sábado, 16 de julho de 2011

PARÁ – A reflexão de Cacá Carvalho 1

Um eterno apaixonado pelo Pará e sua gente, aos quais se revela atado pelos indissolúveis laços do amor, o premiado diretor e ator teatral Cacá Carvalho (foto), mesmo à distância, em São Paulo, não deixa de cultivar suas raízes, como bom paraense que é. Por isso, tomando como deixa a postagem sobre o imbróglio envolvendo a posse como senador eleito do ex-governador Jader Barbalho, Cacá faz uma oportuna reflexão sobre as mazelas do Estado, a partir de um texto de Guerra Junqueiro. Uma reflexão permeada pela indignação de quem cultiva apaixonadamente suas raízes, mas repele o êxtase improdutivo, que pavimenta o imobilismo, do qual se alimenta o atraso.
Uma indignação com sagacidade que só o talento confere e que merece ser compartilhada.

Meu caro Barata,

Divido com você e com todos os leitores, que como eu ,refletimos e nos revemos refletidos com suas denuncias e revelações. Este texto que li, escrito em 1896, fala de um Portugal estagnado. Me espelha, me revela e me incomoda. Que nos sirva.

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
“[.] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverossímeis no Limoeiro.
“Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
“A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
“Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.

Bem tornado.
Há Braços

Cacá Carvalho.

4 comentários :

Anônimo disse...

Nossa Mãe, o Barata deve ser a reencarnação desse de 1896...

Anônimo disse...

Brasileiríssimo este texto. Acho que o Cacá rastreou o DNA da bandalheira no Brasil.

Anônimo disse...

É mano, Jamanta não morreu não. "Fui eu, não".

Anônimo disse...

É Barata a 115 anos já se sabia o que aconteceria hoje, mas não podemos deixar de salientar que os nossos antepassados não eram tão Desonestos, só a minoria, mas o tempo passa e nós conhecemos os Desonestos de hoje e eles podem estar no nosso Prédio, na nossa Rua, no nosso Bairro e em quase todo o Lugar, mas tudo é passageiro e um dia a "A casa Cai"