domingo, 23 de outubro de 2016

COOPERDOCA – Na indiferença dos PMs diante do espancamento, o reflexo da omissão da oficialidade

PM assiste, impassível, espancamento de travesti, na Doca: leniência
estimulada pela omissão da oficialidade diante dos desvios de conduta.

Choca, certamente, mas não surpreende a leniência dos PMs que assistiram impassíveis o brutal espancamento, na Doca de Souza Franco, de um travesti, suspeito de assaltar e até agredir taxistas da Cooperdoca, a Cooperativa de Táxi da Doca. Mal remunerada e embrutecida pela escala da criminalidade, com a qual convive e às vezes se confunde, a leniência dos policiais militares apenas reflete a omissão criminosa da oficialidade da PM diante da violência policial e dos desvios de conduta que tisnam a imagem da corporação e transformam parcela de PMs em autênticos bandidos fardados.
Enquanto deleita-se com privilégios e mordomias só a si reservados e dedica-se com afinco ao tráfico de influência, a oficialidade da PM segue indiferente ao grosso da tropa e, para compensar as precárias condições de trabalho e a péssima remuneração, convive placidamente com a bandidagem fardada, como evidenciou a Chacina de Belém. Para quem não se recorda: a Chacina de Belém deixou 11 mortos, em sua maioria jovens, foi iniciada na noite do dia 4 de novembro de 2014 e se estendeu pela madrugada do dia 5, em uma matança indiscriminada, concentrada principalmente nos bairros da Terra Firme, Guamá, Jurunas e Sideral. O estopim para as execuções foi o assassinato, na noite de 4 de novembro de 2014, do cabo Antônio Marcos Figueiredo, o Pet, que comandava um grupo de extermínio. A matança chocou a opinião pública e foi corajosamente repercutida na Alepa, a Assembleia Legislativa do Pará, pelos deputados Edmilson Rodrigues (PSol), hoje deputado federal, e Carlos Bordalo (PT), reeleito, que integraram a CPI das Milícias.

Perdura até hoje, à espera de uma resposta convincente, a pergunta que não quer calar: em se sabendo da rigidez da hierarquia militar e da incansável rede de arapongagem da corporação, como pretender que o crime organizada introduziu-se na PM, a ponto de permitir que um cabo fosse chefe de milícia, sem a conivência ou participação de expressivos setores da sua oficialidade, por ação ou omissão? Sem a leniência da sua oficialidade, a PM não institucionalizaria a venda de proteção à qual dedicam-se prosaicamente suas baixas patentes, pare reforçar a remuneração vil. A venda de proteção, sabe-se, é própria da bandidagem, como ilustra a existência das milícias.

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