Charge de Luiz Pinto, sobre a tentativa de tornar Ronaldo governador. * |
A despeito das
recorrentes suspeitas de corrupção e tráfico de influência associadas ao seu
nome, em sua trajetória política Ronaldo Passarinho enfrentou um único percalço
mais grave, terrivelmente constrangedor para o tio ilustre, Jarbas Passarinho,
cuja probidade pessoal sempre foi reconhecida até pelos mais implacáveis
adversários. Em 1971, nomeado secretário de Governo do ex-governador Fernando
Guilhon, um homem reconhecidamente honesto e ungido para o cargo sob o aval de
Jarbas Passarinho, Ronaldo teve seu nome vetado pelo SNI, devido exatamente as
suspeitas de improbidade. Nem a interferência direta de Jarbas junto ao próprio
general-presidente Emílio Garrastazu Médici conseguiu livrá-lo do veto, impondo
ao tio pessoalmente probo um vexatório constrangimento. Sobretudo diante das
disputas paroquiais travadas com o coronel Alacid Nunes, que tornara-se seu
inimigo figadal, após ser por ele avalizado como prefeito de Belém e governador
do Pará, nos primeiros anos da ditadura militar.
A solução, para
poupar Jarbas Passarinho de um vexame público foi Ronaldo protagonizar uma
farsa, ao simular um problema de saúde, e sair de cena, compelido a arquivar,
pelo menos momentaneamente, a pretensão de tornar-se futuramente governador do
Pará. A grande imprensa paraense manteve-se silente sobre o interdito proibitório,
só noticiado pelo jornal Resistência, da SPDDH, a Sociedade Paraense de
Defesa dos Direitos Humanos, do qual era editor o jornalista Luiz Maklouf
Carvalho. Posteriormente, Luiz Maklouf Carvalho fez carreira na grande imprensa
brasileira e tornou-se um respeitado escritor, com livros como “Contido a bala
– A vida e a morte de Paulo Fonteles” (Editora Cejup, 1994); “Mulheres que
foram à luta armada” (Editora Globo, 1998), vencedor do Prêmio Jabuti de
Reportagem de 1999; “Cobras Criadas – David Nasser e O Cruzeiro” (Editora
Senac/SP, 2001); “Já vi esse filme – Reportagens (e polêmicas) sobre Lula e o
PT (1984-2005)” (Geração Editorial, 2005); e “João Santana: Um Marqueteiro no
Poder” (Editora Record, 2015).
Apesar do veto
do SNI, mas blindado pelo prestígio de Jarbas Passarinho, Ronaldo Passarinho
fez carreira política, elegendo-se deputado estadual por sucessivos mandatos,
culminando com a régia aposentadoria como conselheiro do TCM, um tribunal de
utilidade e probidade duvidosas, mais conhecido como Palácio das
Sinecuras, quesito no qual rivaliza com o TCE, o Tribunal de Contas do
Estado do Pará. Ele até voltou a ser cotado para governador, já sob o regime
democrático, em articulações que passavam por Jarbas Passarinho, então ministro da Justiça; Jader Barbalho, cumprindo seu segundo mandato como governador; Augusto Rezende, prefeito de Belém na época; e Romulo Maiorana Júnior, presidente executivo do grupo de comunicação da família e ungido sucessor do pai, Romulo Maiorana, que morrera de câncer em 1986. As articulações naufragaram quando Jarbas Passarinho foi
defenestrado do Ministério da Justiça, para o qual fora nomeado no governo de
Fernando Collor, o primeiro presidente eleito pelo voto direto após a ditadura
militar. Uma sucessão de escândalos desembocou no impeachment de Collor,
despejado do Palácio do Planalto por corrupção, assumindo então seu vice,
Itamar Franco, de perfil provinciano, notoriamente turrão, mas probo. O
ministro da Fazenda de Itamar Franco, o tucano Fernando Henrique Cardoso, que
viria a tornar-se seu sucessor, foi quem patrocinou o Plano Real, com o qual o
Brasil conquistou a estabilidade econômica, agora ameaçada, após sucessivos
governos do PT. O tucano Fernando Henrique Cardoso, o FHC, um respeitado
intelectual e político reconhecidamente hábil, com perfil de estadista,
protagonizou o governo da estabilidade econômica. Foi ele quem tornou possível
o petista Lula, um político sagaz e de colossal carisma, mas intelectualmente
chucro e desprovido de preocupações éticas, tornar-se o presidente da inclusão
social, sendo adicionalmente mitificado pela origem operária, apesar de hoje
confundir-se com a escória do petismo e da própria política brasileira.
* Na
charge de Luiz Pinto, o Luizpê, de 1992, a alegoria sobre as articulações
mirando na candidatura de Ronaldo Passarinho a governador. Na charge figuram
Hélio Gueiros, na ocasião rompido com Jader Barbalho e desafeto histórico
de Jarbas Passarinho, à margem, empunhando uma baladeira, pronto para atingir
Ronaldo Passarinho. Este figura no andor carregado (em sentido horário) por
Jarbas Passarinho, senador e ministro da Justiça; Jader Barbalho, governador;
Romulo Maiorana Júnior, presidente executivo das ORM, Organizações Romulo
Maiorana, então Grupo Liberal; e Augusto Rezende, na época prefeito de Belém.
Publicada no Jornal Pessoal, de Lúcio Flávio Pinto, a charge provocou a
demissão de Luiz Pinto de O Liberal, sem justa causa.
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