quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

SAUDADES – Perfil do artista

O terceiro dos quatro irmãos Bandeira Gonçalves, Hamilton sucedia os saudosos Walter e Euclides, o Chembra, e precedia a terna e saudosa Lúcia. Walter Bandeira, que exibia um talento multifacetado, foi e continuará sendo, para todo o sempre, a grande voz do Pará, na feliz e justa definição de Fafá de Belém. Chembra fez carreira como um dos mais brilhantes jornalistas de sua geração, em A Província do Pará, do qual tornou-se redator-chefe, pouco antes do jornal, um título histórico, iniciar sua decadência, no rastro do colapso dos Diários e Emissoras Associados, um conglomerado de empresas de comunicação que incluía a extinta TV Tupi, da qual a afiliada no Pará era a TV Marajoara e cuja concessão acabou cassada no governo João Figueiredo, o último presidente da ditadura militar, que tomou de assalto o poder em 1964, com a deposição do ex-presidente João Goulart, o Jango. Lúcia, uma promissora revelação como jornalista, optou por fazer carreira no serviço público, abrupta e prematuramente interrompida pelo câncer, que dela nos privou.
Quanto a Hamilton, um artista gráfico de mão cheia, jovem, bem jovem, ele ganharia visibilidade como um dos autores do curta-metragem “O Círio”, ao lado do irmão Chembra e dos irmãos Ademir e Miracy Silva. Ademir se inclui dentre os mais competentes repórteres fotográficos da sua geração, com destacada passagem por A Província do Pará, antes de deixar Belém e fazer carreira no cinema, nos Estados Unidos. Miracy, um homem culto, seguiu como servidor público, na Celpa, as Centrais Elétricas do Pará, privatizada no primeiro mandato do ex-governador Almir Gabriel, então no PSDB, de 1995 a 1998, por um valor tão questionado quanto o emprego do dinheiro auferido. “O Círio” figura no portfolio do Instituto Nacional do Cinema, um órgão gestor do cinema brasileiro, criado em 1966 e extinto em 1975.  Elegante nos modos e no trajar, dentro do seu estilo despojado, Hamilton revelou-se um profissional gráfico da melhor qualidade, que migrou para o Rio de Janeiro, mas cuja carreira não decolou, por conta das intempéries da vida. Seu talento, como artista gráfico, foi celebrizado nas cartas endereçadas à família, que ele formatava como se fossem pequenos jornais. Se nossas autoridades da área cultural tivessem um mínimo de sensibilidade, bem que poderiam tentar obter da família as missivas de Hamilton, seja por seu aspecto lúdico, seja como testemunho de uma época, correspondente aos anos de chumbo do regime dos generais.

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