidente da AEBA, a Associação dos Empregados do Banco da Amazônia S/A, que é
também diretor do Senge/PA, o Sindicato dos Engenheiros do Estado do Pará, ao
comentar a denúncia que atribuí à diretoria do Basa a suposta intenção de “retirar do caminho do fluxo de crédito os
atores responsáveis pelas análises técnicas isentas”. “Acredito que é mais plausível falar que as medidas que a atual
diretoria do banco está tomando fragilizam o processo de crédito e podem levar
ao retorno a um passado recente, no qual critérios de viabilidade técnica,
econômica, ambiental, financeira, administrativa e jurídica eram sabidamente
negligenciados”, acrescenta, em entrevista ao Blog do Barata.
Qual,
afinal, o estopim do contencioso protagonizado pela direção do Banco da
Amazônia e os engenheiros da instituição?
Em 2012, transitou em julgado uma ação que
obriga o Banco da Amazônia a cumprir a lei que determina a fixação do salário
mínimo profissional para as áreas de engenharia, arquitetura e medicina
veterinária. Depois de muitas idas e
vindas, o banco passou a cumprir a decisão em setembro de 2015, porém, como o
cumprimento da Lei do Piso exige o reconhecimento dos profissionais dessas
áreas como categoria diferenciada, a direção entendeu que deveria excluir os
engenheiros dos acordos coletivos firmados com os sindicatos da categoria
majoritária - os bancários. A partir dessa leitura, a direção do banco cortou
todos os benefícios sociais, bem como um terço da remuneração dos engenheiros,
excluindo dos contracheques a rubrica de função comissionada de analistas.
Estamos aguardando decisões da Justiça do Trabalho relativamente a essas
retaliações, mas também estamos numa luta politica pelo retorno do acordo
coletivo de trabalho para os engenheiros. Estamos em greve porque estamos, na
pratica, sem acordo coletivo de trabalho. No fim do ano passado iniciamos uma
greve, mas o banco nunca se propôs a negociar, então ajuizamos uma ação de
dissidio coletivo de greve. Como não houve comum acordo para o ajuizamento do dissidio,
a turma especializada em dissídios coletivos do TRT (Tribunal Regional do
Trabalho – 8ª Região) entendeu que deveria arquivar a ação sem resolução de
mérito. Para o TRT, a solução deve ser encontrada via negociação. Como a
direção do banco insiste em não negociar, retornamos à greve e aguardamos uma
convocatória da empresa para iniciarmos as negociações.
Segundo denúncia, o que estaria por trás de
todas as retaliações contra o quadro de engenheiros do Banco da Amazônia seria
a intenção de retirar do caminho do fluxo de crédito os atores responsáveis
pelas análises técnicas isentas dos projetos internalizados no banco, abrindo
caminho para a possibilidade da ocorrência de fraudes e caixa 2 para atender as
necessidades dos grupos políticos que são responsáveis pela nomeação da atual
diretoria. Qual a sua opinião sobre essa ilação?
Pessoalmente
acredito qualquer denuncia como esta precisa ser bem fundada em material de
prova; não se denuncia uma intenção. Mas não me surpreenderia que uma futura
investigação no FNO pudesse encontrar inconsistências graves se os engenheiros
concursados saírem da linha de operação. Acredito que é mais plausível falar
que as medidas que a atual diretoria do banco está tomando fragilizam o
processo de crédito e podem levar ao retorno a um passado recente, no qual
critérios de viabilidade técnica, econômica, ambiental, financeira,
administrativa e jurídica eram sabidamente negligenciados. Veja, por exemplo, o
que está registrado no livro “Campesinato e Estado na Amazônia – Impactos do
FNO no Pará”, um momento em que os engenheiros não estavam diretamente
envolvidos no processo de crédito no Banco da Amazônia.
Essas medidas são, por exemplo, a
terceirização da engenheira, a criação da opinião de valor, que estabelece que
qualquer empregado do banco, independente da formação, possa “opinar” um valor
para efeito de garantia, a norma recente de qualquer pessoa, independente da
formação possa analisar a viabilidade de propostas de Pronaf, ou ainda a
sugestão da diretoria para que os engenheiros façam apenas a “validação” de
serviços externos. Por outro lado, sofremos o assédio para realizar tarefas que
estão fora das nossas competências. Temos um Parecer do CREA sobre nossas
atividades, mas a diretoria do banco insiste que temos que fazer o que não é
nossa competência legal. Estamos alertando todos os órgãos, bem como os
mandatários, sobre essas mudanças, e esperamos sinceramente que alguma atitude
seja tomada. A diretoria não está mudando apenas os critérios de deferimento,
está mudando também os locais em que essas análises vão ser feitas, com a nova
política de centrais de análise, mas isso é assunto para outra pauta.
Qual
o total de engenheiros abrigados pelo banco e como às retaliações denunciadas
afetam esses profissionais?
A greve abrange apenas os engenheiros do
estado do Pará, cerca de 200. As retaliações nos afetam porque somos os
analistas das propostas de crédito do FNO – Fundo Constitucional de
Financiamento do Norte, do qual o Banco da Amazônia é o gestor e o operador. A
diretoria cortou nossas comissões de analistas e iniciou um processo de assédio
para que os engenheiros continuassem a fazer as análises mesmo com a comissão
de analistas cortadas. Como estamos sem acordo coletivo de trabalho, segundo a
diretoria do banco, sem que o TRT tome qualquer providencia, estamos excluídos
do Programa de Alimentação do Trabalhador – PAT, não recebemos auxilio creche,
não temos direito a integralização de auxilio doença, entre outras vantagem e
benefícios pelos os quais também lutamos ao longo de todos esses anos.
Em
que pé se encontra esse contencioso e o que impede a abertura de um diálogo
entre as partes?
Estamos em greve, aguardando um chamado
para negociação. Estamos abertos ao diálogo, mas esbarramos na intransigência
por parte da diretoria do banco. A impressa do Acre está noticiando que o
presidente é pré-candidato a deputado federal por aquele estado. Temos dúvidas
se a diretoria do banco está realmente interessada em solucionar esse conflito.
A
perdurar o impasse, quais as alternativas contempladas para assegurar os
direitos reclamados pelos engenheiros do banco?
Como o TRT decidiu não arbitrar, bem como
decidiu que nossa greve é legal, pugnando pela negociação como melhor forma de
solucionar o impasse, nós vamos permanecer paralisados até que um processo de
negociação seja pelo menos iniciado. A ação de dissidio coletivo deve
prosseguir para o TST. Particularmente, acho que já está passando da hora de
mudar essa diretoria do Banco da Amazônia. A única proposta que eles têm para
os empregados é arrocho e retirada de direitos. Apesar de serem empregados da
casa, podemos afirmar que esta é a pior diretoria que já passou pelo banco nos
últimos anos.
4 comentários :
Todo apoio aos engenheiros do Banco da Amazônia
Realmente essa diretoria do Banco está prejudicando todos os funcionários, com medidas que só retiram direitos dos trabalhadores!
O que a diretoria quer, especialmente o Sr. Presidente Marivaldo, é se livrar de uma acompanhamento mais isento, para isso querem desvalorizar o quadro técnico, reduzindo o preço dessa mão de obra e anarquizando o processo de análise. Não é à toa em que, em uma das matérias que anunciavam a candidatura do Sr. Marivaldo a deputado pelo PSD no Acre, anunciava também que o banco vai abrir o cofre do FNO na região onde ele se lançará nesse pleito.
O nível de perseguição dos engenheiros envolve a retirada de todos os benefícios conquistados a décadas da criação desta carreirá. Retiraram auxílio alimentação, auxílio creche, Retiraram as funções comissionadas, inclusive proibindo o acesso a elas pelos engenheiros, fizeram o crime de retirar o seguro de vida, mesmo com o histórico de risco de vida em viagens a serviço, tendo histórico de mortes de engenheiros nessas empreitada. Tudo casando vingança por ter ganho um direito que existe a 51 anos! Somado a isso, o medo de uma categoria com autonomia financeira para não ser refém de chefes nas liberações dos créditos de fomento.
Essa é a história recente do Banco da Amazônia. Tristeza, perseguição e covardia.
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