terça-feira, 12 de janeiro de 2016

BELÉM, 400 ANOS – A capital da resiliência

O convite para a festa pífia, em uma cidade soterrada pelo lixo...
...e pela incúria, que provocou protestos contra Zenaldo Coutinho.

O que comemorar, além do amor que perdura incólume, a despeito das adversidades impostas pelo desdém dos inquilinos do poder, de previsível efeito piramidal e que, como bumerangue, volta-se contra a população contaminada pelo menosprezo que sucateia a cidade, cuja beleza resiste teimosa e comoventemente aos seus predadores? Para além dos rufar dos tambores da propaganda enganosa, do estelionato publicitário que mascara a avassaladora incompetência administrativa dos poderosos de plantão e do oba-oba do jornalismo bajulativo, esta é a indagação que fatalmente emerge neste 12 de janeiro, quando Belém completa 400 anos de fundação. Um aniversário que, na ausência de benefícios à cidade e sua população pelo poder público, a capital paraense vê assinalado por comemorações pífias, mas ironicamente dignas, em sua indigência, da desídia de seus algozes engravatados, verdadeiros serial killers da esperança, dos quais são lídimos representantes o prefeito Zenaldo Coutinho e seu patrono e avalista político, o governador Simão Jatene, expoentes da tucanalha, a banda podre do PSDB.
Belém permanece fascinante, é verdade. Perduram suas belezas naturais, a imponência dos casarios que resistem a expansão imobiliária, o suntuoso legado arquitetônico de Landi, a peculiaridade de sua exótica e saborosa culinária, os resquícios materiais do fausto proporcionado pela prosperidade do distante ciclo da borracha. Como resistir ao encanto dos túneis de mangueiras, herança do intendente Antônio Lemos e que aplacam o calor tropical, ou a atração de um português muito próprio, com expressões cujo uso identificam a origem inconfundível, com seus termos tão característicos? Sob essa perspectiva, Belém, resumindo, continua paidégua, o termo que designa algo lindo, ou extraordinário, ou esplendoroso.
Mas Belém desponta, sobretudo e principalmente, como a capital da resiliência. Só isso explica manter o seu encanto, apesar de uma realidade deprimente, em decorrência do abandono a que foi relegada. Eventual glamour à parte, Belém, hoje, incorpora a decadência pavimentada pela incúria governamental, no limite do escárnio, capaz de permitir ao governador Simão Jatene e ao prefeito Zenaldo Coutinho, dois incorrigíveis farsantes, cumprirem aprazíveis périplos internacionais, às vésperas do aniversário de 400 anos da capital do estado. Nada mais emblemático da desfaçatez das elites políticas do Pará, para a qual a população, sobretudo o seu segmento humilde, serve apenas como massa de manobra e a qual é reservada a migalha de um bolo de colossal extensão, como prêmio de consolação. Trata-se da expressão de uma prestidigitação midiática, a qual se soma o recorrente assistencialismo eleitoreiro, que fixa ao invés de livrar o homem da pobreza e da miséria. A cidade segue suja, fétida, mesmo, soterrada pelo lixo, com ruas transbordando a cada chuva, pouco importando a intensidade do aguaceiro, praças históricas abandonadas, em um cenário deplorável, que não poupa sequer os bairros nobres.
O que Belém necessita é um efetivo compromisso de seus administradores com políticas públicas eficazes, balizadas pela determinação política. A cidade, recorde-se, figura em segundo lugar no ranking das 10 piores capitais brasileiras em matéria de IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano, atrás apenas de Macapá. Belém também está incluída entre as 10 cidades brasileiras com os mais precários índices de saneamento básico. Segundo o IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em um levantamento feito com base no censo de 2010, pelo menos um terço da população da cidade não sabe o que é ter rede de esgoto em casa. A capital paraense lidera o ranking de cidades brasileiras com mais de 1 milhão de habitantes que não dispõem de redes de esgoto e que mais acumula lixo pelas ruas. Juntamente com Manaus, é também a cidade brasileira com menor percentual de arborização urbana. Em 44,5% das residências de Belém há um esgoto a céu aberto passando na porta.
Em Belém, convém lembrar, 5.700 crianças de até 5 anos de idade podem ficar sem vagas em creches em 2016, conforme projeções da própria Semec, a Secretaria Municipal de Educação. Em termos de saúde pública, o incêndio do Pronto-Socorro Municipal da travessa 14 de Março é emblemático do descaso oficial, apesar das cobranças e advertências prévias do Ministério Público Federal e do Sindicato dos Médicos do Pará, solene e criminosamente ignoradas pelo prefeito Zenaldo Coutinho, um vagabundo profissional, que jamais teve um emprego na vida e prosperou na esteira do estelionato eleitoral. Disso resultou Belém passar a dispor, apenas, do PSM do Guamá, no qual a superlotação e as precárias condições de funcionamento levam a cenas degradantes, com pacientes sendo atendidos na calçada. No quesito saúde pública, o município segue o padrão de sucateamento do estado: ainda em janeiro do ano passado, a Sespa, a Secretaria de Estado de Saúde Pública, reconheceu um déficit de 6 mil leitos hospitalares.
O sucateamento da segurança pública, de resto, ilustra a degradação imposta à capital paraense. No ranking das capitais mais violentas do Brasil, Belém figura em sétimo lugar, superada apenas por Fortaleza, Maceió, São Luís, Natal, João Pessoa e Teresina. Belém também figura no ranking das 50 cidades mais violentas do mundo.
Diante do abandono no qual patina Belém, o que festejar? No máximo a esperança, a ser depositada na justa indignação de quem efetivamente ama esta cidade, como ilustram os protestos com os quais foi recebido o mise-en-scène de Zenaldo Coutinho nesta terça-feira, 12 de janeiro. O que enseja, para os obstinados militantes da esperança inquebrantável, a lembrança dos versos do poeta:

Cresço em tempo e eternidade,
cresço em luta, cresço em dor,
não fiz meu verso castrado
nem me rendo ao opressor,
cresço no povo crescendo,
cresço depois que me for.


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