terça-feira, 2 de junho de 2009

WALTER BANDEIRA – Um transgressor generoso

Essa generosidade de Walter Bandeira manifestava-se, em especial, diante da intolerância com a qual se defrontou no curso da sua vida, em conseqüência de sua opção sexual, que não ocultava de absolutamente ninguém e da qual frequentemente fazia troça. “De lá eu vim, para lá eu não volto”, proclamava, em tom de deboche, quando provocado a respeito, lançando mão de um chiste que cunhou e que fazia soar, com sua proverbial elegância e seu carisma, apenas cômico. Ele transgredia, desafiava as convenções, mas com tal dose de bom humor, que jamais soava agressivo.
Mas como a vida frequentemente é cruel, crudelíssima, às vezes Walter pagou caro por suas transgressões e irreverências. Nos anos de chumbo da ditadura militar, ele foi sumariamente exonerado, sem explicações, da Escola de Teatro da UFPA, a Universidade Federal do Pará. Intramuros, aos olhos do reitor de então, a exoneração se justificava, segundo foi posteriormente confirmado por uma testemunha privilegiada, porque Walter, reconhecidamente um excelente professor de dicção, era também homossexual assumido. Com altivez e dignidade, Walter em nenhum momento se vitimizou ou estimulou a comiseração. Apenas não abdicou da irreverência que com ele se confundia. E também nunca vociferou contra o seu circunstancial algoz. O preconceituoso magnífico passou e Walter ficou, tornando-se destinatário do respeito e do carinho de todos que o conheceram, mesmo à distância das pompas e circunstâncias do poder, das quais dependem os poderosos de plantão, para se fazer respeitar. Coisas de Walter, cujo charme, ironicamente, seduzia particularmente o público feminino.

Um comentário:

  1. por isso eu repito: o nome da escola deveria se chamar Walter Bandeira

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