sexta-feira, 7 de novembro de 2014

MATANÇA – O desastre anunciado

        Nada mais ilustrativo do sucateamento da segurança pública no Pará que o desabafo de Paulo Fadul, ao narrar o terror que viveu, juntamente com a filha, de apenas 11 anos, e duas de suas coleguinhas, sob a mira da arma de jovens delinqüentes. Eles foram rendidos na esquina da avenida Governador José Malcher com a travessa Quintino Bocaiúva, a poucos metros do feioso prédio do TCE, o Tribunal de Contas do Estado do Pará, sempre zelosamente protegido por uma guarnição da PM, “que até hoje ainda não descobri se fica ali parado para evitar a entrada de bandidos no Tribunal, ou suas saídas”, como observa, devastadoramente cáustico, Fadul, no desabafo que circulou na blogosfera e foi pinçado pelo Blog do Barata, em 2012.

        “Senhor Governador,

        “Estou escrevendo para agradecer-lhe a oportunidade que o senhor me brindou neste fim de semana, em ter assuntos para conversar com meus amigos. Eu estava me sentindo excluído do grupo, pois era um dos poucos que ainda não havia sofrido um sequestro relâmpago. Mas finalmente meu dia chegou, e agora eu quero relatar como foi esse aprazível episódio. O senhor tem um tempinho? Tudo começou bem na esquina da Quintino com a José Malcher, a 50 metros do Tribunal de Contas do Estado, onde fica estacionado um carro de polícia, e que até hoje ainda não descobri  se fica ali parado para evitar a entrada de bandidos no Tribunal, ou suas saídas, mas isso é outra história, que podemos tratar em outra oportunidade. Pois bem, ali pertinho dois garotos pediram educadamente a mim, minha filha de 11 anos e duas de suas coleguinhas de escola que estavam conosco nesse final de semana, para entrar no carro, quando gentilmente logo assumiram a direção, e com a arma na cabeça de uma delas, informaram que era um assalto. Égua, até que enfim! Euzinho, sendo sequestrado. Que glória!!!! Eles eram muito amáveis e disseram que só queriam os nossos pertences. Nossos, governador. Nossos! Não seu, não da polícia, não dos juízes que costumam soltar em 15 minutos esses bandidos, não dos que repelem a diminuição da maioridade penal. NOSSOS!!! E assim se foram, junto com nossas dignidades, os celulares, carteira, aliança, relógio, enfim, coisitas de pequeno valor, para quem como o senhor mexe com orçamento bilionário, ou se comparado com o contrato da Delta. Mas com o valor de quatro vidas. Ah, eles deixaram o meu surrado radinho de pilha que levo pro Mangueirão. E eu nem pedi. Gente boa, penso que um dia poderão até ser políticos. Bom, continuando, tio, (esqueci de dizer, era assim que também me chamavam, e também de ‘mano’) seguimos a viagem, descendo a Rui Barbosa em direção ao Jurunas, Terra Firme, Marco, Bengui, ou em direção ao nada. Foi uma viagem muito legal, de mais ou menos uma hora – mas não sei porque eu e as meninas tivemos a impressão que durava sete dias. Sabe o que foi legal nessa jornada? Ter que chamá-los de ‘Senhor’, como eles pediram. Muito legal mesmo, porque minha filha e as colegas aprenderam como se respeita uma hierarquia. Que belo momento de aprendizado. Outra momento marcante foi quando eles tiraram a aliança do meu dedo. Nesses tempos de relação homoafetiva, finalmente experimentei como é dar uma aliança pra outro homem. É um momento sublime, quase um segundo casamento. Por falar nisso, o senhor ainda tem a sua? Já colocou no dedo de outro homem? Experimente, pode ser que goste. Mas se ainda a tem, cuide bem dela, porque faz uma falta danada no nosso dedo aquele aro que a gente usa por muitos anos, no meu caso há quase 13. A ironia, e pela primeira e única vez eu faço uma ironia nesta carta, é que estar sem aliança depois de tê-la dado ao ‘mano’, fez de mim e Ana um casal muito mais próximo. Mas é uma pena essa perda, pois eu estava decidido em colocá-la no penhor para fazer uma doação eleitoral pro senhor na próxima eleição. Que grande perda para sua campanha!!!! Bom, seguimos viagem, e eu tranquilão com aquela arma mirando minha filha, que inexplicavelmente chorava, como suas coleguinhas. Logo elas, que adoram a emoção de passear em montanhas russas e insanus. O que elas achavam que podiam fazer aqueles garotos, que podiam ser seus colegas de classe? Mas elas insistiam em chorar. Seus filhos choram, governador? É irritante, né? Principalmente por motivos bobos, como esse. Sabe o que se pensa nessa hora, tio (posso chamá-lo assim, tio?)? Bom, eu particularmente pensava: fodeu-se, os caras vão me meter uma bala na cabeça, e eu vou acabar irritando o governador, que terá de aguentar mais uma daquelas passeatas chatas com todo mundo de camisa branca, minha foto e a palavra paz. Com direito a falar mal do governo no ‘Fantástico’. Veja que injustiça! Como se o senhor tivesse criado esses garotos. Enfim, a mesma ladainha de sempre, que tem surtido muito efeito nas políticas de segurança do nosso estado. Mas ao mesmo tempo eu também pensava: porra, se eu levar o farelo, vou engrossar as estatísticas e o tio pode ir buscar no governo federal uma graninha para alugar mais e mais carros de polícia. Foi aí que me senti mais útil para o povo do Pará que a Rede Globo. Tio, vou ficando por aqui, porque vou cuidar da minha filha, que insiste em estar toda estranha, como se alguma coisa grave tivesse acontecido com ela. Mas nada que um suquinho de maracujá não resolva, né? Quero aproveitar e recomendar ao senhor essa fantástica experiência, e sugerir que dê uma volta de carro com sua família por Belém ou outro município do Pará, de dia ou de noite. Tenho certeza que vai adorar a emoção de encontrar tão amáveis ‘manos’ pelo seu caminho. Mas tem que ir só. Não vale levar batedores, combinado? Despeço-me pedindo perdão por atrapalhar a rotina de seus comandados, tendo que fazer BO, tirar novo RG, carteira de motoristas, etc, etc, etc. Obrigado pela notável experiência e novamente desculpe-me se quase estrago seu final de semana.


        “Paulo Fadul

2 comentários :

Anônimo disse...

Às vítimas da violência urbana:

Não culpem apenas o governador pelas horas de medo e incerteza que vocês e suas famílias já viveram nas mãos da criminalidade. Culpem a população e os eleitores, que não costumam cobrar serviços dos políticos, apenas obras. E o governador Simão Jatene e o prefeito Manoel Pioneiro tem sido muito premiados pela sociedade por desempenharem bem esse papel. Isso mesmo: obras que molduram cenários de decadência das boas tradições, violência, caos e mortes - que colocaram Belém no dia-a-dia das grandes perturbações sociais divulgadas na mídia.

Se fosse possível calcular a razão direta entre investimentos em obras de infra-estrutura (em milhões) e os efeitos favoráveis destes investimentos (serviços) , o governo Simão Jatene alcançaria um índice próximo de 99%; ou seja: o ex-cantor, ex-professor de economia, e "ex-eminente técnico" implantou neste estado a mais bela ineficiência que se possa imaginar.

Nunca a polícia militar esteve tão rica em prédios, tão bem equipada e ao mesmo tempo tão ausente. Se eles ainda se locomovessem em 'patrulinhas de fusquinha', fossem armados apenas com 'revólveres básicos e meia dúzia de balas', mas fizessem rondas diárias e repetidas nos bairros, se atendessem o telefone 190 e fossem imediatamente aos locais socorrer as vítimas, com certeza teríamos menos casos desagradáveis para contar. A PM hoje é nota 10 em intendência e nota 1 em eficiência na segurança dos cidadãos.

Durante algum tempo ouvi e concordei com as autoridades quando diziam que a criminalidade tinha de ser combatida na pessoa dos chefões do crime. Duas décadas depois, constatei que isso é uma meia-verdade, pois os chefões continuam a administrar suas organizações de dentro das cadeias, que facilmente são substituídos nos postos de controle, que isso não diminuiu o crime praticado pela base da organização; ou seja: fui enganado.

Anônimo disse...

Desculpem-me eu estar “metendo” minha opinião, mas sinto o dever de perguntar como consigo cobrar deputados e vereadores que são eleitos por coeficiente eleitoral, ou seja, sem terem votos suficientes para tal?

Nesse caso não sei nem quem deu esse famoso “voto de confiança”, caso soubesse isso mudaria alguma coisa?

Em se tratando do Governador que realmente recebeu votos para assumir um mandato não deveria existir desculpa para cobra-lo, porem existe, ele é que representa o lado credor foi você que votou nele que assinou um cheque em branco, e o que é pior, já sabendo que ele seria sacado antes da data como fez no seu mandato anterior!

Obras de infraestrutura ajudariam no combate a violência sim, rapidez ajuda no combate de um crime, imagine a policia ser avisada via 190 de uma casa tomada de assalto é ter que abandonar a viatura 3 Km antes porque ele não consegue chegar ao local onde ocorre o delito.

Dizer que o governador é 99% em serviços não condiz com a realidade, mesmo com o caixa abarrotado pela taxa mineral a avaliação é inversa, circule nas rodovias com asfalto novo (que são poucas) em maio ai você verá a “qualidade total” na eficiência de maquiagem.

Dizer que a policia militar esta rica em prédios e abarrotada de equipamentos e ao mesmo tempo tão ausente é correto, porem traduz uma ideia errada, tome como exemplo de eficiência os próprios criminosos, eles usam uma moto com dois ocupantes um é responsável apenas pela condução do veiculo e o outro tem toda liberdade de movimento para assaltar , anular uma reação e matar, a PM tem as motocicletas porem não dispõem nem de efetivo para usa-las de forma individual imagine de dupla. Será que essa ausência cobrada é porque o PM é tido como Jesus que mesmo único pode estar em varias funções ao mesmo tempo?

Você não foi enganado, o combate em termos de criminalidade pura deve sim ser imposto à liderança. Ela será reposta? Claro que será porem, não tão eficiente como a anterior nem terá o mesmo respeito o novo ocupante do cargo de chefia, isso fragiliza ao ponto de um grupo criminoso mais dia menos dia chegar ao seu final, surgiram novos grupos já que as politicas publicas estão sendo implementadas no passo do jabuti!

Para melhorar a segurança publica no estado basta a Secretaria de Segurança ter esse lema “ Contrate, Capacite e Remunere”, pois como foi dito de imóveis e equipamentos ela esta muito bem obrigado!

Assinado
Agredido Roubado de Assalto