quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

DIÁRIO ONLINE – A crítica do internauta

Pela relevância do tema suscitado, o blog transcreve na íntegra o e-mail de Valber Carlos Motta a Gerson Nogueira. Passando por cima de incorreções pontuais – como atribuir ao diretor de redação as mudanças operadas no jornal impresso, na verdade mérito do diretor-presidente, Jader Filho – que não comprometem a pertinência da crítica.

“Meu prezado Gerson Nogueira,

“Assunto: matéria de capa do Diário Online

“Sou leitor desta home page e admiridor de seu trabalho, principalmente na área esportiva, e sei que você também é editor do Diário do Pará, e um dos principais responsáveis pelo processo de transformação na qual passou este jornal e todas as formas de mídia ligadas a ele. E é sobre o Diário Online que gostaria de tecer comentários, sob três óticas diferentes: enquanto advogado, professor universitário e cidadão comum.
“São estas as minhas ponderações:

“Vou começar pelo natural, por aquilo que todo ser humano adquire ao nascer com vida, a cidadania, quero expressar meu descontentamento a respeito de uma das matérias de capa do Diário Online, que afirma que o listão dos aprovados do vestibular da Universidade Federal trás vários nomes curiosos, e os mesmos são expostos de maneira destacada, com a clara intenção de ridicularizar os calouros e pior, seus pais, que obviamente foram os ‘culpados’ pelos nomes "curiosos".
“Bem, não tenho amigos, nem familiares nesta lista, mais me colocando no lugar destes, me senti profundamente constrangido, ao ver que em um momento tão bonito e emocionante na vida destes jovens e alguns não tão jovens, o jornal que eles diariamente lêem, os colocam de maneira a ridicularizarem suas alcunhas, expondo inclusive a comentários escarniosos na internet, na maioria das vezes realizados na covardia do anonimato, com a complacência do jornal. “Que feio! Há necessidade do Diário expor os mesmos de maneira lamentável?

“Em segundo lugar, vou expor a minha visão acadêmica: sou professor universitário, e recentemente concluí um período de dois anos na condição de professor substituto da Universidade Federal do Pará. Estou me despedindo de lá, com imensa tristeza, e um enorme aperto no peito, mas com a consciência do meu dever cumprido, pois nos últimos quatro semestres lecionei pra cerca de 1.200 universitários, dos cursos de Direito, Ciências Contábeis, Administração, Ciência da Computação e Serviço Social, e por mais que tenha me deparado com situações de ter em minhas listas de presença nomes ‘curiosos’ de alunos e outras situações inusitadas que a vida acadêmica nos impõem, me sinto orgulhoso de ter feito parte da UFPA, que se torna a cada ano, uma universidade mais plural, mais democrática, com mais pessoas vindas das classes menos assistidas, com mais filhos de empregadas domésticas, de lavadeiras, de operários, de padeiros, etc., fruto de políticas inclusivas é claro, mas também da determinação destas pessoas e da valorização do curso superior como um instrumento fundamental de transformação social, como pude constatar ao conviver com meus alunos, e por isso não posso aceitar esta forma de tratamento dos futuros universitários, que além de demonstrar pobreza jornalística se reflete num discurso elitista, sectário, impondo á estas pessoas uma característica indelével de filhos da ignorância. Ora, bolas! Vivemos um momento de transformação em nossa sociedade, que não deve ser atribuída ao governo, pois a nossa sociedade cada vez mais valoriza o estudo, a boa formação, e esta matéria vem de encontro a tudo que vivemos hoje no ambiente universitário.

“No terceiro momento quero lhe dizer que o que foi cometido pelo Diario Online foi claramente uma injúria, na verdade várias condutas injuriosas, pois nos ensinamentos de nosso principal penalista Damásio de Jesus(que é estudado na UFPA) temos esta definição: ‘A injúria , consiste em atribuir à alguém qualidade negativa , que ofenda sua dignidade ou decoro de alguém – fere a honra subjetiva’. Bem, não sei se os advogados do Diário foram consultados sobre tal matéria; espero que não, pois se eles consentiram com base no princípio da liberdade de imprensa, incorreram num crasso erro de interpretação, A liberdade de imprensa assegura o direito de. informar; não justifica a injúria. E pra piorar a situação, creio que vários daqueles nomes são de menores de idade, pois é sabido que boa parte dos vestibulandos estão na faixa etária entre 16 e 18 anos, portanto adolescentes, amparados e protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o que pode demandar medidas judiciais por parte da Promotoria da Infância e da Juventude. Nossa, Gerson, que falta de cuidado no respeito às leis! Aconselho vocês a terem mais cuidado ao publicarem listas de nomes. Espero que isso não se repita, e torço para que o Diário reconheça seu erro, se retrate com estas famílias.

“Não sei ao certo se outras pessoas, professores, advogados ou parentes dos calouros tenham se atentado á gravidade do ocorrido, mais eu, um leitor assíduo de vocês, tanto do Diário impresso quanto da internet, fiquei deveras decepcionado com tal fato.

“Espero que vocês repensem suas pautas, suas abordagens e as consequências do que publicam.

“Na certeza de que serei ao menos lido, desejo um ano novo cheio de realizações e sucesso.

“Um abraço,

“Valber Carlos Motta
“Advogado
“OAB/PA 9729”

4 comentários :

Anônimo disse...

como diz uma pessoa que conheço: TOMA-TE!!!!!!!!!! que o sr Gerson tenha mais cuidado da outra vez.

luís otávio disse...

Penal. Calúnia e Injúria. Animus narrandi.
"Segundo interprtação doutrinária e jurisprudencial dos arts. 20 e 22, da Lei 5.250/67, não constituem calúnia e injúria a notícia veiculada tão-somente com animus narrandi, destituída de sensacionalismo e má-fé. O exercício da liberdade de imprensa, muito antes de um direito, é um dever do jornalista, a que incumbe manter bem informados os cidadãos. Ordem concedida. Ação penal trancada"(TJMG- 5.C.-HC 1.0000.07.450.119-8/000 (1)- rel.Hélcio Valentim - j.20.3.2007 - DOE 23.3.2007).

Anônimo disse...

O fator agravante é que há lei que permite trocar de nome, se assim desejar. Portanto, se esse nada fizeram é mais por questão de gosto e gosto nem se discute, quanto menos de faz uma coisa dessa.

E o todo serve de alerta para todo da escola. Eis o maior motivo de tabefes entre estudante por não terem aprendido que coisa feita com carinho por papai e mamãe não cabe ninguém ficar metendo sua colher.

Anônimo disse...

nao entendi muito bem.qual o contexto?