quarta-feira, 8 de abril de 2015

OPINIÃO – Dilma, entre Collor, Sarney e Ana Júlia

SILVIO KANNER*

Ao contrário do que o titulo sugere, que a presidente Dilma está governando o país ao lado de Collor e Sarney, isso não é nenhuma observação original e brilhante. Não é isso que este artigo pretende esboçar. A recente pesquisa de (in)popularidade do governo deixa prever duas perspectivas politicas principais para os próximos três anos: o impeachment ou a “sarneyzação”. Esta última mais provável.
Imbicado rumo ao solo, o governo expressa poucos sinais de forças para uma arremetida. Os resultados econômicos ruins já estão previstos até pelo menos a metade do mandato e dada a atual composição politica do Legislativo, pelo menos até as eleições de mesa diretora que devem ocorrer também no meio do mandato, não se vislumbra mudança positiva no cenário político. Sem falar que é quase certo que um vetor de desidratação eleitoral do PT deve influir decisivamente nas eleições municipais de 2016.
Considerando essa realidade, a presidente Dilma terá apenas dois anos para recolocar o governo em uma posição favorável. Se solucionar os problemas econômicos, for capaz de recompor a base do governo, absorver com dignidade os resultados das eleições municiais de 2016 e ainda promover ações efetivas que permitam uma retomada de popularidade em bases reais.
São difíceis as condições de uma retomada da posição do governo e de seu partido. Os atos e manifestações dos movimentos “sociais” controlados, com discursos em defesa da Petrobras e contra a corrupção, são ridículos e só contribuem para piorar o quadro. A força das ruas e a posição da oposição parlamentar conservadora podem ser decisivas. O governo depende de resultados de outros jogos para se classificar. Se as forças das ruas se ampliarem, a balança pende para o impeachment; se não, a tendência de maior força politica é a “sarneyzação”.
O termo “sarneyzação” é utilizado para explicar um quadro politico marcado pela força da oposição nas ruas e na institucionalidade, de tal forma que não seja forte demais para derrubar o governo, mas forte o suficiente para paralisá-lo. É uma espécie vitória por pontos, diferente de um knock-out. Quanto mais tempo o governo e o PT permanecerem nessa posição, paralisado, acuado nas cordas, mais seu desgaste ampliará e mais certa será sua derrota na contagem final dos juízes dessa luta, os eleitores.  
O termo talvez não se aplique com precisão por que o governo Sarney herdou o Brasil recém-saído de uma ditadura militar, com pouca ou nenhuma experiência democrática, com instituições imaturas, e mergulhado numa crise econômica gigantesca, fruto de um longo processo de endividamento externo. Dilma, por outro lado, tem conseguido tropeçar nas próprias pernas. O PT e seus aliados não têm mais capital politico para convencer os eleitores de que alguém amarrou-lhes os cadaços.
Um governo paralisado, enfraquecido, tendo a frente uma figura débil e semi-morta, e um partido no estagio mais agudo de um ocaso politico, e tudo isso produzido por sua própria incapacidade de perceber que tudo tem limites, embriagado pelo veneno do próprio poder, talvez possa dar margem para a proposição de nova categoria analítica, a “dilmização”. Assistimos isso aqui no Pará, num teatro menor, por isso menos dramático e infinitamente menos trágico. Aos “esquerdo-lesos” que se preocupam com a “volta da burguesia” ao poder, resta o consolo da certeza de que o caminho de retorno do PSDB ao poder no Pará foi devidamente pavimentado, sinalizado e desobstruído pelo próprio PT e pela ex-governadora Ana Júlia Carepa. O pesadelo dos pesadelos é esse. A presidente pode ainda ser a depositária de uma ultima e fatal culpa: o retorno dos bicudos ao Planalto.

 * Mestre em desenvolvimento sustentável e presidente da AEBA.


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