Jarbas, em um dos seus embates no Senado, no qual pontificou. |
Jarbas Passarinho foi protagonista e testemunha
privilegiada desse turbulento período da história recente. Oficial do Exército,
foi catapultado para o proscênio político como governador do Pará, elegendo-se
senador por sucessivos mandatos e tornando-se ministro de vários governos. Foi
ministro do Trabalho e Previdência Social de Costa e Silva; da Educação, de
Médici; e da Previdência Social, de João Figueiredo, durante o regime dos
generais. Já com o país redemocratizado, tornou-se ministro da Justiça do
ex-presidente Fernando Collor, no qual votou, segundo declarou na época,
“tampando o nariz”, em uma das contradições que pontuam sua biografia política.
No plano nacional, notabilizou-se ainda pela atuação parlamentar na CPI do
Orçamento, quando fixou definitivamente a imagem de probidade pessoal, virtude
que mesmo seus adversários reconheciam. A CPI investigou um grupo de congressistas brasileiros envolvidos em
fraudes com recursos do Orçamento da União até serem descobertos e
investigados, em 1993.
A vida em Brasília e, em especial, a
experiência parlamentar, conferiram a Jarbas um verniz de civilidade da qual é carente a formação castrense, o que evidenciou na incontida soberba e na ironia gratuita, às vezes no limite da grosseria, exibida nos seus primeiros anos de notoriedade nacional, como ministro dos
governos militares. Uma patológica vaidade pessoal fez dele, mais de uma vez,
vítima da própria empáfia. E ilustrativo dessa exacerbada vaidade um prosaico
episódio narrado pelo jornalista Carlos Chagas, ao registrar os memoráveis
embates travados no Senado, nos anos 70, entre Jarbas Passarinho e Paulo
Brossard, o notável tribuno eleito pelo MDB. “Certa feita Passarinho discursava
enaltecendo o sentido democrático dos militares e deu como exemplo a
designação do único civil para ministro da Guerra ter sido feito por um
presidente militar, Hermes da Fonseca. Postado na bancada bem defronte à
tribuna, Brossard passa a mão na vasta cabeleira, como a expressar surpresa
pelo erro histórico do adversário, pois fora Epitácio Pessoa, presidente civil quem nomeara Pandiá Calógeras, único ministro civil da Guerra. Passarinho, de
olho no colega, interrompe seu pronunciamento e provoca, dizendo ter a
impressão de que Brossard pretendia aparteá-lo. Negando a intenção, mas
convocado, o senador gaúcho corrige o representante do Pará, que engole a
correção em silêncio e depois recolhe as notas taquigráficas para os acertos
normais. Jamais as devolveu para a publicação no Diário do Congresso”, conta
Carlos Chagas, na página 76 do livro “A ditadura militar e a longa noite dos
generais – 1970-1985 – A história contada por jornais e jornalistas” (Editora
Record, 2015), que sucede “A ditadura militar e
os golpes dentro do golpe – 1964-1969 – A história contada por jornais e
jornalistas” (Editora Record, 2014), ambos do jornalista.
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