terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

SANTIAGO ANDRADE – O editorial da Rede Globo

William Bonner: editorial da Rede Globo lido no Jornal Nacional.

        Segue, abaixo, a íntegra do editorial da Rede Globo de Televisão, lido por William Bonner, editor-chefe do Jornal Nacional, na edição de segunda-feira, 10, do telejornal:

        “Não é só a imprensa que está de luto com a morte do nosso colega da TV Bandeirantes Santiago Andrade. É a sociedade.
        “Jornalistas não são pessoas especiais, não são melhores nem piores do que os outros profissionais. Mas é essencial, numa democracia, um jornalismo profissional, que busque sempre a isenção e a correção para informar o cidadão sobre o que está acontecendo. E o cidadão, informado de maneira ampla e plural, escolha o caminho que quer seguir. Sem cidadãos informados não existe democracia.
        “Desde as primeiras grandes manifestações de junho, que reuniram milhões de cidadãos pacificamente no Brasil todo, grupos minoritários acrescentaram a elas o ingrediente desastroso da violência. E a cada nova manifestação, passaram a hostilizar jornalistas profissionais.
        “Foi uma atitude autoritária, porque atacou a liberdade de expressão; e foi uma atitude suicida, porque sem os jornalistas profissionais, a nação não tem como tomar conhecimento amplo das manifestações que promove.
        “Também a polícia errou - e muitas vezes. Em algumas, se excedeu de uma forma inaceitável contra os manifestantes; em outras, simplesmente decidiu se omitir. E, em todos esses casos, a imprensa denunciou. Ou o excesso ou a omissão.
        “A violência é condenável sempre, venha de onde vier. Ela pode atingir um manifestante, um policial, um cidadão que está na rua e que não tem nada tem a ver com a manifestação. E pode atingir os jornalistas, que são os olhos e os ouvidos da sociedade. Toda vez que isso acontece, a sociedade perde, porque a violência resulta num cerceamento à liberdade de imprensa.
        “Como um jornalista pode colher e divulgar as informações quando se vê entre paus e pedras e rojões de um lado, e bombas de efeito moral e bala de borracha de outro?
        “Os brasileiros têm o direito de se manifestar, sem violência, quando quiserem, contra isso ou a favor daquilo. E o jornalismo profissional vai estar lá - sem tomar posição a favor de lado nenhum.
        “Exatamente como o nosso colega Santiago Andrade estava fazendo na quinta-feira passada. Ele não estava ali protestando, nem combatendo o protesto. Ele estava trabalhando, para que os brasileiros fossem informados da manifestação contra o aumento das passagens de ônibus e pudessem formar, com suas próprias cabeças, uma opinião sobre o assunto.
        “Mas a violência o feriu de morte aos 49 anos, no auge da experiência, cumprindo o dever profissional.
        “O que se espera, agora, é que essa morte absurda leve racionalidade aos que contaminam as manifestações com a violência. A violência tira a vida de pessoas, machuca pessoas inocentes e impede o trabalho jornalístico, que é essencial - nós repetimos - essencial numa democracia.
        “A Rede Globo se solidariza com a família de Santiago, lamenta a sua morte, e se junta a todos que exigem que os culpados sejam identificados, exemplarmente punidos. E que a polícia investigue se, por trás da violência, existe algo mais do que a pura irracionalidade.”


5 comentários :

Anônimo disse...

Cadeia para os vândalos, são todos bandidos!

Anônimo disse...


Faltava um corpo ou os usos políticos do cadáver

Texto de Camilla de Magalhães Gomes.
Fonte/Blogueiras Feministas.

- Cleonice Vieira de Moraes, de 51 anos, faleceu após inalar gás lacrimogênio de bomba atirada pela Polícia em uma manifestação no dia 20/06/2013.

- Marcos Delefrate, 18 anos, morto atropelado durante manifestação também em 20/06/2013.

- Fernando da Silva Cândido, 34 anos, morto dias depois de inalar gás lacrimogênio em manifestação em 20/06/2013.

- Ademir da Silva Lima, de 29 anos, André Gomes de Souza Júnior, de 16 anos, Carlos Eduardo Silva Pinto, de 23 anos, Ednelson dos Santos, de 42 anos, Eraldo Santos da Silva, de 35 anos, Fabrício Souza Gomes, de 26 anos, Jonatha Farias da Silva, de 16 anos José Everton Silva de Oliveira, de 21 anos, Renato Alexandre Mello da Silva, de 39 anos, Roberto Alves Rodrigues, mortos por ação do BOPE na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, em 24/06/2013, cujos nomes sequer saíram na imprensa.

- Luiz Estrela, morto por espancamento em 26/06/2013 .

- Paulo Patrick, 14 anos, atropelado por um táxi durante manifestação em Teresina, no dia 26/06/2013.

- Douglas Henrique de Oliveira Souza, 21 anos, que, acuado pela ação da polícia, caiu do Viaduto José Alencar durante manifestação em 27/06/2013 e faleceu.

- Luiz Felipe Aniceto, 22 anos, que caiu do mesmo Viaduto que Douglas, morreu em 11/07/2013.

- Um homem, ainda não identificado, atropelado e morto no mesmo dia 06/02/2014 em que o cinegrafista foi atingido pelo rojão.

Estes alguns dos mortos até aqui. Mortos invisíveis e inservíveis.

MAS.

Faltava um corpo. Faltava O corpo. Uma pessoa morta pra servir de mártir e justificar a barbárie do Estado.

Amarildo não deu conta. Morto justamente por essa barbárie, não atendia aos interesses da “lei e ordem” contra as “forças oponentes”. Os mortos acima citados não podiam ser computados, caídos pela ação da Polícia.* O jovem negro amarrado ao poste também não. Vivo, mas sem voz, é também objeto do medo que aceita o genocídio como mecanismo de segurança.

Agora sim, agora chegou o cadáver que servirá de exemplo. E que será diariamente vilipendiado como meio de legitimar a violência de antes (com um efeito retroativo que esconde a genealogia por trás da reação popular) a de agora é a que ainda está por vir — e não será pouca.

Os discursos que se seguirão usarão dele e da compaixão pela dor da família e pela morte precoce e estúpida pra criar o medo e trazer a reboque mais repressão. O cidadão de bem, assustado, agora sim, irá se sensibilizar da fatalidade e, como é de ser nesse ciclo da fabricação do medo, estará junto da violência estatal, que defenderá por ser necessária para sua segurança contra os “terroristas”. **

Sim, é, terroristas. Chegou aquele dia em que o termo ganha os jornais e rádios e tvs brasileiros, inserindo o país nessa “onda global” contra o terrorismo que ignora o verdadeiro terrorismo – o de Estado – e anuncia caricaturas de inimigos, rifando a vida dos mais frágeis e usando a morte de um homem como símbolo.

Em comentário na rádio CBN, os jornalistas usaram o termo ao comentar a morte do cinegrafista.

Está só começando. E não é de se surpreender. Cantamos essa bola TANTAS vezes no ano passado.

O desafio é não comprar o novo inimigo que te vendem.

Estado de exceção: FIFA.

GAME: ON. ***

radiocunha disse...

Concordo em quase tudo que o Editorial do Willian Bonner foca. Porém, esqueceu ele de mencionar as condições de trabalho a que estão sendo expostos os profissionais da comunicação, notadamente aqueles que trabalham na cobertura de conflitos, como manifestações, perseguições e blitzes policiais, reintegrações de posses, etc... Os Chefes como ele (William Bonner) querem resultados e isto significa expor a integridade moral e fisica dos trabalhadores, muitas vezes culminando com mortes como esta do Operador de Camera de UPE, Santiago Andrade e do também cinegrafista Gelson Domingos da Silva, morto quando cobria operação policial no Rio de Janeiro. Aqui mesmo em Belém, o ex-repórter da Televisão Liberal, Rivan Jatene, levou um tiro na coxa quando cobria uma rebelião em um dos presídios na região metropolitana.

blog disse...

O texto é maravilhoso, é ideal. Mas retrata a grande a diferença entre o SER e o DIZER, entre o AGIR e o DISCURSO, entre o DIZER SER NELSON MEDRADO, mas SER JADER BARBALHO. Todos sabemos que a REDE GLOBO está anos-luz de ser um primor de jornalismo exemplar, comprometido com a verdade e isento de pretensões políticas. Ao contrário, trata-se de uma emissora antidemocrática que já derrubou PRESIDENTE DA REBUBLICA, apoiou a DITADURA MILITAR, sonega MILHÕES dos cofres públicos e, ainda, frequentemente, se volta contra os PROGRAMAS SOCIAIS/AFIRMATIVOS em prol da camada mais humilde da sociedade, como o SISTEMA DE COTAS, O BOLSA FAMILIA, minha casa minha vida, o MAIS MÉDICO (mesmo tendo mais de 92% da aceitação pública), e, mais recentemente, contra O AUMENTO DO SALARIO MINIMO, pq é uma empresa com um quadro funcional gigante, inclusive com trabalhadores como o SANTIAGO ANDRADE.
A RBA A TV LIBERAL com uma mão assinam um manifesto em que TAMBÉM SE SOLIDARIZAM com a morte do jornalista, mas com outra NEGAM DIREITOS TRABALHISTAS AOS PROFSSIONAIS jornalistas iguais a SANTIAGO ANDRADE.
A sociedade como um todo deve censurar as manifestações violentas pq vitimou, acima de tudo, um TRABALHADOR ...meus pêsames a família.

Anônimo disse...

Falta agora matarem um político pois quando a polícia baixa a porrada nestes bandidos e vândalos disfarçados de "povo protestando" a imprensa mostra e fica exigindo punição aos policiais,além de artistas e políticos que ficam dando apoio. Tem mais é que meter a porrada mesmo e matar pois são todos bandidos. Protestei por meia passagem, corri muito da polícia, mas de cara limpa, e nunca quebrei patrimônio alheio!