domingo, 2 de fevereiro de 2014

JORNALISTAS – Entenda o contencioso

        Pior do que a mentira é a meia verdade, porque escamoteia os fatos, a pretexto de pretender esclarecê-los. E a meia verdade é o vício de origem da versão oferecida pelos prepostos da família Barbalho, na tentativa de desqualificar a greve dos jornalistas do jornal Diário do Pará e do DOL, o Diário Online, ocorrida em setembro do ano passado. A paralisação foi deflagrada independentemente de qualquer interferência do Sinjor, o Sindicato dos Jornalistas do Pará, provocada pelos salários aviltantes e condições de trabalho degradantes. A direção do Sinjor entrou efetivamente em cena na Justiça do Trabalho, como representante legal da categoria.
        A paralisação dos jornalistas do Diário do Pará e do DOL foi, principalmente, uma greve determinada por remuneração aviltante e teve como combustível condições de trabalho degradantes, como horas extras nunca pagas, computadores e cadeiras sucateados e em quantidade insuficiente, e falta até mesmo de água potável na copa e de papel higiênico nos banheiros. Um cenário obviamente incômodo aos Barbalho, diante dos projetos político-eleitorais da família, o principal dos quais seria eleger governador do Pará, na sucessão estadual deste ano, Helder Barbalho, um dos filhos do casamento de Jader Barbalho com dona Elcione Barbalho, deputada federal pelo PMDB. Daí a balela de que a greve dos jornalistas da RBA, a Rede Brasil Amazônia de Comunicação, teria motivações político-partidárias, supostamente estimulada pela tucanalha, a banda podre do PSDB, da qual são lídimos representantes o governador Simão Jatene, o Simão Preguiça, e sua entourage.
        Falta à direção do Sinjor, é fato, credibilidade, depois da patética postura assumida pelo sindicato no episódio da covarde agressão física de Ronaldo Maiorana, um dos diretores das ORM, as Organizações Romulo Maiorana, a Lúcio Flávio Pinto, um jornalista premiado nacional e internacionalmente, que edita o Jornal Pessoal, de circulação quinzenal e a mais longeva publicação da imprensa alternativa brasileira, marco na democratização da notícia no Pará. O pretexto para a covarde agressão foi Lúcio Flávio, muito mais velho que seu agressor e de porte mignon, ter feito menção - em um contexto plenamente justificável - ao passado, não exatamente lisonjeiro, do patriarca dos Maiorana, Romulo Maiorana, já falecido, e da sua viúva, Lucidéa Batista Maiorana, a dona Déa, presidente do grupo empresarial da família, hoje comandado, de fato, por Romulo Maiorana Júnior, o Rominho, presidente executivo das ORM. Na ocasião, o Sinjor emitiu uma nota investindo contra os Barbalho, cujo grupo de comunicação repercutiu a covarde agressão de Ronaldo Maiorana. De tão dúbia, a nota só faltou culpar Lúcio Flávio Pinto por ter sido agredido. Ex-presidente do Sinjor, o jornalista, de tão indignado, declinou da pretensa solidariedade e optou por se desfiliar do sindicato.
        Desde então ficaram claras, bem claras, a boa relação da direção do Sinjor com os Maiorana e o hostil relacionamento com o grupo de comunicação da família Barbalho, diante da recalcitrância desta em negociar com o Sindicato dos Jornalistas, categoria cujos patamares salariais, embora habitualmente modestos, ainda assim estão acima daqueles historicamente pagos pelo grupo RBA, flagrantemente aviltantes. Daí o álibi dos Barbalho de acusar as lideranças dos grevistas de deflagrarem uma paralisação com supostas motivações político-partidárias. Mesmo sabendo, como até as pedras desta terra sabem, das reservas dessas lideranças em relação a alguns dos dirigentes do sindicato. Um álibi repetido como mantra, pelos Barbalho e seus prepostos, talvez porque acreditem na máxima segundo a qual na política o que conta, no frigir dos ovos, são as versões.

        De resto, soa repulsiva a postura ignominiosa dos Barbalho e seus áulicos em relação aos grevistas demitidos, tratados como se fossem delinquentes de alta periculosidade. Uma postura, diga-se, própria daqueles que medem os outros pela sua própria régua.

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