É o entregar-se a dor que faz a dor doer
menos, dizem. Foi possivelmente com esse sentimento que aqueles aos quais era cara, muito cara,
receberam o adeus de Margareth Pereira, que nesta terça-feira, 17, nos deixou,
na esteira de um câncer devastador. O alento possível, diante da partida da
querida Marga, é sabê-la livre dos sofrimentos impostos por uma doença letal,
cuja mais amarga sequela, no seu caso, foi subtrair o vigor diante das
vicissitudes da vida, que levou-a a construir uma bela família, ao lado de
“seu” Pedro, também já morto, e dos filhos Diego e Daise, que lhe deram três
netos. Netos dos quais a pequena Pietra, a filha mais velha de Diego, ela criou como se
filha fosse.
Negra e pobre, mas corajosa e determinada,
Marga é um eloquente exemplo de mulher verdadeiramente empoderada. Ela soube manter a altivez, sem jamais abdicar do senso de dignidade, mas
também sem nunca resvalar para o ressentimento dos recalcados. Comovia nela a
lealdade que sempre cultivou em relação aos que lhe eram caros e aqueles aos quais
serviu ao longo da vida, seja em empregos formais, seja como diarista, ocupação
a qual se dedicou nas últimas décadas. Sem concessões a vaidades frívolas,
Marga ainda notabilizava-se pelas rígidas noções de higiene e pelo delicioso paladar
caseiro, capaz de transformar um prosaico cardápio – como bife, arroz e feijão –
no manjar dos deuses.
Nada mais comovente na saudosa Marga que
sua dedicação à família, capaz de fazê-la transformar o que poderia ser um
casebre em uma casa simples, porém confortável, que construiu com a tenacidade
que lhe era própria, ao lado de “seu” Pedro, o companheiro de jornada. Por
temperamento, ela não era dada a manifestações efusivas de afeto, mas não
deixava de expressar seu carinho pelas pessoas com gestos concretos, sem as
fanfarras de quem quer se fazer notar.
Tive a oportunidade de conhecer Marga
através de uma ex-namorada e suas filhas, que a vida transformou em minhas filhas por adoção e a
cujos pais ela serviu como diarista, com igual dedicação, após a separação do
casal. A uma delas, Camila, a quem tratava como Camiloca, Marga dedicou especial carinho, na esteira de
afinidades que o temperamento de cada um determina. Nem por isso deixava de dar
carinhosa atenção a Mariana, para ela a Maroquinha, tal qual sempre fez com os pais de ambas. Pessoalmente, a ela sempre fui grato pelas manifestações de apreço.
O legado de dignidade de Marga, a sua
coragem em enfrentar as intempéries da vida e a dedicação à família é a melhor
herança que ela deixa para os filhos e netos. E explicam as lágrimas saudosas que
compõem a cerimônia do adeus.
Descanse em paz, querida Marga. Descanse em paz, guerreira.
Sem dúvida foi uma guerreira, lutou ate onde pode com todas as forças, que Deus coloque sua alma em bom lugar marga, descanse em paz.
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