terça-feira, 9 de maio de 2017

FUTEBOL – Clube do Remo fica sem o título estadual, mas dribla obstáculos e é o campeão da superação

Remo: garra e determinação, em campanha marcada pela superação.
É o gosto pelo incerto, pelo imponderável, que faz a magia do futebol. Tanto quanto é a garra e a determinação que turbinam a superação, capaz de fazer um time ser respeitado, a despeito do placar eventualmente adverso e da circunstancial frustração da torcida. Nada mais natural, assim, que a reverência que merece de sua exigente e apaixonada torcida a equipe comandada pelo técnico Josué Teixeira, superada pelo arquirrival Paysandu neste último domingo, na decisão do campeonato estadual. Diante de um adversário que vive um ciclo de prosperidade, que se reflete na formação do elenco e nas condições de trabalho oferecidas, o Clube do Remo, mesmo patinando em uma crise sem precedentes em seus 112 anos, fez da garra e da determinação o antídoto para conseguir superar as adversidades, algumas vezes aparentemente intransponíveis, para disputar um título só definido nos minutos finais da partida, esfarinhando o que sugeria a correlação de forças, francamente favorável ao adversário histórico. O título bicolor foi merecido, é verdade, mas foi arrebatado no detalhe de um lance despretensioso em sua origem, transformado no arremate fatal pelo oportunismo do atacante bicolor, não por acaso o artilheiro do campeonato paraense. O Clube do Remo ficou sem o título estadual, mas foi certamente o campeão da garra e da superação, transformando em uma disputa emocionante o que seu adversário chegou a imaginar ser um mero ritual burocrático.
Para além da devoção de uma torcida de comovente paixão, que por osmose parece conseguir inocular sua determinação ao time, a campanha do Clube do Remo deixa lições que podem pavimentar um porvir capaz de resgatar o passado de fartas conquistas. Merece ênfase, por exemplo, a coragem moral do presidente Manoel Ribeiro, que abdicou da tranquilidade que a idade outonal lhe faculta para, arriscando inclusive a imagem de “Marechal da Vitória” do passado, se dispor a administrar um clube cujo passivo é estimado em R$ 25 milhões, com o agravante de padecer da carência de novas lideranças, capazes de expurgar os quadrilheiros que tomaram de assalto o Leão Azul. Com um rigoroso senso de autoridade, além de um compulsivo fascínio pelos holofotes da mídia, o treinador Josué Teixeira soube contornar, com pulso firme, a indisciplina que encontra terreno fértil nas agruras financeiras, com o mérito adicional de valorizar os nascentes talentos revelados pelas divisões de base.

Saber administrar o significado do legado que representa a campanha do time azulino no campeonato estadual é o desafio que se coloca hoje, para os dirigentes do Clube do Remo. Sempre na perspectiva da lição que fica: jamais tomar como impossível o que é apenas aparentemente - e tão-somente aparentemente – improvável. Afinal, como nos ensina a história, o homem não se coloca desafios que não consiga superar, desde que seja capaz de substituir a pressa pela serenidade, o impulso pela reflexão, a ambição pela generosidade.

Um comentário :

André Carim disse...

Parabéns pela brilhante e imparcial análise. O Clube do Remo saiu maior dessa derrota.