terça-feira, 23 de junho de 2015

GREGORIO DUVIVIER – Querido pastor*

Duvivier: ator, escritor e um dos criadores do portal Porta dos Fundos.

Querido pastor,

Aqui quem fala é Jesus. Não costumo falar assim, diretamente -mas é que você não tem entendido minhas indiretas. Imagino que já tenha ouvido falar em mim -já que se intitula cristão. Durante um tempo achei que falasse de outro Jesus -talvez do DJ que namorava a Madonna- ou de outro Cristo -aquele que embrulha prédios pra presente- já que nunca recebi um centavo do dinheiro que você coleta em meu nome (nem quero receber, muito obrigado). Às vezes parece que você não me conhece.
Caso queira me conhecer mais, saiu uma biografia bem bacana a meu respeito. Chama-se Bíblia. Já está à venda nas melhores casas do ramo. Sei que você não gosta muito de ler, então pode pular todo o Velho Testamento. Só apareço na segunda temporada.
Se você ler direitinho vai perceber, pastor-deputado, que eu sou de esquerda. Tem uma hora do livro em que isso fica bastante claro (atenção: SPOILER), quando um jovem rico quer ser meu amigo. Digo que, para se juntar a mim, ele tem que doar tudo para os pobres. "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus".
Analisando a sua conta bancária, percebo que o senhor talvez não esteja familiarizado com um camelo ou com o buraco de uma agulha. Vou esclarecer a metáfora. Um camelo é 3.000 vezes maior do que o buraco de uma agulha. Sou mais socialista que Marx, Engels e Bakunin -esse bando de esquerda-caviar. Sou da esquerda-roots, esquerda-pé-no-chão, esquerda-mujica. Distribuo pão e multiplico peixe -só depois é que ensino a pescar.
Se não quiser ler o livro, não tem problema. Basta olhar as imagens. Passei a vida descalço, pastor. Nunca fiz a barba. Eu abraçava leproso. E na época não existia álcool gel.
Fui crucificado com ladrões e disse, com todas as letras (Mateus, Lucas, todos estão de prova), que eles também iriam para o paraíso. Você acha mesmo que eu seria a favor da redução da maioridade penal?
Soube que vocês estão me esperando voltar à terra. Más notícias, pastor. Já voltei algumas vezes. Vocês é que não perceberam. Na Idade Média, voltei prostituta e cristãos me queimaram. Depois voltei negro e fui escravizado -os mesmos cristãos afirmavam que eu não tinha alma. Recentemente voltei transexual e morri espancado. Peço, por favor, que preste mais atenção à sua volta. Uma dica: olha para baixo. Agora mesmo, devo estar apanhando -de gente que segue o senhor.


* Publicado na Folha de S. Paulo de segunda-feira, 22. Gregorio Duvivier é ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos. Escreve às segundas na Folha.

4 comentários :

Anônimo disse...

A presidente Dilma sancionou a Medida Provisória 668, que eleva os tributos sobre produtos importados, mantendo o cancelamento de multas aplicadas a entidades religiosas e a construção de um shopping na Câmara dos Deputados. O Presidente da Câmara Eduardo Cunha inseriu nesta Medida Provisória um artigo que aumenta a isenção fiscal de igrejas. O “jabutí” - nome dado a temas inseridos em MPs, que sejam estranhos à proposta original. O artigo incluído por meio de Cunha que é evangélico beneficia principalmente as igrejas evangélicas neopentecostais. Esta lei pode permitir a anulação de autuações fiscais. As multas da Receita Federal atingem 178 instituições religiosas. Algumas com penalidades que ultrapassam os 200 milhões de reais. Que ajuste fiscal é este? As igrejas fora? Por que?

Anônimo disse...

Você vai sentir vontade de vomitar, mas é preciso ver um vídeo que está circulando pelas redes sociais, no qual o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, ensina seus incautos fiéis a tirar dinheiro do aluguel e dar para ele. É uma espécie de manual cristão do achaque, mas serve para dar a dimensão exata do tipo de gente que está influenciando parte considerável da sociedade brasileira, além de impor uma agenda política retrógrada e perigosamente medieval ao Congresso Nacional. (DCM)

Anônimo disse...

Jesus como um grande reformador e contestador da sua própria religião o judaísmo, não aceitava como certo e indiscutível os dogmas apresentados pelos fariseus que eram a maioria em sua igreja. Um grande exemplo era não se misturar e nem misturar a religião com os governantes. Exemplo bíblico Mateus 22, de 15 a 22 - Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam nalguma palavra;
E enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos, dizendo: Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens.
Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não?
Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas?
Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro.
E ele diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição?
Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

Anônimo disse...

primeiramente que Jesus não andava descalço e nem estava sempre coma barba por fazer, pois não há evidências nem se ele tinha barba quando na forma humana. Outra coisa essa questão do camelo e da agulha tem que ser mais estudada pelo escritor, pois não é a agulha de costurar que fala e sim uma passagem que tinha no muro das cidades onde o camelo passava apertado. ninguém fica fora do reino dos céus por ser rico e sim por amar mais o dinheiro que a Deus ou o próximo. Existem pastores errados sim, mas a palmatória deles nunca vai ser essa imundice de porta dos fundos.