CÍRIO – O comovente ritual da fé

Como ocorre no segundo domingo de outubro, em uma tradição iniciada em 1792, o Pará volta suas atenções para o comovente ritual da fé, ao reverenciar a sua padroeira, Nossa Senhora de Nazaré, na maior procissão católica do mundo. Não por acaso, a procissão do Círio tem o condão de aplacar os abismos sociais impostos pelas cruéis desigualdades sociais, que exprimem uma perversa concentração de riquezas. Nela, ricos e pobres se unem na reverência à Nossa Senhora de Nazaré, em um exercício de humildade próprio de quem sabe que não é Deus.
Diante da massa de fiéis mobilizada pela Trasladação, na noite de sábado, e, mais ainda, à procissão do Círio, não há como ficar indiferente. Mesmo para quem, como eu, contempla a idéia da existência de Deus e as manifestações de religiosidade como produtos do medo ancestral do ser humano diante do desconhecido.
Seja lá como for, a grandiosidade da devoção à Nossa Senhora de Nazaré nos permite ultrapassar os limites do êxtase improdutivo. Sob essa perspectiva, convém não esquecer, jamais, que não basta prescrever o bem e proscrever o mal. Para que prosperem, o princípio do bem e o horror ao mal precisam estar no coração e na mente de cada um de nós.