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Belém, aos 399 anos: beleza que perdura, apesar dos seus algozes. |
Belém
chega aos seus 399 anos com pouco a festejar, apesar das fanfarras do prefeito
Zenaldo Coutinho. Na falta de realizações significativas, ele investe
perdulariamente na propaganda enganosa, em detrimento de demandas prioritárias,
e faz a festa dos gigolôs do erário, no que repete seu patrono político, o
governador Simão Jatene, exímio no estelionato midiático. Em termos de IDHM, o
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, Belém figura em penúltimo lugar
dentre as 16 regiões metropolitanas analisadas pelo Pnud, o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento. Superando apenas Maranhão e Alagoas, o Pará é o
24º em IDHM. Esses números são ilustrativos do sucateamento de setores vitais,
como educação, saúde, saneamento e segurança pública, corolário da continuada
inépcia administrativa, que agrava mazelas históricas. Jatene e Zenaldo,
diga-se, não são meros herdeiros da clássica herança maldita. Por atos e omissões, ambos patrocinaram e
coonestaram, por exemplo, um dos maiores predadores da história recente de
Belém, o ex-prefeito Duciomar Costa, o nefasto Dudu, eleito e reeleito na esteira do poder econômico e da
utilização da máquina administrativa. E ambos, no exercício do poder, optaram
pela prestidigitação eleitoreira, materializada no assistencialismo, deletério
porque torna o homem refém da pobreza, ao invés de dela libertá-lo.
Mas,
apesar disso tudo, felizmente perdura aquele amor visceral, que permite, aos
que se pautam por princípios, defender Belém de seus algozes, independentemente
da legenda partidária destes. Essa determinação, por vezes materializada
naquilo que Milton Nascimento etiquetou de ira
santa, é o que impede o naufrágio de nossas esperanças e serve de
combustível para a convicção de que vale a pena ousar lutar. E não nos faltam
motivos para tanto. Bastar um olhar que alcance nossas extasiantes belezas
naturais; a inebriante imponência dos nossos casarões que sobreviveram a especulação
imobiliária e ao descaso do poder público; o encanto dos túneis de mangueiras que
ainda nos restam, protegendo-nos do sol inclemente e ainda nos aquinhoando com
suas deliciosas mangas; a grandiosidade da nossa Praça da República.
Um
povo que inunda sua cidade com a colossal pororoca de fé que é o Círio de Nossa
Senhora de Nazaré certamente merece ter esperança. É um povo que merece voltar
a exercer a hospitalidade e resgatar a postura fraternal de outrora, predicados
soterrados pelo medo diante da escalada da criminalidade, que banaliza a
violência e estimula a indiferença. É um povo que, tanto quanto sua cidade,
clama por um olhar de generosidade.
De
resto, no que me cabe, é repetir a declaração de amor eternizada pelo saudoso
Ruy Barata: “Tudo que eu amei estava aqui.”
Feliz
aniversário, amada Belém.