sábado, 4 de abril de 2009

UFPA - De como se pode refundar a UFPA

Flávio Sidrim Nassar*

Se quisermos, o dia 30 de março de 2009 poderá vir a ser o dia da refundação da Universidade Federal do Pará.
O início da UFPA 2.0. Da UFPA Ubuntu, palavra de origem sul africana que significa "uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas", ou numa outra tradução "a crença no compartilhamento que conecta toda a humanidade". É por isso que um dos distribuidores de software livre baseados no Linux escolheu o nome Ubuntu para denominar o seu sistema operacional. A Comunidade Ubuntu ajuda-se mutuamente, não havendo distinção de novatos ou veteranos; a informação deve ser compartilhada para que se possa ajudar quem quer que seja, independentemente do nível de dificuldade.
Mas o que de tão importante aconteceu neste dia 30 de março?
Neste dia o CONSUN detonou definitivamente o golpe que se armava contra a autonomia da universidade.
Em ação previamente orquestrada conselheiros diretamente ligados ao Reitor apresentaram ao Conselho a proposta de mudar, depois do pleito, as regras previamente acordadas e aprovadas por unanimidade.
Apostavam em uma reunião tumultuada. O tumulto não veio e as manifestações contrárias à posição da administração foram demonstrando que os golpistas estavam perdidos. A pá de cal veio quando os sindicatos dos professores e dos servidores, juntamente com a representação estudantil, repudiaram o golpe.
Esperavam os golpistas um posicionamento sectário dos estudantes e sindicalistas, esperavam que apostassem no "quanto pior melhor" e que se retirassem da sala de votação quando tivessem que cumprir o ritual da votação uninominal. Contavam como certo que os "radicais" do PSOL e PSTU não manchariam suas bocas pronunciando o nome "Maneschy".
Quando chegou a hora da verdade o interesse universitário prevaleceu contra a minoria golpista. Foram 53 votos contra o golpe e 32 a favor.
As manifestações das entidades representativas da comunidade universitária demonstraram o compromisso destas com a democracia. As entidades haviam apresentado propostas diferentes de regimento eleitoral do que foi aprovado, e mesmo tendo sido elas derrotadas, se submeteram às regras acordadas e agora exigiam que elas fossem respeitadas.
Diferente do que presenciei várias vezes na história recente da UFPA, quando sindicalistas de resultados e estudantes oportunistas deixaram de lado as tradições libertárias de seus movimentos em troca de facilidades, o que vi no CONSUN foi uma demonstração de coerência.
O debate de como deve ser o processo de escolha dos dirigentes das IFES ainda não terminou. A legislação atual dá prevalência ao voto do professor em 70% o que é considerado exagerado por muitos.
A atual eleição veio demonstrar o quanto o modelo brasileiro de escolha dos dirigentes das IFES, com consulta direta à comunidade, tem que ser respeitado e aprimorado.
Nos últimos anos mudou profundamente o perfil do quadro docente. O professor comprometido com as causas sociais e coletivas, que aliava atividade intelectual com uma práxis política, foi sendo substituído pelo atual do padrão MEC-Capes-CNPQ que, a despeito da grande especialização e títulos, é muitas vezes analfabeto político, como definiu Brecht. Correndo atrás dos índices de produtividade exigidos pelo modelo atual "publish or perish" (publicar ou perecer) perde-se o compromisso crítico e exacerbam-se os egos e o individualismo. Neste universo a preservação do status quo é sempre uma tendência.Nesta eleição ficou claro que a se a escolha do próximo dirigente da UFPA tivesse sido feita dentro do que a legislação atual prevê, prevaleceria a força da caneta e o resultado seria a manutenção da equipe atual.
A eleição direta, o debate, a participação, o controle social pela mídia, colocaram a roda a girar e este movimento possibilitou a manutenção da saúde civil da instituição contra a acomodação e a transferência burocrática do poder dentro do mesmo grupo.
É por isso que o 30 de março foi, em certo sentido, heróico.
Para ser coerente na presente análise é importante que se diga que alguns fatores anteriores ao processo eleitoral contribuíram para esta convergência de resultados: a postura belicosa do atual reitor em relação às entidades representativas da comunidade universitária; o fato de Maneschy não ser vinculado aos principais partidos políticos com interesse na Universidade; a maneira como foi encaminhada a política de redimensionamento do pessoal técnico.
Mas a realidade é resultado de "múltiplas determinações" e dependendo da forma como agimos os resultados podem variar.
Felizmente, aí a fortuna, o resultado favoreceu a "boa causa" da UFPA.É por isso que se soubermos aproveitar este momento histórico, se assim o quisermos podemos refundar a UFPA.
Para isso seria necessário:
- Firmar um compromisso pela universidade pública, gratuita e de qualidade.
- Garantir que não haja ingerência da nova administração nos processos eleitorais internos de cada unidade acadêmica.
- Garantir que não haja ingerência da nova administração nos processos eleitorais internos das entidades representativas da comunidade universitária.
- Buscar um posicionamento suprapartidário focado nos interesses da universidade.
- Respeito à diversidade de idéias e posicionamentos políticos.
- Pacto contra a mediocridade: que os professores ensinem e pesquisem; que os estudantes estudem e aprendam e que os servidores cumpram com seus deveres no serviço público.
- Focar no papel histórico e no interesse social da instituição para além dos corporativismos.
- Que se coloque em ação um programa de mobilização cultural e de cidadania como forma de vencer a maré baixa da alienação e da superficialidade.

* Flávio Sidrim Nassar é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA e coordenador do Fórum Landi.

9 comentários :

Edilson Motta disse...

A eleição do Reitor da UFPA e uma memória de 350 Anos.



Um resultado trágico a ser recordado ocorreu com a Paz de Mapuá (1659), a "conversão" promovida por Vieira menos pelo poder da cruz e mais pela imagem das muitas armas Tupinambás que o acompanhavam: Nheengaíbas, tantas nações da Ilha Grande de Joanes, avançaram para ficar apenas na memória, desapareceram.



Conflitos entre pares, entre próximos, entre parauaras, teremos sempre; direito a nos afirmar em nossa diversidade também; apelar ou nos subordinar à coerção, seja ela apenas estética, a isto não temos direito. É a própria sobrevivência e razão de nossas mais importantes instituições que periclitam.



Vida longa à Universidade Federal do Pará! Viva, antes de tudo, ao respeito pelas diferenças. Congratulemos, também, quem se manifesta contra as conciliações apressadas, internas ou externas, e recorda o que não pode ser esquecido.


É fundamental recordar uma Memória, por vezes lírica, quase sempre trágica, que sustenta a responsabilidade com as terras do Grão Pará, com essa desembocadura de um Rio de "Almazonas", nome bem conseguido na pena daquele mesmo Padre, o Vieira.

Lisboa, 04 de Abril de 2009
Edilson Motta

Anônimo disse...

O artigo do professor Nassar é muito oportuno no momento em que o país perde Márcio Moreira Alves, um dos lutadores pela democracia e um jornlista e parlamentar exemplar, mostrando que nem sempre a câmara e o senado foram o valhacouto que hoje são.
Nassar propõe uma refundação não em bases utópicas, mas pensando o passado como prova de que é factível o projeto com o qual acena. E a ação política democrática e o pacto pela universidade despontam como única solução para o futuro, que vai mostrar para os mauricinhos e safados da academia e da política que o buraco é mais embaixo e que eles estavam com pressa demais quando sepultaram Marx.

Anônimo disse...

Vamos colocar a coisa nos seus devidos lugares. Leia todo esse documento www.portal.ufpa.br/docs/audin2002.pdf, e coloque em duas colunas as bandalheiras de cada um dos dois grupos.
Depois vamos ao que há de mais xule nesse artigo nassarino:
1) ¨Pacto contra a mediocridade: que os professores ensinem e pesquisem; que os estudantes estudem e aprendam e que os servidores cumpram com seus deveres no serviço público.¨ Fica lindo alguém defendo cargo para docente, o que significa, no mínimo, que não pisará pelo prócimos 4 anos numa sala de aula. Como menos professor, menos aula há para os estudantes assistirem. Como mais professores sem ministrarem aula e fazendo trabalho administrativo ao invés disto, significa menos trabalho para servidores administrativo, proquanto podem passar mais tempo só coçando aquilo. Quando poderiam estarem trabalhando mais e até ganhhando um extra para melhor sobreviver;

2) ¨Que se coloque em ação um programa de mobilização cultural e de cidadania como forma de vencer a maré baixa da alienação e da superficialidade. ¨ Como isso fica possível quando o discurso antes é de ter havido um triunfalismo da mentalidade avançada e superior contra outra que seria retrógrada e golpista;
3)¨as regras previamente acordadas e aprovadas por unanimidade.¨ Deste de quando regras acordadas por conveniência de dosi grupos majoritários num conselho, já é legal, ético e moral. Quando dois grupos de traficantes, por exemplo, fazem um acordo por maioria dos votos dos seus compenentes, isso toda legal tudo que fizerem.

E... se o Presidente não escolher Maneschy? Ele não tem direito de fazer isso?


2)

Anônimo disse...

Flávio,

não deves parar de escrever, eu particularmente gosto dos teus artigos, siga enfrente camarada!

OO

Anônimo disse...

Belo artigo. Sua capacidade de síntese e análise, dimensionam com precisão o momento atual e a "história não tão recente" da UFPa. A academia sobrevive com o compromisso de todos os entes que a formam, em contribuir na construção de uma sociedade melhor. Com vaidade, sectarismo, manipulações demagógicas e ilusórias, não se chega a bom lugar. O momento é propício para o exercício da tolerância, sem esquecer os que se movimentaram de forma escusa e focada no estreito círculo dos seus interesses e de grupos, esquecendo o grande entorno que de fato importa.

Você pode contribuir muito com a gestão que chega, com seu talento, sagacidade e destemor em travar sempre o "bom combate", mesmo quando muitos não enxergam as vias mais perenes, aparentemente íngremes, mas condutoras de novos e profícuos porvir.

Parabéns.

Francisco Potiguara.

Indigenista, Ambientalista, assumiodamente a favor de um mundo melhor

Haroldo Baleixe disse...

Flávio:
Esse estado de “mundiado” — por crer que o mundo é estritamente virtual e o circo tomou proporções planetárias e pode abeira-se, qualquer um, à reputação ou à publicidade dos nobres europeus (ou mesmo assentar-se às suas mesas)—: é uma epidemia docente chamada IN MUNDICE, um entrave que marca época na UFPA.
O currículo é mais que o viço.
A dita ou maldita BIOGRAFIA é mais que a vontade de participar positivamente na construção das mentalidades que idealizarão as coisas, dentro ou fora da Universidade Federal do Pará.
Uma Universidade pode sobreviver maquiada fisicamente, moralmente jamais.
A ELA pedigree tem valor somente à zootecnia.
O investimento em programas de pós-graduação parece ter boçalizado o ensino superior — as castas do Caminho (das Índias) revelam pantomima à semelhança — em vez de torná-lo autônomo e solidário.
Se a nova Universidade preocupar-se com o entorno, alfabetizando politicamente seus vizinhos, será ela um exemplo de vanguarda e modernidade; sem entorpecer por encantamentos "onde o pouco vale mais".
Essa é a melhor ideologia de gestão e sugestão, mesmo que hipnótica.
Um abraço bro.

Anônimo disse...

Ei, Nassar, passa lá no blog do reitor e vê o post onde descreve bonitinho como o Lula quebrou a escrita de seis anos e nomeou um cara para o TSE que não era primeiro da lista mas era amadrinhado da Dilma Russef.
Tu achas que pode ser mais direto o recado?
O Maneschy ainda não foi nomeado e o Torquemada não sai de Brasília.
De onde ele está tirando gás pra criar pro-reitoria na véspera de ir embora?
Pensem, se atentem.

Anônimo disse...

A UFPA, PRECISA MESMO RENASCER MAIS, TA PELO MENOS 20 ANOS ATRASADA.

Anônimo disse...

Terça-feira, 7 de Abril de 2009
Equipe de transição indicada por Maneschy
Atendendo pedido de internauta informo a equipe de transição de Maneschy: Os pró-reitores, Jefferson Galvão e as professoras Regina Alves e Tutuca. É tudo mentira do blogueiro EDir Veiga que quer emplacar seu amiguinho Galvão "O Homem sem Expressão"