quarta-feira, 5 de outubro de 2016

ELEIÇÕES – Para Roberto Corrêa, desempenho na TV e alianças definirão confronto entre Zenaldo e Edmilson

Roberto Corrêa: TV e alianças
no centro do embate eleitoral.
O desempenho na TV, cujos tempos destinados aos candidatos serão iguais, e as alianças costuradas deverão ser decisivos no confronto travado entre o prefeito Zenaldo Coutinho, do PSDB, com o deputado federal Edmilson Rodrigues, do PSOL, no segundo turno da eleição para a Prefeitura de Belém. Essa é a convicção do professor Roberto Corrêa, 71, respeitado não só pela sólida formação acadêmica, mas também pela experiência acumulada em sua extensa militância política, dividida entre o PCB do passado, que privilegiava a via eleitoral mesmo em tempos de ditadura militar, e o PMDB da resistência democrática, que tornou-se governo. Graduado em ciências econômicas pela UFPA, a Universidade Federal do Pará, com mestrado e doutorado em ciências políticas pelo IUPERJ, o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Roberto Corrêa foi servidor de carreira do Basa, o Banco da Amazônia S/A, e professor da UFPA. Hoje aposentado, ele mantém-se, porém, em atividade, como pesquisador na área de ciências políticas.
A despeito do desgaste da classe política, imposto pela sucessão de escândalos e das revelações escancaradas na esteira da Operação Lava Jatos, Roberto Corrêa acredita que, para além do desempenho dos candidatos, a migração de votos será um componente importante na definição do segundo turno da eleição em Belém. “A transferência de votos pode ser chamada de ficção, mas não é de todo desprezível, porque o atual sistema eleitoral estimula isso”, pondera. Sobre a destinação dos votos dos principais candidatos que ficaram de fora do segundo turno, ele arrisca um prognóstico. “Os votos de Úrsula Vidal, que em tese são de parcela mais esclarecida do eleitorado, tendem – veja bem, eu digo tendem! – a ir em direção a Edmilson Rodrigues. Já o destino dos votos dados ao Éder Mauro, que expressam uma espécie de conservadorismo paroquial, deverão ir para Zenaldo. Os votos do PMDB vão depender dos acertos que ocorrem em Brasília”, arrisca, em breve entrevista concedida ao Blog do Barata.

O que poderia explicar a inesperada vitória do tucano Zenaldo Coutinho, já no primeiro turno, a despeito do seu pífio desempenho como prefeito de Belém?

Penúria de campanha misturada com tempo de televisão e competência midiática do candidato, isso sem considerar outros fatores, que me lembram o poeta Ruy Barata, quando dizia que a chave do cofre ajuda e muito...Zenaldo e sua equipe apostaram nos indecisos que, na proximidade do dia da eleição, tendem a se definir. Por outro lado, Edmilson não foi estratégico nas resposta que deveria ter dado a Zenaldo [no derradeiro debate entre os candidatos], terminando por escorregar numa casca de banana. Refiro-me a pergunta formulada por Zenaldo sobre o salário de deputado federal face a suposta autoimagem de modéstia que teria sido pregada em campanha por Edmilson. Casca de banana em que Edmilson mais uma vez escorrega. Lembro que na campanha passada, no último debate do segundo turno, casca de banana semelhante foi jogada, com Edmilson escorregando. Debate é coisa séria quando a disputa encontra-se polarizada.

Para além das utilização das máquinas administrativas estadual e municipal, da propaganda enganosa e das obras eleitoreiras, o que pode explicar as sucessivas vitórias, ocorridas em Belém, de candidatos estigmatizados pelos seus antecedentes e/ou pelo desempenho pífio como gestor? Belém é a capital do atraso político?

É difícil responder essa pergunta sem me referir à vantagem que um candidato leva por ser o executor de políticas que, mesmo passíveis de pesadas criticas, têm por virtude o fato de que todo o governante é príncipe para uns e tiranos para outros. Essa é a frase com que Machiavel, lá no alvorecer da segunda metade do século XVI, nominava as características de qualquer príncipe, isto é, governante. O prefeito, por estar perto do povão, tem a vantagem de exercitar esse papel com maestria e, convenhamos, Zenaldo tem essa virtude.

Por todo o Brasil, viu-se o fracasso, nas eleições deste último domingo, dos candidatos alinhados contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Esse fenômeno também poderia justificar a inesperada derrota, no primeiro turno, de Edmilson Rodrigues, na contramão, inclusive, das pesquisas de intenção de voto?

O PT, sim, pagou caro por isso, com redução de 70% do número de prefeituras que detinha. O PSOL e outros partidos de esquerda, não. Ao contrário. O voto de esquerda continua existindo e se fortalece a medida que os ajustes necessários a recolocar a economia nos trilhos atinge os mais necessitados, que são os eleitores potenciais da esquerda, com está provado na maioria das democracias, sobretudo as europeias.

Como o senhor avalia o fenômeno Úrsula Vidal, a candidata da Rede, uma neófita na política, mas que superou até o ex-reitor Carlos Maneschy, o candidato do PMDB, que teve o apoio do senador Jader Barbalho, a mais longeva liderança da história política do Pará, e do ministro Helder Barbalho, da Integração Nacional?

Maneschy chegou tarde ao ringue da disputa eleitoral. Assim mesmo teve um crescimento de 350%, saindo de 2% para chegar a 10% no dia da eleição. Úrsula Vidal inaugurou uma nova forma de abordar as questões políticas, fazendo uma excelente apresentação de suas intenções de governo, empolgando os mais exigentes. Úrsula apresentou temas que não foram tratados pelos demais candidatos. Foi, sem sombra de dúvida, a candidatura mais surpreendente no último debate.

Qual o provável destino dos votos dos candidatos excluídos do segundo turno?

Os votos de Úrsula Vidal, que em tese são de parcela mais esclarecida do eleitorado, tendem – veja bem, eu digo tendem! – a ir em direção a Edmilson Rodrigues. Já o destino dos votos dados ao Éder Mauro, que expressam uma espécie de conservadorismo paroquial, deverão ir para Zenaldo. Os votos do PMDB vão depender dos acertos que ocorrem em Brasília.

É possível supor a transferência automática de votos, em um cenário de profundo desgaste da classe política, com a sucessão de escândalos e as revelações feitas pela Operação Lava Jato?

A transferência de votos pode ser chamada de ficção, mas não é de todo desprezível, porque o atual sistema eleitoral estimula isso. Tanto Éder Mauro, como Úrsula Vidal, como Maneschy, serão importantíssimos no segundo turno, quando o tempo de TV será igual. Os arranjos certamente estão se dando.

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