segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

BARBÁRIE – Matança de sexta-feira supera chacina de 2014 e evidencia sucateamento da segurança pública

Simão Jatene: inércia diante da nova chacina que aterrorizou Belém.

Por si só e pela gravidade do que lhe deu causa, é demasiadamente chocante, para ser banalizada, a matança registrada ao longo de sexta-feira, 20, com a sucessão de 25 mortes, todas com características de execução, que se seguiu ao assassinato do PM Rafael da Silva Costa, de 29 anos, soldado da Rotam, a Ronda Tática Metropolitana, durante uma perseguição a suspeitos de assalto, ainda na manhã de sexta-feira (Leia aqui). Para além de evidenciar o sucateamento da segurança pública, que fragiliza o que seria uma unidade de elite da Polícia Militar, tornando-a vulnerável até a bandidos pés-de-chinelo, o episódio evidencia mais uma vez, pela barbárie deflagrada na esteira do assassinato do soldado da Rotam, que a PM entranhou a selvageria da bandidagem que deveria combater e com a qual, hoje, frequentemente se confunde. como evidenciam as milícias.
As 25 execuções registradas sexta-feira, 20, superam quantitativamente o saldo da chacina ocorrida em 2014, entre a noite de 4 e a madrugada de 5 de novembro, que deixou 11 mortos, em sua maioria jovens e sem antecedentes policiais, como retaliação pelo assassinato do cabo da PM Antônio Marcos Figueiredo, o cabo Pet, que comandava um grupo de extermínio e foi morto em um acerto de contas entre bandidos (Leia aqui). Naquela ocasião, a matança foi deflagrada por policiais militares, em um modus operandi semelhante ao verificado nas 25 execuções ocorridas sexta-feira, apenas dispensando a pantomina policial que evidenciou a ostensiva participação de PMs na matança indiscriminada de 2014 (Leia aqui).
O denominador comum, entre um episódio e outro, é a incapacidade do governador Simão Jatene (PSDB) em assumir as responsabilidades que o cargo lhe impõe e em oferecer respostas capazes de contemplar um melhor aparelhamento dos órgãos de segurança pública. Restou, como de praxe, o mise-en-scène, que obviamente incluiu a recomendação de “rigorosa apuração”, dessa vez acrescida de um tal “gabinete permanente de situação”, uma dessas empulhações midiáticas, como álibi para dissimular, para consumo externo, o repulsivo silêncio do governador, que traduz a inércia da sua administração, cujo corolário, em matéria de segurança pública, é a escalada da criminalidade, que hoje contamina a própria polícia. De resto, para arrematar a propaganda enganosa, Simão Jatene, telefonou para o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e pediu ajuda do governo federal nas investigações dos crimes.
É sob essa atmosfera de lassidão, que fragiliza a segurança pública e por via de consequência estimula a criminalidade, que medra com vigor o clima de barbárie sob o qual vive o Pará e, em particular Belém. Barbárie que não distingue o cidadão indefeso do bandido, com o qual passa a se confundir quem deveria reprimi-lo, pela própria corrupção que contamina o aparelho policial e a leniência diante da bandidagem institucionalizada.

A permissividade que permite a polícia permitir-se execuções indiscriminadas, a pretexto de retaliar bandidos, é uma espécie de habeas corpus preventivo para a violência policial da qual é vítima frequente o cidadão em geral e a população carente, em particular. Daí emerge a dolorosa pergunta, que não quer calar: a polícia em tese nos protege dos bandidos, mas quem nos protege da polícia?

Um comentário :

Anônimo disse...

Fechar 26 escolas com desculpa esfarrapada e idiota e irresponsável! Essa é a proposta de melhorar as condições de acesso aos cidadãos de Belém. Abrir presídio dá lucro maior não é?