sexta-feira, 8 de maio de 2015

REMO - Emoção tem limites!

João Elysio: "Euforia da torcida invadiu as redações."

JOÃO ELYSIO*

O clima de oba-oba que certamente contagiou os jogadores do Remo antes do segundo jogo contra o Cuiabá pela decisão da Copa Verde também foi alimentado pela falta de análise crítica de boa parte da imprensa esportiva. Do torcedor, isso é admissível.
Quem assistiu com olhos críticos ao jogo contra o Independente, quando o time azulino venceu por 2 a 0, conquistou o bicampeonato paraense e garantiu vaga na Série D deste ano e nas copas do Brasil e Verde de 2016, percebeu que, sem o volante Ilaílson, a defesa do time comandado por Cacaio ficou desprotegida, tanto que o adversário criou pelo menos três ótimas chances para marcar.
Mas, com o grito de 35 mil torcedores que lotaram o Mangueirão e um gol logo no começo do jogo, o Leão ainda fez mais um e “administrou” a partida.
Após a festa, pouco se falou sobre a fraca atuação do Remo na decisão. Muito pouco sobre os possíveis efeitos da ausência de Ilaínson contra o Cuiabá, talvez porque ele não seja goleador. Como no basquete, no futebol quem defende não tem o mesmo destaque de quem faz gol.
A euforia emanada da torcida remista também invadiu as redações de jornais e estúdios de rádio e TV, cujos profissionais, de olho em audiência proveniente da lua-de-mel com o torcedor, deram a Copa Verde como favas contadas, até porque o Remo poderia perder até por 2 a 0.
Sob forte marcação do Cuiabá, o time azulino não soube o que fazer em campo, porque administrara a cada jogo muitas deficiências. O treinador poderia ter escalado três volantes ou três zagueiros? Poderia, mas, se o fizesse e o resultado fosse a goleada por 5 a 1, seria criticado por ter sido covarde, por ter mudado o esquema que vinha dando certo.
A diferença entre o treinador e o cronista esportivo é que o primeiro avalia antes para tomar decisão e o segundo, depois do jogo terminar. Os comentaristas se encheriam de razão se, mesmo diante da euforia azulina, sustentassem que a virada do Remo era fruto de uma somatória de fatores, incluindo o surpreendente Cacaio, a superação dos jogadores, o grito apaixonado de seus torcedores e olhares atentos dos Deuses do futebol.
Se dependesse somente da bola, hoje o Remo estaria cheio de dívidas e sem calendário.
É raro juntar esses fatores.
O Leão precisa mudar muito para sonhar com a Série C, pois nem sempre os Deuses do futebol olham para quem não está à altura de suas tradições.

* João Elysio Guerreiro de Carvalho é jornalista, com passagem marcante na imprensa esportiva do Pará.


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