sábado, 10 de outubro de 2009

CÍRIO – A reverência de um devoto

Círio de Nazaré

JOÃO ANDRÉ DA COSTA FILHO, Comunidade de Santa Luzia, Capanema (PA)

É madrugada, a cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, acorda cedo para encontrar com a santinha. Na verdade a cidade não dormiu.
A capital do Pará fica incrivelmente pequena, pra qualquer lugar que se vá ou de onde se venha, todos os caminhos de Belém levam a Maria.
Há um frisson, um burburinho, toda a beleza da fé está no povo, ah! e como o povo é belo.
Amanhece, os raios dourados do sol invadem Belém e deixam à mostra o colorido vivo da cidade, da natureza e do povo a homenagear a Mãe de Deus.
A procissão começa e lá vem Maria, ah! e tudo muda quando ela passa.
Rio de gente, povo pássaro nas árvores.
Gente negra, índia, branca, mulata. Gente bela da fé de Deus.
Menino com a imagem da santinha erguida nas mãos em direção ao infinito, fé criança.
Meninos anjos a voar, erguidos nos ombros dos pais. Anjos brancos, róseos, multicores.
Pássaros e barcos de miriti sobrevoam e navegam por sobre o rio d’alma. Rio de gente, povo rico, pobre e miserável, cheios de fé em Deus, fé que deixa todos iguais. Uma fé que nunca se rompe.
Socorristas salvam pessoas que se afogam, no rio de gente, no rio d’alma. Falta o ar, falta força, só não falta fé.
Dois milhões de vozes rezam ave-marias e pai nossos.
Do alto dos prédios as famílias aplaudem e homenageiam a virgem que passa lá em baixo. Das sacadas dos apartamentos, chove pétalas, papel picado e fé.
No meio do rio de gente, povo santo de Deus, além de Nazarés, passam Fátimas, Conceições, Guadalupes, Perpétuos Socorros, Rosários, Lourdes e outras Marias. Passam santos e santas de Deus.
Ecoam palmas e vivas pra Mãe que passa, com seu manto d’ouro, em sua berlinda ornada de flores brancas, rosas e vermelhas, são palmas e vivas pra Mãe de Deus, pra nossa Mãe.
Mãos estendidas agradecem e suplicam por proteção.
O pássaro de ferro despeja pétalas de rosas vermelhas e amarelas sobre o rio de gente, o perfume de rosas, sinal da presença de Maria e sentido por todos.
Casinhas, braços, pernas, cabeças e corpos de cera, são erguidos pelos fiéis, é o pagamento de promessas pelas curas realizadas.
De repente lá vem o ruge-ruge, lá vem a corda, sucuri amazônica, pororoca de gente, força incontrolável que leva todos de roldão. E lá vai a santinha, protegida e conduzida pela energia que vem d’alma. A corda sucuri amazônica, é conduzida por 14.000 mãos, 7.000 homens e mulheres, pagadores de promessas, que transfiguram seus corpos em minotauros e seus rostos em carrancas, no esforço inumano de permanecer seguro à corda, seguro à sua fé.
O povo vai cortando caminho e atalhando ruas, prá ver e homenagear a Senhora da Berlinda mais lá na frente, até o ruge-ruge chegar de novo.
Nos rostos do povo de Deus escorre rios de suor e de lágrimas, da emoção que invade a alma.
A brisa que vem da Baía do Guajará refresca o calor do esforço sobre-humano que molha e encharca de fé a caminhada do povo de Deus.
Toda a passarela da fé, da Sé/Boulevard à Praça do CAN/Basílica Santuário, é tomada pelo Sagrado: Fé e Gente.
Todos os caminhos de Belém levam a Maria, e por todos os caminhos de Belém, Maria indica as pessoas a Jesus Cristo e diz: “fazei tudo o que Ele vos disser”.

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