quinta-feira, 23 de outubro de 2014

BANCO DA AMAZÔNIA – A greve de 2014 e a crise



SILVIO KANNER *

        Na literatura política existem muitas definições de crise, ainda assim, cremos ser possível o estabelecimento de um ponto comum entre essas várias definições, relacionado à indefinição, incerteza, instabilidade. No quadro político real, essa definição de crise se expressa em geral pelo confronto de dois ou mais blocos de interesse/poder cujas posições sobre os caminhos a seguir, visando a superação de uma determinada situação, são por completo divergentes e em certos casos, antagônicos.
        A greve de 2014 no Banco da Amazônia tem a marca de uma crise institucional. Problemas estruturais graves exigem solução, como toda solução na economia, esta também tem um custo, e como é da natureza dos custos, alguém deve saldá-lo. A questão está então em: quem o fará?
        A partir do comando da empresa, sua diretoria devidamente importada para dar cabo ao plano, e devidamente reforçada por um pelotão de artilharia formado por agentes da casa, para evitar um conflito, por que não dizer “nacionalista”, propõe sua estrutura de sacrifícios. Os empregados precisam trabalhar mais; nas palavras do “nosso” diretor de Recursos , “entregar mais”; mas isso não sendo o bastante, devem ganhar menos.
        Mas essa estrutura de sacrifícios, visando a superação da crise que eles agora assumem de forma aberta, é tão somente o plano de saída clássico de uma crise como esta, isto é, aos empregados e clientes cabe o sacrifício, em troca de promessas de uma “terra prometida” à diretoria, ao governo, aos acionistas o esforço de superação da crise não deve lhes retirar nada.
        A diferença, desta feita, está na radicalização do conflito, cujo motor é a nova leitura que a diretoria do banco procedeu, a de que seu plano de superação da crise não terá eficácia se as entidades e, principalmente, a AEBA, com a conduta atual, permanecerem nesta posição. Em vários momentos representantes do batalhão de choque repetem as palavras do chefe e o próprio chefe em pessoa, ao passar pelo piquete num desses dias de greve, tendo perdido a compostura, afirmou categoricamente: “vocês vão quebrar o banco, a culpa será de vocês!”.
        Com isto, ele está querendo dizer que, se vocês continuarem a fazer o seu trabalho, nós não teremos como aplicar nosso plano, que é o único que pode salvar o Banco da Amazônia. Ou, ainda, vocês precisam entender que é preciso sacrifício, o sacrifício de vocês! Tendo compreendido que AEBA e outras entidades não irão se omitir, relativamente à defesa do banco e dos seus associados, o presidente teria decidido omiti-la ele próprio, a partir da força. Chegamos então a uma conclusão, pra não dizer, no mínimo, interessante. Quão frágil é uma instituição que depende da omissão das entidades representativas de classe para gerar resultados ou superar crises. Mas há também conclusões mais nesta situação.
        Chega a ser pueril o argumento de que uma associação como a nossa possa levar à bancarrota uma instituição como o Banco da Amazônia, de 72 anos de existência – e ainda mais se consideramos que toda essa “maldade” é devido à cobrança que fazemos de direitos básicos dos cidadãos e dos trabalhadores, todos eles previstos em lei. Sinceramente, desconhecemos o curso de lógica deste senhor, posto que qualquer criança tem a noção clara de que há uma linha de responsabilidade direta entre os diretores de uma empresa e os seus resultados. Falando em bom português, os diretores do banco são eles, e a eles cabe a responsabilidade direta pelas ações da instituição. Acaso não são eles os agraciados com os louros da vitória, acaso não são eles que fazem jantares, comemoram resultados e aparecem nos jornais?
        A AEBA, por outro lado, compreende a situação, mas aos empregados já nos foi exigido sacrifícios em demasia. Não podemos e não vamos esperar mais dez anos para ver mudanças na situação. Afinal, nenhum dos problemas hoje atravancares do banco foi gerado por seu corpo de empregados, mas tão somente por decisões da diretoria.
        A diretoria do banco e o governo querem transferir sua crise para nós, querem que se acredite que a solução está em nosso silêncio, em nossa abstenção de cobranças, e em nossa passividade diante de planos deletérios. Lamentamos muito, mas isso, não faremos!
        O fato inquestionável dessa realidade é que após mais de sete anos de gestão dos quadros egressos do Banco do Brasil S.A, é preciso que se diga, a partir da imposição dos agentes públicos eleitos ou por estes empossados, a situação do Banco da Amazônia, não mudou em nada – sua política e métodos de gestão não produziram resultados favoráveis, mas sim prejuízos aos já sacrificados empregados. A tudo isso, as entidades respondem com iniciativas políticas e judiciais – eles agora lançam seu furor contra as entidades de forma direta, ou atacando os empregados, na tentativa de afastá-los das posições das entidades.
        Precisamos nos manter unidos e fortes, para defender o Banco e nossos direitos!
        Parabéns a todos que participaram da greve de 2014!
        Ainda temos muitas lutas pela frente!


 * Presidente da AEBA, a Associação dos Empregados do Banco da Amazônia.

Nenhum comentário :