domingo, 2 de outubro de 2011

MEMORIALISMO – A rasteira de Jader em Alacid

A pretensão do coronel Alacid Nunes em retornar ao poder, após ajudar a eleger Jader Barbalho (foto) governador e ainda ver Jarbas Passarinho derrotado, logo esfarinhou-se. No comando da máquina administrativa estadual, Jader tratou de cooptar a base parlamentar de Alacid e consolidar a hegemonia eleitoral do PMDB, neutralizando a pretensão de seu mais ilustre cabo eleitoral em 1982 em manietá-lo politicamente. Nas eleições de 1986, Jader não só elegeu seu sucessor, Hélio Gueiros, como devolveu ao Senado Jarbas Passarinho, mas este já politicamente debilitado, diante do fim da ditadura militar, marcado pela eleição como presidente de Tancredo Neves, do PMDB, no colégio eleitoral, onde o candidato da Aliança Democrática derrotou Paulo Maluf, do PDS. Vítima de diverticulite, Tancredo teve que ser operado na véspera da sua posse, prevista para 15 de março, passando por uma sucessão de cirurgias, até morrer, em 21 de abril de 1985, sendo então empossado presidente o vice-presidente José Sarney, ironicamente uma liderança política que ganhou expressão nacional durante o regime militar, mas que puxou a dissidência diante da candidatura de Paulo Maluf. No Pará, candidato ao Senado, em 1986, Alacid Nunes foi derrotado com uma votação pífia. Depois disso elegeu-se deputado federal por diversas legislaturas, mas já desprovido do poder que ostentava durante a ditadura militar. Em 1994, Alacid dormiu deputado federal reeleito e acordou como suplente, alijado por Vic Pires Franco Neto, um mauricinho de profissão desconhecida, mas de reconhecido carisma, que ganhou visibilidade como apresentador dos telejornais da TV Liberal, afiliada da Rede Globo de Televisão no Pará. Um político de perfil fisiológico, Vic ganhou expressão eleitoral com sua aliança com o PSDB, em uma parceria política que acabou por tornar sua mulher, Valéria Vinagre Pires Franco, também ex-apresentadora de telejornais da TV Liberal, vice-governadora, além de secretária especial de Promoção Social, no primeiro mandato de Simão Jatene, o Simão Preguiça, como governador. Nas eleições municipais de 2008, das quais saiu etiquetada de Dondoca da Doca, Valéria foi candidata a prefeita de Belém, pelo DEM, tendo como vice Paulo Chaves, do PSDB, ostentando a mais cara das campanhas, de acordo com as declarações feitas à Justiça Eleitoral. Apesar de liderar as pesquisas de intenção de voto do Ibope, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, Valéria não chegou ao segundo turno. Seu pífio desempenho corroborou as suspeitas de manipulação das pesquisas de intenção de voto, terceirizadas pelo Ibope, que contratou uma empresa de fundo de quintal de Belém, sem maiores credenciais.
Embora Jader Barbalho fosse identificado como um dos autênticos do PMDB, o grupo de parlamentares da legenda que defendia uma postura mais ousada diante da ditadura militar, em seu primeiro mandato como governador ele se revelou sobretudo sagaz, visivelmente empenhado em aparar eventuais arestas com setores do regime militar. Assim, por exemplo, manteve-se silente diante da nomeação, como superintendente da Polícia Federal do Pará, do delegado Roberto Porto, um nome associado aos porões da ditadura militar e cuja indicação, para o cargo, soou a uma provocação política do regime militar a um governador eleito pela oposição. Porto, recorde-se, foi nominalmente citado, como torturador, no dossiê do Projeto Brasil Nunca Mais, transformado em livro e organizado pelo grupo Tortura Nunca Mais. A nomeação foi mantida, mas os protestos de setores da sociedade civil organizada se encarregaram de desgastar Porto e o próprio regime militar, já em seus estertores. Jader guardou suas energias para a campanha de Tancredo Neves a presidente, cacifando-se junto aos novos inquilinos do poder. Pragmático, como governador ele cumpriu à risca a recomendação de não permitir bandeiras vermelhas no comício de Tancredo Neves e José Sarney, na avenida 1º de Dezembro, hoje João Paulo II. No comando da campanha havia a preocupação de não ferir suscetibilidades e turbinar eventuais veleidades golpistas, a pretexto da mobilização pela legalização dos partidos comunistas, na época ainda formalmente proscritos, mas já livres da clandestinidade imposta pelo golpe militar de 1º de abril de 1964. Clandestinidade que recrudesceu com intensidade nos anos de chumbo do regime dos generais, deflagrados em 13 de dezembro de 1968, com o AI-5, o Ato Institucional nº 5, que lançou o Brasil nas trevas, com prisões ilegais, torturas, assassinatos de presos políticos e censura à imprensa. Por conta do imponderável da vida, a posse de José Sarney como presidente foi decisiva para a legalização, sem traumas, do PCB, o Partido Comunista Brasileiro, o célebre Partidão, que defendia a tomada do poder pela via democrática e deu origem ao PPS, o Partido Popular Socialista, e do PC do B, o Partido Comunista do Brasil, que repelia a tese de coexistência pacífica e defendia a luta armada, mas revelava-se politicamente debilitado, após a violenta repressão que dizimou a guerrilha do Araguaia. Com sua vasta teia de relações nas Forças Armadas, Sarney inspirava confiança suficiente entre os militares, para tranquilizá-los como avalista da legalização dos PCs.

3 comentários:

  1. Os artigos sobre a política paraense estão excelentes. O que eu quero saber são as razões do Alacid ter rompido com Brasília. Ele se fez de doido e o que sobrou para o Pará?

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  2. Barata, vc é a mémoria viva da História Política mais recente do nosso Estado. Seu texto está brilhante.

    Cordiais abraços.

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  3. barata,a memoria sobre os fatos políticos são verdadeiras aulas sobre o período de transição.
    mas,o que tenho a dizer sobre a historia em particular do partido comunista brasileiro,é interessante travar uma conversa para conhecer os desdobramentos sobre o PCB,depois deste período.

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