DESGOVERNO – Vá trabalhar, Excelência!

LÚCIA *

O dia 18 de setembro, um domingo, não foi o que governador Simão Jatene sonhou para pescar com tranqüilidade. O caso de abuso sexual de adolescente numa casa penal em Santa Isabel fez o nosso pes..., desculpem, digo o nosso governador trabalhar em pleno domingo. Um sacrilégio. Reeditando com requintes de crueldade o caso de Abaetetuba, este episódio distingue-se do escândalo de 2007 apenas em termos de tempo e lugar . Os personagens são os mesmos: gestores e detentos. Naquele ano, uma menina ficou presa em uma cela com cerca de 30 homens. Agora, na versão 2011 da ignomínia análoga, o cenário foi uma penitenciaria em Santa Isabel. Os resultados serão os mesmos?

Ao saber do fato, o ato do governador tratou de exonerar de imediato o diretor da casa penal e vinte agentes prisionais. Este ato, a principio correto, já começa a ter resultados constrangedores. O ex-diretor, certamente se sentindo injustiçado, apresentou documentos administrativos que comprovam ter advertido aos seus superiores o que estava acontecendo dentro da penitenciaria.

Não menos chocantes são as cartas escritas pelos agentes prisionais. São reveladoras. Escritas à mão, em papel de caderno, os fatos denunciados e o modo como foram apresentadas à imprensa, evidenciam a situação de abandono em que estes profissionais também vivem. Lembrando que muitos são temporários. Todos os dias o governador nomeia centenas deles sem concurso público.Sem treinamento adequado. Fica fácil imaginar como se encontra a estrutura organizacional e administrativa do sistema penitenciário. As rebeliões diárias nas seccionais são fenômenos reveladores disso.

Diante de tão escabroso fato espera-se que o Ministério Público e a Justiça do Estado não se intimidem e apurem com rigor as responsabilidades do secretario de Segurança Pública, do governador e de todos os outros que tinham condições de agir e não o fizeram. Alguns mistérios precisam ser desvendados neste caso, inclusive a descoberta do paradeiro das outras adolescentes. Eram quatro, segundo a revelação feita inicialmente. Onde estão as outras três meninas?

Nesta confusão toda temos muita pirotecnia na mídia, sem que em algum momento alguém se preocupe em esclarecer o destino das demais adolescentes que desapareceram!

O que mais assusta nisso tudo, é ouvir de uma autoridade de Estado que a providencia mais relevante será construir um muro, mas que para isso será necessário um estudo. Um muro e um estudo. Berlim é pouco. O muro que precisa ser construído, ao que parece, é em torno do Palácio dos Despachos. Um muro que nos proteja das “idéias” inacreditáveis que saem das cabeças de alguns gestores. Desprovidos de qualquer vestígio de humildade, estes senhores, que sabiam da ocorrência de prostituição infantil dentro do presídio e mesmo assim arquivaram os documentos que comunicava o fato, não merecem respeito, não merecem credibilidade.

Este governador precisa guardar seus apetrechos de pescaria e tomar atitudes digna de seu cargo. Isto é o mínimo que dele se cobra.

Chega de trololó, governador! Tá mais do que na hora do senhor descer do palanque e começar a trabalhar!!!

* Lúcia é assistente social e colaboradora do blog.